
Jair Bolsonaro afirmou em entrevista � r�dio O Liberal, do Par�, nesta segunda-feira (11/04) que h� "90% de chances" de o general Braga Netto ser vice dele na chapa da reelei��o � Presid�ncia.
Caso se confirme, a troca ser� de um general por outro: o atual vice � Hamilton Mour�o, tamb�m general de Ex�rcito, que deixou a ativa em 2018, filiou-se ao PRTB para concorrer na chapa de Bolsonaro e atualmente � filiado ao Republicanos.
A lei eleitoral exige que ministros de Estado que disputar�o a elei��o para a Presid�ncia ou Vice-presid�ncia deixassem o cargo seis meses antes do primeiro turno, ou seja, at� 2 de abril. Netto n�o s� deixou o cargo antes da data como tamb�m se filiou ao PL, o mesmo partido de Bolsonaro.
O presidente afirmou ainda que quer um vice "que n�o tenha ambi��es de assumir" seu lugar em um eventual pr�ximo mandato. "Eu posso adiantar para voc�s, hoje em dia o vice � de Minas Gerais", declarou.
"Obviamente, voc�s v�o tomar conhecimento de quem vai ser meu vice, apesar de (a defini��o) s� ser em agosto, pelas poss�veis sa�das de ministro agora dia 31 de mar�o. N�o quero adiantar agora o nome dele, o Salles talvez saiba, pode sugerir ou tentar adivinhar", afirmou o presidente.
O presidente se referia ao ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, presente � entrevista. Salles saiu em defesa de Braga Netto.
"Dou meu palpite, ali�s, n�o � s� o meu palpite, � o meu desejo, que o nosso colega Braga Netto, um grande general, um homem leal ao senhor, competente, s�rio, e acima de tudo muito discreto e eficiente. Espero que seja ele o mineiro a que o senhor est� se referindo".
Ao ser questionado diretamente se o general � seu escolhido, Bolsonaro respondeu: "Vou dar mais uma dica: � nascido em Belo Horizonte. Mais uma dica: fez col�gio militar". Braga Netto � de Belo Horizonte.
Den�ncias
No in�cio deste m�s, o jornal "O Globo" publicou reportagens que apontavam uma s�rie de den�ncias durante a gest�o de Braga Netto no Minist�rio da Defesa, em 2021. O peri�dico afirmou que, na �poca, a pasta aprovou um pacote secreto no valor de R$ 588 milh�es.
Dessa quantia, segundo a reportagem, R$ 401 milh�es foram destinados a 11 senadores, a maior parte ligada ao governo, e cada um definiu onde o dinheiro seria gasto. Na maior parte das vezes, em seus redutos eleitorais, e sem rela��o com a �rea militar.

Procurado pelo jornal, o Minist�rio da Defesa informou que o programa Calha Norte n�o leva em considera��o a forma como os parlamentares indicam recursos, se as emendas que chegam s�o impositivas ou de relatoria, "mas, sim, se est�o em conformidade com as diretrizes t�cnicas". O �rg�o afirmou ainda que "o ministro n�o interfere na destina��o de recursos do Programa Calha Norte". O minist�rio, por�m, n�o explicou por que apenas 11 senadores tiveram a prerrogativa de enviar recursos via emendas de relator.
Trajet�ria no Ex�rcito
Braga Netto entrou para o Ex�rcito em 1975 e atuou no Rio durante grande parte da sua carreira. Foi promovido a general em 2009 e nomeado chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Oeste no mesmo ano.
Colegas de Braga Netto definem o novo ministro como respeitado pela tropa, "dur�o" e experiente. O general � visto entre seus pares como um nome de "forte lideran�a" e "bem articulado". Parte da articula��o pode ser atribu�da aos "est�gios" na �rea diplom�tica feitos pelo militar.

