
Bras�lia – A aus�ncia dos dois principais pr�-candidatos ao pleito de outubro nas sabatinas promovidas por ve�culos de imprensa acendeu um alerta para analistas e demais candidatos. O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva e o atual mandat�rio, Jair Bolsonaro, n�o compareceram nem na sabatina promovida pelo Correio Braziliense, no �ltimo dia 30, nem nas demais, anunciadas por outros jornais. O questionamento que surge � se essa ser� uma estrat�gia dos l�deres das pesquisas de inten��o de voto para as elei��es, evitando assim, o desgaste de imagem.
Apesar de estarem em lados opostos na polariza��o, o petista e o atual chefe do Executivo acabam utilizando estrat�gias semelhantes para se mantereme com boa performance nas pesquisas. A t�tica n�o � nova: em 1989, o ent�o presidenci�vel Fernando Collor de Mello n�o participou dos debates no primeiro turno. J� em 1998, o ent�o candidato Fernando Henrique Cardoso tamb�m se ausentou.
Em 2006, o pr�prio presidente Lula, candidato � reelei��o, n�o registrou presen�a nos debates do primeiro turno. Mais recentemente, o ent�o candidato Jair Bolsonaro ausentou-se dos debates no segundo turno, em 2018, com o argumento de que estava se recuperando da facada que levou durante a campanha, em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Foi a primeira vez na hist�ria que n�o houve debate entre os candidatos que disputaram o segundo turno.
Segundo fonte pr�xima ao presidente Jair Bolsonaro no Pal�cio do Planalto, estar presente nos debates e sabatinas em 2022 n�o passa nem perto das preocupa��es do mandat�rio no momento. Hoje, Bolsonaro tem em mente quatro preocupa��es: combust�vel, infla��o, economia e rejei��o. “A participa��o nos debates s� entrar� no radar de preocupa��o quando a campanha estiver em curso”, disse a fonte. Por ainda ser pr�-candidato, n�o h� compromisso oficial com a participa��o nos debates, e isso ser� usado a favor para postergar a avalia��o da necessidade de comparecer ou n�o. Bolsonaro j� chegou a declarar que sua ida aos debates do primeiro turno s� ocorrer�o se Lula tamb�m comparecer.
"Talvez eu compare�a. Vamos esperar. Eu fecho agora, se o Lula for, vou junto com ele", disse Bolsonaro, no in�cio de junho. Em outra ocasi�o tamb�m afirmou que iria nos debates caso chegasse ao segundo turno mas, no que tange ao primeiro turno, n�o informou. "No segundo turno, vou participar. Se eu for para o segundo turno, devo ir, n�, vou participar. No primeiro turno, a gente pensa", disse. J� nos bastidores da campanha de Lula, h� o entendimento de que n�o � vantajoso participar de debates sem que Bolsonaro tamb�m esteja presente. Do contr�rio, � apenas dar oportunidade para que os demais candidatos — que est�o abaixo dos dois d�gitos nas inten��es de voto — ataquem o ex-presidente e ganhem espa�o.
LIMITE DE PARTICIPANTES
Ap�s o petista n�o comparecer �s sabatinas, os partidos que comp�em a chapa de Lula e de Alckmin — PT, PSB, Psol, PCdoB, PV, Rede e Solidariedade — enviaram uma carta � Associa��o Brasileira de Emissoras de R�dio e Televis�o (Abert) e � Associa��o Nacional de Jornais (ANJ) propondo que os debates presidenciais nas elei��es sejam limitados a tr�s e feitos em um modelo de “pool”, ou seja, com organiza��o conjunta por diversos ve�culos de comunica��o. O modelo � utilizado, por exemplo, nos Estados Unidos. No Brasil, historicamente, os debates s�o organizados um a um por diversos ve�culos de comunica��o.
Na carta, os partidos argumentaram que os 45 dias de campanha eleitoral previstos na legisla��o para este ano s�o curtos demais para comportar os dez debates propostos at� o momento, e que a rotina seria “incompat�vel com a agenda pol�tica e a realiza��o de atos p�blicos de campanha”.
