
Ap�s o jornal Folha de S.Paulo publicar uma reportagem sobre o tema e questionar o Butantan sobre parte desses casos, Dimas Covas pediu demiss�o do seu cargo como diretor do instituto nesta quarta (30). Isso aconteceu durante uma reuni�o entre ele e o governador.
O pedido, ent�o, foi aceito pelo secret�rio David Uip, da pasta Ci�ncia, Pesquisa e Desenvolvimento em Sa�de. Ele permanece, contudo, no comando da funda��o.
"O Dimas pediu demiss�o por motivos pessoais. Nunca concordei que o presidente ou superintendente da Funda��o fosse tamb�m o diretor do instituto. O Instituto tem a funda��o como apoio, e n�o acho que o instituto de apoio pode ser maior que a institui��o m�e", disse Uip � reportagem.
A Funda��o Butantan � uma entidade privada que atua como bra�o operacional e administrativo em apoio ao Instituto Butantan, que � vinculado ao governo estadual. Enquanto a parte p�blica da entidade tem diminu�do, esse bra�o privado cresceu nos �ltimos anos.
A funda��o tem sido turbinada na gest�o de Dimas. Quando ele assumiu, em fevereiro de 2017, a a entidade tinha 1.327 empregados, contra 663 servidores do instituto. Cinco anos depois, s�o 2.970 empregados na funda��o contra 461 no instituto. Os dados s�o de fevereiro de 2022, os mais recentes dispon�veis.
Cerca de 90% das receitas da funda��o t�m como origem a venda de vacinas e soros, principalmente para o Minist�rio da Sa�de. Ou seja, a gest�o or�ament�ria do instituto, na pr�tica, fica a cargo da entidade privada.
A funda��o, que n�o tem fins lucrativos, foi institu�da em 1989 por um grupo de m�dicos e professores e tem como principal fonte de renda esses conv�nios firmados com o Minist�rio da Sa�de. J� o instituto sobrevive de repasses da Secretaria de Estado da Sa�de.
Embora Dimas tenha pedido para deixar a dire��o do instituto, ele por enquanto permanece no comando da funda��o. Segundo a entidade, seu Conselho Curador "o designou para o cargo de diretor-executivo da institui��o, seguindo normas estatut�rias da funda��o e com ata devidamente aprovada pelo Minist�rio P�blico – Curadoria das Funda��es".
Professor da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto da USP, Dimas assumiu a diretoria do Instituto Butantan em 2017, ainda durante o governo do ent�o tucano Geraldo Alckmin (hoje no PSB), e foi mantido por Jo�o Doria (ent�o no PSDB, hoje sem partido) e Rodrigo.
No cargo, teve atua��o direta no desenvolvimento de pesquisas como a da vacina contra a dengue, atualmente na terceira fase de testes.
� frente do instituto, foi uma das principais vozes no combate � pandemia de Covid-19 no pa�s. Enquanto o governo federal minimizava a doen�a, o governo paulista e o Butantan defendiam a necessidade de vacinar o quanto antes a popula��o e empenharam esfor�os em disponibilizar um imunizante.
O sucesso da Coronavac al�ou o nome de Dimas e, nos �ltimos meses, ele recebeu uma s�rie de pr�mios, como a Medalha Armando Salles Oliveira, da USP. Filiado ao PSDB desde 1989, chegou a ter seu nome ventilado como poss�vel candidato a deputado federal pela sigla, o que acabou n�o acontecendo.
Um dos pontos que causaram o atrito do Butantan com o governo paulista e com o TCE foi a proposta da funda��o de construir um edif�cio-garagem para seus funcion�rios. Localizada no bairro do Butant�, na zona oeste de S�o Paulo, a obra tem previs�o de custar R$ 140 milh�es.
Inicialmente, a previs�o era que o valor chegaria a R$ 300 milh�es, mas acabou diminuindo depois de cr�ticas do Pal�cio dos Bandeirantes e de o TCE cobrar que a funda��o explicasse qual seria o interesse p�blico da obra.
