
Um relat�rio divulgado pelo Centro de Conten��o de Desinforma��o do governo da Ucr�nia apontou o ex-presidente e pr�-candidato � Presid�ncia da Rep�blica Luiz In�cio Lula da Silva (PT) como uma das personalidades internacionais que disseminariam informa��es em conson�ncia com a propaganda russa sobre a guerra com a Ucr�nia, que come�ou em fevereiro ap�s a R�ssia invadir partes do pa�s vizinho.
O relat�rio foi divulgado no Brasil pelo jornal Folha de S. Paulo na segunda-feira (25/7). Lula � o �nico brasileiro da lista que cont�m diversos pol�ticos e intelectuais de diversos outros pa�ses como Estados Unidos, da Europa, �frica e �sia.
O relat�rio cita duas supostas afirma��es atribu�da ao ex-presidente. A primeira � a de que ele teria dito que a R�ssia deveria "encabe�ar uma nova ordem mundial" e que "Zelensky � t�o culpado pela guerra quanto Putin".
A BBC News Brasil n�o localizou cita��es de Lula defendendo que a R�ssia deveria "encabe�ar" uma nova ordem mundial. Por outro lado, o ex-presidente fez, recentemente, cr�ticas � atua��o do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na condu��o da crise com a R�ssia.
Em entrevista � revista Time publicada em maio deste ano, Lula disse que Zelensky seria t�o respons�vel pela guerra quanto o presidente russo, Vladimir Putin.
"�s vezes, fico vendo o presidente da Ucr�nia na televis�o como se estivesse festejando, sendo aplaudido em p� por todos os parlamentos, sabe? Esse cara � t�o respons�vel quanto o Putin. Ele � t�o respons�vel quanto o Putin. Porque numa guerra n�o tem apenas um culpado", afirmou o ex-presidente.Especialistas em rela��es internacionais ouvidas pela BBC News Brasil afirmam que as declara��es de Lula podem n�o ser as �nicas explica��es por tr�s da inclus�o do petista na lista.
Entre os motivos apontados por elas est�o o temor pela Ucr�nia de um eventual novo governo petista se reaproximar da R�ssia e a suposta liga��o de setores do governo ucraniano com fac��es de extrema-direita. Isso, segundo elas, explicaria a n�o-inclus�o do presidente Jair Bolsonaro (PL), que, assim como Lula, tamb�m fez declara��es cr�ticas a Zelensky nos �ltimos meses.
"O povo [ucraniano] confiou num comediante o destino de uma na��o. Ele [Volodymyr Zelensky] tem que ter equil�brio para tratar dessa situa��o a�", disse Bolsonaro em fevereiro.
A BBC News Brasil enviou questionamentos � embaixada da Ucr�nia e � assessoria de imprensa do ex-presidente Lula. Nenhum dos dois enviou respostas.
Aproxima��o com a R�ssia
A doutora em estudos estrat�gicos internacionais e diretora de pesquisa do Instituto Sul-Americano de Pol�tica e Estrat�gia (Isape), Larlecianne Piccolli, avalia que inclus�o do nome de Lula na lista possa ter a ver com o hist�rico das rela��es entre o Brasil e a R�ssia durante os governos do PT, especialmente, durante os governos do ex-presidente Lula, entre 2003 e 2010.
Segundo a especialista, naquele per�odo, o governo brasileiro defendeu uma ordem internacional multipolar como uma alternativa � hegemonia norte-americana.

Uma das formas encontradas para isso foi o incentivo � forma��o de blocos como os BRICS, composto pelo Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul. Por essa l�gica, um novo governo do petista poderia enfraquecer os esfor�os feitos pela Ucr�nia para isolar a R�ssia no cen�rio internacional.
"Me parece que a Ucr�nia pode estar olhando para o futuro e vendo o que um eventual novo governo de Lula pode significar em termos de fortalecimento da R�ssia. Acho que eles est�o vendo a lideran�a de Lula nas pesquisas e avaliando quais os impactos disso para a Ucr�nia", assinala.
Para a doutora em Rela��es Internacionais e professora da Escola Superior de Guerra (ESG) do Minist�rio da Defesa Mariana Kalil, a atual posi��o do presidente Jair Bolsonaro em rela��o ao conflito � considerada menos relevante que uma eventual reaproxima��o do Brasil com a R�ssia em um novo governo petista.
Sob Bolsonaro, o governo brasileiro condenou as agress�es russas � Ucr�nia em reuni�es na Organiza��o das Na��es Unida (ONU), mas o pa�s n�o aderiu as san��es econ�micas aplicadas por pa�ses como os Estados Unidos e da Europa.
Bolsonaro diz que seu governo � "neutro" em rela��o ao conflito, apesar de, poucos dias antes da invas�o russa, ter feito uma visita a Putin na qual elogiou o presidente russo e o chamou de um "homem de paz".

