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Estado de Minas ENTREVISTA

'Casos de viol�ncia eleitoral devem aumentar', afirma cientista pol�tico

Coordenador do Grupo de Investiga��o Eleitoral da UniRio, Felipe Borba informa que, em seis meses, foram registradas 214 ocorr�ncias de crime pol�tico


31/07/2022 04:00 - atualizado 31/07/2022 09:34

Foto de rede social mostra Felipe Borba com a expressão séria
Felipe Borba afirma que, conforme a campanha vai avan�ando para o dia da elei��o, a viol�ncia tende a aumentar (foto: Divulga��o)

Estudo realizado pelo Grupo de Investiga��o Eleitoral (Giel), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), aponta um crescimento de 22% nos registros de viol�ncia pol�tica no pa�s no primeiro semestre deste ano, em compara��o com o ano eleitoral anterior, 2020. Nesse primeiro semestre, o Giel j� contabilizou 214 ocorr�ncias de crime pol�tico. No mesmo per�odo de 2020, foram apurados 174 crimes do g�nero, e em 2020, ano sem elei��es, houve 169. A proje��o esperada � de que os n�meros cres�am consideravelmente no segundo semestre. Para entender como o Giel realizou essa pesquisa e o que esperar para o per�odo eleitoral, confira a entrevista com o coordenador do grupo, o cientista pol�tico e professor da UniRio, Felipe Borba.

Como � realizado esse estudo?
Coletamos esses dados de viol�ncia desde o in�cio de 2019. Monitoramos a imprensa de todo o pa�s com mais de 50 palavras-chave, buscamos nas mat�rias e vamos completando com outras informa��es das v�timas, como idade, trajet�ria na pol�tica, filia��o partid�ria e cargo que ocupa. Apuramos cinco tipos de viol�ncias: agress�es, amea�as, atentados, homic�dios e sequestros, contra a pr�pria lideran�a pol�tica ou seus familiares. Sejam esses pol�ticos em exerc�cio de mandato; sejam em cargos pol�ticos como ministros ou secret�rios; sejam ex-pol�ticos, ex-candidatos ou candidatos.

Como surgiu a ideia de monitorar esses dados?
O insight de fazer a coleta veio da morte da vereadora Marielle (Franco) e, naquele mesmo ano, o ex-presidente Lula, que ainda n�o havia sido preso, na caravana pelo pa�s sofreu um atentado � sua comitiva. Foram esses dois casos que nos chamaram a aten��o. A�, fomos vendo como era a metodologia em outros pa�ses que monitoravam esses dados.

No clima pol�tico atual, com discursos enf�ticos, em especial da extrema-direita, n�o era de se esperar que o maior n�mero de v�timas fosse de apoiadores do PT, apesar de o estudo n�o mostrar isso?
Existem duas categorias de motiva��o dessa viol�ncia: uma de natureza ideol�gica, como esse caso do senhor Marcelo Arruda (tesoureiro do PT assassinado por um bolsonarista em Foz do Igua�u); e outra de natureza econ�mica, que � preponderante. Ela acontece muito no pequeno munic�pio que tem at� 50 mil habitantes, onde o controle pol�tico da m�quina p�blica � praticamente o controle absoluto, onde, muitas vezes, a prefeitura � o principal agente econ�mico do local. Nesses pequenos munic�pios, os partidos de centro-direita e de direita s�o os de grande maioria, os partidos de esquerda t�m muito pouca penetra��o nesses locais, o que faz com que a maioria das v�timas do nosso estudo seja desses partidos. Este ano, com a elei��o nacional, sem as disputas locais, a tend�ncia � o crescimento dos crimes pol�ticos por motiva��o ideol�gica.

Na sua opini�o, o caso de Marielle Franco foi ideol�gico?
Pelas informa��es que temos, a motiva��o do crime deve ter sido de natureza pol�tica econ�mica, n�o foi ideol�gico, n�o era por ela ser do Psol. Entendo que foi pela atua��o dela, independentemente do partido de que ela participasse, em especial de enfrentamento �s mil�cias.


Os n�meros devem crescer? Por qu�?
Os n�meros da viol�ncia pol�tica devem caminhar junto com o ciclo eleitoral. Conforme a campanha vai avan�ando para o dia da elei��o, a viol�ncia tende a aumentar. A gente ainda est� em um momento de pr�-campanha, ent�o, a tens�o deve aumentar, e com o aumento da tens�o, devem aumentar os casos de viol�ncia pol�tica.

A viol�ncia pol�tica de motiva��o ideol�gica � algo novo no Brasil?
N�o � novo, mas deve se acirrar este ano. As elei��es brasileiras sempre foram polarizadas, seja entre Lula e (Fernando) Collor; PT e PSDB; PT e bolsonarismo. O que esta elei��o traz de novo � um discurso de �dio, de intoler�ncia pol�tica, intoler�ncia com quem pensa diferente. Assim, a ideologia ganha um componente novo. Uma intoler�ncia a quem sustenta essa ideologia. Isso � algo que existe de 2018 para c�, � recente.

O discurso de �dio � o que provoca essa viol�ncia pol�tico-ideol�gica?
Recentemente, eu diria que sim. Hoje em dia, o que est� por tr�s dessa viol�ncia ideol�gica � o crime de �dio, que vem sendo disseminado na sociedade brasileira e vem contaminando o humor das pessoas.

Antes de 2018, o que provocava esses crimes pol�ticos por motiva��o ideol�gica?
Eles eram circunstanciais. As elei��es presidenciais da �poca de PT e PSDB eram tensas, n�o tem como negar, mas era uma tens�o controlada. Usando a frase do nosso presidente (Bolsonaro), controlada dentro das quatro linhas da Constitui��o. Nenhum candidato � Presid�ncia pregava o exterm�nio do advers�rio, ningu�m dizia que tinha de metralhar petista ou que tinha de metralhar tucano. N�o havia um discurso t�o aberto de viol�ncia. Hoje, temos um presidente que incita a viol�ncia contra advers�rios de forma aberta, o que n�o reconhe�o em nenhum momento no passado.

Nas elei��es de 2020 esse discurso j� estava comum...

Mas em menor escala. Foi menos contaminada por essa ideologia. O pr�prio Bolsonaro participou pouco das elei��es. Os crit�rios de votos s�o um pouco diferentes das elei��es municipais.

Qual � a perspectiva de crescimento dessa viol�ncia?
A curva de crescimento � agora, e eu acredito que, mantendo-se a tend�ncia de vit�ria do ex-presidente Lula, a proje��o � que essa viol�ncia aumente.

O senhor v� alguma solu��o para esse problema da eleva��o desse tipo de crime?
Entendo que s�o v�rios caminhos. A proposta do senador Humberto Costa (de tipificar o crime por motiva��o ideol�gica) pode ser um caminho, mas uma pol�cia mais �gil e, talvez, assim como existem delegacias especializadas em crimes contra a mulher, criar uma pol�cia especializada em crimes pol�ticos, que consiga dar respostas mais r�pidas aos casos. E n�o podemos deixar de dizer que � fundamental responsabilizar a nossa elite pol�tica para n�o estimular os discursos de �dio.


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