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Estado de Minas FALA POL�MICA

'Pintou um clima': como fala de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas repercutiu no WhatsApp

Segundo pesquisadora, declara��o de Bolsonaro de que 'pintou um clima' com meninas venezuelanas teve mais repercuss�o em grupos de WhatsApp do que outros epis�dios de grande compartilhamento nas redes nos dias anteriores, como visita de Bolsonaro a Aparecida (SP) e a ida de Lula ao Complexo do Alem�o.


24/10/2022 09:17 - atualizado 24/10/2022 12:05
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Jair Bolsonaro
(foto: Getty Images)

A declara��o do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que "pintou um clima" com meninas venezuelanas adolescentes teve mais repercuss�o em grupos de WhatsApp do que outros epis�dios de grande compartilhamento nas redes nos dias anteriores — a visita de Bolsonaro a Aparecida (SP) e a ida do candidato do PT, Luiz In�cio Lula da Silva, ao Complexo do Alem�o.

A constata��o � da pesquisadora Andressa Costa, doutoranda em Ci�ncia Pol�tica na Universidade de Lisboa, que monitora 15 mil grupos p�blicos no WhatsApp — a maioria composta por apoiadores do presidente, mas tamb�m grupos sobre outros temas.

O pico de envio de mensagens sobre Bolsonaro e as meninas venezuelanas ocorreu no domingo da semana passada (16/10), quando 576 a cada 200 mil mensagens faziam men��o ao tema, segundo Costa.

No pico de mensagens sobre Bolsonaro em Aparecida, foram 202 mensagens a cada 200 mil sobre o tema. E, sobre a ida de Lula no Complexo do Alem�o, foram 330 a cada 200 mil.

Veja a compara��o no gr�fico elaborado por Costa, em que o eixo vertical mostra a quantidade de mensagens sobre cada tema a cada 200 mil.


infografico
(foto: Andressa Costa)

"Ficamos surpresas, porque a gente j� tinha feito um levantamento sobre a quest�o da visita do Bolsonaro em Aparecida, que tinha repercutido bastante na rede, assim como a quest�o do Lula no Complexo do Alem�o, e essa quest�o da fala do Bolsonaro sobre as venezuelanas conseguiu ter um volume ainda maior", disse Costa.

Sentimento das mensagens

Esse total de mensagens considera as que apoiam e as que atacam o presidente, al�m das neutras — que incluem principalmente o envio de uma not�cia sem um coment�rio que expresse uma opini�o ou ju�zo de valor.

A an�lise de Costa sobre o teor dessas mensagens mostra que, no pico (16/10), 58,8% das mensagens foram neutras, 35,8% negativas e 5,9% positivas.


infográfico
(foto: Andressa Costa)

A distribui��o n�o � muito diferente do que aconteceu no dia do pico de mensagens (13/10) sobre Bolsonaro em Aparecida, quando 62% das mensagens foram neutras, 32,6% negativas e 5,4% positivas.

Sobre a ida de Lula ao Complexo do Alem�o, no pico de mensagens (13/10), 41,1% foram positivas, 30,8% neutras e 28,1% negativas, mas nos outros dias as men��es negativas superaram.

Ao comparar as mensagens que atacavam Bolsonaro pela fala sobre as meninas venezuelanas e aquelas que defendiam o presidente no mesmo epis�dio, Costa disse que notou uma diferen�a no tipo de mensagem compartilhada.

Nas mensagens contra Bolsonaro, ela identificou um envio de mensagens variadas sobre o tema, enquanto nos conte�dos que defendem o presidente, houve um compartilhamento maior das mesmas mensagens.

"As mensagens contra Jair Bolsonaro apresentaram uma grande variedade, sendo produzido muito conte�do sobre o tema, centralmente atrav�s de imagens e v�deos focados na fala de 'pintou um clima' de Bolsonaro", diz o relat�rio produzido pela pesquisadora.

"Observou-se que essas mensagens n�o circulam apenas em grupo de apoiadores de Lula, mas tamb�m em grupos que n�o t�m finalidade pol�tica, como grupos locais. Em rela��o �s mensagens em defesa de Bolsonaro, n�o houve grande variedade, sendo o conte�do baseado na live do presidente explicando o epis�dio e relatando que, � �poca, a visita � casa das venezuelanas foi transmitida ao vivo pela CNN, estando esta transmiss�o tamb�m presente nas mensagens, que circularam apenas em grupos de apoio ao presidente."

Costa diz que identificou uma mudan�a na estrat�gia das mensagens de usu�rios de esquerda no primeiro turno e no segundo, passando de uma postura reativa para uma postura mais ativa.

"O que se viu no primeiro turno era mais o lado da esquerda se defendendo dos ataques do bolsonarismo, especialmente na quest�o da religi�o, no primeiro turno. No segundo turno, a gente j� est� vendo uma postura diferente dentro das redes sociais — tem esse lado mais ativo de pegar o que est� acontecendo, pegar a fala do Bolsonaro e realmente construir uma narrativa para trabalhar isso dentro das redes sociais", disse a cientista pol�tica.

David Nemer, professor da Universidade da Virg�nia, nos Estados Unidos, e pesquisador de antropologia da tecnologia que acompanha 122 grupos bolsonaristas no Telegram, destaca a import�ncia do tema na mobiliza��o dos grupos bolsonaristas.

"A pauta de costumes, ele (Bolsonaro) entende que � uma coisa que fala diretamente com a quest�o do eleitorado dele", disse � BBC News Brasil.

