
Bernardo Estillac e Guilherme Peixoto
Prefeitos mineiros atuam como cabos eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) na reta final da campanha. Para tentar inverter a derrota sofrida para o petista em Minas Gerais no primeiro turno,
Bolsonaro pretende diminuir a margem de 397 munic�pios conquistados pelo petista. Em 2 de outubro, Lula triunfou em 630 dos 853 munic�pios de Minas Gerais, ante 223 vit�rias de Bolsonaro.
Bolsonaro aposta no apoio do governador reeleito Romeu Zema (Novo) e, a reboque disso, na atua��o de prefeitos como seus cabos eleitorais.
A diferen�a � de 563,3 mil votos a mais para a chapa liderada pelo PT. Em busca da reviravolta, Um dos mais engajados � Marcos Vin�cius Bizarro (PSDB), que administra Coronel Fabriciano, no Vale do A�o, e preside a Associa��o Mineira dos Munic�pios (AMM). Ele, ali�s, est� � frente da organiza��o de uma reuni�o entre prefeitos e Bolsonaro na pr�xima sexta-feira. Embora Bizarro n�o trate a atividade como compromisso de campanha, a ideia � aproveitar a oportunidade para apresentar ao presidente demandas regionais.
Do outro lado, prefeitos como a petista Mar�lia Campos, de Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, trabalham para manter a vantagem conquistada por Lula no primeiro turno. No domingo, o ex-presidente recebeu apoio formal de Fuad Noman (PSD), prefeito da capital.
Sem palanque formal em Minas Gerais por causa da derrota de Alexandre Kalil (PSD) para Zema, os partidos da coliga��o de Lula apostam na comunica��o das lideran�as regionais para barrar a ofensiva liderada pela campanha de Bolsonaro e endossada por Zema.
Segundo c�lculos de Marcos Vin�cius Bizarro, ao menos 300 prefeitos j� manifestaram o interesse em participar da atividade com Bolsonaro, que vai ocorrer em uma faculdade privada da Regi�o Norte de BH. “O convite veio da campanha do PL e foi endossado depois pelo governador”, disse ele ao Estado de Minas, explicando os antecedentes do encontro. As articula��es para tirar do papel a atividade come�aram j� no dia seguinte ao primeiro turno.
Em Po�os de Caldas, no Sul de Minas, o prefeito S�rgio Azevedo (PSDB) vai declarar hoje apoio formal a Bolsonaro. Na cidade, o presidente venceu Lula por 51,42% a 38,72% — ante vit�ria por 48,29% a 43,60% do petista no plano estadual. Mesmo com a frente obtida por Bolsonaro no munic�pio gerido por Azevedo, o prefeito espera conquistar mais votos.
“Acho que os prefeitos t�m que entrar na campanha. O prefeito � quem est� mais pr�ximo do povo, as pessoas ouvem a opini�o dele. Muitas pessoas estavam votando (no primeiro turno), mas sem analisar muito o voto”, afirmou.
Para Mar�lia Campos, os prefeitos que apoiam Lula precisam recorrer ao “legado” das gest�es do PT para defender a frente conquistada pela chapa de oposi��o a Bolsonaro na primeira vota��o.
“Lula foi um presidente que garantiu investimento p�blico em todos os munic�pios de Minas e do Brasil, que recebia os prefeitos, independentemente da colora��o partid�ria. O prefeito que apresentava projetos levava recursos do or�amento geral da Uni�o ou recursos de financiamento. Esse legado tem de ser lembrado pelas pessoas”, afirmou.
Durante a mais recente passagem de Lula por BH, Fuad Noman recorreu a um argumento similar ao utilizado por Mar�lia Campos.
“Belo Horizonte precisa estar junto com o candidato Lula, porque ele com certeza far� com que Belo Horizonte volte a receber as parcelas de recursos para construir casa popular, para poder combater as enchentes, para poder resolver o problema do Anel [Rodovi�rio], para poder resolver uma s�rie de problemas que n�s hoje temos”, declarou, afirmando que o petista foi “sol�cito” �s demandas apresentadas pela capital. No primeiro turno, Lula perdeu para Bolsonaro em BH por 46,60% a 42,53%.
A AMM se organiza para apresentar um plano de reivindica��es ao presidente da Rep�blica. Segundo Marcos Vin�cius Bizarro, o objetivo � reunir as necessidades das cidades considerando as diversas regi�es de Minas e apontar tamb�m as converg�ncias que podem beneficiar todo o estado.
“Minha realidade no Leste de Minas � uma; as do Sul e do Norte, outras. S�o v�rias realidades. Existem pautas individuais, de cada regi�o, como � o caso da BR-381, quest�o importante para Coronel Fabriciano, por exemplo”, avalia.
