O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, pr�-candidato do PT ao Planalto, est� confiante na sua pol�tica de alian�as e acredita que o apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pode pegar mal — inclusive em Bras�lia, onde o governador Ibaneis Rocha (MDB) deve apoiar o atual chefe do Planalto.
"Vamos ver se essa alian�a vai se firmar, inclusive pelo comportamento de Bolsonaro, que est� longe de ser algu�m confi�vel ou est�vel. Acho triste, no Distrito Federal, com tantos servidores p�blicos, as pessoas votarem em algu�m que desrespeitou tanto o funcionalismo, como Bolsonaro", disse ao Correio, em resposta a uma entrevista respondida na v�spera da chegada dele � capital.
Lula chega nesta ter�a-feira (12/7) a Bras�lia para participar de um ato p�blico, �s 17h, no Centro de Conven��es Ulysses Guimar�es. Tamb�m vai cumprir agenda com empres�rios de v�rios segmentos da economia. Uma programa��o para, entre outros assuntos, tentar desconstruir o antipetismo com a ideia de uma alian�a ampla para "reconstruir o Brasil".
Nesta entrevista, o ex-presidente explica que quer manter o aux�lio de R$ 600 e que seu compromisso � novamente tirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU. "Isso � um compromisso de vida. � a prioridade."
Sobre ataques do bolsonarismo aos seus apoiadores ou amea�as ao processo democr�tico das elei��es, Lula diz que "Bolsonaro faz um discurso violento, cheio de bravata, bem t�pico de um covarde, que tenta estimular a viol�ncia no pa�s". Tamb�m chama o atual presidente de "mentiroso".
No primeiro mandato, o senhor disse que n�o descansaria enquanto algu�m passasse fome no Brasil. A fome voltou. Vai repetir esse compromisso?
Sim. Isso � um compromisso de vida. Conseguimos, com toda a sociedade, criar pol�ticas p�blicas e promover inclus�o social que tirou o Brasil do Mapa da Fome da ONU, e agora estamos de volta. Essas pol�ticas p�blicas foram desmontadas, e a fome voltou. N�o tem por que o Brasil ter milh�es de pessoas, milh�es de fam�lias e crian�as passando fome. N�s vamos resolver isso, � a maior prioridade.
Acredita que Bolsonaro vai respeitar o resultado da elei��o?
Ele tem de respeitar. N�o � op��o dele.
O senhor j� disse que � contra as RP9, as emendas de relator ao Or�amento, e que vai acabar com elas. Por�m, para acabar, � preciso acertar com o Congresso. O Congresso, hoje, manda no Or�amento e, para 2023, vai tornar impositivas tamb�m essas emendas de relator. Como far� para acabar com elas, uma vez que at� na oposi��o tem gente que apoia essas emendas e diz ser melhor ficar independente do governo?
Vamos conversar sobre isso com o Congresso eleito pelas urnas de 2022. Por isso, ser� muito importante o voto para deputado e senador nesta elei��o. Eu acho que o pa�s n�o pode ter algo chamado "or�amento secreto". Eu quero que o pa�s tenha um or�amento participativo, com as pessoas podendo participar pela internet, opinar no destino dos recursos dos seus impostos.
Se vencer a elei��o, vai manter o Aux�lio Brasil a R$ 600?
Eu quero manter. O PT queria que o Aux�lio fosse de R$ 600 j� em 2020. Bolsonaro que fez uma coisa engra�ada: criou uma s�rie de benef�cios em per�odo eleitoral que duram at� dezembro. Depois disso, vale a palavra do Bolsonaro, que n�o vale nada, como o mundo sabe, porque todo mundo sabe que ele � um mentiroso.
O senhor � contra o teto de gastos. E Bolsonaro encomendou uma bomba fiscal de R$ 41 bilh�es. Isso n�o � irresponsabilidade fiscal?
Eu governei oito anos com responsabilidade fiscal, social, econ�mica, com todo o tipo de responsabilidade poss�vel, sem precisar de teto nenhum. Em nenhum pa�s existe esse teto. Nem no Brasil, onde a toda hora se cria uma exce��o ao teto. O maior problema de teto no Brasil s�o as milhares de fam�lias que viraram sem teto nas grandes cidades, morando nas ruas. Esse � o teto que me preocupa.
Derrotar Bolsonaro � seu objetivo. Mas ele tem aliados em diversos estados. Onde est�o os maiores desafios?
