
Nesta semana, mais precisamente na sexta-feira, ter� in�cio a pr�-campanha para as elei��es de outubro. Com a desincompatibiliza��o, os novos arranjos come�am a se firmar e o desenho do cen�rio eleitoral vai deixando de ser rascunho para ganhar uma forma mais definitiva. Considerada, hoje, um dos principais nomes do DF, a ministra-chefe da Secretaria de Governo, Fl�via Arruda, confirma que n�o vai disputar o governo local, mas tamb�m n�o crava se ser� a candidata ao Senado.
"A minha candidatura n�o ser� de forma alguma a governo. Ele � o nosso candidato � reelei��o. O que eu posso disputar, a gente tem de construir, primeiro, ouvindo a popula��o. Depois, uma constru��o", diz, nesta entrevista exclusiva ao Correio.
Natural de Taguatinga, Fl�via ressalta que cumpriu seu papel na Secretaria de Governo, mas n�o deixou de olhar para o DF. "Quero poder contribuir com a cidade. Meu projeto � para a cidade, com a cidade. Eu n�o tenho a pol�tica por profiss�o. A pol�tica n�o � a minha profiss�o. Quero o que o grupo construir, ouvir a sociedade, saber no que posso contribuir."
Deputada federal pelo PL, Fl�via ganhou destaque na C�mara ao ser a primeira mulher a ocupar a presid�ncia da Comiss�o Especial de Or�amento e Finan�as e, depois, assumir um cargo estrat�gico no governo federal.
Para ela, a miss�o foi cumprida. "O intuito que eu tinha, quando entrei, acho que consegui preencher, que foi o de construir pontes. Derrubar poss�veis muros que fossem constru�dos nesse meio do caminho, estabelecer o di�logo, a constru��o de pontes com o Congresso", avalia.
H� desafios mais dif�ceis e coletivos a serem vencidos. Um deles � garantir menos preconceito e hostilidade na pol�tica para as mulheres. "Alguns homens colocam as mulheres (em segundo plano), como, no in�cio (do mandato), tinha sempre 'ah, n�s participamos...', e eu n�o estava sabendo. Ent�o, quando vinha, 'isso aqui, ah, n�s discutimos', eu dizia, 'mas eu n�o participei', ent�o, estou achando que falta alguma coisa, n�? Aos poucos, vai se construindo. Mas, n�s, mulheres, precisamos provar muitas vezes que somos capazes", frisa a parlamentar, defensora das cotas para candidaturas femininas nos partidos.
�nica mulher no Planalto, Fl�via elogia o presidente Jair Bolsonaro. "A pol�tica � muito machista. O ambiente da pol�tica � muito machista. E eu sou a �nica mulher no Pal�cio. Mas o presidente me deu todas as oportunidades, a mesma fala e a mesma import�ncia de todos os outros ministros", enfatiza.
Apesar da polariza��o entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, Fl�via aposta que o eleitorado de Bras�lia dar� uma vota��o expressiva para o atual chefe do Executivo. "Estive num evento para cinco mil pessoas e, quando falei o nome dele, foi ovacionado."
Qual foi a principal a��o que a senhora conseguiu desenvolver neste per�odo no minist�rio?

O intuito que eu tinha, quando entrei, acho que consegui preencher, que foi o de construir pontes. Derrubar poss�veis muros que fossem constru�dos nesse meio do caminho, estabelecer o di�logo, a constru��o de pontes com o Congresso. Claro, como o pr�prio presidente citou, � um minist�rio dif�cil, porque voc� lida com todos os parlamentares. Voc� nunca vai agradar a todo mundo. Mas, dentro do poss�vel, atendi todas as pessoas que pediram. Acho que saio com mais amigos do que quando entrei. Ent�o, fa�o um balan�o positivo.
Muitos ministros nessa �rea ficaram pelo caminho, como avalia?
Ser a primeira mulher a ocupar este minist�rio, este espa�o de articula��o pol�tica, j� foi para mim uma grande honra e um grande desafio. Acho que conseguimos superar isso, construir e terminar o meu per�odo de minist�rio com sucesso, porque estou saindo fruto da necessidade de desincompatibiliza��o. Saindo com outros ministros, porque nosso prazo � agora. Mesmo diante de tantas alfinetadas, dificuldades e desafios, consegui me manter equilibrada.