Quando ainda era coronel, Braga Netto ocupou o cargo de adido militar do Brasil na Pol�nia, entre os anos de 2005 e 2006. Depois, foi promovido a general de divis�o ainda no governo de Luiz In�cio Lula da Silva, em novembro de 2009.
Em 2012, passou a ocupar a adit�ncia militar nos Estados Unidos e Canad� — enquanto exercia o cargo em Washington, foi promovido a general de Ex�rcito. Pouco depois da promo��o, em 2013, foi exonerado para, em maio, assumir a fun��o de diretor de Educa��o Superior Militar, no Rio de Janeiro.
No mesmo ano, por decreto assinado pela ent�o presidente Dilma Rousseff, o general recebeu o grau de Grande-Oficial da Ordem do M�rito Militar. Ainda no Rio, Braga Netto foi o respons�vel pela seguran�a dos Jogos Ol�mpicos de 2016, antes de ser nomeado para assumir o Comando Militar do Leste.
Em 2018, Braga Netto comandou a interven��o federal do governo Michel Temer na seguran�a p�blica do Rio de Janeiro e passou a controlar a Pol�cia Civil, a Pol�cia Militar, os bombeiros e administra��o penitenci�ria do Estado.
Nos pouco mais de dez meses em que o general comandou a seguran�a p�blica fluminense, o Estado registrou queda de roubos e aumento das mortes provocadas pela pol�cia. A interven��o acabou em 31 de dezembro de 2018.
"Fizemos uma choque de gest�o muito baseado na meritrocracia. Eu praticamente n�o aceitei pedidos pol�ticos. Se a pessoa tinha m�rito, eu colocava no cargo. Se n�o tinha m�rito, eu n�o colocava no cargo", disse o general em janeiro de 2019, em entrevista � TV Aparecida, sobre seu per�odo no comando da interven��o.
Na ocasi�o, o general argumentou que houve aumento do "n�mero de pessoas mortas em confronto com a pol�cia" porque criminosos reagiam �s opera��es policiais, em vez de se entregar.
"N�o � que n�s demos autoriza��o para matar, nada disso, simplesmente foi a metodologia empregada. N�s passamos a realizar os patrulhamentos em cima das manchas criminais. Um exemplo: eu sabia muito bem que quarta-feira, (�s) tantas horas, aumentava o n�mero de roubo de carro, ou roubo de carga, em determinado lugar, havia essa mancha (de crimes recorrentes). A� voc� fazia uma opera��o conjunta (das pol�cias estaduais e For�as Armadas)", disse ao canal cat�lico.

"O que ocorre � que o bandido no Rio tinha uma pol�tica de enfrentamento irracional. Ele estava �s vezes cercado, com armamento pesado, e buscava o confronto. Mas a tropa estava adestrada e tinha muita tropa no local, Pol�cia Militar, Pol�cia Civil, o que fosse. Nessa postura irracional do bandido, se ele n�o se entregava, ele acabava morrendo. Essa (categoria de morte) a� realmente aumentou", completou.
Na avalia��o do Observat�rio da Interven��o, iniciativa do Centro de Estudos de Seguran�a e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC/Ucam), a atua��o das For�as Armadas n�o trouxe melhorias estruturais para a seguran�a p�blica do Rio.
"Durante esses dez meses de 2018, n�o foram feitos investimentos significativos no combate aos grupos de mil�cias e � corrup��o policial. A moderniza��o da gest�o das pol�cias tamb�m n�o foi priorizada — a renova��o se restringiu � compra de equipamentos", destaca relat�rio do Observat�rio ao final da interven��o.
"Ao mesmo tempo, pr�ticas violentas da pol�cia fluminense continuaram e se agravaram. Em vez de modernizar, reformar ou mudar, a interven��o levou ao extremo pol�ticas que o Rio de Janeiro j� conhecia: a abordagem dos problemas de viol�ncia e criminalidade a partir de uma l�gica de guerra, baseada no uso de tropas de combate, ocupa��es de favelas e grandes opera��es", diz ainda o documento.
