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Estado de Minas PROJETO COMPROVA

� falso que militantes do PT tenham invadido igreja em Joinville

Grupo composto por estudantes, professores e ativistas de esquerda, na verdade, ocupou um pr�dio administrativo, em protesto contra a demiss�o de uma professora


20/10/2022 19:49

Projeto Comprova
� falso que militantes petistas invadiram a Par�quia da Paz, em Joinville (SC), na noite dessa ter�a-feira (18/10) (foto: Projeto Comprova/Divulga��o)
� falso que militantes petistas invadiram a Par�quia da Paz, em Joinville (SC), na noite dessa ter�a-feira (18/10). O boato foi gerado porque o epis�dio ocorreu em um pr�dio com diversas institui��es, entre elas a par�quia, de denomina��o luterana, e a institui��o educacional privada Bom Jesus Ielusc, que oferece servi�os de ensino fundamental e m�dio durante o dia e de ensino superior no per�odo noturno. O grupo, composto por estudantes, professores e tamb�m ativistas de esquerda, na verdade ocupou o Deutsche Schule, pr�dio que abriga as salas da dire��o, secretarias e coordena��es dos cursos e, em seguida, os manifestantes foram para o p�tio. O ato aconteceu em defesa de uma professora da faculdade, que foi demitida ap�s manifestar-se contra apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) em sua conta no Twitter. A publica��o foi feita em 1° de outubro, mesmo dia em que o presidente participou de uma motociata na cidade catarinense.

Conte�do investigado: V�deo publicado no Instagram por uma conta bolsonarista que mostra jovens entrando em um pr�dio e gritando palavras de ordem. O post, com mais de 339 mil visualiza��es, afirma que a a��o se trata de uma invas�o � igreja.

Onde foi publicado: Instagram e Twitter.

Conclus�o do Comprova: N�o houve invas�o de igreja por militantes petistas em Joinville. O grupo era, na realidade, formado por estudantes e organiza��es pol�ticas de esquerda da cidade, e entrou no terreno em que fica a par�quia para protestar contra a demiss�o de uma professora do ensino superior que lecionou por 15 anos no Bom Jesus Ielusc e foi desligada ap�s manifestar-se contra bolsonaristas em sua rede social. A institui��o ocupa o mesmo complexo que a igreja e faz parte da Rede Sinodal de Educa��o, ligada � Igreja Evang�lica de Confiss�o Luterana no Brasil (IECLB), uma entidade associativa que re�ne institui��es educacionais com v�nculos evang�lico-luteranos.

Em v�deos compartilhados na internet, os manifestantes aparecem gritando as palavras de ordem “ocupar e resistir” enquanto sobem as escadas do Deutsche Schule, pr�dio administrativo da institui��o. As publica��es enganosas sugerem que militantes da Central �nica dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT) teriam entrado no local e “invadido” a igreja luterana durante o culto. Em nenhum momento, no entanto, os participantes entram no espa�o religioso ou tocam os sinos.

Ao Comprova, integrantes de grupos que estiveram � frente do ato negaram que o protesto tenha sido organizado pela CUT ou pelo PT. Segundo eles, as manifesta��es foram individuais, com bandeiras e adesivos partid�rios de pessoas que se somaram ao ato, mas tamb�m com a presen�a de integrantes de sindicatos de professores, tanto de institui��es p�blicas quanto privadas da cidade, e estudantes.

Em nota publicada na quarta-feira (19/10), a Par�quia da Paz desmentiu a suposta invas�o e afirmou que, por compartilhar do mesmo espa�o que a institui��o de ensino, a manifesta��o gerou “inc�modo” durante o culto em andamento, mas a celebra��o n�o foi paralisada.

Em consulta no Google Maps, � poss�vel ver dois pr�dios: um azul, que � a igreja, e um amarelo, que � a antiga escola alem� Deutsche Schule. Na filmagem, os manifestantes entram apenas na estrutura em amarelo.

Falso, para o Comprova, � o conte�do inventado ou que tenha sofrido edi��es para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publica��o: At� a tarde de quinta-feira, 20 de outubro, as postagens compartilhadas obtiveram um total de 502,9 mil visualiza��es, contabilizando Instagram e Twitter.

O que diz o respons�vel pela publica��o: A reportagem entrou em contato com o autor da publica��o e at� o momento n�o teve resposta. Ap�s o pronunciamento da congrega��o, o v�deo foi exclu�do da p�gina.

