
O debate entre candidatos e candidatas � Presid�ncia da Rep�blica neste domingo (28/8) ser� a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) se enfrentar�o em um evento do tipo desde o in�cio da corrida eleitoral deste ano.
Ex-secret�rio de Comunica��o e integrante da campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten afirmou � BBC News Brasil, na noite deste s�bado (28/8), que o presidente participar� do debate. Horas antes, Lula j� havia confirmado participa��o por meio de seu perfil no Twitter.
As presen�as de Lula e Bolsonaro foram confirmadas �s v�speras da realiza��o do debate em parte por conta das avalia��es feitas pelos comandos das campanhas de ambos. Confirmada a ida da dupla, a expectativa fica em torno de como Lula e Bolsonaro enfrentar�o alguns dos seus principais pontos fracos.
Lula lidera as inten��es de voto segundo os principais institutos de pesquisa, com Bolsonaro em segundo lugar. E apesar da presen�a de outros quatro candidatos, tudo indica que as aten��es estar�o voltadas para o desempenho dos l�deres.O debate ir� ao ar a partir das 21h e ser� realizado por um conjunto de ve�culos: Band, TV Cultura, UOL e Folha de S.Paulo. Pelas regras, haver� dois momentos de debate direto entre os candidatos intercalados por perguntas feitas por jornalistas.
Historicamente, os debates entre candidatos s�o vistos como momentos-chave das elei��es. Segundo a pesquisa do Instituto Datafolha mais recente, Lula aparecia com 47% das inten��es de voto contra 32% de Bolsonaro.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliaram que os principais pontos fracos de Bolsonaro ser�o a gest�o da pandemia de covid-19 e a pol�tica econ�mica. Por outro lado, os principais pontos fracos a serem enfrentados por Lula seriam as acusa��es de corrup��o reveladas pela opera��o Lava Jato.

Pandemia e economia: o que Bolsonaro ter� que enfrentar
"O principal ponto fraco de Bolsonaro � a gest�o da pandemia. Em especial, o negacionismo em rela��o �s vacinas", avalia o ex-diretor de pesquisas do Datafolha Alessandro Janoni.
"As quest�es mais dram�ticas como o colapso da falta oxig�nio em Manaus e as trocas de ministros ao longo da pandemia dever�o ser exploradas porque elas s�o alguns dos principais motores dessas elei��es", disse Janoni.
O Brasil foi um dos pa�ses mais afetados pela pandemia da covid-19. De acordo com dados coletados pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, o Brasil j� registrou mais de 682 mil mortes pela doen�a, o segundo maior n�mero do mundo, atr�s apenas dos Estados Unidos.
Al�m disso, o Brasil tamb�m tem a segunda maior taxa de mortes proporcionalmente � popula��o: 321 mortes por grupo de 100 mil habitantes.
A gest�o do governo federal em rela��o � doen�a foi alvo de uma Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) no Senado que pediu o indiciamento do presidente por crimes nove crimes — entre eles, prevarica��o e charlatanismo.
Ao longo da pandemia, Bolsonaro incentivou o uso de medicamentos sem comprova��o cient�fica contra a doen�a, foi contra algumas das medidas de isolamento social implementadas por estados e munic�pios e levantou d�vidas sobre a efic�cia das vacinas que estavam sendo desenvolvidas contra a covid-19.
O tema, ali�s, foi um dos principais t�picos da entrevista concedida por Bolsonaro ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Na ocasi�o, Bolsonaro defendeu sua gest�o a frente da pandemia.
"Fizemos a nossa parte. E o grande erro disso tudo foi um trabalho forte da grande m�dia, entre eles a Globo, desestimulando os m�dicos a fazerem o tratamento precoce [...] Fizemos a nossa parte e tratei com muita seriedade essa quest�o. Agora, n�o adotei o politicamente correto", disse o presidente.

