
H� tr�s semanas na cadeira de prefeito de Belo Horizonte, o economista Fuad Noman (PSD) sabe que uma de suas miss�es � aumentar o n�vel de conhecimento por parte dos habitantes da cidade. Essa, ali�s, foi uma das primeiras afirma��es dele — ainda com os microfones desligados — � equipe dos Di�rios Associados que esteve ontem na sede do Poder Executivo municipal, numa entrevista exclusiva. “Preciso que o povo me conhe�a”,.
Fuad faz quest�o de dizer que seu jeito de ser n�o � o mesmo do antecessor, Alexandre Kalil (PSD), conhecido pelas falas explosivas. E, em busca de come�ar a imprimir um estilo pr�prio, mira a��es priorit�rias. Uma delas � estruturar um programa de incentivo a atividades de cultura e lazer ao ar livre. “Precisamos recuperar a alegria de Belo Horizonte e trazer o p�blico para a rua. A pessoa acorda domingo e n�o tem nada para fazer na cidade”, avalia.
Fuad faz quest�o de dizer que seu jeito de ser n�o � o mesmo do antecessor, Alexandre Kalil (PSD), conhecido pelas falas explosivas. E, em busca de come�ar a imprimir um estilo pr�prio, mira a��es priorit�rias. Uma delas � estruturar um programa de incentivo a atividades de cultura e lazer ao ar livre. “Precisamos recuperar a alegria de Belo Horizonte e trazer o p�blico para a rua. A pessoa acorda domingo e n�o tem nada para fazer na cidade”, avalia.
Nesta entrevista ao Estado de Minas e � TV Alterosa, Fuad garante manter “rela��o cort�s” com a presidente da C�mara Municipal, Nely Aquino (Podemos). O Legislativo, ali�s, � a esperan�a do prefeito para p�r fim ao impasse que pode levar ao aumento nas tarifas de �nibus. Isso porque, enquanto uma liminar judicial ordena a cobran�a de R$ 5,85, ele tenta emplacar projeto de lei que pode resultar na diminui��o em R$ 0,20 dos atuais R$ 4,50. Na semana passada, o pessedista foi � Cidade Administrativa se encontrar com o governador Romeu Zema (Novo) para um “caf�”, como descreveu. “Feliz da vida” pela agenda, o prefeito levou ao Pal�cio Tiradentes reivindica��es de Belo Horizonte — e revela que algumas delas j� come�am a surtir efeito.
Fuad evita analisar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) ante a pandemia de COVID-19 — argumenta que esse assunto n�o � de sua “compet�ncia”. Apesar disso, cobra o repasse de verbas federais para Belo Horizonte e sonha com um aceno do chefe do Executivo federal. O desejo � que os sinais venham com “um cheque na m�o” a reboque para ajudar a destravar demandas hist�ricas da cidade, como a amplia��o do metr�.
Pai de dois filhos e quatro vezes av�, o chefe do Executivo da capital foi secret�rio de Fazenda do governo mineiro, pasta que tamb�m ocupou durante o primeiro mandato de Kalil, em BH. Atuou, tamb�m, na pasta estadual de Obras e na Casa Civil durante a gest�o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Funcion�rio de carreira do Banco Central e com atua��o, inclusive, no Fundo Monet�rio Internacional (FMI), o prefeito se descreve como “t�cnico”.
“Quem � esse mo�o?”, pergunta ele de forma ret�rica, antes de fazer um resumo do curr�culo profissional e emendar um complemento. “As pessoas precisam saber que a prefeitura n�o est� entregue a uma pessoa sem experi�ncia. A prefeitura est� entregue a uma pessoa com experi�ncia e dedica��o.”
Fuad garante manter no radar, ainda, a constru��o de casas populares para a popula��o em situa��o de vulnerabilidade e o apoio aos cidad�os que vivem nas ruas. Para isso, uma das ideias � ter o aux�lio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para mapear os p�blicos que dormem sob as marquises. “Para respeitar todo mundo, temos que oferecer solu��es a essas pessoas.”

