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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Lula pede 'cheque em branco'? As d�vidas sobre o programa do PT

Especialistas se dividem sobre se Lula pede um voto de confian�a sem que o eleitorado saiba o suficiente sobre como ser� seu governo na �rea econ�mica.


28/10/2022 09:09 - atualizado 28/10/2022 10:32


Lula coloca uma máscara vermelha contra a covid
Lula busca terceiro mandato como presidente da Rep�blica contra Jair Bolsonaro (foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

Tendo recebido a maior vota��o entre os candidatos � Presid�ncia no primeiro turno, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) pode chegar, no pr�ximo domingo (30/10), a um terceiro mandato presidencial, se conseguir manter sua vantagem e vencer o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mas apesar de ser uma das figuras pol�ticas mais conhecidas da hist�ria recente do pa�s, Lula vem sendo criticado ao longo da campanha pela falta de detalhamento de suas propostas em �reas relevantes como a pol�tica econ�mica que ele poder� adotar em um eventual novo mandato.

�s v�speras das elei��es, o questionamento permanece: Lula est� pedindo um "cheque em branco" aos eleitores?

Cientistas pol�ticos, economistas e pol�ticos ouvidos pela BBC News Brasil divergem sobre a resposta a essa pergunta. De um lado, h� os que alegam que Lula n�o est� pedindo um "cheque em branco" do povo porque parte do seu eleitorado j� tem um conjunto de ideias fixas sobre sua agenda econ�mica e espera que o petista repita o que fez em seus dois mandatos anteriores.

Outros, por�m, avaliam que o fato de Lula n�o ter detalhado suas propostas mostraria que ele e o partido n�o teriam "aprendido" com os erros do passado e que isso pode dificultar o processo de cobran�a por desempenho, caso ele seja eleito. Eles alegam que ao fazer promessas sem detalhar como vai alcan�ar os objetivos, o cheque pode estar na verdade "sem fundo", quando n�o h� como pag�-lo.

Cheque em branco

A express�o "cheque em branco" vem sendo utilizada ao longo da corrida eleitoral por cr�ticos do PT. No jarg�o popular, dar um "cheque em branco" significa dar um voto de extrema confian�a em algu�m, uma vez que o portador pode escrever o valor que quiser no cheque.

Na campanha do primeiro turno, a senadora e candidata � Presid�ncia Simone Tebet (MDB) usou a express�o ao se referir a Lula em uma postagem em suas redes sociais.

"O ex-presidente Lula defende o voto �til, mas foge covardemente do debate, n�o apresenta propostas. Quer um cheque em branco do Brasil", disse Simone.

Ap�s o primeiro turno, Tebet declarou apoio a Lula e passou a viajar pelo pa�s fazendo campanha pelo ex-presidente.

Quem tamb�m usou a express�o foi o candidato do Novo � Presid�ncia, Felipe D`�vila. Em uma s�rie de postagens em suas redes sociais, ele criticou a falta de detalhamento das propostas de Lula.

"'N�o sou o Bolsonaro' n�o � pol�tica econ�mica. N�o gera emprego nem renda [...] Aqui n�o tem cheque em branco nem estelionato eleitoral", disse.

D'�vila, ao contr�rio de Tebet, continua a se posicionar contra Lula no segundo turno.

A principal fonte de cr�ticas girou em torno da suposta falta de detalhamento das propostas de Lula. O documento intitulado "Diretrizes para o programa de reconstru��o e transforma��o do Brasil" tem 21 p�ginas, 121 pontos e foi registrado pelo partido junto � Justi�a Eleitoral.

Nele, a coliga��o de Lula se compromete, por exemplo, a acelerar a atividade econ�mica e retomar a gera��o de empregos.

"Temos compromisso com o desenvolvimento econ�mico sustent�vel com estabilidade, para superar a crise e conter a infla��o, assegurando o crescimento e a competitividade, o investimento produtivo, num ambiente de justi�a tribut�ria e transpar�ncia na defini��o e execu��o dos or�amentos p�blicos, de forma a garantir a necess�ria amplia��o de pol�ticas p�blicas e investimentos fundamentais para a retomada do crescimento econ�mico", diz um trecho do documento.