Como verificamos: Inicialmente, buscamos reportagens que citaram o protesto dos estudantes na faculdade Bom Jesus Ielusc e procuramos por v�deos publicados nas redes sociais utilizados em pe�as de desinforma��o. Tamb�m consultamos o Google Maps e, com base nos v�deos, conclu�mos que o pr�dio ocupado pelos manifestantes foi o amarelo, chamado Deutsche Schule, e n�o a igreja, estrutura em azul.

A equipe tamb�m procurou a assessoria de comunica��o do Ielsuc, a defesa da professora Maria Elisa M�ximo e, por fim, a nota oficial da congrega��o luterana e outras institui��es que abordaram o assunto, al�m de perfis oficiais de pol�ticos e p�ginas que compartilharam a desinforma��o.

N�o houve invas�o na igreja

Ao contr�rio do que dizem v�deos e posts que circulam na internet, os manifestantes n�o invadiram a Par�quia da Paz. A igreja, constru�da em 1857 e que mant�m parte da estrutura original, atualmente fica ao centro do Col�gio Bom Jesus Ielusc, antiga escola alem� (Deutsche Schule) que foi constru�da anos mais tarde, assim como as outras edifica��es que integram o mesmo espa�o com os ensinos fundamental, m�dio e superior.

O pr�dio que o grupo ocupou, portanto, foi o Deutsche Schule, que abriga o administrativo da institui��o privada. Ap�s o boato, a pr�pria congrega��o emitiu um comunicado desmentindo a suposta invas�o e afirmando que o grupo n�o entrou no espa�o religioso em nenhum momento do ato.

O texto ainda diz que, durante o protesto, acontecia um culto — que � celebrado toda ter�a-feira, �s 19h —, e que os manifestantes n�o tiveram acesso aos sinos, acionados logo ap�s a ora��o do Pai Nosso, como de costume.

Al�m disso, por compartilhar do mesmo espa�o que a institui��o de ensino, a nota diz que a manifesta��o gerou “inc�modo durante o culto em andamento em raz�o do barulho e na sa�da dos participantes [do culto]”. No entanto, a celebra��o n�o precisou ser paralisada, conforme esclareceu o pastor Cleo Martin ao jornal O Globo.

Nota
(foto: Reprodu��o)


Al�m de grupos bolsonaristas, a pe�a de desinforma��o foi compartilhada por vereadores de Joinville e pelo candidato ao governo de Santa Catarina Jorginho Mello (PL) — que excluiu a publica��o de suas redes ap�s pronunciamento oficial da igreja. O conte�do falso tamb�m foi publicado por jornais gospels, uma p�gina de not�cias locais e at� pela atriz e ex-secret�ria de Cultura do governo Bolsonaro Regina Duarte. Em nenhum dos casos, at� o fechamento desta checagem, houve retrata��o.

Quem participou da manifesta��o e o que motivou o protesto?


O grupo de manifestantes foi at� a institui��o Bom Jesus Ielusc protestar contra a demiss�o da professora Maria Elisa M�ximo, que lecionava para o ensino superior. A docente j� estava afastada da faculdade h� duas semanas ap�s uma publica��o em sua conta pessoal do Twitter em que criticava bolsonaristas. O aviso da demiss�o veio na ter�a-feira (18), o que motivou o protesto por parte de estudantes e outras organiza��es da cidade.

Segundo Chico Aviz, professor e militante de uma das entidades que organizaram o ato, a mobiliza��o n�o foi encabe�ada pelo PT ou pela CUT, mas por entidades estudantis e organiza��es pol�ticas. O que houve, segundo ele, foram manifesta��es individuais de pessoas que participavam da a��o levando bandeiras partid�rias e adesivos.

“Fomos, sim, ao Ielusc em defesa da professora, mas sem nenhuma rela��o com a igreja. Fomos ao pr�dio da faculdade e ao estacionamento. Chegaram a falar que a gente tocou o sino, olha o absurdo disso… N�o houve nenhuma fala de intoler�ncia religiosa”, refor�a Aviz.

Antes da manifesta��o em defesa da professora, o grupo se reuniu na Pra�a da Bandeira, a 450 metros do Bom Jesus Ielusc, para protestar contra cortes do governo federal e reten��o de or�amento federal destinado � educa��o. A mobiliza��o aconteceu em mais de 70 cidades do pa�s e, nacionalmente, foi convocada pela Uni�o Nacional dos Estudantes (UNE).

