
A ideia, segundo ele, � conectar a busca por recursos a Minas Gerais � necessidade de dar voz aos anseios populares.
"Vou fazer o que minha fun��o manda, de representar a (unidade da) federa��o, mas vou continuar sendo um empregado do povo. Falei que ia trazer o Senado para perto do povo e vou fazer isso", disse, ontem, em participa��o no "EM Entrevista", podcast de Pol�tica do Estado de Minas.
Apesar de garantir estar pronto para colaborar com a aprova��o de pautas do governo federal que considere positivas, Cleitinho n�o esconde a frustra��o com o presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva (PT). "Um cara que fala que � povo n�o rouba dinheiro do povo. Meu neg�cio � com ele (Lula). N�o acredito nele", afirmou, acusando-o de ser leniente com supostos casos de corrup��o.
Mesmo tendo apoiado o presidente Jair Bolsonaro (PL), que n�o conseguiu renovar o mandato, o parlamentar discorda dos bolsonaristas que protestam em ruas e estradas pedindo interven��o militar.
Defensor da Reforma Pol�tica, Cleitinho teceu cr�ticas aos partidos e afirmou que n�o vai se guiar pelas orienta��es do PSC. "Quero que todos os partidos, inclusive o meu, se explodam: o PT, o PSC, o PSDB", bradou. "Vou sempre defender o que for bom para o pa�s e para o povo", completou.
A �ntegra da entrevista est� no canal do Portal Uai no YouTube.
Na semana passada, o senhor disse que n�o vai se opor �s propostas de Lula que forem boas para o povo. Pode detalhar como pretende atuar no Senado Federal?
Sou adepto das reformas Pol�tica e Tribut�ria. Se ele propuser isso, por que vou querer atrasar o pa�s s� por ser oposi��o a ele? N�o faz sentido. Acima de qualquer coisa est�o o povo e a na��o - patr�o que paga meu sal�rio, do Lula e de todos os pol�ticos. � uma quest�o de equil�brio e bom-senso. O que � bom para o pa�s, vou sempre (ser a favor), independentemente do presidente.
Como o senhor pretende lidar com o PSC se o partido resolver ser oposi��o a Lula?
Qualquer partido, se a coisa for boa para o pa�s, vai ser contra? N�o faz sentido. � loucura. Nenhum partido manda em mim; muito menos esse. Partido nunca mandou (em mim). Nunca pedi nada a partidos. Inclusive, quando entrei, deixei bem claro: 'n�o quero nada de voc�s. A �nica coisa que quero � a vaga (de candidato ao Senado)'. Me deram a vaga e vou trabalhar. Quem manda em mim � o povo. Quem paga meu sal�rio � o povo, n�o o partido.
Mas o que pode acontecer se o senhor apoiar uma proposta de Lula que considera adequada e houver contesta��o do PSC sobre essa sua eventual posi��o?
N�o mudo meu posicionamento e o jeito que sou. Quero que todos os partidos, inclusive o meu, se explodam: o PT, o PSC, o PSDB, qualquer partido. Quero que se explodam. Uma das coisas que quero tentar nos pr�ximos oito anos (como senador) � propor a candidatura avulsa, para voc� n�o depender de partido. N�o tenho rabo preso com partido e vou sempre defender o que for bom para o pa�s e para o povo.
O senhor j� sabe se vai integrar o bloco de oposi��o formal a Lula ou se estar� na coaliz�o independente?
Ainda n�o. N�o tive a oportunidade de conversar com nenhum senador at� agora. Recebi uma carta de um senador me dando parab�ns dez dias atr�s. N�o � de Minas ( senador citado). Tive com (Carlos) Viana (senador) em um dia em que o presidente esteve em BH e ele me deu parab�ns. Os senadores t�m que estar juntos para resolver os problemas de Minas. (Vamos) trabalhar em conjunto. Que seja para o povo. O senhor vai ter oito anos como senador.
Qual vai ser a prioridade do mandato?
A fiscaliza��o. Quero fiscalizar muito. Um dos maiores projetos que temos no pa�s � acabar com o desperd�cio do dinheiro p�blico e a corrup��o. Voc� faz isso fiscalizando. O governo que est� entrando agora tem um passado para todo mundo ver o que fizeram. O que vai caber a mim � muita fiscaliza��o para que o que aconteceu no passado n�o aconte�a no presente ou no futuro.
Em seu primeiro ano, o que o senhor pretende emplacar em termos de projetos de lei?
H� a quest�o da reforma pol�tica. Quero levar � esfera federal a quest�o da taxa de licenciamento (veicular), que conseguimos reduzir em Minas. H� alguns estados que cobram essa taxa, de R$ 135, sobre a qual n�o h� presta��o de servi�o. Queria levar (o projeto) ao n�vel nacional, para que outros estados tamb�m possam retirar a taxa de licenciamento. N�o adianta querer pautar 30 projetos em um ano. N�o passa. Vamos focar em ao menos cinco projetos anuais para poder pass�-los.
