
Por Paula Soprana
Em resposta a uma a��o movida pela coliga��o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) e aliados por fake news, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) censurou a exibi��o de um document�rio da Brasil Paralelo antes da elei��o e intimou Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Assinada pelo ministro Benedito Gon�alves, corregedor-geral da Justi�a Eleitoral, a decis�o determina que a exibi��o do document�rio “Quem mandou matar Jair Bolsonaro?”, da Brasil Paralelo, prevista para a semana anterior � elei��o, seja adiada.
“A semana de adiamento n�o caracteriza censura. Apenas evita que tema reiteradamente explorado pelo candidato em sua campanha receba exponencial alcance, sob a roupagem de document�rio que foi objeto de estrat�gia publicit�ria custeada com substanciais recursos de pessoa jur�dica”, afirma o ministro.
A decis�o liminar tamb�m determinou que o YouTube suspenda a monetiza��o dos canais Brasil Paralelo, Foco do Brasil e Folha Pol�tica. Com isso, eles deixam de receber recursos de an�ncios veiculados na plataforma do Google que s�o repassados aos produtores de conte�do. A reportagem entrou em contato com as empresas, que n�o se pronunciaram at� a publica��o deste texto.
A pe�a da coliga��o do PT foi elaborada a partir de dados captados por uma consultoria que trabalhou com monitoramento de dados da extrema-direita em campanhas pol�ticas de outros pa�ses. Segundo t�cnicos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) � a figura central dessa teia. Seu comportamento no Twitter foi analisado de 1º a 21 de maio, na pr�-campanha, e no primeiro turno. A a��o contempla as principais redes sociais, com destaque para o YouTube, mas o ponto de partida � o Twitter pela caracter�stica de pautar o debate em outros espa�os.
Perfis
De acordo com o documento, o filho do presidente interage quase sempre com os mesmos 40 perfis, e cada um deles desempenha um papel espec�fico, seja de promotor e produtor de conte�do ou spin doctor, algu�m que tenta influenciar o p�blico sob um vi�s favor�vel. O nome de Leandro Ruschel, da Brasil Paralelo, tamb�m � destacado na a��o. Ele formaria com Carlos e Kim o trio protagonista desse ecossistema.
A lista de r�us tem influenciadores, pol�ticos, donos de perfis e de grupos de Telegram e de sites pr�-governo j� investigados. Entre deputados est�o Bia Kicis (PL-DF), Gustavo Gayer (PL-GO), Carla Zambelli (PL-SP), Ricardo Salles (PL-SP) e Mario Frias (PL-RJ)
A Brasil Paralelo e as outras empresas citadas est�o proibidas de pagar para promover conte�dos pol�tico-eleitorais, especialmente envolvendo Bolsonaro, Lula, seus partidos e apoiadores no Google.
O YouTube tem 24 horas para desmonetizar as empresas at� 31 de outubro, sob pena de multa di�ria de R$ 20 mil relativa a cada um dos canais. Os respons�veis pelos CNPJs devem cessar o impulsionamento de conte�do sob pena de multa di�ria de R$ 50 mil. A exibi��o do document�rio pode gerar san��o di�ria de R$ 500 mil � produtora conservadora.
“Ecossistema”
No domingo (16/10), a coliga��o de Lula entrou com a maior a��o contra fake news no TSE desta elei��o, pedindo o bloqueio de 62 contas de redes sociais apoiadoras do atual chefe do Executivo at� o fim do pleito. A a��o, de 245 p�ginas, acusa a exist�ncia de um “ecossistema de desinforma��o” usado para “usurpar o debate p�blico”.
Brasil Paralelo, Folha Pol�tica e Foco do Brasil, m�dias de amplo alcance bolsonarista e denominadas independentes, teriam um papel espec�fico nessa cadeia, ajudando a divulgar narrativas falsas sobre a conex�o de Lula ao crime organizado e refor�ando propagandas “que induzem o cidad�o m�dio a acreditar que a Justi�a Eleitoral privilegia a candidatura de Lula”.
A a��o do PT no TSE solicita a inelegibilidade de Bolsonaro, sob a justificativa de abuso de poder econ�mico, pol�tico e comunicacional. Entre as fake news apontadas est�o as que Lula acabaria com o agroneg�cio, que teria associa��o com o PCC, satanismo (liga��o que surgiu por um tiktoker 'luciferiano' declarar voto no petista) e que perseguiria crist�os (narrativa que se baseia em acontecimentos do tipo na Nicar�gua, sem rela��o com o Brasil).
H�, tamb�m, uma s�rie de mentiras veiculadas acerca do sistema eleitoral, como a de que um QR Code no t�tulo que levaria voto a Lula, de que as urnas seriam manipuladas em um sindicato de trabalhadores e de que o instituto de pesquisa Ipec funcionaria em um endere�o ligado ao petista.
Angelo Ferraro, um dos advogados autores da a��o, afirma que bolsonaristas ligados ao presidente est�o descumprindo ordens do ministro Alexandre de Moraes, que proferiu senten�as contra narrativas que liguem Lula ao crime organizado em a��es anteriores.
“S�o remakes de fake news j� feitas. H� um descumprimento reiterado e organizado de forma a desestabilizar o pleito, incluindo temas como fraude nas urnas”, afirma.
“Nesse sentido, demonstrou-se que materiais j� reputados il�citos seguem armazenados em canais de Telegram para ser acessados por assinantes a qualquer tempo e novamente compartilhados, criando-se um ciclo de perpetua��o de fake news que desafia as ordens judiciais de remo��o de conte�do e tem efeitos nefastos sobre a normalidade eleitoral”, complementa.