Os manifestantes sa�ram da pra�a central e seguiram para a institui��o por volta das 19h30 a pedido dos estudantes contr�rios � demiss�o da professora e Eles ficaram na faculdade por cerca de uma hora. Com bandeiras e faixas, o grupo se concentrou, na maior parte do tempo, no p�tio da faculdade onde fizeram discursos.

Professora fez cr�tica a bolsonaristas


Maria Elisa M�ximo � doutora em antropologia e atuava havia 15 anos como professora do ensino superior no Bom Jesus Ielusc. No dia 1° de outubro, a educadora publicou, em sua conta pessoal do Twitter, uma cr�tica a apoiadores de Bolsonaro que participaram naquele dia de uma motociata em Joinville, v�spera do primeiro turno das elei��es de 2022.

O print do tu�te viralizou em grupos bolsonaristas e, um dia depois, virou assunto na C�mara de Vereadores da cidade , quando o presidente da Casa, Maur�cio Peixer (PL), definiu a fala de Elisa como “discurso de �dio” e ataque.

Ap�s a repercuss�o negativa por parte do eleitorado bolsonarista e de pais de alunos matriculados na institui��o, no dia 4 de outubro, o Ielusc emitiu uma nota sobre o afastamento da professora e informou que, no dia 12 de agosto, em raz�o do per�odo eleitoral, foi enviado a todos os funcion�rios um comunicado “trazendo de forma sucinta o que � esperado do colaborador nesse per�odo”.

Entre as orienta��es, o texto pedia para “evitar que posicionamentos pessoais possam ser vinculados como sendo da institui��o educacional” em salas de aula ou m�dias e grupos acessados por estudantes e pais e evitar “debates improdutivos, em especial quando voc� ou seu interlocutor utilizam achismos e generaliza��es como argumentos”. A institui��o ainda refor�ou que seu “posicionamento institucional � de neutralidade pol�tica, por ser apartid�ria”.

Mesmo ap�s o afastamento, o caso continuou gerando pol�mica e repercutiu nacionalmente, sendo alvo de cr�ticas de representantes p�blicos. A deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PL-SC), inclusive, levou o assunto para a tribuna da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) na tarde de ter�a-feira (18/10) — dia em que ocorreu a demiss�o.

Um dia ap�s o ato a favor da professora, pais e alunos do Ielusc cr�ticos �s manifesta��es de apoio � educadora, organizaram um protesto em defesa da institui��o de ensino. A convoca��o foi feita por movimentos de direita da cidade. O grupo cantou o hino nacional e aplaudiu a chegada da cavalaria da Pol�cia Militar.

Em Joinville, maior col�gio eleitoral de Santa Catarina, Bolsonaro teve 72,06% dos votos v�lidos nas elei��es de 2018, o maior �ndice entre as cidades com mais de 300 mil eleitores, conforme citou o colunista da NSC Jefferson Saavedra. Neste primeiro turno de 2022, o candidato � reelei��o fez 68,98% de todos os votos v�lidos.

Professora e alunos citam persegui��o pol�tica


Ao Globo, Maria Elisa M�ximo classificou como pol�tica a motiva��o de sua demiss�o, apesar de essa justificativa n�o ter sido apresentada pelo Ielusc. “At� mesmo porque, como uma institui��o privada, eles t�m a liberdade de rescindir o contrato a qualquer momento”, explicou.

Ap�s a repercuss�o negativa, Maria Elisa sofreu diversos ataques nas redes sociais e desativou sua conta no Twitter. A educadora diz que teme pela seguran�a dela e da fam�lia.

Em nota escrita na quarta-feira, estudantes da faculdade Bom Jesus Ielusc refor�aram que n�o houve depreda��o do ambiente por parte dos manifestantes e que o ato foi pac�fico. O movimento foi apenas, segundo os alunos, para demonstrar insatisfa��o com a institui��o quanto � demiss�o e “ao seu posicionamento neutro, sem nenhum tipo de blindagem aos seus colaboradores”.

