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Estado de Minas

As dicas de terapeutas de fam�lia para 'consertar' rela��es destru�das pela briga pol�tica

Desaven�as relacionadas �s elei��es de 2022, por exemplo, podem ser aliviadas com boas doses de paci�ncia e investimento numa rela��o de respeito � diferen�a, apontam os psic�logos.


01/10/2022 08:17

Casal brigando com criança triste em primeiro plano
Devemos acabar com o conceito de uma fam�lia idealizada e sem diverg�ncias, apontam psic�logos (foto: Getty Images)

Para muitos brasileiros, a escolha dos pr�ximos governantes trouxe um efeito colateral importante: o rompimento de la�os com familiares e amigos que t�m uma vis�o pol�tica oposta.

Mas ser� que existem maneiras de resgatar essas rela��es?

Terapeutas ouvidos pela BBC News Brasil destacam que, sim, as elei��es at� podem ser um elemento de ruptura, mas � poss�vel restaurar a proximidade com boas doses de paci�ncia, boa vontade e di�logo.

Para o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de S�o Paulo (USP), o primeiro passo est� em deixar de lado aquela ideia de que as fam�lias s�o perfeitas.

"Muita gente enxerga a fam�lia como um lugar de santifica��o. Precisamos encar�-la de uma forma mais humana, onde as pessoas cometem erros e s�o capazes de se desculpar e voltar atr�s", diz.

O especialista entende que o seio familiar nunca foi um lugar de serenidade e concord�ncia, mas, sim, de conflitos.

"Por que ser� que todo mundo fica receoso antes da festa de Natal? N�s sabemos que ali, quando todos os parentes estiverem reunidos, surgir�o conversas desagrad�veis, ressentimentos antigos, hist�rias n�o resolvidas", lista.

"Nas fotos, at� parece que todos se d�o bem, mas sabemos no fundo que se trata de um barril de p�lvora recheado de ci�mes, invejas, trai��es, dificuldades conjugais e disputas geracionais", complementa.

Dunker tamb�m destaca que dois acontecimentos recentes no Brasil influenciaram a forma como lidamos com pessoas pr�ximas: a vota��o presidencial de 2018 e a pandemia de covid-19.

"H� quatro anos, as elei��es nos pegaram de surpresa e n�o est�vamos preparados para lidar com tantas posi��es extremadas. Com isso, muitas brigas e rupturas aconteceram", analisa.

"Dois anos depois, tivemos a pandemia, em que a necessidade de ficar em isolamento em casa refor�ou a import�ncia dos la�os sociais e da intera��o com o outro."

Na vis�o do psicanalista, esses dois eventos antag�nicos fizeram com que as pessoas criassem maneiras de manter certas rela��es e ignorar comportamentos ou posi��es pol�ticas contr�rias.

"A gente v� mais claramente agora o papel das 'tias do deixa disso', que s�o aquelas figuras que interv�m nos debates antes que eles se transformem em brigas", observa o professor da USP.

Mas ser� que esse pacto de sil�ncio � suficiente para evitar males maiores?

Mulher abraça homem emocionada
Pandemia refor�ou a import�ncia das conex�es sociais, analisam especialistas (foto: Getty Images)

Rela��es exigem empenho

Para a psic�loga Paula Regina Peron, professora da Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo (PUC-SP), jogar a sujeira para debaixo do tapete at� evita conflitos no momento, mas pode postergar ou at� ampliar problemas futuros.

"O que fica sem conversar na hora se torna dif�cil de falar depois", acredita.

"Se voc� deixa passar todos os inc�modos que aparecem, isso s� aumenta as dificuldades na rela��o entre as pessoas", conta.

A recomenda��o dela, portanto, � sempre buscar o di�logo, �s vezes at� com a ajuda de um mediador neutro, ou algu�m que conte com o respeito de todas as partes envolvidas no conflito.

"Sempre vai ter aquele parente mais bem humorado, que consegue acalmar os �nimos ou julgar a situa��o de forma imparcial, apontando os erros de um e de outro", observa Peron.

A professora da PUC-SP lembra que qualquer rela��o entre dois indiv�duos depende de um investimento m�tuo.