Qual � a li��o mais importante que traz desta experi�ncia no Planalto?
Primeiro, um aprendizado enorme. Acho que o que eu aprendi, nesse um ano aqui, talvez, em livro nenhum consiga aprender tanto quanto na pr�tica. Costumo dizer que, aqui dentro, a gente trata do alfinete ao foguete. Recebe todas as pessoas, parlamentares, vereadores, que v�m acompanhados dos prefeitos e seus deputados.
A gente recebe desde a coisa mais simples, da burocracia de um of�cio, at� as mais complicadas, de destravar processos que est�o tramitando nos outros minist�rios, constru��o de projetos de lei, de PLNs (projetos de leis or�ament�rias). � tentar ter um consenso ou, pelo menos, algo que consiga construir um texto dentro de tantos dissensos e diferen�as partid�rias, ideol�gicas, que � o que faz o cerne da democracia. � estar sempre aberta ao di�logo, � constru��o. Fiz grandes amigos, e, obviamente, a gente tamb�m � atacada. Faz parte de quem n�o � 100% agradado.
Partindo desse ponto, das alfinetadas: isso acontece porque, como diz o presidente, o cargo � dif�cil, ou pelo fato de a senhora ser mulher?
As duas coisas. Este minist�rio � um grande desafio, porque voc� lida com muitas pessoas, com diferentes necessidades, pleitos diversos, mas, ao mesmo tempo, tentando um equil�brio. Este minist�rio � de constru��o pol�tica, um minist�rio meio. N�o � um minist�rio fim, de entrega, n�o tenho caneta e n�o estou fazendo entrega efetiva, como o Minist�rio do Desenvolvimento Regional, o da Infraestrutura e todos os outros. Aqui, n�o. Aqui, sou o papel de mediadora, fa�o a interlocu��o de todos os minist�rios com o Congresso.
L�gico que, muitas vezes, tem interesses leg�timos, mas contrariados, desde projetos que um quer, o outro, n�o; coisas que o governo queria que aprovasse e, no Congresso, n�o era bem assim. E o fato de ser mulher, obviamente, a gente, infelizmente, ainda vive numa sociedade muito machista. A pol�tica � muito machista. O ambiente da pol�tica � muito machista. E eu sou a �nica mulher no Pal�cio, mas o presidente me deu todas as oportunidades, a mesma fala e a mesma import�ncia de todos os outros ministros. Eu sou muito grata � oportunidade que ele me deu e com reconhecimento e com a oportunidade de fala igual para todos os ministros, respeitando todos os momentos.
O presidente chegou a dizer que a senhora era a melhor ministra dele?
(Risos). Num evento que a gente fez aqui, ele brincou: dos 23, a minha melhor ministra. Estou aqui no dia a dia. Vira e mexe, estou na sala dele. A gente fala dos assuntos do Congresso. Sempre que posso ajudar de alguma forma, se for para colaborar, eu ajudo. E tamb�m escuto muita coisa. �s vezes, tem pautas l� que n�o dizem respeito a mim, mas eu fa�o quest�o de ouvir e aprender. Foi um aprendizado muito grande. Mas tem isso: o machismo � estrutural. No Parlamento, inclusive, a gente ainda vive o machismo estrutural.
O que achou do posicionamento do presidente em rela��o � pobreza menstrual?
O projeto da sa�de menstrual foi muito discutido no Congresso, principalmente na C�mara, e, quando eu estava l�, discutimos isso. � uma realidade da popula��o, principalmente, de n�s, mulheres. Sabemos exatamente o que � isso, o que � esse per�odo menstrual e as meninas em situa��o de vulnerabilidade, de pobreza, n�o ter acesso. Mas isso existe desde que o Brasil � Brasil e desde que o mundo � mundo. Ent�o, � importante a gente dizer que isso n�o � uma pauta que veio no governo Bolsonaro. Os outros governos que nos antecederam n�o discutiram isso antes por qu�? Colocar agora: 'Ah, o presidente Bolsonaro n�o quis'. No caso do presidente, assim que essa pauta chegou aqui, ele, no m�rito, sempre falou: 'Eu sei que isso � importante, sei que passou pelo Congresso'.