Depois de uma elei��o t�o acirrada, o senhor cr� ser poss�vel unir os integrantes do Congresso em prol de pautas favor�veis ao pa�s?
Vou sempre lutar pelo bem comum. Independentemente de quem for e do partido, se for coisa boa para a popula��o (vou apoiar). Posso falar por mim, mas fui vereador e estou passando pela Assembleia: falar que vamos achar essa a uni�o onde a maioria acaba defendendo os pr�prios interesses, acho dif�cil. Enquanto os pol�ticos n�o tomarem vergonha na cara e n�o deixarem seus interesses pr�prios fora da pol�tica... Tem de haver consci�ncia muito grande. � com o tempo.
Tinha de ter 513 'Cleitinhos' (na C�mara) e 81 'Cleitinhos' senadores. A maneira (correta) de fazer pol�tica � pautando o bem comum. O pa�s est� acima de Cleitinho, Zema, Bolsonaro ou Lula. Pol�tico n�o � para ser idolatrado; � para ser cobrado e fiscalizado. Pol�tico tem de dar resultado. S�o muito bem pagos. Voc� n�o tem que idolatrar pol�ticos. Podemos ter opini�es diferentes, mas temos de nos respeitar. O pa�s � um s�. A elei��o passou. Se o povo se unisse para defender seus interesses e cobrar dos pol�ticos, o pa�s n�o estava desse jeito. Mas o pa�s se divide... Isso precisa acabar. Falo de ambas as partes - e n�o estou generalizando.
Em sua opini�o, a campanha eleitoral deste ano n�o foi sangrenta demais?
Passei por isso como (candidato) a senador. Tive situa��es de ofensas e outras coisas. Das duas partes (eleitores e outros candidatos).
O senhor, quando esteve aqui pela �ltima vez, listou a gera��o de empregos e a situa��o das estradas como os principais problemas de Minas. Como pode atuar para resolver as duas quest�es?
Li uma mat�ria que aponta que os recursos (federais) para infraestrutura s�o bem pequenos. O governo tem de se reinventar. O que o governo pode fazer e a gente pode ajudar? Parcerias p�blico-privadas. Quero fazer uma proposta a Zema, que � administrador, para as estradas: vamos atr�s dos empres�rios. Posso usar a representatividade que tenho para isso. Meu irm�o (Gleidson Azevedo, prefeito), em Divin�polis, conseguiu, com um projeto de gest�o compartilhada, quase R$ 20 milh�es com parcerias p�blico-privadas, para quase todas as �reas.
Mas o empresariado s� costuma prestar aten��o � privatiza��o de uma rodovia quando ela est� pronta. Quando o trecho est� em situa��o ruim, h� poucos interessados. N�o h� diversos casos em que podem haver dificuldades para concretizar parcerias p�blico-privadas?
Pode ser, mas vou tentar. O 'n�o' eu j� tenho. Vou atr�s do 'sim'. (O que pode acontecer) se os tr�s senadores se unirem para resolver isso com o governador, os 53 deputados federais e os 77 deputados federais e come�arem a trabalhar em torno disso? O problema � que um defende uma coisa e, outro, outra. Sabe o que resolve? Nada.
No Senado, est�o os representantes dos estados; na C�mara, os representantes do povo. Como deputado, o senhor, muitas vezes, se definiu como um 'empregado do povo'. Como far� para lidar com as diferen�as de atua��o existentes entre senadores e deputados?
Vou fazer o que minha fun��o manda, de representar a (unidade da) federa��o, mas vou continuar sendo um empregado do povo. Falei que ia trazer o Senado para perto do povo e vou fazer isso. Voc�s v�o ver durante o mandato. Quero estar nos munic�pios. Meu gabinete vai estar de portas abertas para todo mundo, n�o s� para prefeitos e vereadores. Voc� representa a federa��o (como senador), mas n�o deixa de ser empregado do povo. Quem paga meu sal�rio � o povo. Continuarei fazendo o que sempre fiz.
Em agosto, o senhor disse ter sido v�tima de 'ingratid�o' de Romeu Zema. Depois, o chamou de 'o melhor governador de Minas'. Houve, ainda, os eventos pr�-Bolsonaro em que estiveram juntos. Essa 'ingratid�o' est� superada?
Sempre vou falar o que meu cora��o pede para falar. Naquele dia estava em pr�-campanha e tinha a expectativa dele me apoiar, mas n�o veio. Fiquei frustrado. O apoiei na primeira campanha dele. N�o tenho nenhuma m�goa. Isso n�o me impediu de falar que era um excelente governador e que torcia por ele. Isso passou e nos aproximamos com o apoio a Bolsonaro em Minas. � passado. Quero que ele continue fazendo o que fez e que possa desenvolver mais ainda o estado. Se puder ajudar, estarei � disposi��o.