Esta � a terceira semana desde a posse do senhor como prefeito. Quais t�m sido os principais desafios neste per�odo?
Os desafios s�o muitos, em todas as �reas. Nesses primeiros dias, o principal desafio foi a greve dos professores municipais na qual tivemos a coopera��o do sindicato, dos vereadores de Belo Horizonte e de alguns deputados estaduais. Com isso, conseguimos apresentar uma proposta que atendeu os interesses da casa, encerramos a greve e desde segunda os alunos j� est�o na escola. Outro desafio grande foi a quest�o do transporte coletivo, que n�s estamos ainda em um impasse para encontrar a solu��o. Esses dois s�o os maiores problemas que enfrentei at� agora.
O que pode ser feito de imediato para evitar o aumento das tarifas dos �nibus?
Em primeiro lugar, n�s temos que entender que n�o damos aumento aos �nibus desde 2018. Ou seja, a tarifa � R$ 4,50 h� tr�s anos e voc�s viram o que aconteceu com os custos de combust�vel, pessoal, pneu etc.. Criou-se uma quest�o de que o servi�o est� ruim porque n�o pagamos direito, a� continuamos sem pagar e o servi�o piora. � um c�rculo vicioso que coloca a forma de pagamento versus a presta��o de servi�o ruim. O que n�s precisamos � inverter esse quadro.
O que acontece se a prefeitura for notificada pela Justi�a antes de o projeto ser aprovado na C�mara?
N�o posso garantir que a passagem n�o vai aumentar sem ter o projeto de lei aprovado. O que estamos tentando fazer � construir, com a C�mara, uma solu��o que assegure que os vereadores v�o aprovar o subs�dio das gratuidades o mais rapidamente poss�vel. Se a gente conseguir essa negocia��o, vamos ao juiz, pedir um tempo para que a gente n�o precise cumprir [a liminar], porque teremos uma solu��o melhor para a sociedade.
De que maneira o senhor pretende solucionar o contrato do transporte p�blico?
Temos que rever e modernizar o contrato, que foi feito em 2008 utilizando modelos e procedimentos da �poca, que j� se mostram inadequados para os dias de hoje. Ele � v�lido at� 2028, mas para fazer qualquer altera��o n�s precisamos sentar com a C�mara, com as empresas, com a sociedade civil, para ver quais os melhores projetos para resolver isso. Tamb�m temos que contratar uma boa consultoria para analisar a parte t�cnica e os desequil�brios do contrato. S� a partir disso que teremos uma no��o da complexidade.
Como tem sido a rela��o com a C�mara e com os vereadores? Houve uma tr�gua?
O relacionamento tem sido muito bom e a presidente Nely tem sido muito cort�s. Criamos um grupo de trabalho com quatro vereadores e estamos nos encontrando �s ter�as-feiras. Logicamente, h� diverg�ncias sobre alguns detalhes, o que � normal, mas a rela��o est� muito boa.
O que foi conversado no encontro com o governador Romeu Zema, na semana passada?
Zema me convidou e eu fiquei feliz da vida. Levei uma lista de pedidos de Belo Horizonte que eu acredito que merecem a aten��o do estado. Ent�o, foi uma conversa entre um prefeito e um governador. Os pedidos foram feitos, principalmente em rela��o � quest�o do C�rrego do Ferrugem e �s inunda��es. De modo geral, s�o algumas coisas rotineiras da nossa administra��o, tais como terrenos em comum que queremos unificar para permitir que sejam feitas obras e ajustes com a Copasa sobre as dez mil resid�ncias que jogam o esgoto na Lagoa da Pampulha.
Quais s�o os principais problemas de Belo Horizonte?
