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Estado de Minas ELEI��ES

Bolsonaristas completam um m�s na Raja Gabaglia com militarismo em destaque

Apelos �s For�as Armadas ganham destaque diante de sil�ncio de Bolsonaro ap�s as elei��es. Ataques �s urnas, Lula e ministros do STF s�o palavras de ordem


29/11/2022 19:58 - atualizado 01/12/2022 11:05

T�o logo a apura��o das urnas eletr�nicas decretou, na noite de 30 de outubro, a vit�ria de Luiz In�cio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) na disputa presidencial, apoiadores do candidato � reelei��o demonstraram seu inconformismo com o resultado fechando vias dentro e fora das cidades.

Institui��o que passou a ser esperan�a dos bolsonaristas, o ex�rcito teve suas unidades transformadas, literalmente, em QG de manifestantes. Em Belo Horizonte, a Companhia de Comando da 4ª Regi�o Militar, na Avenida Raja Gabaglia, Centro-Sul da capital, foi escolhida como ponto de encontro de centenas de pessoas (milhares em alguns dias) que manifestam em un�ssono sua discord�ncia em rela��o ao resultado eleitoral e elucubram sobre possibilidades de impedir que o petista tome posse em janeiro.

H� 30 dias acampados na porta do quartel, os manifestantes s�o animados por l�deres que discursam em um trio el�trico, passam o tempo rezando e se re�nem em barracas com comida e bebidas. Ap�s um m�s em que Bolsonaro passou a maior parte do tempo em sil�ncio, seus eleitores seguem fi�is �s bandeiras do bolsonarismo, mas o protagonismo nas palavras de ordem, faixas e cartazes foi deslocado para as for�as armadas. 

Protesto bolsonarista na Raja Gabaglia, em BH
Apelo aos militares est� na maioria das faixas e cantos dos manifestantes (foto: Bernardo Estillac/EM/ D.A. Press)
Na Avenida Raja Gabaglia, no in�cio da tarde de segunda-feira (28/11), enquanto a Sele��o Brasileira entrava em campo no Catar, o movimento come�ava a crescer em frente ao quartel. Entre outras figuras que circulavam mostrando familiaridade com os frequentadores do acampamento, um homem distribu�a folhetos enquanto explicava que a comunidade internacional seria leniente com um governo militar no Brasil por cerca de tr�s anos at� que fosse seguro Bolsonaro assumir novamente a presid�ncia e alertava para o risco representado pela Fran�a de Emmanuel Macron, que poderia invadir o pa�s via Guiana Francesa.

“O povo ordena e somos respons�veis pelos erros e v�cios de nosso estado atual, do qual estamos lutando para sair e restaurar. Assim, precisamos ser incisivos, ainda que express�es gen�ricas ajudem em algum ponto ou momento. “SOS” e “Salve o Brasil” foram perfeitas no primeiro momento, mas agora s�o insuficientes, exatamente por serem gen�ricas. A ordem constitucional j� n�o existe! O Povo sofreu e est� sofrendo um GOLPE! O POVO n�o espera de outros, mas de suas FOR�AS ARMADAS! O POVO ORDENA a INTERVEN��O  MILITAR!”, diz um trecho do folheto.

A centralidade do militarismo no discurso se confunde com um forte componente religioso e at� mesmo suplanta, em alguns momentos, a narrativa de que as urnas foram fraudadas. Na quinta-feira (24/11), ap�s manifestantes repetirem v�rias vezes o canto “For�as Armadas, salvem o Brasil”, um homem que se apresentou como pastor fez um discurso em que admitia uma derrota ‘na pol�tica’, mas atribuiu o fato � um des�gnio divino.

