J� imaginou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de short vermelho, sem camisa e dan�ando o funk “Vai dar PT”, do Mc Rahell? Ou o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) reclamando do pre�o da “pa�oquinha”? Os dois v�deos viralizaram nas redes sociais, mas n�o s�o reais. A pr�tica, chamada de deepfake, � uma tecnologia que usa intelig�ncia artificial (IA) para criar v�deos falsos, mas realistas, de pessoas em situa��es em que nunca estiveram na vida real. Conhecida no universo do TikTok, a pr�tica geralmente � feita com celebridades, mas, agora, come�ou a ser utilizada tamb�m com os candidatos nestas elei��es presidenciais. A nova tecnologia j� era aplicada no cinema, mas se popularizou apenas agora por aplicativos, que podem ser baixados no pr�prio celular e s�o de f�cil acesso.
O jornalista e deepfaker Bruno Sartori foi o respons�vel pelo v�deo em que Lula reclama da pa�oquinha. Ele conta que fez o v�deo para alertar a popula��o. Nas redes, ele vem falando sobre esse tipo de produ��o. “Esse v�deo pode passar como real para muita gente. Usei deepfake para inserir o rosto de Lula e transferir o timbre de voz dele para a fala original: � um computador falando. Precisamos ficar alerta neste ano eleitoral, pois, podem aparecer conte�dos com intuito de enganar”, disse ele no Twitter.
Em conversa com o Estado de Minas, Bruno explicou como os v�deos, que surgiram em 2017, se tornaram um poss�vel problema de dissemina��o de desinforma��o sobre as elei��es. “Com a viraliza��o de v�deos, como os que fa�o, e inser��o de aplicativos, as pessoas come�aram a ter mais contato com a tecnologia. Com isso, essa massifica��o come�ou a existir”, avalia.
Em 2017, quando um usu�rio do Reddit (comunidade on-line) come�ou a postar v�deos falsos de sexo com mulheres famosas, a pr�tica come�ou a ficar conhecida. A t�cnica acabou ganhando as redes sociais depois que atrizes como Gal Gadot e Emma Watson foram v�timas. Nesta semana, um v�deo de conte�do adulto que mostra Anitta em momentos �ntimos come�ou a circular pelo WhatsApp. Com isso, a assessoria da cantora precisou confirmar que n�o se tratava dela, e sim, de deepfake.
Para explicar como as deepfakes podem ser reconhecidas, Bruno Sartori usou o exemplo da cantora. “A melhor forma de identificar deepfake � pensar no contexto da hist�ria daquele v�deo. Se est� num contexto absurdo, provavelmente � deepfake”, disse. Segundo o especialista, o usu�rio precisa focar na forma com que o rosto est� inserido naquele v�deo, no fundo e pequenos detalhes, que entregam que aquelas imagens podem ter sido adulteradas. “Depende muito de quem cria a deeepfake, porque os especialistas v�o deixar os defeitos menos aparentes”, conta.
Para criar deepfakes � usada uma s�rie de softwares baseados em bibliotecas de c�digo abertas voltadas ao aprendizado de m�quina. A t�cnica � baseada em deep learning, uma subclassifica��o de IA para definir algoritmos que podem reconhecer padr�es com base em um banco de dados. Ou seja, para criar um v�deo de deepfake de determinada personalidade, o sistema precisa ser alimentado com fotos e v�deos em que ela aparece.
Treinada com base no conte�do fornecido, a IA aprende como a pessoa se comporta, passando a reconhecer padr�es de movimento, tra�os do rosto, da voz e outras caracter�sticas. Com isso, o sistema usa uma t�cnica chamada rede contradit�ria para reproduzir os movimentos e a fala como se estivessem sendo realizados pela pessoa que ser� o alvo do v�deo.
COMBATE NO BRASIL
De v�deos em que o ex-presidente dos EUA Barack Obama discursa at� imagens em que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anuncia rendi��o �s tropas da R�ssia, as deepfakes colaboram com as not�cias tendenciosas. De acordo com estudo divulgado pela Kaspersky, empresa de seguran�a digital, cerca de tr�s em cada cinco brasileiros nem mesmo conhecem esse conceito de manipula��o visual. Segundo o estudo, essa taxa de desconhecimento de 65% pode abrir as portas para as fraudes. Existe tamb�m um alto �ndice de d�vida mesmo entre aqueles que sabem o que s�o deepfakes, com 71% dos entrevistados admitindo n�o reconhecer quando um v�deo foi editado com o uso da t�cnica.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) oferece diversas ferramentas e p�ginas virtuais que permitem a qualquer cidad�o ficar por dentro de como funciona o sistema eletr�nico de vota��o e se prevenir contra a dissemina��o de not�cias falsas e desinforma��o durante as elei��es de 2022. Apesar disso, nenhuma das a��es combatem a reprodu��o de deepfakes.
Segundo o TSE, o aumento significativo do uso das redes sociais, com a propaga��o de informa��es sem checagem nos canais digitais, fez crescer de forma preocupante o n�mero de not�cias que n�o t�m compromisso com a verdade e induzem interpreta��es err�neas. Por isso, foi desenvolvido junto ao WhatsApp um chatbot (assistente virtual). A ferramenta foi criada para promover o acesso a informa��es sobre o processo eleitoral e tamb�m fornecer dados dos portais do TSE e dos TREs, de forma gratuita. Para ter acesso ao chatbot � simples: basta adicionar o telefone +55 61 9637-1078 � sua lista de contatos do WhatsApp.