N�s temos problemas das enchentes, das encostas que caem. A situa��o melhorou na Vilarinho, por exemplo, mas ainda temos problemas que demandam obras que s� podem ser feitas em per�odos secos. Outro ponto � a educa��o. Se eu der um turno agora, n�o consigo recuperar os dois anos de pandemia. Ent�o, precisamos encontrar formas de aumentar a carga hor�ria. Tamb�m tem a quest�o da sa�de, que ainda � um problema grave. Ainda temos pessoas morrendo todos os dias por causa da COVID-19. J� reformamos 33 postos de sa�de e vamos concluir outros 17.
O senhor tem algum projeto para atrair o p�blico para ruas, pra�as e parques?
N�s precisamos recuperar a alegria de Belo Horizonte. N�s precisamos trazer o p�blico para a rua. A pessoa acorda domingo e n�o tem nada para fazer na cidade. Estamos trabalhando na montagem de um modelo, de um programa. Ainda n�o tem um nome, mas pensei em algo como “Belo Horizonte mais feliz”, porque de fato precisamos disso. Temos que colocar as crian�as na rua, fazer atividade f�sica, passeio de bicicleta. Criar shows dentro da cidade, da periferia. Com isso, al�m de lazer, tamb�m abre oportunidade ao vendedor de pipoca, de picol�, ou seja, gerar demanda para pequenos neg�cios. Tamb�m quero enfeitar a cidade, colocar mais �rvores, deixar mais limpa, mais bonita.
O que a sua gest�o na prefeitura pretende fazer para diminuir o n�mero de pessoas em situa��o de rua?
Esse n�o � um problema simples. Primeiro, porque quem est� na rua, normalmente, n�o est� porque quer. A maioria est� na rua porque n�o tem alternativa. S�o pessoas que precisam ter sua dignidade respeitada. Para lidar com esta quest�o, estamos contratando uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para que eles possam mapear e separar em grupos semelhantes. Para cada um deles, queremos uma pol�tica espec�fica. Para respeitar todo mundo, temos que oferecer solu��es para essas pessoas.
O que pode ser feito para suprir o d�ficit habitacional de Belo Horizonte?
O governo federal sempre foi o patrocinador das moradias populares. Teve o “Minha casa, minha vida” e terminou. Neste governo se criou o programa “Casa Verde e Amarela”, mas n�o avan�ou. As prefeituras, de modo geral, n�o t�m esse recurso para investir. Com Belo Horizonte, � um pouco diferente. Temos algumas possibilidades e estamos trabalhando para encontrar �reas e recursos para construir. Este ano, com certeza, vamos iniciar a constru��o de algumas casas populares. Eu queria pelo menos umas 500 unidades. Vamos colocar um conjunto de im�veis para vender, que geraria um recurso, a prefeitura daria o terreno e pod�amos construir alguma coisa.
H� previs�o para a libera��o de m�scaras em locais fechados?
O problema todo � o seguinte. Primeiro, tem um estudo da Fiocruz que fala que ainda n�o � o fim da pandemia. E a segunda coisa que mais me preocupa � que menos de 30% das crian�as de 5 a 11 anos est�o com a segunda dose. Eu fico muito preocupado em colocar essas crian�as na escola sem m�scara e a contamina��o aumentar novamente. A quest�o �: se mais de 70% tomaram a primeira dose, porque n�o tomam a segunda? Tem que falar com os pais e respons�veis para vacinar as crian�as.
O senhor vai apoiar a candidatura de Kalil ao governo? Pretende participar da campanha?
Claramente vou votar em Kalil, porque acho que � uma pessoa preparada. Se ele confirmar a candidatura na conven��o [do PSD], ter� meu voto. Mas a prefeitura n�o participa de campanha. O prefeito nunca foi muito bom de campanha — at� porque nunca fez — e n�o vai se envolver em campanha. Eventualmente, em um s�bado ou domingo, se ele me convidar para ir ali ou acol�, at� vou. Mas a Prefeitura de Belo Horizonte n�o tem compromisso com campanha de ningu�m. Recebo todo mundo que quiser vir aqui. Fui at� l� no governador e j� recebi o senador Carlos Viana [pr�-candidato ao governo]. Absolutamente republicanas as nossas conversas.
