
Acusada de ser a mulher que passou a faca para Ad�lio Bispo cometer o atentado contra o ent�o candidato � presid�ncia da Rep�blica Jair Bolsonaro, a banc�ria e sindicalista de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, L�via Gomes Terra, de 41 anos, obteve uma importante vit�ria junto ao Tribunal de Justi�a do Rio de Janeiro (TJRJ). O engenheiro carioca e bolsonarista Renato Henrique Scheidemantel, de 53, foi condenado por cal�nia ap�s publicar em suas redes sociais que L�via teve participa��o na tentativa de homic�dio do presidenci�vel.
Em 8 setembro de 2018, dois dias ap�s o atentado contra Bolsonaro, a banc�ria foi surpreendida com uma publica��o feita por Renato no Facebook que continha suas fotos, expondo-a como coautora da a��o criminosa. Logo, o juiz da 27ª Vara Criminal do TJRJ, Fl�vio Itabaiana de Oliveira Nicolau, entendeu que a “materialidade restou positivada” e aplicou uma pena de 10 meses e 20 dias de deten��o, conforme consta na senten�a assinada na �ltima sexta-feira (13/5).
No entanto, a pena privativa de liberdade foi substitu�da por uma restritiva de direitos – ou seja, uma convers�o � presta��o de servi�os comunit�rios que ser�o determinados por um juiz da execu��o penal. Vale dizer que a branda condena��o se deve ao fato de o crime ter sido praticado antes da cria��o do popular “pacote anticrime” definido nas diretrizes da Lei 13.964/2019. Com a nova legisla��o, os delitos virtuais passaram a ter pena m�nima de 1 ano e 6 meses a 5 anos.
Conforme consta na decis�o judicial, o engenheiro disse que seu perfil no Facebook foi invadido em 6 de setembro – alega��o que foi refutada pelo juiz Fl�vio Itabaiana ao pontuar que Renato “continuou a postar diariamente” ap�s o epis�dio. “Cumpre salientar que o querelado n�o efetuou nenhuma postagem subsequente para tentar diminuir o alcance destrutivo de sua postagem na vida da querelante”, afirma o juiz.
“Impende salientar que n�o h� que se falar em erro de tipo escus�vel na conduta daquele que, como engenheiro, possu�a plena capacidade para distinguir e evitar a falsa percep��o da realidade acerca dos elementos constitutivos do tipo penal em comento, agindo com a n�tida vontade de obter um resultado determinado, vale dizer, de caluniar”, complementa o magistrado.
Virais de �dio nas redes
Em entrevista ao Estado de Minas na noite de quinta-feira (19/5), L�via Gomes Terra lembra que ap�s a publica��o criminosa do engenheiro nas redes sociais, uma forte onda de �dio come�ou a se formar. “Com a exposi��o do meu rosto e nome ficava f�cil me achar. Ent�o, as pessoas entravam no meu perfil, pegavam outras fotos e faziam outras postagens [com as acusa��es]. Em poucas horas, a publica��o dele [Renato] ganhou muitos compartilhamentos. Acabou que perdi a no��o do tamanho que a coisa toda tomou”, conta.Conforme a sindicalista, foram cerca de dois meses de ostensiva circula��o de not�cias falsas. Nesse sentido, a situa��o ganhou novos contornos e ficou mais grave quando correntes come�aram a circular no WhatsApp com detalhes da vida pessoal e profissional da v�tima. “Fizeram uma pesquisa sobre mim e expuseram que eu trabalhava na Caixa e inventaram at� que meus pais eram militantes da esquerda. Meu n�mero de telefone foi divulgado e, ent�o, tamb�m recebi muitos ataques em mensagens privadas”, inicia.
“Descobriram ainda que, na �poca, eu era diretora da Federa��o dos Banc�rios do estado de Minas e do Sindicato dos Banc�rios de Juiz de Fora, que, inclusive, foi acusado de pagar os honor�rios do advogado do Ad�lio. Foi preciso colocar seguran�as l� na porta, pois os sindicalistas passaram a correr riscos”, afirma.
Ansiol�ticos, antidepressivos e terapia
Entre amea�as de morte e agress�es verbais violentas di�rias, L�via diz que n�o teve condi��es de acompanhar tudo o que falavam contra ela devido ao alto fluxo dos ataques e ao abalo emocional ao qual foi submetida. “S� quem � v�tima desse �dio � que consegue entender o que eu senti. � dif�cil colocar em palavras. Foi assustador!”, desabafa.
“Durante esse per�odo, eu s� sa�a � rua acompanhada para n�o correr riscos, mas, mesmo assim, acabei desenvolvendo p�nico de sair de casa e transtorno de estresse p�s-traum�tico. Foram quatro anos em que tive muitos momentos depressivos profundos e crises de ansiedade. Eu s� conseguia sair para trabalhar e, mesmo assim, depois de passar muito mal. Houve vezes [no meio do trajeto] de ter que sair do carro para vomitar”, detalha.
Indagada sobre como avalia a decis�o da Justi�a, a banc�ria e sindicalista diz que “a senten�a chegou tarde, mas � muito bem-vinda”. “� o in�cio do fim de tanto sofrimento, mas n�o me cura, pois ficou um abalo psicol�gico muito grande. Ainda dependo de ansiol�ticos, antidepressivos e terapia para lidar com as consequ�ncias que toda essa mentira me trouxe”, reflete L�via, destacando que, na sua concep��o, “a senten�a assume car�ter educativo”.
“Fui vinculada a um crime de repercuss�o nacional e que entrar� para a hist�ria do Brasil. A internet n�o � uma terra sem lei e n�o podemos continuar vivendo num pa�s em que as pessoas se sintam � vontade para fazer tanta crueldade por meio da internet. Por isso, fa�o quest�o que minha vit�ria na Justi�a se torne p�blica. Anteriormente, meu rosto foi vinculado a um crime. Agora, quero que minha imagem e meu nome sejam associados a uma justi�a que foi feita.”
Segundo L�via, para muitas pessoas a senten�a dada pode parecer pouco expressiva, mas, na vis�o dela, “ser condenado, mesmo sem cumprir pena, � muito”. “Ele n�o vai ter agora um certificado de bons antecedentes criminais e caso cometa algum outro crime, j� n�o ser� mais r�u prim�rio”, finaliza.
Sem advogado particular, Renato Henrique Scheidemantel foi representado no processo pela Defensoria P�blica do Rio de Janeiro. � reportagem, a assessoria da institui��o do estado disse que n�o vai se pronunciar a respeito da condena��o. O Estado de Minas tamb�m tentou contato com o engenheiro, mas n�o obteve retorno at� o fechamento desta publica��o.