
Por Renato de Faria*
S�neca, fil�sofo estoico que viveu durante o auge do Imp�rio Romano, ficou conhecido por suas in�meras cartas. Textos que serviam como uma esp�cie de dire��o na vida, um rumo a tomar diante de contextos dif�ceis e decis�es complexas.
Mas tenhamos calma com as compara��es: ele n�o era uma esp�cie de coaching do mundo antigo. Era apenas um pensador que advogava a premissa da filosofia como instrumento para viver melhor.
Mas tenhamos calma com as compara��es: ele n�o era uma esp�cie de coaching do mundo antigo. Era apenas um pensador que advogava a premissa da filosofia como instrumento para viver melhor.
Afinal, se a natureza (ou Deus, para alguns) nos proporcionou o pensamento, e isso nos diferencia dos outros viventes, devemos us�-lo como instrumento de melhoramento existencial. Uma vida bem refletida nos previne de erros advindos de uma exist�ncia ignorante. A reflex�o filos�fica seria, nesse caso, a melhor vacina contra o sofrimento.
Sim, caro leitor, havia um tempo em que a filosofia n�o era um comp�ndio de textos herm�ticos, circunscritos aos eleitos agraciados pelo dom divino da fala dif�cil e escrita inintelig�vel. Ela era vista como uma esp�cie de medicina da alma e servia somente para isso.
As cartas do nosso fil�sofo serviam como receitu�rio para uma vida mais feliz. Indico, para esse momento de nosso Pa�s, duas em especial: Sobre a Ira e Sobre a Brevidade da Vida.
As cartas do nosso fil�sofo serviam como receitu�rio para uma vida mais feliz. Indico, para esse momento de nosso Pa�s, duas em especial: Sobre a Ira e Sobre a Brevidade da Vida.
Fa�o um exerc�cio al�m: fico a imaginar o pensador estoico escrevendo para n�s, brasileiros e brasileiras que acabamos de passar pelo pleito, com um pa�s dividido, fam�lias em lit�gio e amizades desfeitas.
E aqui vai um detalhe importante, S�neca foi senador durante o imp�rio de Cal�gula e tutor de uma crian�a que tamb�m dominaria Roma, Nero. Sobrevivendo ao primeiro tirano, sucumbiu ao segundo, que o obrigou ao suic�dio. Com mania de persegui��o, caracter�stica t�pica de todo autocrata, o Imperador suspeitava de uma trai��o por parte de seu professor e conselheiro.
E aqui vai um detalhe importante, S�neca foi senador durante o imp�rio de Cal�gula e tutor de uma crian�a que tamb�m dominaria Roma, Nero. Sobrevivendo ao primeiro tirano, sucumbiu ao segundo, que o obrigou ao suic�dio. Com mania de persegui��o, caracter�stica t�pica de todo autocrata, o Imperador suspeitava de uma trai��o por parte de seu professor e conselheiro.
Nesse contexto, n�o � dif�cil imaginar S�neca escrevendo uma carta para o povo brasileiro, com o t�tulo: Sobre Ganhos e Perdas.
Vejamos:
“Caros amigos,
A vida nada mais � arte de suportar as coisas. E pol�tica � apenas uma organiza��o social que nos ensina a suportar o outro. Engana-se quem espera nela alguma forma de felicidade. A Ci�ncia do Estado n�o possui essa finalidade. Apenas a filosofia pode nos salvar, a �nica capaz de viver em liberdade diante das paix�es ideol�gicas e dos �mpetos autorit�rios.
Como arte de tolerar o diferente e n�o sentir vontade de elimin�-lo, a Pol�tica s� existe para que a viol�ncia deixe de ser o princ�pio regulador da rela��o entre os homens, legitimando a linguagem, a palavra, como elemento de consenso entre seres diferentes. � pol�tico aquele que aprende a agir pela for�a da raz�o, e n�o em raz�o da for�a.
Ent�o, o maior ensinamento que a vida na p�lis nos oferece � a possibilidade de resistir diante da adversidade: afinal, o mundo � uma m�quina preparada para destruir nossa autoestima. Ganhamos algumas vezes, mas perdemos a quase todo momento: nossas c�lulas, nossa juventude, nosso dinheiro, nossa sa�de e, tamb�m, nossas aspira��es pol�ticas.
� por isso que viver em sociedade �, antes de tudo, aprender a perder sem sofrimento, vencer sem arrog�ncia e a reagir sem viol�ncia. Assim como toda vit�ria n�o passa de uma ilus�o diante da instabilidade que configura a realidade, pois as decis�es humanas s�o terreno f�rtil para a vaidade, corrup��o da alma, a derrota tamb�m n�o pode ser uma autoriza��o para legitimar atos de destrui��o.”
Assinado: S�neca, do tempo em que Governantes tinham Fil�sofos como conselheiros.
* Renato de Faria � fil�sofo e professor
* Renato de Faria � fil�sofo e professor