Como o senhor projeta a rela��o da prefeitura com o presidente Jair Bolsonaro?
Como prefeito, n�o � da minha compet�ncia avaliar o presidente da Rep�blica. A �nica coisa que eu tenho a reclamar � que Belo Horizonte n�o tem sido contemplada com recursos federais. Em 2020, de fato eles liberaram bastante recurso, mas em 2021 n�o teve nada e at� agora em 2022 tamb�m n�o. Ent�o, eu gostaria muito que o presidente abrisse os cofres para Belo Horizonte, que � uma cidade importante, que merece. Eu n�o tenho nenhum problema com ningu�m, converso com todo mundo, respeito todo mundo e se o presidente quiser me chamar para conversar eu vou com muito prazer. At� porque temos problema no metr�, no Anel Rodovi�rio e sem o governo federal atuar � imposs�vel resolver essas quest�es. Ent�o, gostaria que o presidente olhasse pra c�, de prefer�ncia com um cheque na m�o.
Qual a posi��o do senhor sobre as den�ncias de trucul�ncia da Guarda Municipal nos protestos dos professores?
Eu pedi � Guarda Municipal que abrisse uma sindic�ncia interna para avaliar o que ocorreu. Se o procedimento foi correto, se houve abuso, excesso, enfim, saber o que aconteceu. A gente afastou os dois guardas envolvidos durante o processo e estamos aguardando. N�s somos absolutamente contra qualquer tipo de viol�ncia e nossa posi��o para a Guarda � sempre proteger e n�o atacar, mas �s vezes acontece e n�s precisamos entender o porque antes de tomar qualquer medida.
O que o senhor pensa em fazer para se tornar mais conhecido pelos belo-horizontinos?
Fui eleito vice-prefeito, mas as pessoas votaram no Kalil. S� se a pessoa olhasse com muito cuidado para ver que Fuad estava l� [na urna eletr�nica]. A popula��o precisa de me conhecer. Tenho 50 anos de servi�o p�blico. Tenho hist�ria no governo federal, no governo federal e no governo municipal. Tenho muita experi�ncia, mas nunca fui uma pessoa de frente. Sempre fui uma pessoa t�cnica. As pessoas precisam saber que a prefeitura n�o est� entregue a uma pessoa sem experi�ncia. A prefeitura est� entregue a uma pessoa com experi�ncia e dedica��o. Um belo-horizontino que ama esta cidade e a quer pulsando novamente, com as pessoas felizes. Vamos trabalhar para que esses dois anos e oito meses sejam de um governo de muitos avan�os por Belo Horizonte.
O senhor pensa em estar ativo nas redes sociais?
Ainda vou pensar nisso. Vamos conversar. Quero come�ar a comunicar coisas pelo Twitter, mas, para mim, o mais importante s�o voc�s [a imprensa].
Kalil tinha um jeito mais impositivo e expansivo nas respostas. O senhor, mais t�cnico, adota um tom mais manso nas falas. Pensa em resolver os problemas de BH � base do jeito mineiro de ser?
Entrei no governo com Kalil. Somos do mesmo partido e torcemos juntos para o Atl�tico. Ele tem ascend�ncia libanesa; eu, s�ria. Isso nos aproxima muito. Ganhamos a elei��o com um programa de governo meu e dele. Fizemos um planejamento para tocar os quatro anos junto com ele. Isso vai continuar. Queremos a mesma coisa para a cidade. Pessoas t�m jeitos diferentes — e n�o h� nenhum problema. Sou mais calmo, converso mais e gosto de contar mais casos. Kalil tem um cora��o grande; �s vezes, fica um pouco nervoso. N�o tenho um cora��o t�o grande, mas tamb�m n�o fico t�o nervoso.