"No governo de Bolsonaro, o Brasil adotou no��es pr�-Ocidente que s�o interessantes hoje � Ucr�nia. Um eventual governo Lula n�o teria essa mesma vis�o e isso pode estar preocupando os ucranianos", diz Mariana Kalil.
Liga��es com a extrema-direita
Mariana Kalil tamb�m destaca uma outra raz�o pela qual os ucranianos teriam inclu�do o nome de Lula: a liga��o de setores do governo ucraniano com movimentos de extrema-direita.
Segundo ela, isso explicaria por que Lula foi mencionado enquanto Bolsonaro, que se assume como pol�tico de direita e que tamb�m j� fez declara��es cr�ticas a Zelensky, n�o foi inclu�do.
"Esse movimento [inclus�o do nome de Lula] faz sentido quando sabemos que existe uma inser��o de Zelensky dentro da extrema-direita global. Assim, faria sentido o governo mencionar Lula, que � um pol�tico de esquerda, e n�o Bolsonaro", opina a especialista.
A lista ucraniana n�o cita, por�m, apenas pol�ticos e intelectuais de esquerda. Ela cita, por exemplo, a l�der do partido de direita radical Rassemblement National (Reuni�o Nacional), a francesa Marine Le Pen. Ela ficou conhecida por defender pautas anti-imigra��o na Fran�a e na Europa.
As liga��es entre o governo ucraniano e movimentos de extrema-direita s�o frequentemente citadas pelo governo russo como um dos motivos que levou � invas�o da Ucr�nia pelos militares do pa�s.
O tema � considerado sens�vel. A R�ssia, por exemplo, disse que um dos objetivos de sua invas�o � Ucr�nia era "desnazificar" o pa�s. O presidente Zelensky, no entanto, � judeu.
Em entrevista � BBC News Brasil em mar�o, o professor aposentado de Hist�ria da Universidade de Alberta, no Canad�, John-Paul Himka, disse que os n�veis de toler�ncia pol�tica com a movimentos de extrema direita na Ucr�nia s�o semelhantes aos encontrados em outros pa�ses do mundo.

"Temos de olhar o contexto global mais amplo da toler�ncia da Ucr�nia em rela��o � extrema direita. Eu vivo no Canad�. Recentemente, os postos de fronteira e a capital foram cercados pelo movimento de extrema direita dos comboios", disse o especialista.
Larlecianne Piccolli, por�m, concorda com Mariana Kalil.
"� de conhecimento p�blico que h� la�os de setores do governo ucraniano com movimentos de extrema-direita. Se voc� soma isso a um poss�vel temor sobre o que podem representar as elei��es no Brasil para a estrat�gia ucraniana, � poss�vel entender melhor o que pode ter motivado a entrada de Lula nessa lista e a aus�ncia de Bolsonaro", diz Larlecianne.
Em entrevista � TV Globo veiculada nesta semana, Zelensky negou a exist�ncia de grupos de extrema direita atuando no leste da Ucr�nia contra a invas�o russa.
Apesar das declara��es, h� evid�ncias de que grupos de extrema direita como o Batalh�o Azov, que luta contra a ocupa��o russa desde a invas�o da Crimeia, em 2014, mant�m rela��es com o governo ucraniano.
Mariana Kalil diz que inclus�o do nome de Lula nessa lista acontece, ainda, em meio � proximidade de um exerc�cio militar que ser� realizado pela R�ssia, China e Ir� na Venezuela, previsto para agosto deste ano.
"No Brasil, um dos argumentos usados pela direita radical contra a esquerda � o suposto risco de venezueliza��o do pa�s. Considerando o contexto do exerc�cio militar, ligar o nome de Lula � R�ssia pode ressuscitar esse tema", assinala a especialista.
Recado a americanos
Mariana Kalil aponta um terceiro motivo para a inclus�o de Lula na lista de supostos disseminadores de propaganda russa: press�o sobre os americanos.
Segundo ela, � medida em que a Ucr�nia veria um governo petista mais pr�ximo da R�ssia que o de Bolsonaro, a men��o a Lula teria o objetivo de pressionar os americanos sobre o que pode acontecer no Brasil a partir de 2023.
"Acho que eles querem dizer o seguinte: 'Americanos, olhem para o que pode acontecer no Brasil. Isso n�o ser� bom para n�s'", conclui a especialista.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62301305
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