A professora de Ci�ncia Pol�tica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Nara Pav�o avalia que Bolsonaro tamb�m ter� que enfrentar cr�ticas � gest�o da �rea econ�mica.
"Na parte econ�mica, Bolsonaro n�o entregou bons resultados. � verdade que ele governou em um per�odo afetado pela pandemia e pela guerra na Ucr�nia, mas ele ser� questionado pela infla��o, pelo desemprego e pelo baixo crescimento do produto interno bruto", afirmou a professora.
Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, a infla��o registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) oscilou entre na casa dos 4%. Em 2021, por�m, a infla��o foi de 10,06%, muito acima do teto estabelecido pelo Conselho Monet�rio Nacional (CMN) que era de 5,25%. Foi a maior taxa de infla��o em seis anos.
Neste ano, a taxa acumulada da infla��o � de 7,3% at� julho. Nas �ltimas semanas, o Brasil registrou defla��o em parte pela redu��o no pre�o dos combust�veis resultante da redu��o de tributos sobre o produto organizada pelo governo federal.
Em rela��o ao desemprego, ainda segundo o IBGE, o Brasil registrou 14,9% de taxa de desemprego no trimestre entre julho, agosto e setembro de 2021, a maior taxa da s�rie hist�rica, iniciada em 2012. Desde ent�o, a taxa caiu e hoje est� em 9,3%.
Questionado sobre o assunto durante a entrevista ao Jornal Nacional, Bolsonaro deu a t�nica de como sua campanha dever� lidar com as cr�ticas sobre sua condu��o da economia.
"As promessas foram frustradas pela pandemia, por uma seca enorme que tivemos no ano passado e tamb�m pelo conflito da Ucr�nia com a R�ssia [...] Voc� v� tamb�m que a taxa de desemprego tem ca�do no Brasil. Os n�meros da economia s�o fant�sticos levando-se em conta o resto do mundo", disse.

Lula e a corrup��o
Na avalia��o dos especialistas, o principal ponto a ser enfrentado por Lula no debate ser�o as acusa��es de corrup��o que foram feitas contra ele e integrantes do PT pela opera��o Lava Jato.
"No caso de Lula, o seu principal calcanhar de Aquiles ser� a corrup��o. N�o h� d�vidas disso", disse a atual diretora de pesquisas do Instituto Datafolha Luciana Chong.
A Opera��o Lava Jato revelou um esquema de corrup��o envolvendo empreiteiras, pol�ticos e empresas estatais. Em junho de 2021, a Petrobras havia recebido de volta R$ 6 bilh�es em recursos que haviam sido desviados da empresa.
Lula chegou a ser apontado como o principal respons�vel por uma organiza��o criminosa montada para desviar recursos de empresas p�blicas. Ele foi condenado em dois processos por crimes como corrup��o passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente foi preso em 2018 e ficou 580 dias detido na carceragem da Pol�cia Federal em Curitiba.
Ao longo de todo o processo, Lula alegou ser inocente. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condena��es contra Lula sob o argumento de que a 13ª Vara Federal de Curitiba n�o era a correta para julg�-lo.
Depois disso, o ex-juiz federal Sergio Moro, que condenou Lula em um dos processos, foi considerado suspeito (n�o imparcial) para conduzir o julgamento de Lula. Com a anula��o das condena��es, o ex-presidente recuperou o direito de se candidatar a cargos eletivos novamente.

"Lula ter� que enfrentar as quest�es relacionadas � corrup��o nos governos do PT e a todo o processo do qual ele foi alvo. Esse � o ponto mais sens�vel dele no momento", afirmou a professora.
Nara Pav�o diz, no entanto, que o passar do tempo fez com que a quest�o da corrup��o seja mais f�cil de contornar agora do que foi no passado.
"Ele est� em uma situa��o mais confort�vel do que antes. A Lava Jato saiu muito enfraquecida e nem existe mais. S� existe hoje em termos simb�licos", explica a professora.
Na entrevista concedida por Lula ao Jornal Nacional na semana passada, o tema foi explorado.
Questionado sobre o que faria para que os esc�ndalos de corrup��o que ocorreram durante os governos do PT n�o se repetissem, Lula disse ter fortalecido os �rg�os de investiga��o durante suas gest�es e que iria manter essa pol�tica em um eventual terceiro mandato.
"N�s vamos continuar criando mecanismos para investigar qualquer delito que aconte�a na m�quina p�blica brasileira", disse o ex-presidente.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62695801
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