A necessidade do veto veio por uma exig�ncia da Economia, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pelo m�rito do projeto em si, o presidente n�o foi contra em nenhum momento. A sugest�o do veto vem da Economia, porque gerar uma nova despesa incorre no crime de responsabilidade fiscal. Ent�o, nesse caso, vem sugerido pela Economia, pela assessoria jur�dica, a necessidade do veto, n�o pelo m�rito do projeto e, sim, porque cria uma nova despesa. O projeto � fundamental e importante. Tanto que o governo sugeriu e editou uma medida provis�ria. H� uma discuss�o que: 'Ah, foram menos mulheres'. Por�m, o valor que foi na medida provis�ria � maior do que o do projeto de lei. Ent�o, derrubaram o veto, mas a medida provis�ria est� valendo.
O fato de ser mulher teve um peso maior nas alfinetadas que recebeu?
Sempre tem. Muitas vezes, alguns homens colocam as mulheres (em segundo plano), como, no in�cio (do mandato), tinha sempre: 'Ah, n�s participamos...'. E eu n�o estava sabendo. Ent�o, quando vinha 'ah, n�s discutimos', eu dizia, 'mas eu n�o participei'. Ent�o, estou achando que falta alguma coisa, n�? Aos poucos, vai se construindo.
Que conselho daria hoje para as mulheres que pretendem ingressar na pol�tica?
Primeiro, que � fundamental a participa��o de mais mulheres na pol�tica, porque s� com mais mulheres na pol�tica a gente pode fazer mais pol�tica de mulheres. O desafio da mulher na pol�tica � grande para entrar, por isso, sou a favor da necessidade das cotas partid�rias de inclus�o das mulheres. S�o fundamentais. Hoje, j� somos 15% do Parlamento brasileiro, mas ainda � infinitamente baixo e menor do que a nossa representa��o na sociedade: 53%. � fundamental a mulher poder participar de tudo, assim como presidir uma Comiss�o de Or�amento, como eu presidi. Historicamente, ficava essa reserva de mercado. N�meros e o Or�amento da Uni�o sempre foram discutidos por homens. Vi a ministra C�rmen L�cia (do Supremo Tribunal Federal) falar esses dias uma hist�ria muito interessante. Um rapaz, sem maldade nenhuma, disse: 'Olha, vim trazer um documento para uma autoridade, mas me disseram que aqui s� mora mulher'.
Ou seja, a mulher n�o pode ser autoridade. E o que � isso? � o machismo estrutural. E o Parlamento e os Poderes s�o reflexos da sociedade. Portanto, quando a gente luta para vencer esses obst�culos � para dar mais oportunidades �s mulheres. E isso passa, tamb�m, por essas cotas de mulheres, partidariamente falando. Hoje, um partido que tiver mais mulheres eleitas tem o dobro do fundo eleitoral. Essa pol�tica de cota � compensa��o. � cota compensat�ria de tudo o que j� ficamos para tr�s, de toda a falta de oportunidades que tivemos. Na hora que estabelecer, ali, um patamar de 50 a 50, n�o vai precisar de mais nada disso, mas, a�, os homens que se cuidem, que vamos avan�ar, e ningu�m mais vai nos segurar.
A senhora presidiu a Comiss�o Mista de Or�amento, quando o chamado or�amento secreto n�o era como � hoje. Acredita que essas emendas de relator devem acabar?
A gente precisa encontrar um meio-termo para essas emendas. O Congresso � leg�timo e tem de ser part�cipe da distribui��o do Or�amento, porque n�s fomos eleitos representantes de v�rios segmentos da sociedade. E tem a pol�tica nacional. Ela � um guarda-chuva muito amplo. O parlamentar conhece a sua regi�o, as necessidades, est� l� no dia a dia, � cobrado por quem o elegeu. N�s j� temos as emendas impositivas, mas acho que poder participar de alguma forma das indica��es, de onde devem ir, tamb�m � fruto de uma constru��o do Parlamento.
S� n�o acho que da forma que est�. Hoje, estou no Executivo, e, principalmente como ministra da Secretaria de governo, o Executivo ficou sem recurso discricion�rio. Todo esse recurso est� alocado na emenda de relator. O Executivo est� completamente amarrado para cumprir prioridade de pol�tica do governo. Em rela��o � transpar�ncia, sou absolutamente a favor. E n�o existe or�amento secreto, porque a execu��o � p�blica. O que se discute e, talvez, tenha sido colocado de uma forma equivocada, � quem indicou. A gente precisa mudar a lei, dar mais transpar�ncia.
