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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Quem est� por tr�s de campanha por voto jovem postada por Leo DiCaprio e que irritou Bolsonaro?

F�s de K-pop, coletivos de meninas e organiza��es sociais viralizaram campanhas com linguagem jovem e levaram a um recorde de engajamento com mais de dois milh�es de adolescentes brasileiros alistados para votar em 2022.


06/05/2022 10:33 - atualizado 06/05/2022 12:40


Leonardo DiCaprio na estreia mundial de 'Don't Look Up' da Netflix
O ator de Hollywood Leonardo DiCaprio doou milh�es de d�lares para esfor�os de conserva��o (foto: Getty Images)

Tr�s meses atr�s, a hist�ria tra�ada para as elei��es de 2022 seria a do pleito com menor participa��o dos jovens entre 16 e 18 anos desde o retorno � democracia brasileira. Em fevereiro deste ano, apenas 830 mil jovens tinham tirado seu t�tulo de eleitor - o equivalente a 13,6% da atual popula��o brasileira nesta faixa et�ria. Para jovens de 16 e 17 anos, o voto n�o � obrigat�rio.

No entanto, depois de uma mobiliza��o que levou ao engajamento at� de dois astros hollywoodianos, Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo, e que irritou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), a tend�ncia foi revertida em cerca de 90 dias.

Nesta quinta-feira (5/5), um dia ap�s o fim do prazo para o alistamento eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que, no total, 2,04 milh�es de novos eleitores nessa faixa de idade se registraram para votar em 2022. Esse n�mero, ainda parcial, j� � 47,2% maior do que a ades�o registrada em 2018 e 57,4% superior ao n�mero de 2014.

"� com orgulho e satisfa��o que anuncio o resultado parcial de todo esse esfor�o, que superou todos os recordes j� registrados pela Justi�a Eleitoral brasileira em 90 anos. Vimos, como h� muito n�o se via, um pa�s unido pelo bem, pela conc�rdia, pelo fortalecimento da democracia. Agrade�o a cada um e a cada uma, influenciador ou n�o, famoso ou n�o, jovens de todas as idades que participaram e criaram conte�dos nas redes sociais para chamar a aten��o de todos", afirmou o presidente do TSE, ministro Edson Fachin.

As postagens de DiCaprio e de outras celebridades, com seus milh�es em impress�es e engajamento, reuniram material de gente an�nima e que se declara apartid�ria, que trabalhou silenciosamente por meses, em busca de conte�do capaz de viralizar. Entenda:

Disputa Leo DiCaprio e Bolsonaro ganha novo 'round'

Os �ltimos lances dessa hist�ria chamaram a aten��o porque levaram ao confronto virtual de dois j� velhos antagonistas. Em 28 de abril - uma semana antes do fim do prazo de registro eleitoral -, o ator e ambientalista americano Leonardo DiCaprio foi ao Twitter e postou, em ingl�s, aos seus 19,6 milh�es de seguidores:

"O Brasil abriga a Amaz�nia e outros ecossistemas cr�ticos para as mudan�as clim�ticas.

O que acontece l� � importante para todos n�s e o voto dos jovens � fundamental para impulsionar a mudan�a em dire��o a um planeta saud�vel". A mensagem terminava com o site da campanha "Olha o barulhinho", relembrava o prazo de 4 de maio e promovia a hashtag #tiraotitulohoje.

O compromisso da @anitta com a democracia � inspirador. Conversar com artistas talentosos e comprometidos em ajudar a salvar o planeta me traz esperan�a de um futuro melhor. Ou�a a Anitta e tire seu t�tulo at� �s 23:59 de hoje em https://t.co/0mKrfxtCth #TiraOTituloHoje https://t.co/ya486OE4z2

— Leonardo DiCaprio (@LeoDiCaprio) May 4, 2022

A postagem teve quase 50 mil likes. Pouco mais de 24 horas depois, a mensagem de DiCaprio foi repostada por Bolsonaro, que tem quase 8 milh�es de seguidores, com uma resposta ir�nica do presidente brasileiro (tamb�m em ingl�s):

"Obrigado pelo apoio, L�o! � muito importante ter todos os brasileiros votando nas pr�ximas elei��es. Nosso povo decidir� se quer manter nossa soberania na Amaz�nia ou ser governado por bandidos que servem a interesses estrangeiros. Bom trabalho em O Regresso!", escreveu o candidato � reelei��o, mencionando o filme de 2015 e angariando mais de 92 mil likes.