“N�o � a primeira vez que um epis�dio como este acontece. H� alguns anos que professores, que n�o se posicionam de acordo com o que a institui��o prega, s�o demitidos. O Ielusc, ao inv�s de defender a liberdade de express�o da professora, afastou-a e, ontem, procedeu com a demiss�o. Ela tinha 15 anos de casa. Uma l�stima”, cita o texto.

Segundo Daniela Felix, advogada de Maria Elisa, ela foi “dispensada sem justa causa formalmente”. Na pr�xima semana est� prevista a homologa��o da demiss�o por parte do sindicato.

“Sobre a rescis�o do contrato de trabalho anunciada ontem, consideramos lament�vel o posicionamento da faculdade, que coloca fim a um trabalho ser�ssimo e comprometido de doc�ncia, pesquisa e extens�o de mais de 15 anos, que prejudica n�o s� a professora, mas todos os demais docentes e discentes envolvidos nos projetos por ela coordenados”, cita o pronunciamento oficial da defesa.

O Comprova entrou em contato com a assessoria de comunica��o do Ielusc que, por telefone, informou que n�o se manifestaria oficialmente sobre os motivos para o desligamento da professora.

Demiss�o motivou notas de rep�dio


Ap�s a demiss�o, a Associa��o Brasileira de Antropologia (ABA), por meio da Comiss�o de Direitos Humanos, publicou uma nota de rep�dio ao que define ser uma “persegui��o pol�tica e profissional” sofrida pela professora Maria Elisa M�ximo e sua fam�lia.

A institui��o cita que “tal persegui��o, tanto na sua dimens�o institucional a partir da decis�o da faculdade, quanto nas agressivas manifesta��es no espa�o virtual” � inaceit�vel em um Estado democr�tico e viola o direito � livre express�o garantido nos incisos IV, VIII e IX do artigo 5 da Constitui��o Federal de 1988, que asseguram a todas pessoas a liberdade de “manifesta��o do pensamento, sendo vedado o anonimato; que ningu�m ser� privado de direitos por motivo de cren�a religiosa ou de convic��o filos�fica ou pol�tica (…); que � livre a express�o da atividade intelectual, art�stica, cient�fica e de comunica��o, independentemente de censura ou licen�a”.

O Sindicato dos Servidores P�blicos do Munic�pio de Joinville (Sinsej) tamb�m se solidarizou com a professora, dizendo que todo cidad�o tem o direito de expressar suas opini�es e posi��es em suas redes pessoais.

“Desde que n�o cometa nenhum crime, a liberdade de express�o � garantida pela Constitui��o Federal de 1988. Nesta semana, Maria Elisa M�ximo exerceu esse direito em sua conta pessoal em uma rede social e desde ent�o ela e sua fam�lia sofrem com ataques vindos de todos os lados. Um deles come�ou dentro da pr�pria C�mara de Vereadores de Joinville, quando o presidente da casa, Maur�cio Peixer (PL), pediu que provid�ncias fossem tomadas em rela��o � opini�o da professora”, destaca o sindicato.

Entidades, partidos, movimentos sociais e autoridades ainda fizeram um abaixo-assinado de apoio � professora pedindo sua readmiss�o. O texto cita que o Ielusc “cedeu �s press�es manifestadas em redes sociais por apoiadores de Bolsonaro que exigiram posi��o da faculdade, coro engrossado pelos representantes de Bolsonaro na C�mara Municipal de Joinville e na Alesc”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conte�dos suspeitos sobre a pandemia, pol�ticas p�blicas do governo federal e as elei��es presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publica��es falsas ou enganosas, como a do v�deo aqui verificado, podem induzir a interpreta��es equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da vota��o. Os cidad�os t�m direito de basear suas escolhas em informa��es verdadeiras e confi�veis.

Outras checagens sobre o tema: A Lupa, o Aos Fatos e o UOL tamb�m verificaram o conte�do e apontaram como falso. Em verifica��es anteriores que fazem men��o ao PT ou ao presidenci�vel Lula de maneira direta, o Comprova checou que sinal de ‘L’ feito por traficantes n�o � refer�ncia ao petista e, sim, sauda��o de fac��o que atua no Rio; verificou que � enganoso suposto v�deo em que o presidenci�vel destratou Janja antes do debate e que fala dele � tirada de contexto para sugerir deboche de quem cr� na promessa de comer picanha. O Comprova tamb�m mostrou que era montado tu�tes que atribu�am a Jair Bolsonaro ataques contra religiosos cat�licos. 


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