Desde a retomada das elei��es presidenciais, em 1989, nunca os l�deres nas pesquisas de inten��o de voto feitas dois meses antes do pleito perderam a disputa
Atr�s de Lula nas pesquisas, Bolsonaro ter� de contrariar tend�ncia dos levantamentos eleitorais desde 1989 (foto: AFP)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) precisar� conseguir um feito in�dito para permanecer no Pal�cio do Planalto em 2023. Atr�s de Luiz In�cio Lula da Silva (PT) nas pesquisas sobre a disputa presidencial, Bolsonaro ter� de contrariar uma tend�ncia vista nos levantamentos eleitorais desde 1989, ano em que os brasileiros foram �s urnas escolher um presidente pela primeira vez ap�s a redemocratiza��o. Isso porque os candidatos que lideravam as sondagens feitas cerca de dois meses antes do primeiro turno nunca perderam a disputa. H� quatro anos, o atual chefe do Poder Executivo fez valer a estat�stica e, no pleito, ratificou a vantagem que tinha sobre todos os concorrentes.
Para mostrar essa tend�ncia, o Estado de Minas reuniu pesquisas feitas por Datafolha, Ibope e Ipec – instituto controlado por ex-executivos do Ibope. Os dados utilizados nesta mat�ria foram coletados por entrevistadores em agosto dos anos eleitorais, exce��o feita a 1989, quando o sufr�gio ocorreu em novembro. E, embora a lideran�a nunca tenha mudado de m�os em rela��o ao resultado visto na apura��o, algumas reviravoltas envolvendo segundos e terceiros colocados marcaram as disputas.
Em v�rios casos, as mudan�as for�aram segundos turnos. Para vencer pela primeira vez, por exemplo, Bolsonaro precisou passar por Fernando Haddad (PT) no segundo turno. A menos de 60 dias da elei��o, contudo, o petista, que lidava com a indefini��o em torno do futuro pol�tico de Lula, preso em Curitiba (PR), patinava nos levantamentos e compunha o terceiro pelot�o do p�reo, atr�s de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Na quinta-feira passada, o Datafolha apontou que Lula tem 47% das inten��es de voto, ante 32% de Bolsonaro. Embora tenha recuperado terreno e diminu�do em seis pontos a diferen�a entre eles em compara��o ao retrato de maio, o presidente ainda est� 15 pontos atr�s do rival. Enquanto lida com a dist�ncia, o PL corre contra o tempo, pois 42 dias o separam hoje do primeiro turno, marcado para 2 de outubro.
Em Minas Gerais, Lula vence por 43,4% a 33,9%, conforme mostra levantamento do Instituto F5 Atualiza Dados, divulgado com exclusividade pelo EM. Na pesquisa local, cuja margem de erro � de 2,5 pontos percentuais, Lula oscilou negativamente em rela��o � sondagem do fim de julho, quando tinha 44,8%. Bolsonaro, por sua vez, oscilou para cima, visto que dispunha de 31,5%.
Na vis�o de Domilson Coelho, diretor do Instituto F5 e p�s-graduado em ci�ncia pol�tica, a elei��o deste ano precisa ser analisada sob o vi�s do ineditismo, porque � a primeira vez, desde a retomada da democracia, que o atual presidente enfrenta um antigo ocupante do cargo. Por isso, o desconhecimento � um fator que n�o deve influenciar o voto.
“O eleitor j� tra�ou o perfil de cada um dos candidatos (Lula e Bolsonaro). Faltando pouco mais de 40 dias para a elei��o, fica muito em cima (para uma reviravolta). Acho pouco prov�vel que os n�meros se invertam”, diz. “O tempo (at� a elei��o) torna ainda mais dif�cil (a miss�o de Bolsonaro). E, al�m de fazer campanha, ele tem o pa�s para governar. Enquanto isso, o ex-presidente Lula est� s� em campanha”, emenda.
Em busca de virar o jogo, a equipe do presidente deposita fichas no texto que turbinou a transfer�ncia de renda. O Aux�lio Brasil, por exemplo, foi reajustado e vai repassar R$ 600 mensais aos benefici�rios at� o fim do ano. Caminhoneiros e taxistas tamb�m t�m recebido ajuda financeira. No in�cio do ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a chamar de “kamikaze” a proposta de emenda � Constitui��o (PEC) que engorda os programas sociais. Meses depois, por�m, mudou o discurso e passou a cham�-la de “PEC das Bondades”.
A primeira parcela de R$ 600 do Aux�lio Brasil foi depositada neste m�s. Para Domilson Coelho, as “bondades” de Bolsonaro j� est�o refletidas nas pesquisas. “Temos de observar duas tend�ncias no comportamento do eleitorado: ele vai votar pela continuidade ou pela mudan�a?”, pontua.
(foto: Paulinho Miranda/Artes EM)
Lula n�o conseguiu viradas
A estat�stica que “atormenta” Bolsonaro neste ano j� foi algoz das tr�s malsucedidas campanhas presidenciais de Lula. Em 1989, ele perdeu para Fernando Collor de Mello (PRN) no segundo turno, mas em setembro daquele ano tinha apenas 7% das inten��es de voto, segundo o Datafolha. O percentual fazia o petista amargar a terceira coloca��o, porque Leonel Brizola (PDT) aparecia com oito pontos a mais. Ele passou Brizola, mas foi derrotado pelo alagoano em seguida.
Cinco anos depois, j� consolidado como o maior expoente da esquerda brasileira, Lula come�ou a campanha na segunda posi��o, mas passou todo o tempo atr�s de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No fim das contas, perdeu a elei��o no primeiro turno por 55,2% a 39,97%. O roteiro se repetiu quatro anos depois e, mesmo tendo Brizola como candidato a vice, Lula sucumbiu ante o tucano FHC, tamb�m na primeira vota��o, por 53% a 31,7%.
Em reviravoltas semelhantes � feita por Haddad, o tucano Jos� Serra, em 2002 e 2010, e A�cio Neves, em 2014, conseguiram tomar a segunda posi��o antes do primeiro turno e, assim, for�aram um segundo turno contra o PT, que j� liderava e acabou levando a vit�ria. Em 16 de agosto de 2002, conforme o Datafolha, Jos� Serra estava 14 pontos atr�s de Ciro Gomes, ent�o filiado ao PPS – hoje batizado Cidadania.
Depois, o ex-governador paulista fez a ultrapassagem e enfrentou Lula na vota��o final. H� oito anos, A�cio Neves tinha 19% em agosto, segundo o Ibope, contra 29% de Marina Silva (ent�o no PSB). Ele, por�m, reverteu o cen�rio e se credenciou a enfrentar a reeleita Dilma Rousseff no segundo turno, mas acabou perdendo.