Na sequ�ncia, Bolsonaro acusou DiCaprio de usar uma foto de 2003 para se referir � crise das queimadas na Amaz�nia em 2019. "Tem gente que quer prender brasileiros que cometem esse tipo de erro aqui em nosso pa�s. Mas sou contra essa ideia tir�nica", afirmou Bolsonaro, em refer�ncia �s a��es judiciais contra fake news de que seus apoiadores t�m sido alvo. "Ent�o eu te perdoo. Abra�os do Brasil!", finalizou Bolsonaro.

- Thanks for your support, Leo! It's really important to have every Brazilian voting in the coming elections. Our people will decide if they want to keep our sovereignty on the Amazon or to be ruled by crooks who serve foreign special interest. Good job in The Revenant! %uD83D%uDC4D https://t.co/kg3b6rmPCw

— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 29, 2022

A desaven�a entre DiCaprio e Bolsonaro n�o � nova. Em 2019, o ator doou cerca de US$ 5 milh�es para a conserva��o da Amaz�nia e se tornou cr�tico aberto do atual governo brasileiro conforme os �ndices de desmatamento do bioma foram aumentando. O americano se posicionou abertamente contra a assinatura de acordos comerciais entre o governo de seu pa�s e o Brasil dadas as pol�ticas ambientais adotadas por Bolsonaro. Em resposta, o presidente do Brasil chegou a acusar DiCaprio de dar dinheiro para "tacar fogo na Amaz�nia".

Quer seja pela resposta provocativa do presidente, quer seja pelo seu pr�prio interesse no assunto, DiCaprio postou mais cinco vezes sobre as elei��es brasileiras e o voto jovem nos sete dias seguintes. A maioria delas em portugu�s.

Uma de suas postagens, mencionando uma conversa com a cantora brasileira Anitta durante o MetGala, ultrapassou 116 mil likes.

Anitta, que tamb�m se engajou nas campanhas pelo voto dos adolescentes, tem quase 17 milh�es de seguidores e recentemente bloqueou Bolsonaro de seu perfil, para evitar que ele obtivesse proje��o por meio de intera��es online com ela.

A musa do pop brasileiro tem se mostrado cr�tica ao presidente. Ela criou suspense em sua conta para dizer que tinha conversado "por horas" com Leonardo DiCaprio "sobre a import�ncia dos jovens tirarem seu t�tulo de eleitor". "Voc�s sabiam que ele (DiCaprio) sabe mais sobre a import�ncia da nossa floresta Amaz�nica do que o presidente do Brasil? Pois sabe", disparou Anitta e amealhou 147 mil likes.

Bolsonaro usou um print da postagem de Anitta para responder (e recolher quase 113 mil likes): "Fico feliz que tenha falado com um ator de Hollywood, @Anitta, � o sonho de todo adolescente. Eu converso com milhares de brasileiros todos os dias. N�o s�o famosos, mas s�o a b�ssola para nossas decis�es, pois ningu�m defende e sabe mais sobre o Brasil do que seu pr�prio povo".

Os autores por tr�s do viral

As postagens de DiCaprio, Anitta e Bolsonaro, com seus milh�es em impress�es e engajamento, reuniram material de gente an�nima, que trabalhou silenciosamente por meses, para fazer o conte�do viralizar, muito longe dos ambientes em que esses tr�s personagens costumam circular.

"Acho muito curioso uma rea��o dessas de um presidente que foi eleito democraticamente", comentou a advogada Mariana Faciroli, de 30 anos, do interior de S�o Paulo.

Faciroli faz parte de um grupo de 53 mulheres, entre 17 e 45 anos, unidas pelo apre�o � banda de K-pop BTS e pela verve para o ativismo socioambiental. Em 2019, elas fizeram viralizar uma hashtag sobre as queimadas na Amaz�nia que recebeu endosso de DiCaprio. Agora, o grupo, batizado de Army Help the Planet, capitaneou a campanha "Tira o T�tulo Army".

"F�s de K-pop s�o uma for�a poderosa! Eles esvaziaram com�cios de (Donald) Trump e combateram trolls nas elei��es do Chile. F�s de K-pop sabem que a juventude pode votar para construir um futuro melhor. Eles est�o instigando jovens brasileiros de 16 e 17 anos a se registrarem para votar! Estou com eles", postou o ator americano Mark Ruffalo, int�rprete do super-her�i Hulk no filme "Vingadores", fazendo circular a campanha entre seus 8 milh�es de seguidores no Twitter.