“Esse grito que n�s demos anteriormente, For�as Armadas, agora � com voc�s, presta bem aten��o se n�s tiv�ssemos resolvido essa situa��o na pol�tica, o sistema continuava corrompido. Os bandidos continuavam l�. Eu sou pastor e eu creio que Deus escolheu este caminho para n�s limparmos o Brasil. � por isso que o povo est� aqui. O primeiro caminho que Deus escolheu � o povo e o povo est� fazendo a parte dele. O segundo caminho, as For�as Armadas. Agora, For�as Armadas, � com voc�s, o �ltimo passo � das For�as Armadas e n�s todos vamos nos sagrar vitoriosos pelos nossos filhos, pela nossa fam�lia. Deus est� na dire��o de tudo, para limpar o nosso pa�s. Deus est� nos usando para limpar o nosso pa�s”, bradou.
 
 

O trio el�trico fica exatamente em frente ao quartel e do mesmo lado da rua. Enquanto o pastor fala sobre os planos de Deus para a sucess�o de poder no Brasil, alguns metros abaixo, ao redor de uma imagem de Maria, manifestantes rezavam o ter�o de forma emocionada e com os olhos fechados. Acima dos fi�is, uma faixa trazia a frase “For�as Armadas nos defendam contra a implanta��o do socialismo no Brasil”, com uma tradu��o para o ingl�s “Brazilian Armed Forces, we need your help against socialism in Brazil”. 

Al�m do resultado eleitoral, o apelo �s For�as Armadas � feito sob a justificativa de que o pa�s est� sob um regime ditatorial comandado pelo judici�rio. Tanto quanto Lula, o PT e os comunistas, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) s�o alvos dos manifestantes. Alexandre de Moraes, que tamb�m preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), � o mais visado, com cantos como “ei, Xand�o, seu lugar � na pris�o” ou “Supremo � o povo, n�o o cabe�a de ovo”. Mas h� tamb�m espa�o para outros ministros. � poss�vel, por exemplo, ver cartazes com o rosto da ministra C�rmen L�cia e a frase “cala a boca reviveu”, se referindo � fala da magistrada ao se referir a restri��es a biografias n�o autorizadas.
 
Protesto bolsonarista na Avenida Raja Gabaglia, em BH
Ministros do STF s�o alvos constantes das manifesta��es bolsonaristas (foto: Bernardo Estillac/EM/ D.A. Press)
 

Orienta��es e autocelebra��o


Em meio a ataques ao STF, a Lula e ao PT e pedidos de socorro �s For�as Armadas, � comum encontrar avisos escritos e ouvir advert�ncias nos alto-falantes orientando alguns comportamentos. Preocupados com o risco das indument�rias em verde e amarelo provocarem uma associa��o a torcedores que festejam a Copa do Mundo, l�deres pedem nos microfones para que os manifestantes n�o consumam bebidas alco�licas no movimento. “N�o estamos em uma festa, e sim em uma guerra”, alerta um cartaz pregado no trio el�trico.

Placas com outras orienta��es tamb�m s�o comuns ao longo do quarteir�o em que os manifestantes se concentram. Uma delas, por exemplo, pode que a data e o hor�rio sejam anunciados em todos os v�deos gravados para as redes sociais. H� tamb�m n�meros de PIX para financiar as manifesta��es.
 
 

A autoindulg�ncia tamb�m faz parte dos discursos que inflamam os manifestantes. � comum que eles se refiram ao movimento como um sacrif�cio que fazem pela na��o e futuras gera��es. No trio el�trico, uma placa conta quantos dias eles j� passaram em frente ao quartel. Esse teor tamb�m � explorado nos coros dos eleitores que n�o reconhecem o resultado das urnas. “Sinta, povo, a terra tremer/ s� saio daqui, quando resolver/ ou�a, mundo, preste aten��o/ bandido ineleg�vel vai para a pris�o”, gritam em um momento. Em outro, cantam “se precisar, a gente acampa/ mas o ladr�o n�o sobe a rampa”, sugerindo que a data da posse de Lula, em 1º de janeiro, � uma esp�cie de momento chave para o movimento.