Seu nome aparece como candidata forte ao Senado, mas tamb�m se fala em concorrer ao governo. O que a senhora quer?
Quero poder contribuir com a cidade. Meu projeto � para a cidade, com a cidade. N�o tenho a pol�tica por profiss�o. A pol�tica n�o � a minha profiss�o. Quero o que o grupo construir, ouvir a sociedade, saber no que posso contribuir, no que posso colaborar com o meu trabalho e, com um grupo pol�tico que se forma, colocar ali onde cada um pode ser fundamental. O mais importante � saber o que a sociedade quer, o que espera de mim, qual a contribui��o que posso dar. � fruto de uma constru��o. Primeiro, de ouvir a sociedade e, segundo, de uma constru��o pol�tica de grupo. Um grupo que represente o que a popula��o espera da gente. Aprendi muito nesse tempo.
J� vivi, com Arruda, ainda quando governador, e com toda a experi�ncia pol�tica que ele tem, toda a bagagem pol�tica, toda a hist�ria, todo conhecimento que ele tem, de um gestor e de uma pessoa que estuda muito. O legado pol�tico que ele deixou na cidade, de constru��o, de muita obra, de quem fez e deixou saudade na popula��o. Esse � o lado que eu carrego. Foi isso que as pessoas depositaram em mim e que acho que, com o exerc�cio do mandato, nesses quase quatro anos, pude demonstrar que tenho capacidade, que quero aprender, tenho o que oferecer para as pessoas.
Nesse grupo a senhora p�e o governador Ibaneis?
Fazemos parte de uma base, eu sou base. Mesmo estando aqui (no minist�rio), fiz tudo que pude, enquanto ministra de Estado, contribu� para o Distrito Federal. Fiz al�m do que podia, indo para os outros minist�rios e pedindo tudo que fosse para Bras�lia. Nas pol�ticas p�blicas que foram fundamentais, sempre pedi para ter Bras�lia como uma refer�ncia, no Aux�lio Brasil, nas vacinas, em todos os projetos estruturantes do governo, investimento em obras, rodovias. Exerci meu papel como ministra, sem nunca ter deixado a minha liga��o como parlamentar do Distrito Federal.
Se Ibaneis est� no grupo e � candidato � reelei��o, � poss�vel inferir que o seu papel vai ser mesmo na candidatura ao Senado?
A minha candidatura n�o ser�, de forma alguma, a governo. Ele � o nosso candidato � reelei��o. O que eu posso disputar, a gente tem de construir, primeiro, ouvindo a popula��o. Depois, uma constru��o.
A senhora n�o descarta nada. Nem a reelei��o?
N�o descarto nada. At� em n�o ser nada (risos). Veja: a pol�tica dos pr�ximos anos da capital passa muito por n�s, que estamos hoje no cen�rio. N�s temos muitas pessoas jovens — respeitando, obviamente, todos que nos antecederam nessa na pol�tica local, como o governador Roriz, como o meu pr�prio marido, que ainda me ensina muito. Mas h� uma renova��o.
Essa gera��o � que, na sua opini�o, vai continuar liderando a pol�tica brasiliense?
Sim. Passa por um grupo dessa gera��o e do qual eu acho que fa�o parte tamb�m.
Entre esses jovens, aparece a poss�vel candidatura de Reguffe. Voc�s t�m boa rela��o. Como enxerga a candidatura dele?
Reguffe tamb�m � uma pessoa jovem, mas que tem uma trajet�ria na pol�tica, tem trabalhado pela cidade. Acho que a gente podia construir juntos, sem distanciar nem dividir grupos. � nesse caminho que eu trabalho sempre. Para a gente, no di�logo, trazer todo mundo para o que � bom para Bras�lia. E n�o para a divis�o. N�s temos muitos bons pol�ticos, bons talentos, pessoas boas, que querem o bem para a cidade.
A senhora n�o considera a pol�tica uma profiss�o. O que seria pol�tica ent�o?
Pol�tica � transforma��o. � transformar a vida das pessoas. � voc� se dedicar, se doar, porque a pol�tica tamb�m � doa��o, � resigna��o, � ren�ncia. A gente abre m�o de muita coisa da vida pessoal para a pol�tica.