Na quinta-feira (27/10), o PT divulgou uma carta com 13 pontos assinadas pelo ex-presidente Lula em que fornece mais informa��es sobre suas propostas para diversas �reas, entre elas a econ�mica.

Na carta, Lula promete retomar obras paradas nas 27 unidades da federa��o, buscar investimentos nacionais, internacionais, p�blicos e privados para "para dinamizar e expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o com�rcio, servi�os, agricultura de alimentos e ind�stria".

Na carta, Lula promete ainda construir uma "Nova Legisla��o Trabalhista" e implantar um programa de cr�dito a juros baixos para micro, pequenas e m�dias empresas.


Temer, Dilma e Lula durante posse de Dilma registrada no documentário 'Democracia em Vertigem', da brasileira Petra Costa
Economistas temem retorno da agenda econ�mica implantada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) (foto: Orlando Brito/Netflix/Divulga��o)

O problema, segundo alguns cr�ticos, � que as propostas na �rea econ�mica n�o estariam suficientemente detalhadas.

"O cheque est� em branco porque voc� n�o ouviu o Lula fazendo nenhum grande compromisso na �rea econ�mica. Voc� n�o sabe, em detalhes, o que ele quer fazer e nem como quer chegar l�", diz doutor em economia e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartzman.

O economista afirma que a pol�tica econ�mica adotada pelos governos do PT a partir de 2006 foi equivocada e teria sido respons�vel, em parte, pela crise econ�mica que o pa�s enfrentou a partir de 2015.

Lula admitiu que sua sucessora, Dilma Rousseff (PT) teria cometido erros na condu��o da economia como o programa de desonera��es adotado por ela para manter um n�vel baixo de desemprego.

Segundo Schwartzman, sem o detalhamento das novas propostas na �rea econ�mica, o eleitorado ficou sem saber se Lula vai repetir ou n�o as pol�ticas do passado.

"A gente n�o sabe se o Lula e o PT aprenderam com os erros do passado ou se v�o continuar a fazer as mesmas coisas", afirmou.


Lula durante discurso
Lula vem sendo criticado por n�o detalhar suas propostas para a �rea econ�mica (foto: Reuters)

'Cheque sem fundo'

A economista de orienta��o liberal e apoiadora da candidatura de Simone Tebet � Presid�ncia, Elena Landau, concorda com Schwartzman.

Segundo ela, a estrat�gia do "cheque em branco" ficou ainda mais evidente na reta final do primeiro turno, quando a candidatura de Lula apostou todas as fichas no voto �til para encerrar as elei��es ainda no primeiro turno.

"Houve uma press�o enorme pelo voto �til sob o argumento de que apenas Lula representaria a democracia. Mas qu�o democr�tico � defender voto �til no primeiro turno? Ele pedia voto na base do 'confia em mim' e s�", disse a economista.

Elena Landau admite que algumas posi��es de Lula sobre a economia chegaram a ser debatidas como a ideia de usar o Estado como indutor do crescimento econ�mico e reativar o consumo.

Ela usa a met�fora do cheque para descrever o que v� como um problema. "Talvez, o cheque do Lula n�o esteja em branco. Talvez, o problema seja que o cheque que ele deu ao eleitorado esteja sem fundo, porque ele n�o vai ter como entregar o que prometeu", afirmou.

Apesar das cr�ticas, Landau apoia o voto em Lula no segundo turno.

"Meu voto � contra a reelei��o de Bolsonaro. Ap�s ver o Congresso Nacional que foi eleito, � preciso dar um freio a Bolsonaro. � um Congresso conservador e de direita. Com Bolsonaro, essa combina��o n�o � saud�vel", disse ao jornal Valor Econ�mico no dia 7 de outubro.

Em uma postagem no seu perfil no Twitter na segunda-feira (24/10), a economista criticou a suposta aus�ncia de cobran�a sobre as propostas de Bolsonaro.

"Por que s� pedem propostas do Lula, enquanto � Bolsonaro que acabou com teto, que contratou d�ficit prim�rio para 2023, que fica perturbando as ideias da Petrobras, que faz pol�tica populista, que mant�m regimes especiais no IR [Imposto de Renda], que transformou Brasil em p�ria?", indagou a economista.

