
A primeira-dama Michelle Bolsonaro tem ganhado cada vez mais protagonismo na campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta diminuir sua rejei��o entre as mulheres na busca pela reelei��o.
Nas comemora��es do Bicenten�rio da Independ�ncia, nesta quarta-feira (7), a imagem de Michelle voltou a ficar em destaque, mas o chefe do Executivo repetiu o tom machista de falas anteriores.
Em discurso a milhares de apoiadores na Esplanada dos Minist�rios, em Bras�lia, Bolsonaro chamou Michelle de princesa e ensaiou uma compara��o com outras primeiras-damas, numa refer�ncia impl�cita � soci�loga Ros�ngela da Silva, a Janja, mulher do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT).
"Podemos fazer v�rias compara��es, at� entre as primeiras-damas. Ao meu lado, uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado n�o, muitas vezes ela est� � na minha frente", disse o presidente.
N�o foi a primeira vez que ele esbo�ou uma analogia do tipo, repetindo a postura de meados de 2019, ap�s troca de cr�ticas com o presidente da Fran�a, Emmanuel Macron, devido �s queimadas na Amaz�nia.
Na ocasi�o, Bolsonaro comentou um post em uma rede social na qual um usu�rio comparou imagens da primeira-dama da Fran�a, Brigitte Macron, e de Michelle e disse que as cr�ticas do presidente franc�s ao brasileiro eram motivadas por inveja. "N�o humilha, cara. Kkkkkkk", respondeu o chefe do Planalto.
A rejei��o de Bolsonaro, de 52% no geral, chega a 55% entre as mulheres, segundo o �ltimo Datafolha. O desgaste do presidente com esse grupo foi o tema central do primeiro debate presidencial na TV, no qual o atual mandat�rio atacou a jornalista da TV Cultura Vera Magalh�es ao ser questionado sobre vacina��o.
Diante da alta rejei��o, o entorno do presidente defende desde o in�cio da campanha uma participa��o mais ativa da primeira-dama. Como mostrou a Folha, a avalia��o do n�cleo que define a estrat�gia de Bolsonaro � a de que Michelle, vista como carism�tica, poderia humanizar a imagem do candidato.
O presidente vem, assim, explorando a imagem da primeira-dama na corrida eleitoral. No entanto, n�o mudou a f�rmula de seus discursos, que geram rea��es negativas em uma parcela das mulheres.
Bolsonaro n�o poupa Michelle de piadas machistas e j� fez insinua��es sobre sua vida sexual. Em novembro de 2021, deixou a esposa aparentemente constrangida num evento no Planalto ao dizer que havia dado um "bom dia muito especial" a ela. "Acredite se quiser", disse ele na ocasi�o, rindo.
Em julho, o chefe do Executivo disse que Michelle aprendeu Libras (L�ngua Brasileira de Sinais) porque falava alto em casa. "Como ela falava muito alto comigo em casa, disse: 'Tu vai aprender Libras'. A� ela aprendeu Libras", afirmou Bolsonaro, tamb�m rindo, em conversa com apoiadores em frente ao Alvorada.
Na ocasi�o, disse ainda que a mulher pedia dinheiro todo dia. "Meu sal�rio bruto de presidente � R$ 33 mil. N�o t� reclamando, tenho tudo de gra�a. N�o gasto quase nada do meu sal�rio. Quem gasta � a mulher."
Os exemplos de frases sexistas ditas por Bolsonaro n�o se restringem aos coment�rios sobre Michelle. No in�cio do m�s, afirmou que not�cia boa para mulher � "beijinho, rosa, presente, f�rias".
Em 2020, o presidente insultou a rep�rter da Folha Patr�cia Campos Mello, ao dizer que "ela queria um furo". "Ela queria dar o furo", afirmou o presidente a apoiadores, em meio a risadas, num trocadilho com o jarg�o jornal�stico referente a informa��o exclusiva. O presidente foi condenado na Justi�a por ofender a jornalista e obrigado a pagar indeniza��o no valor de R$ 35 mil –ele ainda pode recorrer da decis�o.
Em um dos epis�dios de machismo mais conhecidos, Bolsonaro, antes de se tornar presidente, chegou a dizer que s� n�o estupraria uma deputada porque ela n�o merecia. "Fica a�, Maria do Ros�rio [PT-RS], fica. H� poucos dias tu me chamou de estuprador no Sal�o Verde, e eu falei que n�o estuprava voc� porque voc� n�o merece. Fica aqui para ouvir", afirmou o ent�o deputado federal no plen�rio da C�mara, em 2014.
Tamb�m antes de chegar ao Planalto, em 2018, quando concorria � Presid�ncia pela primeira vez, Bolsonaro viu atos organizados por mulheres em dezenas de cidades a dias do pleito. O "Ele N�o", como ficaram conhecidos os protestos, relacionava o ent�o deputado a atitudes machistas e mis�ginas.