'N�o precisamos de �dio', diz petista que dan�ou com bolsonaristas em v�deo viral

De um lado, um grupo de bolsonaristas com camisetas verde e amarelo, em Salvador, na Bahia. A poucos metros, dezenas de pessoas pr�-Lula usando vermelho e agitando bandeiras enquanto gritam palavras de ordem.

Minutos depois, os dois grupos se juntam numa dancinha apartid�ria, empolgada e embalada por um trio el�trico contratado pelo grupo pr�-Lula, no dia 6 de setembro.

As imagens viralizaram nas redes sociais e chamou a aten��o por conta da felicidade estampada nos rostos de pessoas que defendem lados antag�nicos na polarizada corrida eleitoral. Apenas em uma publica��o no Twitter, o v�deo registrou mais de 3,5 milh�es de visualiza��es.

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Uma das protagonistas do v�deo, a consultora �ptica Raquel Borges dos Santos Barbosa, de 31 anos, disse � BBC News Brasil que o ato foi espont�neo e est� acima de qualquer ideologia.

"A gente precisa desmistificar o pensamento de �dio e levar a paz. N�o adianta levar guerra para a pol�tica. Sou militante h� mais de dez anos e trato todo mundo bem", afirmou Raquel.

O encontro dos grupos ocorreu, conta Raquel, logo ap�s os candidatos ao governo baiano Jer�nimo Rodrigues (PT) e Jo�o Roma (PL) entrarem na emissora TVE para participarem de um debate.

O clima entre "apoiadoras" dos candidatos de Lula e Bolsonaro durante o debate na Bahia. Hahaha %u2764%uFE0F pic.twitter.com/zS8SLMnl80

Raquel conta que os bolsonaristas contavam com apitos e uma fanfarra.

"A gente usou a batida da fanfarra deles para cantar as m�sicas do PT. A gente brinca muito. Temos que desmistificar o pensamento de �dio", conta a militante que viralizou nas redes.

Ela relata que a festa continuou at� que um mini trio el�trico contratado pelo PT chegasse, 40 minutos ap�s os candidatos entrarem para o debate. O barulho foi t�o alto que a pessoa respons�vel pela campanha bolsonarista acionou a pol�cia. O som ficou dez minutos desligado, mas logo voltou a funcionar depois que o advogado petista convenceu os policiais de que a manifesta��o era v�lida.

Sem �dio

Minutos depois, o som recome�ou e Raquel conta que as mulheres da equipe de Bolsonaro come�aram a dan�ar no ritmo da m�sica petista.

"Eu respeito o seu pensamento, mas vamos sambar um pouquinho. Vamos brincar. O gingado � bom e n�o tem como se segurar mesmo. Ent�o, eu entrei no meio delas e a gente continuou brincando. Eu n�o tinha visto que estavam registrando tudo. At� a loira que acabou com nosso som sambou comigo. Eu gritei 'Bora, loira'. E a gente come�ou a sambar juntas. Ela estava zangada, mas entendeu que n�o deveria agir daquela forma", conta aos risos.

Raquel diz que esses momentos de descontra��o e amizade entre as equipes de campanha s�o comuns enquanto os candidatos est�o participando dos compromissos.

"Tem o momento s�rio e tem o da pausa, da festa, da descontra��o. Depois que nossos candidatos passaram e j� estavam no momento deles, a gente aproveitou para descansar e se divertir um pouco", conta.

Apesar de dan�arem juntas e se reunirem, as mulheres de ambas as equipes n�o se encontraram novamente depois do v�deo fazer sucesso. E, assim como Raquel, a reportagem da BBC News Brasil procurou as trabalhadoras bolsonaristas, mas n�o teve sucesso.

A militante petista lamenta n�o ter pedido o contato ou reencontrado as colegas.

"Gostaria de fazer amizade com todas. As meninas eram uma mais bonita que a outra, mas ainda n�o consegui encontrar nenhuma delas. At� pedi nas minhas redes que entrassem em contato comigo, mas pode ser que elas estejam evitando para n�o se prejudicar. Estamos vivendo um tempo ca�tico na pol�tica", afirmou.

Raquel diz que se emociona ao falar sobre a uni�o dos brasileiros de maneira apartid�ria. Para ela, falar sobre pol�tica � importante, mas � necess�rio entender os limites e manter o respeito.

"A elei��o define como ser� nosso Brasil. Mas voc� n�o tem como odiar o que voc� n�o conhece, o outro. Essa rivalidade, como entre as torcidas de Corinthians e Palmeiras, � rid�cula porque, assim como os pol�ticos, os pr�prios jogadores se cumprimentam antes de come�ar o jogo, enquanto o povo se mata. Eu sou de esquerda, mas respeito a outra parte", diz Raquel.

Ela diz que a polariza��o e escalada de viol�ncia pol�tica dos �ltimos anos a fez tomar algumas precau��es. Hoje, ela sente medo de fazer a��es simples de campanha, como abordar pessoas e entregar panfletos.

"Eu tenho medo de colar um adesivo na porta da pessoa e ela me dar um tiro. A democracia existe e est� aqui para a gente dialogar respeitando os espa�os. Se eu puder te convencer a mudar, eu vou te convencer. Mas s� se a outra parte concordar em me ouvir. � essa educa��o que a gente deve levar para as urnas. O amor ao pr�ximo, n�o julgar a pessoa pelo n�mero que ela escolhe. Como odiarmos a nossa bandeira simplesmente porque um homem a usa para fazer campanha do partido dele?", questiona Raquel.

Raquel diz ter se sentido muito feliz com a repercuss�o do v�deo. Ela se diverte inclusive com o fato de ter recebido uma montagem das imagens com uma m�sica da campanha de Jair Bolsonaro e diz que espera que ele seja usado de maneira positiva por quem o compartilha.

"A gente vive em um momento em que n�o precisamos de �dio. Precisamos ensinar nossos filhos que � com paz e alegria que se convive. Precisamos ser mais humanos e ter empatia com o pr�ximo. A gente ouve que uma pessoa morreu por causa de um time de futebol. Preserve a paz. Fa�a jus � ordem e progresso da nossa bandeira", diz.

* Este texto teve a colabora��o de Vitor Tavares

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62898414

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