
Enquanto a terceira via patina, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem se recuperando em todas as pesquisas de inten��o de votos. Parte do apoio vem do eleitorado que j� esteve do lado dele, outros s�o os arrependidos de t�-lo elegido, que at� flertaram com outros candidatos para as elei��es de outubro, mas n�o conseguiram se identificar o suficiente. Agora, est�o se reorganizando em torno do chefe do Executivo, aumentando gradativamente sua popularidade.
O crescimento de Bolsonaro se d� especialmente porque nenhum candidato da terceira via sozinho consegue empolgar os eleitores. Al�m disso, a maneira que Bolsonaro tem utilizado a caneta desperta a aten��o de diversas camadas do eleitorado.
Por exemplo, na �ltima semana, ele entregou mais uma s�rie de "pacotes de bondades", desta vez, focando na reestrutura��o da economia, especialmente para as pessoas de mais baixa renda. Assim, faz parte da estrat�gia de reelei��o conceder benef�cios assistenciais aos mais pobres como uma forma de se conectar com o eleitorado do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), seu principal advers�rio.
De acordo com o l�der do Republicanos no Senado, senador Mecias de Jesus (RR), a recupera��o do eleitorado do presidente j� era esperada e tem base na forma como as a��es populares v�o se consolidando.
"� natural que ele tenha recuperado o capital que at� ele mesmo afastou. Esse eleitor n�o estava perdido, estava distante em raz�o do clima que se formou no pa�s. A maioria da rejei��o de Bolsonaro foi criada pelo pr�prio presidente, quando falava o que n�o estava no script. Mas essa rejei��o n�o se compara com a onda de corrup��o feita pelo PT no pa�s. Ningu�m quer voltar para isso. Contudo, na dificuldade, Bolsonaro n�o deixou que os munic�pios falissem, ele abriu os cofres para manter o equil�brio. Foi t�o dr�stico que se ele n�o fizesse isso, o pa�s estaria numa desgra�a. Ent�o, as pessoas come�aram a ver isso", avaliou o parlamentar.
A ascens�o do presidente tamb�m j� era de certa forma esperada pela oposi��o. H� cerca de tr�s semanas, Lula afirmou ser natural o chamariz em torno de Bolsonaro, porque o presidente antecipou a campanha ao mandar seus ministros pelo pa�s "abrindo sacos de bondades". Houve tamb�m a substitui��o do Bolsa Fam�lia pelo Aux�lio Brasil, ofertando R$ 400, quase o dobro do programa petista. Ainda que o valor tenha prazo de validade, d� um clima de felicidade para os mais necessitados.
"Para n�s, esse crescimento, ainda que moderado, n�o � surpresa. Ele pode pegar antecipadamente os votos �teis e sepultar a terceira via", disse um aliado de Lula.
Outro motivo dessa recoloca��o � que, a grande aposta de substitui��o do presidente para o eleitorado de direita, era o ex-juiz Sergio Moro. Tido como o �nico que poderia capturar os votos daqueles que se decepcionaram com o governo, agora enfrenta rejei��o da classe pol�tica e, perante aos cidad�os, n�o deixa claro as inten��es e propostas. Al�m disso, quando surgiu, focou em parecer uma esp�cie de "Bolsonaro bonzinho", ao resgatar mensagens e linguagens da campanha de Bolsonaro em 2018, mas a popula��o n�o comprou.
O ex-juiz tamb�m se perdeu na pr�-campanha e agora tem uma por��o de votos muito limitada, focada especialmente nos apoiadores da Lava-Jato. De acordo com Matheus Albuquerque, s�cio da Dharma Politics, a antipatia dos eleitores mais ferrenhos dos candidatos mais competitivos soma-se � dificuldade do ex-ministro em convencer os indecisos.
"Desta forma, a desidrata��o de Moro nas pesquisas gera, como resultado, a migra��o de inten��es de voto — conservador, evang�lico, de direita — para Bolsonaro. Essa migra��o de votos de um candidato de direta para outro candidato de direita traz aten��o para dois elementos: as elei��es de 2022 ser�o marcadas por forte polariza��o e pelo voto �til", afirmou.
O antipetismo tamb�m � figurinha carimbada no discurso de Bolsonaro. De acordo com Orlando Thom� Cordeiro, consultor em estrat�gia, esse elemento ainda vai ser forte nas elei��es e poder� ser decisivo. O presidente tamb�m deve utilizar pontos que Lula n�o consegue de fato comprovar. Pois, apesar de a Justi�a ter retirado as condena��es do petista, nenhuma delas foi por absolvi��o e, sim, por quest�es de tr�mite processual, desta forma, Bolsonaro consegue incitar o sentimento contra o ex-presidente e o partido dele. Contudo, as pesquisas mostram que, diferentemente de 2018, o antibolsonarismo � ainda mais forte neste momento.
"Essa polariza��o se mantendo, vamos ver qual dos dois sentimentos vai ser predominante. N�o considero, apesar de as pesquisas indicarem, uma vit�ria de Lula sobre Bolsonaro. � poss�vel, num eventual segundo turno, que Bolsonaro seja vitorioso, porque, al�m desses sentimentos, � preciso considerar o n�vel de rejei��o, que tamb�m � muito alto. Muita gente n�o vai votar a favor ou porque gosta do candidato, mas sim contra", afirmou. Segundo a �ltima pesquisa da Genial Quaest, lan�ada na quarta-feira, cerca de um quarto dos eleitores n�o quer nenhum dos dois ocupando a cadeira no Pal�cio do Planalto.
Thom� avalia que, se n�o houver um grande movimento de articula��o, como a unifica��o em um �nico candidato que resgate o sentimento, nem Lula nem Bolsonaro, a terceira via continuar� patinando. Alguns dos partidos ainda tentaram come�ar a articula��o, caso do PSDB, MDB e o Uni�o Brasil, que chegaram a cogitar a possibilidade de retirar suas candidaturas em prol de apenas uma.
Mas a ideia vem sendo corro�da aos poucos. O emedebista Baleia Rossi (SP) j� decidiu manter a senadora Simone Tebet (MS) no p�reo e os tucanos est�o prestes a perder o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para o PSD e, assim, a terceira via vai ficando apenas mais acumulada.