
O algoritmo do YouTube privilegia a Jovem Pan e v�deos a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL) em suas recomenda��es, indica estudo do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em 18 visitas-teste � plataforma durante o levantamento, os canais do grupo Jovem Pan foram indicados 14 vezes na p�gina inicial do YouTube, com um ou mais v�deos sugeridos. O mais recomendado aos usu�rios foi o da participa��o de Bolsonaro no programa P�nico, no dia 26 de agosto.
A entrevista foi recomendada em oito visitas-teste, em cinco vers�es (cortes), que juntas somam 9,6 milh�es de visualiza��es. No v�deo, o presidente faz alega��es infundadas sobre o processo eleitoral, como a de que as For�as Armadas descobriram "centenas de vulnerabilidades" nas urnas eletr�nicas.
Para o experimento, o NetLab criou 18 novos perfis, que acessaram a plataforma em diferentes datas e hor�rios usando uma aba an�nima do navegador e VPN, ferramenta que ocultou o verdadeiro endere�o IP do usu�rio e simulou uma localiza��o geogr�fica aleat�ria dentro do Brasil a cada teste.
O objetivo era identificar quais os canais e os conte�dos noticiosos tiveram visibilidade destacada pelo algoritmo de recomenda��o do YouTube durante o per�odo de 23 a 30 de agosto.
Assim, o usu�rio era "virgem" -n�o tinha hist�rico de intera��o com determinados conte�dos que pudesse alimentar o algoritmo e influenciar as recomenda��es. Mesmo sem curtidas ou visualiza��es em canais de direita, o YouTube recomendou v�deos da Jovem Pan e pr�-Bolsonaro na maior parte das vezes.
Conte�dos dos canais da emissora apareceram como a primeira recomenda��o em 55% das visitas (10 de 18), bem � frente de outros canais de not�cias como UOL (5) - que tem participa��o minorit�ria e indireta do Grupo Folha, que publica a Folha -, CNN Brasil (1) e Band Jornalismo (1).
Na p�gina inicial, os mais recomendados, por grupo de comunica��o, foram Jovem Pan (25), UOL (16), Grupo Bandeirantes (9), CNN (8), Correio do Povo (7), SBT (6), Metr�poles (5) e Funda��o Padre Anchieta (5).
Outros v�deos da Jovem Pan sugeridos no teste apresentam Luiz In�cio Lula da Silva (PT) como "chefe de quadrilha" e "doente mental", dizem que o petista estaria atr�s de Bolsonaro em pesquisa de inten��o de voto do Ibope e afirmam que o STF (Supremo Tribunal Federal) tem uma alian�a com o ex-presidente.
"� muito grave o YouTube, uma plataforma com mais de 130 milh�es de usu�rios no Brasil, privilegiar um ve�culo de m�dia no seu sistema de recomenda��o, diante de tantas outras fontes. Ainda mais por [a Jovem Pan] ser um ve�culo hiperpartid�rio, claramente bolsonarista, que n�o d� isonomia aos candidatos", afirma Marie Santini, diretora do Netlab.
"Essa situa��o cria um desequil�brio nas elei��es, faz propaganda com o uso do algoritmo, pois a recomenda��o � uma forma de modera��o de conte�do."
Procurada, a Jovem Pan n�o respondeu at� a publica��o desta reportagem. O YouTube afirma que n�o teve acesso � pesquisa e, portanto, n�o iria comentar os resultados.
"Nosso sistema de recomenda��o busca ajudar as pessoas a encontrarem v�deos que lhes ofere�am algo �til e interessante", diz a assessoria da empresa. "Para tal, n�s nos baseamos em v�rios tipos de 'sinais', ou seja, dados que alimentam o sistema. Esses sinais incluem cliques, tempo de visualiza��o, respostas a pesquisas, n�mero de compartilhamentos, n�meros de cliques em "gostei" e "n�o gostei", entre outros."
A plataforma tamb�m afirma que desde 2019 vem realizando uma s�rie de atualiza��es no sistema de recomenda��o para reduzir o alcance de conte�do que est� no limite das diretrizes do YouTube e que, hoje, o consumo de produ��es do tipo que chegam por meio das sugest�es � inferior a 0,5%.
"Nossas diretrizes definem as regras usadas no YouTube e abrem espa�o para diversas opini�es. Nossos revisores est�o espalhados pelo mundo, e aplicamos nossas pol�ticas de conte�do com consist�ncia, independentemente de porta-voz, ponto de vista pol�tico, hist�rico, posi��o ou afilia��es", diz a empresa.
Embora o YouTube tenha anunciado a iniciativa #AntesDoSeuPlay, em que diz recomendar "conte�dos informativos de fontes confi�veis e plurais sobre as elei��es", a Jovem Pan tem 13 conte�dos rotulados como "falso" pelas ag�ncias de checagem Lupa, Aos Fatos e Projeto Comprova, as principais do pa�s.
"A Jovem Pan � frequentemente identificada disseminando desinforma��o. � preciso que o YouTube abra a caixa preta do algoritmo de recomenda��o, mostre como funciona, quais s�o os crit�rios de recomenda��o utilizados para entendermos o que est� acontecendo", afirma Santini.
Os conte�dos de teor extremista ou com teorias da conspira��o, que despertam emo��es fortes, como revolta ou raiva, geram mais engajamento e, em geral, s�o amplificados pelos algoritmos de redes sociais.
O YouTube e o WhatsApp s�o as plataformas que mais preocupam o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O aplicativo de mensagens gera apreens�o devido � velocidade de viraliza��o de boatos, apesar dos mecanismos de restri��o de encaminhamentos implementados pela empresa.
A plataforma de v�deos, por sua vez, gera temores pela falta de transpar�ncia na modera��o e porque h� incentivos financeiros para produtores de conte�do extremista –desinforma��o d� audi�ncia.
Ao longo dos meses, houve diversas reuni�es entre integrantes do TSE e representantes do YouTube em raz�o da multiplica��o de v�deos com alega��es falsas sobre o processo eleitoral e teor golpista.
No m�s passado, a rela��o com a plataforma melhorou e, segundo monitoramentos acompanhados pelo tribunal, houve uma grande redu��o no n�mero de v�deos de negacionismo eleitoral na plataforma. A desinforma��o contra candidatos, algo que n�o � o foco priorit�rio do TSE, por�m, continua muito alta.
De acordo com Alexandre Bas�lio, professor de direito eleitoral e digital em 25 escolas judici�rias eleitorais, se os autores do estudo conseguirem provar que o YouTube n�o apresenta isonomia no tratamento dos candidatos, ser� poss�vel entrar com uma representa��o eleitoral.
Ainda que a isonomia, por lei, s� seja exigida a TVs e r�dios de concess�o p�blica, essa interpreta��o vem mudando, afirma ele.