“Tem tamb�m pontos de converg�ncia, como a Lei Kandir, uma coisa que se fala h� muitos anos e agora a gente pensa em tratar a parte do min�rio separada das outras commodities. � algo que atormenta todo o estado”, explicou o prefeito, em men��o � compensa��o prometida pela lei que isenta de ICMS a exporta��o de produtos n�o industrializados.
Marcos Vin�cius disse que pretende finalizar um documento com as reivindica��es at� a manh� de sexta-feira. � reportagem, o prefeito afirmou que o evento n�o faz parte de uma agenda de campanha, mas um encontro para discutir as necessidades das cidades mineiras. “N�s temos 786 prefeitos filiados, somos unidos e as pautas nossas t�m diferentes bandeiras partid�rias. Estamos abertos ao presidente Bolsonaro assim como estar�amos com Lula”.
Embora ressalte o teor imparcial do evento da AMM, Marcos Vinicius Bizarro j� declarou apoio a Bolsonaro e � ativo nas redes sociais com postagens de endosso � campanha pela reelei��o. Em v�deo publicado em seu perfil do Facebook, o prefeito aparece ao lado de Zema e do presidente tratando sobre o evento do dia 14, indicando que vai participar.
“A todos de Minas Gerais, muito obrigado pelo apoio e conside- ra��o. Nesse evento, vamos expor tudo o que fizemos no passado e nossas propostas para o futuro. Tenho certeza de que Minas Gerais vai gostar muito desse evento”, diz Bolsonaro no v�deo.
Zema tamb�m tem tratado publicamente do evento planejado pela AMM. “O que tenho agendado � que ele [Bolsonaro] viria no dia 14, quando teremos um encontro promovido pela AMM, com a presen�a de 500, 600 prefeitos. Dentro do poss�vel, estarei ao lado dele. E, mesmo ele n�o estando, estarei fazendo divulga��o do nome dele sempre que poss�vel”, falou, em entrevista publicada ontem pela Folha de S.Paulo.
For�as regionais
O cientista pol�tico Adriano Cerqueira, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e do Ibmec, diz que o apoio de prefeitos, a reboque do posicionamento do governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), pode dar f�lego � candidatura do presidente Jair Bolsonaro em Minas. Segundo ele, a vit�ria de congressistas alinhados ao chefe do Executivo federal tamb�m ajuda, porque � por meio deles que as lideran�as municipais precisam buscar parte dos recursos de que precisam.
“� poss�vel que aqui, em Minas, haja uma revers�o de votos, quem votou em Lula no primeiro turno votando em Bolsonaro no segundo turno”, avalia, projetando a possibilidade de um movimento similar ocorrer em n�vel nacional.
Na vis�o do especialista, os prefeitos tendem a ser os “grandes eleitores” do segundo turno, porque v�o comandar as gest�es locais por, pelo menos, mais dois anos — o que pode indicar, em alguns casos, necessidade de di�logo constante com os governos estadual e federal.
“Esses prefeitos, ou v�o disputar a reelei��o, ou v�o querer que os apoiados por eles ganhem. E, para que ganhem, v�o precisar de apoio da m�quina administrativa estadual, e tamb�m, federal, se for o caso. V�o precisar muito, ainda, de verbas do or�amento, discutidas por deputados federais e estaduais. O novo Congresso � que vai atuar em dois anos”, ressalta Cerqueira.
Zema venceu a corrida ao governo do estado em 659 cidades mineiras. A campanha dele contou com a ades�o, at� mesmo, de prefeitos de partidos que n�o compuseram a coliga��o de 10 legendas em torno do pol�tico do Novo. S�rgio Azevedo, de Po�os de Caldas, � um desses casos: o PSDB, seu partido, se distanciou de Zema ao longo deste ano e lan�ou Marcus Pestana como candidato pr�prio.
“Apoiei Zema desde o in�cio, mas n�o foi t�o incisivo quanto poderia ser devido ao partido ter um candidato pr�prio. Agora estamos com as for�as todas voltadas para as elei��es presidenciais”, assinala ele, apontando “credibilidade” nos gestos do governador.
A prefeita de Contagem, Mar�lia Campos, por�m, caminha na dire��o oposta. “O governador tem o direito de falar o que ele acredita, mas n�o acho que ele tenha essa lideran�a para virar o voto dos cidad�os que est�o nos munic�pios, porque o povo conhece a hist�ria”, opina.
Em Contagem, apesar dos esfor�os da prefeita, Bolsonaro bateu Lula por 47,76% a 42,15%. Mar�lia, por�m, j� d� a dire��o do caminho a seguir nas tr�s semanas que separam hoje do segundo turno. “Quem j� tem posi��o cristalizada, � muito dif�cil virar o voto. Vou estimular as pessoas a irem votar e disputar os votos de Tebet e Ciro”.