Isso � uma cr�tica aos pol�ticos profissionais?
N�o, n�o � o meu perfil. N�o critico ningu�m. Acho que cada um tem uma forma de conduzir as coisas. Para mim, foi uma constru��o. Eu nunca fui do tipo 'ah, eu quero ser pol�tica', mas sempre participei da pol�tica de alguma forma desde muito pequena, com meu pai, na distribui��o de comida, arrecadando alimento para fazer sopa.
Esse � o seu jeito de fazer pol�tica, talvez.
Sim, talvez uma pol�tica mais social, mais voltada para o pr�ximo. A pol�tica s� vale a pena quando a gente transforma a vida das pessoas. N�o � para mim, � para os outros. E isso passa, tamb�m, pela ren�ncia. Pol�tica tamb�m � ren�ncia. Eu tenho duas filhas pequenas. Estar na pol�tica me tira do conv�vio delas. Ent�o, ela priva a gente do conv�vio da fam�lia, do conv�vio social. Mas ela vale a pena quando a gente consegue transformar a vida das pessoas. N�o � vaidade pessoal, porque eu sei, tamb�m, as dores que a pol�tica causa.
Uma das bandeiras do seu mandato era a quest�o da viol�ncia contra a mulher? Vai levar a quest�o adiante?
� uma bandeira minha desde o in�cio do meu mandato. Presidi a comiss�o de combate � viol�ncia contra a mulher. Agora, volto para a C�mara e, certamente, vou fazer parte dela. Isso sempre me provocou muito. Aprovamos, agora, um projeto de lei — do qual fui coautora —, que � o da viol�ncia institucional. Queria at� ver, antes de sair (do minist�rio), se a gente conseguiria sancion�-lo. Esse projeto foi estruturado em cima daquele caso da Mariana Ferrer. Ela foi revitimizada o tempo todo. A mulher revive a viol�ncia nas delegacias, nos tribunais. O tempo todo voc� � desafiada: 'N�o estava com um vestido curto demais?'
A sua pauta sobre as mulheres, na verdade, � at� mais ampla.
Sim. Defendo n�o s� o combate � viol�ncia contra a mulher, mas tamb�m o est�mulo � participa��o dela na pol�tica e nos espa�os de poder. A gente precisa dar a m�o � outra, criar oportunidades, mostrar que, juntas, conseguimos fazer muito. Vamos acabar com essa conversa de que mulher n�o apoia mulher. A coisa mais bonita que a gente tem � a sororidade.
O PL vai tentar reivindicar a Presid�ncia da C�mara em 2023?
Isso passa por uma nova elei��o, n�? A gente pode chegar entre 65 e 75 parlamentares at� o fim da janela partid�ria. � uma bancada forte. Temos hoje um l�der do PL, Altineu C�rtes, que � um grande amigo e comandar� essa transi��o com maestria. Mas reivindicar uma coisa na pr�xima elei��o � muito prematuro e seria at� leviano. A gente n�o sabe nem quem estar� l�. N�o sabemos qual ser� o tamanho da bancada, apesar de eu acreditar que qualquer decis�o dentro do Congresso vai passar pelo PL.
Mas muita gente vislumbra uma disputa interna no PL entre bolsonaristas "raiz" e a turma que j� estava no partido. Como manter uma unidade interna?
Acho que o insucesso do PSL deve servir de li��o. � o tipo de coisa que n�o d� certo. Rachar alas dentro de um mesmo partido s� o torna mais fraco. Foi exatamente o que aconteceu com o antigo PSL. Mas n�o acredito que isso aconte�a com o partido sob comando do presidente Valdemar Costa Neto, que � uma pessoa absolutamente do di�logo, da palavra, da constru��o.
E aqui no DF? Quem v�o ser os puxadores de voto?
A gente n�o consegue prever voto. S�o muitas vari�veis. H� aqueles com mandato, que j� disputaram a elei��o, mas h�, tamb�m, aqueles com potencial enorme. � claro que, no caso do PL, com a vinda da deputada Bia (Kicis), ela e eu temos mandato de deputada federal. Entre deputados distritais, h� os que t�m mandato e outros que est�o vindo. Todos t�m potencial.