"A quest�o da pedofilia dentro do ecossistema bolsonarista � (tema) bem pesado, j� que demonizar o inimigo como ped�filo sempre foi uma arma na narrativa deles. Em 12 de outubro, Dia das Crian�as, foi um tema muito falado, de uma forma em que Bolsonaro combateria a pedofilia. A quest�o das crian�as venezuelanas veio dois dias depois, ent�o teve um pico muito forte de engajamento sobre esse assunto. S� que muda a caracter�stica do tom — n�o mais Bolsonaro sendo quem combate, mas uma defensiva de que Bolsonaro n�o � ped�filo."

A quest�o do Bolsonaro e pedofilia atingiu em cheio os grupos Bolsonaristas no Telegram. Pedofilia sempre foi uma arma dos Bolsonaristas para acusar e demonizar seus oponentes- por isso que � um assunto que � sempre discutido por l�. No dia 12/10, dia das crian�as, muito se + pic.twitter.com/eDK5Ez6sB3

— David Nemer (@DavidNemer) October 16, 2022

'Pintou um clima': o que disse Bolsonaro sobre meninas venezuelanas

Candidato � reelei��o, Bolsonaro disse, em fala a um podcast em 14 de outubro, que "pintou um clima" durante visita a um grupo de meninas venezuelanas no Distrito Federal. Na ocasi�o, ele associou as adolescentes � explora��o sexual: "Tinha umas 15, 20 meninas, s�bado de manh�, se arrumando, todas venezuelanas. Eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando no s�bado para qu�? Ganhar a vida."

A fala teve grande repercuss�o, com cr�ticas pelo uso do termo "pintou um clima" pelo presidente da Rep�blica associado a adolescentes e pela atitude dele diante do que considerou uma situa��o suspeita. A cantora Daniela Mercury, por exemplo, repudiou o epis�dio no Twitter.

"Essa situa��o � absurda. Como assim? Pintou um clima? O que isso significa? � preciso investigar imediatamente tudo que aconteceu dentro daquela casa. Ele � presidente da Rep�blica e tinha a obriga��o de defender as adolescentes contra qualquer tipo de explora��o, ou crime", escreveu.

Essa situa��o � absurda. Como assim? Pintou um clima ? O que isso significa? � preciso investigar imediatamente tudo que aconteceu dentro daquela casa. Ele � presidente da rep�blica e tinha a obriga��o de defender as adolescentes contra qualquer tipo de explora��o, ou crime. pic.twitter.com/eOmQvv5x7d

— Daniela Mercury (@danielamercury) October 15, 2022

Depois do epis�dio, houve uma s�rie de defesas do lado de Bolsonaro: apoiadores do presidente disseram que sua fala foi tirada de contexto e acusaram a esquerda de fake news. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, afirmou no domingo que Bolsonaro tem "mania" de falar "se pintar um clima".

Segundo levantamento da revista piau�, em nenhuma das 181 lives que fez entre mar�o de 2019 e setembro de 2022 Bolsonaro usou a express�o "pintou um clima".

E o pr�prio presidente gravou v�deo para se defender das cr�ticas que recebeu, ao lado de Michelle e de Maria Teresa Belandria, representante no Brasil do autoproclamado governo de Juan Guaid�. No discurso, ele pede perd�o caso as frases tenham sido "mal compreendidas" ou causado "algum tipo de constrangimento a nossas irm�s venezuelanas".


Camisetas estampadas com imagens de Lula e Bolsonaro
Segundo turno das elei��es ocorrer� em 30 de outubro (foto: Getty Images)

A cientista pol�tica Camila Rocha, que � pesquisadora da nova direita no Brasil no Cebrap e autora de Menos Marx, Mais Mises - O liberalismo e a nova direita no Brasil, diz que Bolsonaro busca "humanizar a pr�pria imagem" ao pedir desculpas.

Ela diz que o pedido de desculpas � algo in�dito. "� uma estrat�gia de humanizar a figura dele porque quem faz o marketing do Bolsonaro percebeu que tem um impacto importante no sentido de afastar as pessoas do voto no Bolsonaro. Ainda que a gente saiba que seja algo meio que para ingl�s ver - porque ele nunca fez isso antes, vai fazer agora aos 45 do segundo tempo - mas pode dar algum resultado, sim. No sentido de algu�m que at� gostaria de votar no Bolsonaro, a� viu o 'pintou um clima', ficou assustado, mas da� fala 'tudo bem, ele pediu desculpa, ou fez alguma coisa a respeito'."

Sobre o v�deo em que Bolsonaro fala das venezuelanas, Rocha diz que n�o chegou a medir especificamente o impacto da fala entre os grupos de eleitores que acompanha, mas avalia que esse tipo de frase "mais afasta o voto do Bolsonaro do que jogam necessariamente para votar no Lula". Ou seja, pode at� fazer com que essa pessoa n�o vote no Bolsonaro, mas "se ela vai votar no Lula, s�o outros quinhentos".

David Nemer tamb�m destaca que n�o identificou virada de voto. "A quest�o de pautar dentro desses grupos n�o significa virar voto. Acho muito dif�cil isso ter acontecido nesses grupos fechados com o Bolsonaro", disse.

Ele destaca, no entanto, que percebe um "des�nimo" em alguns casos.

"Um des�nimo de 'n�o � poss�vel que Bolsonaro entrou nessa tamb�m, ser� que ele realmente representa a gente tamb�m?'. Esse des�nimo leva � desmotiva��o para sair de casa e votar."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63345188


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