Governo Bolsonaro
Braga Netto entrou para o governo em fevereiro de 2020, quando foi anunciado como novo ministro chefe da Casa Civil, no lugar de Onyx Lorenzoni. A troca deu mais poder � ala militar do governo, grupo que havia perdido espa�o para a ala mais ideol�gica ao longo de 2019.
Um oficial que serve no Rio descreveu Braga Netto � BBC News Brasil como um militar r�gido, mas que n�o compartilha o pensamento "linha dura" de outros generais como S�rgio Etchegoyen, que chefiou o Gabinete de Seguran�a Institucional da Presid�ncia durante o governo Temer, ou Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi ministro de Bolsonaro at� junho e hoje � rompido com o presidente.
Lorenzoni, que est� afastado do seu mandato deputado federal (DEM-RS), continuou na Esplanada dos Minist�rios, assumindo o comando da pasta da Cidadania, no lugar de Osmar Terra, tamb�m deputado ga�cho, mas pelo MDB.
Tradicionalmente, a Casa Civil � um dos minist�rios mais importantes, atuando na coordena��o das demais pastas e na articula��o com o Congresso Nacional.
No entanto, o �rg�o vinha sendo esvaziado no governo Bolsonaro desde junho, quando a responsabilidade pela negocia��o pol�tica foi transferida para a Secretaria de Governo, comanda ent�o ministro general Luiz Eduardo Ramos, e a coordena��o do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), respons�vel por impulsionar obras de infraestrutura por meio de concess�es � iniciativa privada, ficou nas m�os do ministro da Economia, Paulo Guedes.

O esvaziamento da pasta deixou evidente o enfraquecimento de Lorenzoni, que no in�cio era homem forte do governo, tendo inclusive chefiado a equipe que coordenou a transi��o entre a administra��o Temer e a gest�o Bolsonaro, devido ao desempenho considerado ruim na articula��o pol�tica com o Congresso.
J� Osmar Terra tamb�m sofreu desgaste depois que reportagens recentes do jornal O Estado de S. Paulo revelaram que o Minist�rio da Cidadania, sob seu comando, contratou servi�os da empresa de tecnologia Business Technology (B2T), que � investigada pela Pol�cia Federal por supostos contratos fraudulentos com o governo federal entre 2016 e 2018, quando Temer (MDB) era presidente.
� frente da Casa Civil, Braga Netto se tornou um dos ministros mais pr�ximos de Bolsonaro. Ele deixou a pasta para assumir a Defesa ap�s a demiss�o do ocupante do cargo at� ent�o, o general Fernando Azevedo e Silva, em mar�o de 2021 - que foi seguida pela sa�da dos tr�s comandantes das For�as Armadas em protesto.
Logo depois, ele assinou uma "ordem alusiva ao 31 de mar�o de 1964" em que diz que acontecimentos como o golpe militar ocorrido h� 57 anos, o qual chamou de "movimento", devem ser "compreendidos e celebrados".
O relat�rio da CPI da Covid, que apurou as a��es e omiss�es do governo da pandemia, pediu em outubro passado o indiciamento do general por sua atua��o como ministro e coordenador coordenador do Centro de Coordena��o das Opera��es do Comit� de Crise da Covid-19, criado pelo Planalto para facilitar a articula��o de a��es de combate � doen�a entre �rg�os p�blicos.
O documento aponta que os altos n�meros de casos e mortes por covid-19 no Brasil foram em parte causados por erros do governo sobre os quais o general teria responsabilidade. O relat�rio afirma ainda que o ministro foi conivente com a "postura negacionista" de Bolsonaro sobre a pandemia.
Braga Netto disse que seu indiciamento � "um grande equ�voco" e que teria documentos para provar isso.
*Com reportagem de Mariana Shreiber, da BBC News em Bras�lia.
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