Ainda n�o tivemos uma conversa definitiva, mas acho que � o caminho mais natural. Fraga sempre esteve com a gente, sempre foi do mesmo campo, mas n�s vamos conversar nos pr�ximos dias.
N�o passa, ent�o, pelas conversas do PL, ter um candidato pr�prio para o GDF?
Nos quadros do PL, temos gente para disputar qualquer vaga de majorit�ria ou de todas as proporcionais. Mas o PL, hoje, � base de governo do governador Ibaneis.
O presidente Bolsonaro, segundo as �ltimas pesquisas, est� em uma fase de ascens�o no eleitorado. A que a senhora atribui isso?
Ao fim da pandemia. Todo mundo que est� no mandato foi pego em cheio pela covid. Com o arrefecimento da pandemia, come�am a aparecer coisas efetivas que foram feitas no governo, como o Aux�lio Brasil. Antes era um t�quete m�dio de R$ 190, agora � de R$ 400. A popula��o toda foi vacinada, n�o falta vacina. Um dos pa�ses que mais vacinaram foi o Brasil.
Ele teve uma vota��o expressiva em Bras�lia. Acredita que vai se repetir? Enxerga isso nas ruas?
Enxergo. Estive quarta-feira num evento com cinco mil pessoas. � hora que eu citei o nome do presidente, ele foi ovacionado. Na sexta-feira, num evento que transfere a titularidade de terras da Uni�o e permite a regulariza��o fundi�ria, ele tamb�m foi aplaudido. Independentemente de onde ele est�, vejo essa grande aceita��o dele nas ruas.
Mas as pesquisas ainda apontam o ex-presidente Lula liderando.
Eu ainda n�o vi o ex-presidente Lula nas ruas. Ent�o, n�o d� para avaliar a popularidade dele na rua. Obviamente, ele tem um recall pol�tico, mas ainda n�o vi o ex-presidente nas ruas. E o presidente Bolsonaro est� diariamente. Tamb�m tem essa diferen�a: voc� est� falando de um presidente em pleno exerc�cio de mandato com tantos problemas enfrentados. Ele come�ou o governo com a trag�dia de Brumadinho. Depois, teve seca, chuva demais, uma pandemia que abalou pa�ses enormes. Depois, a guerra. O presidente enfrentou coisas que, na Hist�ria, acho que ningu�m viveu isso com tanta intensidade e ao mesmo tempo.
E temos a infla��o de 10% ao ano.
A infla��o � mundial. A gente est� ainda entre os pa�ses com a menor infla��o em vista dos outros do mundo. O que para n�s pouco importa, porque a gente vive aqui, a gente n�o vive fora daqui, n�o � mesmo? Mas o presidente trabalha para combater isso diariamente. N�o � uma equa��o simples, porque n�o depende dele l� tomar uma decis�o e acabou, n�? Isso s�o fatores diversos. Ent�o, temos o presidente Bolsonaro, no exerc�cio do mandato, e o outro candidato, de fora, sendo a oposi��o, a criticar. Neste momento, est� mais c�modo ser oposi��o do que estar no mandato.
H� possibilidade de uma terceira via, ou a polariza��o � inevit�vel?
A elei��o levar� � polariza��o. Apesar de haver pessoas muito capacitadas — governadores, ex-governadores — e os que est�o achando que v�o resolver o mundo, a elei��o passa por esses dois lados: o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Esse � o cen�rio que vamos enfrentar.
Isso n�o deixa o pa�s dividido?
Deixa. Pessoalmente, n�o acho uma coisa boa, porque divide a popula��o. Divide fam�lias, divide opini�es. Mas, infelizmente, � o que estamos vivendo.
A senhora mencionou que seu trabalho aqui no Planalto foi de construir pontes. � papel do pol�tico construir pontes, derrubar muros. S� que o pa�s est� claramente dividido, tende a repetir o que aconteceu em 2018. A pol�tica falhou?
A volta ao cen�rio pol�tico do ex-presidente Lula � que, talvez, tenha deixado esse cen�rio mais polarizado. A elei��o do presidente Bolsonaro em 2018 era tida como improv�vel. Ele tem sido um presidente extremamente atacado desde o primeiro minuto, mas permanece com uma popularidade consolidada e caminhando para crescer cada dia mais. Acho que o que aconteceu foi isso: a viabilidade de um nome que estava fora da pol�tica (Lula) e a concretiza��o e a perman�ncia de um presidente de direita, de ideias diferentes. A Hist�ria � feita de p�ndulos. Acredito que, em algum momento, esse p�ndulo volte um pouco mais para o centro, mas agora a gente est� com essa polariza��o.