O povo brasileiro viveu meu governo. Sa� da presid�ncia com grande aprova��o. E o povo brasileiro tem lutado para sobreviver ao governo do Bolsonaro, em que muitos morrem de covid, de fome, de tiro. Em que as pessoas buscam osso, buscam carca�a de frango, porque n�o podem comprar carne. Ele n�o tem muitos aliados, porque est�o vendo nas pesquisas que n�o � uma boa se associar a ele. Ent�o, em Minas, no Rio de Janeiro, em S�o Paulo os candidatos dos partidos dele est�o � escondendo ele.
E no Distrito Federal? Ibaneis � aliado do presidente.
Vamos ver se essa alian�a vai se firmar, inclusive pelo comportamento de Bolsonaro, que est� longe de ser algu�m confi�vel ou est�vel. Acho triste, no Distrito Federal, com tantos servidores p�blicos, as pessoas votarem em algu�m que desrespeitou tanto o funcionalismo como Bolsonaro.
O PT j� reconheceu todos os seus erros?
O PT � o maior partido do pa�s, com centenas de milhares de filiados e milh�es de simpatizantes. Governamos v�rios estados e cidades do pa�s, v�rias vezes, com pessoas diferentes. Nada na vida � perfeito, sempre podemos aprender e melhorar, mas sempre respeitamos a democracia. N�o sei se todos que desrespeitaram a democracia, derrubando uma presidenta honesta e elegendo um fascista, achando dif�cil a escolha entre ele e um professor que � um dos gestores p�blicos mais qualificados do pa�s, n�o sei se eles reconheceram todos os seus erros.
Por que o antipetismo ainda � t�o forte?
Porque o petismo � forte. E porque, para derrotar o PT ap�s quatro vit�rias eleitorais, foi necess�rio acumular muita mentira, estimular muita gente de extrema direita a sair do arm�rio para derrotar um partido que construiu pol�ticas sociais contra a fome e a pobreza, que foram inspira��o e modelo no mundo todo.
Bolsonaro pode perder, mas o bolsonarismo continuar�. Concorda?
Em qualquer pa�s existe parte da popula��o, uma minoria pequena, de extrema direita. A diferen�a � que Bolsonaro os estimulou, fez parecer bonito ser ignorante, exibir grosseria e preconceito, ser violento. Vamos ver depois da elei��o como ficar� o bolsonarismo. Bolsonaro foi, por 28 anos, um deputado irrelevante. Agora, ser� um grande trabalho consertar o estrago que ele fez no pa�s: na quest�o ambiental, ao espalhar armas, atuando contra a ci�ncia, a educa��o, contra nossas universidades. Ser� um grande trabalho que eu, junto com Alckmin, com a nossa experi�ncia, e com toda a sociedade brasileira, n�o quero perder tempo, quero, desde a primeira hora, trabalhar para consertar o pa�s.
Seus advers�rios mais ferrenhos afirmam que o PT jamais fez o mea-culpa do mensal�o e do petrol�o e que o senhor n�o foi inocentado. Como est� se preparando para responder a essas argumenta��es ao longo da campanha?
Quem diz que eu n�o fui inocentado � algu�m desesperado, que n�o tem a grandeza de admitir que me acusou injustamente, depois de termos provado a abertura de processos completamente forjados e parciais contra mim, como disseram meus advogados desde a primeira defesa que apresentaram, ainda em 2016. Eu venci em mais de duas dezenas de casos na Justi�a. Juristas de renome internacional, da Alemanha, dos Estados Unidos, da It�lia, da Argentina, ficaram chocados com o absurdo da minha condena��o por "atos indeterminados", quando leram a senten�a do Moro. Fui absolvido na Justi�a em Bras�lia da acusa��o de envolvimento em desvios na Petrobras e em outras empresas p�blicas, por meio de decis�o definitiva. Nem os procuradores de Bras�lia recorreram da senten�a que falava que as acusa��es tinham objetivos pol�ticos. Eu fui o pol�tico mais investigado do pa�s, e n�o acharam nada contra mim. Mas, depois de tantas e tantas mentiras contra mim e minha fam�lia, tem gente que n�o quer dar o bra�o a torcer.
A den�ncia do tal "petrol�o" foi recusada pela Justi�a de Bras�lia. Pessoas foram condenadas no mensal�o por um voto, que deve ter sido escrito pelo Moro, que admitia que n�o tinha provas contra mim. A Lava-Jato de Curitiba soltou executivos de empresas e diretores da Petrobras que eles descobriram que roubavam desde os tempos do PSDB, em troca de um bando de mentiras em dela��es. E destru�ram as empresas, destru�ram projetos de desenvolvimento, destru�ram empregos. Os delatores foram soltos com parte do dinheiro, n�o tem nenhum mais preso, e milh�es de trabalhadores honestos das empresas ficaram desempregados. Os advers�rios mais ferrenhos apostam nisso porque n�o sobrou mais nada para dizer, depois do desastre deles na economia, na educa��o e, inclusive, no combate � corrup��o. Na �poca dos governos do PT, foram feitas as principais leis de combate � corrup��o e tamb�m foi feita a Lei da Transpar�ncia. Hoje, com Bolsonaro, tudo � sigilo de 100 anos.
