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Estado de Minas FAKE NEWS

A rede de not�cias falsas que faz manifestantes bolsonaristas desconfiarem do pr�prio presidente

Pesquisador Leonardo Nascimento diz que narrativa falsa de fraude na elei��o j� mobilizava seguidores do presidente para poss�veis manifesta��es.


03/11/2022 08:09 - atualizado 03/11/2022 09:10


Protesto contra a eleição de Lula em Anápolis, Goiás, no feriado de 2 de novembro
Protesto contra a elei��o de Lula em An�polis, Goi�s, no feriado de 2 de novembro (foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Grupos bolsonaristas presentes em aplicativos de mensagem e nas redes sociais j� se preparavam para estimular manifesta��es ap�s a elei��o porque sustentavam a falsa narrativa de que uma fraude impediria a reelei��o do presidente Jair Bolsonaro, diz o pesquisador Leonardo Nascimento, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

"Isso explodiu h� mais de um m�s. J� vinham sendo preparadas manifesta��es no caso de a elei��o, no dizer desses grupos bolsonaristas, ser 'fraudada'. J� falavam coisas como 'o Brasil vai parar'. H� 15 dias come�aram a surgir panfletos de convoca��o para protestos, �s vezes para ocorrerem no pr�prio dia da elei��o do segundo turno, �s vezes no dia seguinte", diz.

Nascimento explica que redes atuantes no Telegram e WhatsApp fazem um trabalho "constante, di�rio" de envio de informa��es que alimentam um sentimento de prontid�o e uma l�gica de paranoia para se defender de uma amea�a representada pelos grupos contr�rios aos bolsonaristas.

"Eles vivem num emaranhado de posts, v�deos e �udios de confirma��o de suas cren�as. Est�o fortemente imbu�dos de teorias da conspira��o ou de l�gicas operat�rias. E h� o aspecto de que, de 2016 para c�, o relacionamento com pessoas de vis�es diferentes foi diminuindo", em um refor�o do conceito de "bolhas", que impedem desafios aos pensamentos e linhas de racioc�nio do grupo.

O pesquisador afirma que essa l�gica funciona n�o s� para apresentar narrativas de potenciais amea�as contra eles, mas tamb�m de que h� "um grande plano" preparado para o dom�nio bolsonarista.

"Por isso, n�o adianta o vice-presidente [Hamilton Mour�o] anunciar que j� est� sendo feita uma transi��o, que o governo vai mudar. Porque nos grupos bolsonaristas prevalece a narrativa de que existe um plano sendo preparado para o retorno dos militares, onde todos os supostos algozes ser�o presos, como o ministro [do STF] Alexandre de Moraes."

Ele cita um v�deo que circula bastante desde a ter�a-feira (01/10), feito por um rep�rter da R�dio Ga�cha, em que manifestantes bolsonaristas nas imedia��es do Comando Militar do Sul em Porto Alegre comemoram efusivamente a falsa not�cia de que Moraes havia sido preso.

Bolsonaristas que pedem interven��o militar comemoram not�cia "fake" nas imedia��es do Comando Militar do Sul em Porto Alegre

Por volta das 16h um dos manifestantes acionou outros ap�s receber v�deo falso sobre pris�o do ministro Alexandre de Moraes @gzhdigital#R�dioGa�cha pic.twitter.com/IAEFq1yUGT

— Cid Martins (@cid_martins) November 1, 2022

Cenas semelhantes foram registradas em outras localidades, como no Rio.

Bolsonaristas comemoram suposta pris�o do ministro Alexandre de Moraes e interven��o federal durante ato antidemocr�tico no Rio de Janeiro.

Informa��es, no entanto, s�o falsas. pic.twitter.com/zSHg5iFYeO

— Rayanderson Guerra (@rayandersong) November 2, 2022

"As pessoas nos grupos bolsonaristas ficam falando o tempo todo daquilo. As pessoas acreditam que aquilo se torna realidade. Para compreender o que est� acontecendo nos grupos, a gente precisa tentar se deslocar do ponto de vista l�gico, do que efetivamente est� acontecendo, para o ponto de vista de como eles interpretam o que est� acontecendo", diz.

At� mesmo mensagens vindas diretamente de Bolsonaro que contrariam expectativas dos partid�rios podem causar d�vida sobre a autenticidade.

No v�deo em que o presidente pede a desobstru��o das rodovias postado em seu perfil oficial e verificado no Facebook uma usu�ria chega a duvidar que o conte�do � genuinamente relacionado aos atuais protestos.

"� mentira isso. V�deo antigo. Prestem aten��o, [isso] foi na outra manifesta��o dos caminhoneiros", afirma a seguidora do presidente em uma das respostas.

Essas rea��es podem ser fruto de uma ambiguidade proposital que est� embutida no discurso de Bolsonaro — caso do curto pronunciamento feito na tarde de ter�a no Planalto, no qual o presidente n�o reconhece a derrota no segundo turno para Lula, mas permite que o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, anuncie o in�cio do processo de transi��o.

"O tempo todo Bolsonaro est� administrando um espa�o em que ele est� dentro da ordem, em que respeita a ordem democr�tica e, ao mesmo tempo, d� margem para subverter essa ordem. Essa ambiguidade do discurso, de idas e vindas, de afirma��es e nega��es � constitutivo da estrutura pol�tica do exerc�cio do bolsonarismo", analisa Nascimento.


Manifestante segura cartaz com frase em inglês 'nós somos contra o comunismo' em São José dos Campos, interior de SP
Manifestante segura cartaz com frase em ingl�s "n�s somos contra o comunismo" em S�o Jos� dos Campos, interior de SP (foto: Roosevelt Cassio/Reuters)

Ele desenvolveu ao lado de Let�cia Cesarino, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Paulo de Freitas Castro Fonseca, tamb�m da UFBA, uma an�lise sobre mais de 2,1 milh�es de mensagens na plataforma no per�odo pr�ximo � realiza��o do primeiro turno da elei��o de 2022, com foco no processo de desinforma��o no Telegram.

Uma das conclus�es foi a identifica��o de pautas conspiracionistas cada vez mais expressivas em torno da ideia de fraude na vota��o.

Narrativas que tentaram descreditar o sistema eleitoral brasileiro, com as For�as Armadas evocadas como fiscais do processo, tamb�m apareceram com destaque entre as mensagens analisadas, al�m de convocat�rias para os atos de 7 de setembro que serviram para promover a candidatura de Bolsonaro.

Para Nascimento, n�o h� interesse em arrefecer essa ret�rica presenciada nas redes de confrontos e amea�as em rela��o aos opostos.

"N�o interessa porque se arrefecer, vira regime democr�tico, se arrefecer vira di�logo. E eles n�o querem di�logo."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63494495


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