Ao filiar-se ao PSB, Geraldo Alckmin disse que seria importante para a democracia. O presidente Bolsonaro amea�ou a democracia?
Eu nunca vi o presidente Bolsonaro dizer que ia interferir na imprensa, que n�o ia cumprir nenhuma decis�o. Nunca o vi querendo interferir no Congresso. Quando a gente fala de respeito � democracia, � de um presidente democraticamente eleito e tratando de todo o mandato dele dentro do cerne da democracia, do respeito � independ�ncia dos Poderes, dentro das quatro linhas da Constitui��o. A gente tem de lembrar sempre da independ�ncia dos Poderes. Questionar a legitimidade de alguma coisa � natural. Agora, invadir o poder...
A gente tem uma Constitui��o muito clara. Temos tr�s Poderes bem definidos: Executivo, Legislativo e Judici�rio. Se cada um deles atuar dentro das suas atribui��es, n�o vejo nenhum tipo de amea�a. O presidente foi eleito por um regime democr�tico, permanece nele, trabalha para ele. O que ele diz n�o � uma amea�a, mas, sim, uma demonstra��o de transpar�ncia das coisas. Como as coisas est�o muito acirradas, esse discurso acaba se levantando at� mesmo contra ele. Repito: o cerne da democracia � o respeito � independ�ncia dos Poderes.
A senhora fica mais uma semana aqui no Planalto. Vai sentir falta dessa rotina?
(Risos) Meu Deus do c�u... Sentir falta da rotina, n�o, porque a rotina de parlamentar e o processo pr�-eleitoral tamb�m s�o muito intensos. Talvez, v� sentir falta das pessoas que est�o aqui, dos amigos que fiz. Mas n�o vou, em momento algum, me desligar totalmente. Como parlamentar, esse canal de comunica��o com o Executivo n�o deixar de existir. N�o estou indo embora da cidade. Sou parlamentar de Bras�lia. Sentirei falta do conv�vio di�rio, mas vou continuar ajudando o presidente, agora, do outro lado da rua.
O que � mais dif�cil neste per�odo da campanha?
At� o dia 2, a quest�o mais dif�cil � a da janela partid�ria. A gente vai ter um trabalho muito grande na forma��o das nominatas, que s�o fundamentais para a elei��o, e no di�logo com os outros partidos. Depois que a gente passa para o processo de pr�-campanha, a� � hora de estar mais na rua. � hora, como falei no in�cio, de ouvir as pessoas, entender a demanda, ver a realidade.
A senhora se sente bem nesse momento?
Eu gosto. A minha vinda para c� me tirou um pouco dessa pr�tica. Depois, a pandemia. A pandemia afastou a gente das pessoas. Eu estava toda sexta-feira em um restaurante comunit�rio, todo dia conversando. � a partir disso que a gente faz o mandato, � ouvindo as pessoas, sabendo qual � a necessidade. Eu n�o posso ficar trancada dentro do gabinete, ou do escrit�rio, sem saber o que as pessoas precisam. Nunca perdi o meu olhar para o Distrito Federal. Agora, vou ter mais liberdade para ouvir as pessoas. O mandato n�o acabou, vou querer saber qual � o papel que a popula��o espera de mim neste pr�ximo pleito eleitoral.
E se a popula��o disser: 'A gente quer voc� governadora'?
Risos.
Aos 42 anos, a senhora � deputada federal, primeira presidente da CMO, ministra. Essa menina de Taguatinga imaginou alguma vez que chegaria aqui?
Essa menina de Taguatinga sempre foi muito batalhadora. Muito determinada e sempre disposta a ajudar o pr�ximo. Mas nunca, nem nos meus maiores sonhos, imaginei chegar aonde cheguei. E acho que mostro para as meninas de Taguatinga, de Ceil�ndia, de Planaltina, de qualquer outro lugar que, acreditando, estudando, trabalhando, batalhando, elas podem chegar aonde elas quiserem.