Questionado se a falta de participa��o de Lula nos debates e sabatinas at� o momento n�o prejudica o processo eleitoral, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) diz que “se o processo eleitoral est� sendo prejudicado de alguma forma � por parte do atual governo, que tenta manipular o eleitor ao questionar a seguran�a das urnas e do sistema pelo qual ele foi eleito”. O senador � um dos coordenadores da campanha de Lula. Ele defendeu ainda que as propostas do ex-presidente j� s�o conhecidas pela popula��o brasileira, e que ser�o “detalhadas ainda mais” durante a campanha.
“Quem perde � a democracia”, diz cientista pol�tico
Bras�lia – O professor Marco Ant�nio Teixeira, cientista pol�tico da FGV EAESP, diz que � preciso entender o contexto em que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) se absteve do debate em 2006. Visando a reelei��o, o petista enfrentava o auge do esc�ndalo do mensal�o, um esquema de compra de votos de parlamentares em troca de apoio no Congresso Nacional. “Apesar disso, Lula at� estava numa posi��o confort�vel, o que de certa forma n�o justifica sua aus�ncia no debate. Democracia sup�e debate de ideias, sup�e que os candidatos coloquem publicamente suas diferen�as. N�o adianta depois o pol�tico reclamar que n�o houve espa�o para debater suas ideias”, avalia.
Teixeira entende que se os dois principais candidatos n�o comparecem, o debate perde boa parte do seu atrativo e seu apelo. “Isso � ruim tamb�m para os outros candidatos, porque a popula��o vai olhar com menos interesse. Ainda mais num momento de polariza��o”, considera. Entretanto, Teixeira diz que quem perde mais � a democracia e o povo brasileiro. “A aus�ncia, sobretudo de candidatos competitivos, e que t�m diferen�as de ideias n�o contribui para a democracia. Mostra, na verdade, uma falta de compromisso com a democracia. Acredito que vai haver debate, seria at� descaso de Lula, porque ele sempre defendeu ideia muito clara da import�ncia do debate”, salienta.
Para o cientista pol�tico e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni, o n�o comparecimento prejudica os eleitores. Mas, por outro lado, devido ao contexto, a aus�ncia poder� ser, sim, uma estrat�gia. “Pode ser importante para suas estrat�gias eleitorais, eles evitarem dar a cara para bater. J� Ciro Gomes necessita dos debates para atacar os dois, sobretudo Lula, para se colocar como candidato contra a extrema-direita. Dado o enfraquecimento da chamada terceira via, os demais candidatos t�m mais necessidade de debater do que os dois primeiros colocados nas pesquisas eleitorais. Mas o eleitor precisa entender o que est� em jogo”, destaca.
OPOSI��O
A aus�ncia nas sabatinas da imprensa foi criticadas pelo presidente do PDT, partido do candidato Ciro Gomes, Carlos Lupi. Em v�deo divulgado pelo partido, Lupi questionou: “Onde est� o respeito � opini�o alheia? Onde est� a vontade de esclarecer a opini�o p�blica sobre cada candidato? Est� ficando tudo muito parecido. O grupo do Bolsonaro com o grupo do Lula, � tudo muito igual”, aponta. Lupi ressaltou que � preciso “furar a bolha” da polariza��o, e reiterou que Ciro quer debater. “S� um debate permanente, claro, transparente, esclarece a popula��o. PT, venha para o debate, n�o fuja como o Bolsonaro. Voc�s est�o se parecendo muito”, conclui.
A senadora Simone Tebet, pr�-candidata pelo MDB, PSDB e Cidadania, tamb�m faz quest�o de participar dos debates. Segundo membros de sua campanha, a equipe tem participado de todas as reuni�es para organizar debates e sabatinas com os ve�culos de imprensa. J� a equipe de Lula esteve presente em algumas das reuni�es. A de Bolsonaro, em nenhuma. “Estou de prontid�o para debater o Brasil onde quer que seja, e os debates dos ve�culos de imprensa s�o uma excelente oportunidade. Est� mais do que na hora de falar menos em Lula e Bolsonaro e mais de Brasil”, considera a pr�-candidata do MDB, tida como representante da terceira via contra a polariza��o.