"As pessoas precisam se empenhar para estabelecer e fortalecer os la�os. Sem o interesse das partes envolvidas, isso n�o se mant�m."

Nessas horas, outro exerc�cio relevante � pensar em duas quest�es-chave. Em primeiro lugar, quais s�o aqueles que voc� realmente gosta e quer ter por perto? Segundo, quais s�o as vis�es de mundo e posicionamentos pol�ticos inegoci�veis para conviver com algu�m?

"Nem sempre a fam�lia consangu�nea � a mais saud�vel para um sujeito. Ele pode encontrar o apoio e a intimidade em outros grupos", lembra Peron.

"E h� situa��es em que as diferen�as s�o t�o disruptivas que o melhor a ser feito � nem reconstruir certos la�os", acrescenta.

A psic�loga chama a aten��o para o fato de as fam�lias representarem, num plano limitado, as rela��es sociais de poder t�picas do pr�prio pa�s.

"A fam�lia n�o costuma ser uma ilha isolada do resto da cultura do lugar onde a gente vive", explica.

"Por isso vemos que muitos desses grupos reproduzem o racismo, o machismo e outras intoler�ncias."

Dunker concorda. "A fam�lia pode ser o espa�o em que os racismos se refor�am ou s�o tratados e resolvidos."

Viva as diferen�as

Nos casos em que as discord�ncias n�o s�o t�o dram�ticas assim e � poss�vel pensar em curar as feridas abertas, uma sa�da envolve entender que � normal as pessoas pensarem de forma diferente.

"Esse � um bom momento para a fam�lia refletir sobre as diferen�as e, se os conflitos n�o forem fundamentais, abrir espa�o para negocia��es", sugere Peron.

"O grupo inteiro pode crescer com essa experi�ncia, ao entender que n�o h� necessidade de um pensamento homog�neo em tudo", acredita.

Família almoçando junta
Pensar em quais rela��es voc� realmente quer manter � um dos passos para reatar la�os e curar feridas emocionais (foto: Getty Images)

Dunker tamb�m aponta que pode ser uma boa separar a pol�tica p�blica da vida privada.

"Muitas vezes, usamos os candidatos como uma maneira de extravasar frustra��es e conflitos que v�m desde a inf�ncia", destaca.

"Uma maneira de evitar as brigas agora � refor�ar os sentimentos de urbanidade, da educa��o e do bom trato entre as pessoas, mesmo com aquelas que voc� discorda", diz.

Dentro desse contexto, dar tempo ao tempo � outra medida sensata.

"N�o adianta ficar for�ando uma rela��o que foi desgastada e nem tudo precisa ser dito no calor da hora", afirma o professor da USP.

"Pode ser necess�rio esperar mais um tempinho at� que a temperatura esfrie e voc� consiga estabelecer um di�logo novamente."

Ainda dentro dessa quest�o, a forma como vencedores e perdedores v�o se comportar durante as pr�ximas semanas pode ser absolutamente decisiva.

"Aprender a ganhar e a perder � uma tarefa b�sica da educa��o que nossa sociedade parece ter esquecido", pontua Dunker.

"Na hist�ria brasileira, o lado vitorioso costuma usar o sarcasmo e a humilha��o como ferramentas diante do derrotado."

E isso, por sua vez, gera uma rea��o de vingan�a, raiva e rancor entre quem perdeu.

Dunker tamb�m lembra que, n�o raro, o derrotado n�o aceita os resultados ou n�o consegue admitir os erros que foram cometidos durante o processo e isso cria instabilidades e tens�es permanentes, que prejudicam os relacionamentos e at� o desenvolvimento do pa�s.

"Pode at� parecer um clich�, mas s� ganha no futuro quem aprende a perder no presente."

Por fim, Peron lembra que cada fam�lia tem uma din�mica pr�pria e, por mais que as recomenda��es e dicas ajudem, � preciso analisar caso a caso.

"As elei��es podem at� fazer com que os familiares evidenciem diferen�as e rompam rela��es", admite.

"Mas precisamos lembrar que dependemos uns dos outros e tudo fica mais dif�cil quando estamos completamente sozinhos", conclui.

- Esse texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63096035


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