Questionada sobre se entraram em contato diretamente com Di Caprio ou Ruffalo para pedir apoio � causa, Faciroli se mostrou espantada. Disse que n�o tem nenhum contato com os famosos estrangeiros e atribui os apoios aos milh�es de f�s da banda de K-pop. O trabalho de Faciroli j� foi mais longe do que ela pr�pria. Em julho, a advogada far� sua primeira viagem internacional: apresentar� os resultados c�vicos de seu grupo numa confer�ncia na capital coreana Seul. Um dos conferencistas no evento, o best seller brasileiro Paulo Coelho, j� endossou o trabalho do Army nas redes.

Segundo Faciroli, como parte significativa dos f�s do BTS s�o jovens e muito ativos nas redes sociais, ela e seu grupo identificaram, ainda no ano passado, "um momento muito delicado para o jovem na pol�tica, como se pol�tica n�o se discutisse'. At� a democracia come�ou a entrar em xeque".

A mobiliza��o do grupo incluiu n�o s� um tutorial amig�vel para o p�blico sobre como tirar o t�tulo (que teve mais de 100 mil impress�es online), mas a distribui��o, em cinemas, de r�plicas de t�tulos de eleitor "fofos", com os dados de integrantes da banda BTS e um QR code para a campanha, e proje��es gigantes, em edif�cios de sete capitais brasileiras, sobre a import�ncia da emiss�o do t�tulo pelo jovem.

Segundo Faciroli, o grupo atua de modo 100% volunt�rio e sequer aceita doa��es. "Fazemos parcerias e, quando tem algum custo, a gente rateia entre as 53 volunt�rias". A advogada diz ainda que o movimento � apartid�rio. "N�o temos a inten��o de manifestar apoio ou repulsa a nenhum candidato ou representante eleito, at� porque queremos ter condi��es de bater de frente com quem quer que seja quando discordamos da pol�tica socio-ambiental", diz Faciroli, que conta sobre o grupo ter tomado alguns "hates" nas redes (mensagens agressivas de desconhecidos), "sinal de que estamos famosas no Twitter", ri.

"A gente usa tanto a express�o festa da democracia, mas o que h� de festa? A polariza��o espanta os jovens, d� neles o medo de onde est�o indo se meter, medo de ser julgado, de brigar em casa. A gente quer � colocar a festa nesta hist�ria", diz Let�cia Bahia, diretora executiva da Girl Up Brasil, o bra�o nacional de uma organiza��o criada nos EUA em 2010 para oferecer subs�dios pra elabora��o de pol�ticas p�blicas para adolescentes � Organiza��o das Na��es Unidas.

Nosso �ltimo v�deo � do @walterlimaalves! Voc�s tamb�m est�o viciados no Barulhinho? Um dia quero passar o Carnaval no Brasil s� pra dan�ar o Barulhinho com voc�s! Agora corre tirar o t�tulo antes da meia noite! #TiraOT�tuloHoje https://t.co/qnVm4trNv2

— Mark Ruffalo (@MarkRuffalo) May 4, 2022

No Brasil, a Girl Up conta com mais de 170 clubes de jovens, entre 13 e 22 anos, que discutem temas considerados centrais para esse p�blico. Recentemente, a rede se engajou, por exemplo, em dezenas de projetos de lei para combater a pobreza menstrual.

Atuando no Brasil desde 2019, a organiza��o j� tinha feito uma mobiliza��o pelo voto jovem em 2020, com resultados muito menores.

"Esse ano, a quest�o do voto jovem ganhou uma conota��o muito eleitoral pela tend�ncia do eleitor dessa faixa et�ria de ter um voto mais progressista", afirma Bahia, que ressalta que o grupo � apartid�rio.

Diferentes sondagens eleitorais t�m mostrado dianteira do candidato do PT, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, ante a Bolsonaro, entre o estrato mais jovem do eleitorado. A vantagem, no entanto, n�o � uniforme neste grupo. Segundo notou o cientista pol�tico Jairo Nicolau, a partir de dados de abril de 2022 da pesquisa Genial/Quaest, enquanto Lula aparece com o dobro das inten��es de voto entre mulheres de 16 a 29 anos, na mesma faixa et�ria entre homens, � Bolsonaro quem tem a lideran�a (40% a 36%).

A Girl Up Brasil criou a campanha "Seu voto importa", compartilhada por Di

Caprio e pela atriz brasileira Larissa Manoela, que vestiu um cropped com a hashtag #seuvotoimporta e postou foto em sua conta de Instagram para mais de 45 milh�es de seguidores. "A ideia era levar a quest�o do voto n�o apenas para os espa�os onde os jovens est�o, mas para onde eles est�o se divertindo", diz Bahia, que vibrou com a "fofoca" entre Anitta e DiCaprio sobre o engajamento jovem na elei��o do Brasil.