Sua campanha j� foi v�tima de dois ataques, um no tri�ngulo mineiro, com um drone que atirou fezes sobre os seus apoiadores, e, na �ltima quinta-feira, no Rio de Janeiro, com uma bomba caseira de fezes atirada contra o p�blico. Como o PT e o senhor v�o tratar desses temas? Como vai se preparar, por exemplo, para o 7 de Setembro, que hoje preocupa alguns partidos e at� a Justi�a Eleitoral?
Eu n�o gosto de comentar seguran�a, temos os respons�veis pela �rea, que cuidam disso. Em ambos os casos que citou, reagiram r�pido, o sujeito do drone foi preso, o homem que jogou a bomba, tamb�m. O Bolsonaro faz um discurso violento, cheio de bravata, bem t�pico de um covarde, que tenta estimular a viol�ncia no pa�s, inclusive, tivemos essa trag�dia em Foz do Igua�u. Isso de 7 de Setembro, ele, inclusive, j� tentou antes. N�o deu certo aquela vez e n�o vai dar certo de novo.
A redu��o no pre�o dos combust�veis tem sido difundida pelos bolsonaristas nas redes sociais como uma vit�ria do presidente e a PEC dos Benef�cios � vista como um gol de Bolsonaro, porque n�o deixou margem para o PT votar contra a proposta, restou a obstru��o. Como vai lidar com esse tema na campanha?
Tamb�m estamos tranquilos com isso. Tem gente que pensa que o povo � bobo. O Bolsonaro ficou tr�s anos e meio no poder, n�o liga para nada, fica passeando de moto e espalhando mentira; chega perto da elei��o, tenta comprar o voto do povo, que est� em uma situa��o dif�cil, vendo o pre�o de tudo subir cada vez que vai ao supermercado. Ali�s, em vez de reduzir os pre�os dos combust�veis enfrentando a quest�o da paridade internacional dos pre�os da Petrobras, abrasileirando os pre�os dos combust�veis aos custos em reais, monta esse pacote em cima de um calote nos governadores e prefeitos, tirando dinheiro da sa�de e da educa��o nos estados e munic�pios. Se essa verba chegar para o povo, o povo tem mais que pegar o dinheiro — o PT n�o vai ser contra aux�lio — e depois votar com sua consci�ncia. O povo vai avaliar como Bolsonaro tem desrespeitado os trabalhadores, as mulheres, como foi um desastre na pandemia, que n�o tem nada de bom para apresentar, e vai votar contra ele.
Muita gente confunde Lula com o PT. H� quem diga que o partido s� faz o que senhor quer e h� quem diga que o senhor s� faz o que o PT quer. Quem est� certo?
Nenhuma das duas falas. Quem diz isso n�o conhece o PT, o que � at� uma pena para quem acompanha pol�tica n�o saber da diversidade e da vida interna intensa do PT. No PT tudo � discutido, tudo precisa ter convencimento, se ouvem as diverg�ncias, se vota. O PT n�o � um partido que o secret�rio-geral fala, e ningu�m responde. O PT � um partido nacional, espalhado em todo o pa�s, com diret�rios estaduais, municipais. E eu tenho muito orgulho de ser um dos fundadores do PT, mas, ao mesmo tempo, eu n�o quero ser candidato s� do PT. Quero ser, junto com o Alckmin, candidato de uma alian�a que, hoje, tem sete partidos, que tem apoio de pessoas de outros partidos, al�m desses sete, e quero ser candidato de um movimento de reconstru��o do Brasil para ser presidente de todos os brasileiros.
Eu quero me reunir em janeiro, talvez at� em dezembro, com os 27 governadores eleitos, para, juntos, resolvermos os problemas do pa�s. Me reunir com os prefeitos. N�o importa se gostam ou n�o de mim. Eu, quando fui presidente, respeitei a todos. N�o fiquei pedindo para empres�rio me apoiar, n�o fiquei perguntando se ele votava em mim. Respeitei todas as religi�es, todos os brasileiros, representei este pa�s no exterior, busquei investimentos externos e mercados para nossas exporta��es. Eu sou uma pessoa que respeita a democracia, que gosta de ouvir a opini�o dos outros, e respeito a diverg�ncia. O Brasil precisa voltar a ter di�logo, ter paz e ter um presidente que trabalhe para resolver os problemas. � a isso que quero dedicar os pr�ximos quatro anos da minha vida.