O senhor, Zema, Braga Netto e o pr�prio Bolsonaro rodaram Minas Gerais para tentar inverter o resultado do primeiro turno no estado, vencido por Lula. O presidente at� cresceu em Minas e encostou em Lula, mas n�o o ultrapassou. Por que a virada n�o aconteceu?
Foi quase um empate t�cnico. O que faltou foi o governador n�o ter apoiado no primeiro turno. Ter�amos uma onda boa. Zema fez diferen�a depois que apoiou no segundo turno. A diferen�a de (cerca de) 560 mil caiu para (cerca de) 50 mil.
O senhor j� calculou quantos de seus eleitores votaram em Bolsonaro em Lula? Com o desempenho que obteve, certamente o senhor teve votos dos dois lados.
N�o fiz essa estat�stica. Sou empregado e vou trabalhar. Uma coisa � eu ser contra Lula. Sou empregado de quem votou em mim e em Lula. Vou trabalhar para eles do mesmo jeito. Minha quest�o, aqui, � com Lula. Sou verdureiro e sei o que passei. Meu pai dizia que vim de origem humilde e que tinha de honrar meu nome. O que me decepcionou com Lula nos governos anteriores foi ele ter se corrompido. Um cara que veio de onde veio, virou presidente e se corrompeu. Um cara que fala que � povo n�o rouba dinheiro do povo. Meu neg�cio � com ele. N�o acredito nele. Pronto e acabou.
Voc� que votou nele e em mim, pode ter certeza: vou te representar. Quem votou em Simone (Tebet) ou Ciro (tamb�m). Quem n�o votou em mim, tamb�m vou representar. Sou 100% povo. Sempre votei a favor do povo. Todos os projetos que fiz foram a favor do povo. Meu neg�cio � com ele (Lula). Ele enganou todo mundo. Minha origem � humildade.
O senhor, ent�o, se identifica com Lula pela origem humilde, mas se decepcionou com ele?
Ele tinha de honrar esse povo, chegar l�, bater na mesa e dizer 'corrup��o, comigo, n�o tem'. O que mais acaba com o pa�s � a corrup��o. Este pa�s n�o � pobre. O que precisamos mudar s�o os pol�ticos, (que t�m) de tomar vergonha na cara e parar de roubar do povo. Ele deixou isso acontecer. Meu problema � com ele, n�o com o povo. O povo, vou defender e honrar.
O senhor falou sobre a Reforma Pol�tica nesta entrevista. Quais as bases da mudan�a que prop�e, al�m da candidatura avulsa?
� a (pauta) mais dif�cil, pois mexe com o pol�tico. Para o pol�tico, � muito f�cil mandar fazer qualquer tipo de reforma que prejudique o povo. N�o est� prejudicando ele. (Defendo) menos partidos. S�o muitos partidos que n�o servem para nada, a n�o ser para ficar fazendo laranjas. Tenho uma sugest�o sobre os fundos partid�rio e eleitoral. Teve uma mulher que gastou (o fundo) em procedimento est�tico. Falam que v�o pegar o dinheiro para igualar (as condi��es) do candidato que est� chegando agora ao que tem mandato. O que mais escutei foram candidatos dizendo que prometeram algo, mas n�o deram. � uma mentira. Diminui ou acaba com essa porcaria. Se n�o conseguir acabar, sabe o que fazer? divide igualmente entre os candidatos de um partido.
H�, nas ruas, manifesta��es contra o resultado da elei��o presidencial que t�m acarretado em pedidos antidemocr�ticos, como uma 'interven��o federal'. Qual a sua opini�o sobre as pessoas que est�o nas ruas?
Os protestos s�o leg�timos? Desde que as manifesta��es sejam pac�ficas e n�o tirem o direito de ir e vir, n�o vejo nenhum problema, at� porque � democr�tico. Quando Bolsonaro ganhou, o que mais teve foi manifesta��o contra ele. Faz parte da democracia. O que n�o pode � parar as estradas. Tenho visto v�deos muito agressivos. Sou contra essas situa��es.
Mas o senhor concorda com os pedidos de interven��o federal, que levaria os militares ao poder?
Sou a favor da democracia e contra uma interfer�ncia do Ex�rcito. O Minist�rio da Defesa vai soltar um relat�rio amanh� (hoje) sobre a elei��o. Se estiver tudo ok e a elei��o foi limpa e honesta, segue o jogo. Vamos trabalhar e fiscalizar quem ganhou.
Em agosto, o senhor disse que, como senador, poderia enviar mais emendas �s cidades. Que �rea, como sa�de, educa��o e seguran�a, pretende priorizar na hora de conversar com os prefeitos sobre o destino do dinheiro?
Quase todo pol�tico acaba alimentando mais a sua base, o grupo pol�tico que deu apoio. N�o tive tanto isso. Posso contar nos dedos os prefeitos que me apoiaram. Meu mandato estar� aberto a todos que me procurarem. Se tiver demanda que eu achar que tenho de ajudar, farei com o maior prazer. Pode ser at� prefeito que falou mal de mim. N�o vou estar ajudando ele, mas a cidade.