Nos microfones, h� tamb�m orienta��es para que os manifestantes respondam a cr�ticas de quem questiona a legitimidade do movimento. “� como quando voc� compra algo e vem estragado, voc� reclama no Procon. Estamos reclamando porque as urnas est�o fraudadas”, diz uma mulher em discurso inflamado em cima do trio el�trico. Em outro momento, a mesma mulher ensina “quando te disserem que voc�s est�o em um ato antidemocr�tico, pergunte � pessoa ‘o que � democracia para voc� ent�o?’, e pronto, n�o tem mais o que falar”.
 
Protesto bolsonarista na Avenida Raja Gabaglia, BH
Avisos colados em trio el�trico, na Raja Gabaglia (foto: Bernardo Estillac/EM/ D.A. Press)
 

N�o pode ser subestimado


Para o professor e pesquisador da UFMG e do Instituto Nacional de Ci�ncia e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), Camilo Aggio,os movimentos devem ser observados atentamente e sem desd�m. Ele aponta que trata-se de um grupo engajado que n�o vai se dissipar facilmente.

“� um pouco de futurologia fazer previs�es sobre esse movimento, mas eu come�aria dizendo que n�o se deve subestimar Bolsonaro e os militares ao redor dele. � bom ser prudente diante de um grupo de pessoas lideradas por um presidente da Rep�blica que, desde a posse, tem um discurso golpista. Sem d�vida nenhuma temos um movimento consistente. A gente pode at� dizer que eles n�o s�o claramente unificados, mas eles s�o muito engajados e isso n�o � irrelevante”, avalia.

Segundo Aggio, a lideran�a de Bolsonaro n�o � imprescind�vel para a manuten��o de grupos de extrema-direita que se consolidaram no pa�s.

“Eles t�m uma rejei��o ao resultado das urnas, mas tamb�m t�m �dio do TSE, do STF, dos poderes constitu�dos da Rep�blica. N�o � apenas uma inconformidade, acho que tem a� uma explicitude de um grupo que decidiu que pode se manifestar publicamente contra a democracia. Eu n�o acho que vai se dissipar t�o cedo. As pessoas, com o tempo, v�o sair da porta do quartel, mas elas v�o continuar militando. Essas pessoas precisam encontrar algum tipo de l�gica e uma justificativa legal. Se olham para Bolsonaro e ele se acovarda, deixa de fazer lives, de se manifestar, eles precisam encontrar algum atalho. � um movimento extremista que prescinde Bolsonaro como lideran�a. Podem aparecer outros l�deres � frente. Jair Bolsonaro se mostrou um bom l�der extremista, ele conduziu seu governo como quis, subjugando at� mesmo  figuras como Sergio Moro e Paulo Guedes, mas, no momento final da conspira��o, do golpe, ele n�o conseguiu cumprir com os anseios. Mas, novamente, n�o podemos subestimar”, explica. 

Al�m dos pontos pol�ticos, o professor avalia que h� um elemento psicol�gico na coes�o dos manifestantes que contestam as urnas e pedem interven��o militar, que passa por um fetichismo com as For�as Armadas e um forte componente religioso. Aggio acredita que, apesar do sil�ncio de Bolsonaro ap�s a elei��o, o candidato derrotado tentar� voltar ao cen�rio pol�tico a partir do pr�ximo ano.

“Ele lan�ou esse bal�o de ensaio e usou mais uma vez a imprensa. Quando come�aram a ler o sil�ncio como um receio de resposta do judici�rio, � passada aos apoiadores a mensagem de que ele � v�tima de persegui��o, de que ele est� do lado dos manifestantes, mas n�o pode falar. Eu acho que ele vai tentar se cacifar eleitoralmente para 2026 a partir do ano que vem e, se eu pudesse fazer uma aposta, acho que a opera��o central da m�quina bolsonarista vai ser tentar atribuir responsabilidades a Lula de um governo que Bolsonaro e Paulo Guedes entregaram quebrado na tentativa de uma reelei��o”, pontua.


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