"Depois do dia 30, a gente cobra. E at� o fim do ano a dupla Guedes/Jair ainda pode fazer muito estrago", completou.

Mem�ria e oposi��o

A doutora em Ci�ncia Pol�tica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Viviane Gon�alves, por�m, discorda dos argumentos de Schwartzman e Elena Landau sobre um suposto "cheque em branco" pedido por Lula.

Ela sustenta que como Lula � bastante conhecido e j� governou o pa�s duas vezes, o eleitorado j� tem uma ideia sobre o que quer e o que espera do petista.

"Eu n�o vejo como um cheque em branco porque ele n�o � um desconhecido. Quem vota em Lula j� vota esperando algo, nem que seja a repeti��o do que ele fez quando foi presidente. Al�m disso, ele vem como uma proposta de ser o oposto de Bolsonaro. O eleitorado se manifesta dizendo: eu n�o quero mais isso", afirmou a professora.


Bolsonaro
Lula diz que pretende fazer o oposto de Bolsonaro, caso seja eleito (foto: Reuters)

"N�o � que ele n�o precisou apresentar propostas. Ao longo da campanha, ele falou de algumas, mas o que existiu nessa campanha foi uma aposta muito grande nas figuras pessoais dos candidatos. Isso j� era uma caracter�stica forte no Brasil no passado e se manteve agora", avaliou Viviane Gon�alves.

Na avalia��o da professora de Ci�ncia Pol�tica da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de S�o Paulo, Denilde Holzhacker, Lula � amb�guo ao n�o detalhar algumas de suas propostas.

Segundo ela, isso se deveu � necessidade de ele atrair o voto do eleitor moderado e indeciso. Ao n�o descrever em detalhes suas propostas, Lula teria evitado espant�-los ou desagradar a milit�ncia mais � esquerda que sempre o apoiou.

Outro motivo que permite a Lula n�o detalhar suas propostas ao longo da camanha, segundo ela, � a forma como a disputa acontece.

"A disputa foi muito centrada na figura de Lula e Bolsonaro. � uma batalha, em certa medida, sobre as personalidades. N�o � uma elei��o sobre propostas", afirma.

Apesar disso, ela discorda da tese do "cheque em branco".

"Eu n�o chamaria de cheque em branco porque o eleitor vai cobr�-lo [caso ele seja eleito]. Haver� uma press�o da sociedade em geral e dos grupos pol�ticos que o apoiaram at� agora", disse Denilde Holzhacker.

Em suas redes sociais, o candidato a vice-presidente na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), rebate a ideia de que as propostas na �rea econ�mica do ex-presidente sejam vagas. Em uma s�rie de postagens, Alckmin disse que, se Lula for eleito, o governo ter� como ponto principal a responsabilidade fiscal.

O%uD83E%uDDF6da proposta econ�mica de @LulaOficial:

.@LulaOficial apresentou o programa econ�mico de forma muito clara. Vou contar aqui o que n�s vamos fazer para o Brasil voltar ao caminho do crescimento e da prosperidade. O primeiro ponto � responsabilidade fiscal, que � inegoci�vel.

— Geraldo Alckmin %uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7 1%uFE0F%u20E33%uFE0F%u20E3 (@geraldoalckmin) October 24, 2022

O deputado federal e um dos formuladores do programa de governo da candidatura de Lula, Paulo Teixeira (PT-SP) tamb�m n�o concorda com a ideia de "cheque em branco".

"N�o existiu isso. O principal balizador da campanha de Lula foram os seus governos. Al�m disso, n�s elaboramos, junto aos outros partidos da coliga��o, um programa com todas as diretrizes de como queremos governar. Est� tudo registrado", afirmou Teixeira � BBC News Brasil.

Indagado sobre o n�vel de detalhamento das propostas, Paulo Teixeira negou que elas sejam vagas, mas disse que um detalhamento maior e estabelecimento de metas vai depender de conversas com a sociedade e com o Congresso, caso Lula seja eleito.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63098307


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