A Girl Up n�o abre as informa��es sobre financiadores e custos da campanha. O mesmo foi dito � BBC News Brasil pelos criadores de outra das campanhas virais, a "Olha o Barulhinho", da ag�ncia de comunica��o online com foco social Quid. Nos dois casos, no entanto, os respons�veis afirmam que n�o aceitam qualquer doa��o ou vincula��o com partidos pol�ticos.

J� a "Cada voto conta", criada pela ONG Nossas � financiada por organiza��es como a Open Society Foundations, do bilion�rio George Soros, a Oak Foundation, a Unicef, a Skoll Foundation, entre outras. A Nossas n�o aceita doa��o de governos ou partidos e n�o tem vincula��o com legendas.

Ainda que seja dif�cil estimar quanto essas organiza��es gastaram para promover o voto jovem no Brasil, um c�lculo da organiza��o americana Vote.org, dedicada a levar os eleitores dos EUA �s urnas, j� que ali o voto n�o � obrigat�rio), estima que o custo de convencer algu�m a se registrar para votar esteja em torno de US$3. Se juntas, as campanhas estimularam mais de um milh�o de jovens, n�o � exagerado dizer que se tratou de um esfor�o milion�rio.

Rumo aos 2 milh�es

No caso da campanha da Nossas, o trabalho tamb�m desembarcou do mundo online: a ideia foi criar um jogo para premiar os 3 jovens que mais convencessem amigos a tirar seus t�tulos (o resultado ainda n�o saiu, mas as l�deres na corrida at� agora contabilizam entre 200 e 300 t�tulos acumulados). A organiza��o estima que tenha engajado ao menos 5 mil jovens diretamente.

Segundo Daniela Orofino, uma das diretoras-executivas da Nossas, essas quatro campanhas - e algumas outras - atuaram de modo independente mas com uma certa coordena��o para amplificar seus efeitos. E com uma mesma meta: bater os 2 milh�es de novos t�tulos de jovens em 2022 (o que foi alcan�ado, segundo o TSE).

"No come�o desse ano, a gente percebeu que tinha muitas organiza��es, com quem j� hav�amos trabalhado em outras causas, com a mesma preocupa��o que a gente, a quest�o do voto jovem, e resolveu se articular. Foram mais de 30 organiza��es envolvidas e v�rias campanhas surgiram nesse contexto. E a gente atuou junto como pode", afirma Orofino. Uma das atividades conjuntas foi a cria��o de um dia nacional do t�tulo, com banquinhas para tirar o voto na hora, em escolas de todos os 27 Estados do pa�s. Houve tamb�m um tuita�o coletiva com a hashtag #tiraotitulohoje.

"Teve muitas celebridades que entraram na onda, e a gente acha isso muito positivo porque eles falam com muitos p�blicos. Mas a gente n�o sabe te dizer como chegou no Leonardo di Caprio, no Mark Ruffalo, na Anitta. O neg�cio tomou uma propor��o t�o grande, chegou em tanta gente", diz Orofino.

O engajamento das campanhas, com atores e financiadores internacionais, gerou desconforto no Pal�cio do Planalto. Tamb�m via Twitter, o assessor especial para rela��es internacionais do presidente Bolsonaro, Filipe Martins, afirmou que "A (revista) Time (que publicou capa com Lula esta semana) e Leonardo DiCaprio n�o s�o os �nicos se intrometendo na pol�tica dom�stica brasileira. H� gente muito mais perigosa do que o ator e seus colegas hollywoodianos envolvida nessa tentativa de manipular os brasileiros e afetar o desfecho da disputa eleitoral deste ano. Uma dessas pessoas � George Soros".

Todas as envolvidas em campanhas entrevistadas pela BBC News Brasil negam que a inten��o das campanhas tenha sido beneficiar ou prejudicar um ou outro candidato.

"� uma campanha em defesa � democracia e da participa��o dos jovens. No come�o do ano, a narrativa era 'o jovem n�o se importa com a pol�tica, o jovem n�o se importa com elei��es', e agora a narrativa � 'o jovem reagiu, deu a volta por cima e vai fazer hist�ria na elei��o de 2022'", diz Orofino.

Al�m das campanhas apartid�rias, movimentos de defesores e cr�ticos de Bolsonaro tamb�m buscaram estimular participa��o dos jovens nas elei��es nos �ltimos meses.

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