"O valor da obra, embora or�ado inicialmente em R$ 300 milh�es, ficou em R$ 140 milh�es diante da proposta de pre�os feita pela empresa vencedora. Vale ressaltar que os recursos s�o todos provenientes da Funda��o, que � uma entidade privada", disse o instituto em nota.
Conforme a Folha de S.Paulo revelou, o tribunal tamb�m est� investigando poss�veis irregularidades em contratos sem licita��o que somam R$ 161 milh�es feitos pela Funda��o Butantan com uma empresa fornecedora de um software. Entre outras quest�es, a an�lise dos t�cnicos do �rg�o aponta riscos de superfaturamento no processo.
O governo estadual informou que enviou o caso para ser investigado pela Controladoria.
Os acordos em quest�o foram firmados com a empresa SAP Brasil Ltda entre 2021 e 2022 para implanta��o e licenciamento de sistema integrado de gest�o empresarial na funda��o e s�o v�lidos por cinco anos. A contrata��o ocorreu em um modelo que dispensa a necessidade de licita��o.
T�cnicos do TCE consideraram a contrata��o de risco elevado por uma s�rie de motivos: possibilidade de superfaturamento, eventuais falhas no processo de execu��o e a possibilidade do retorno do investimento ficar abaixo do custo contratado. O �rg�o, ent�o, cobrou explica��es do Butantan, que ainda n�o protocolou suas respostas.
Os altos sal�rios dentro da entidade s�o outro ponto que v�m causando desgaste. A reportagem obteve documentos que afirmam que a diretora de projetos C�ntia Retz Lucci foi admitida pela Funda��o Butantan em 2017 com sal�rio de R$ 7.267,64 e, em agosto de 2022, apresentou um sal�rio de R$ 79.972,16.
O valor � mais que o triplo do sal�rio do governador, de R$ 23 mil —o teto do funcionalismo no estado.
Ainda de acordo com os documentos obtidos pela reportagem, a irm� de C�ntia, Vivian Retz Lucci, foi admitida em 2020 com sal�rio de R$ 18.281.
Em nota, o Butantan diz que Vivian foi escolhida em um processo seletivo, e que a sua contrata��o n�o teve nenhuma interfer�ncia de sua irm� C�ntia.
J� com rela��o � evolu��o salarial de C�ntia, o Butantan afirmou que "durante a sua trajet�ria na empresa de car�ter privado, por compet�ncia e merecimento, foi promovida para cargos outros, com faixas salariais pr�-definidas", diz a nota. "O c�lculo dos sal�rios da Funda��o Butantan s�o todos mensurados pelo valor de mercado."
Procurada nesta quarta por telefone e mensagens, C�ntia n�o respondeu � reportagem. J� Vivian afirmou apenas que a assessoria de imprensa da entidade iria encaminhar novamente uma nota sobre o assunto.
Na noite desta quarta (30), em outra nota, em que cita os t�tulos acad�micos de C�ntia e institui��es nas quais ela lecionou, a assessoria da funda��o afirma que o sal�rio dela est� em conson�ncia com o de todos os outros diretores-executivos da institui��o.
Paulo Capelotto, diretor-jur�dico da funda��o, disse � reportagem que o repasse anual de cerca de R$ 100 milh�es do Governo de S�o Paulo para a entidade seria suficiente apenas para bancar a folha de pagamento. Segundo ele, n�o sobraria dinheiro nem mesmo para comprar ra��o para os cavalos hospedados no s�tio em Guararema usados nas pesquisas.
A declara��o causou mal-estar no Pal�cio dos Bandeirantes. Em nota, o governo disse que "a declara��o de um diretor apontada pela reportagem, o seu teor � t�o raso e desprovido de conte�do que dispensa qualquer coment�rio".
O secret�rio Uip disse que escolheu Rui Curi, que atualmente � um dos diretores da funda��o, para suceder Dimas at� o final deste ano como diretor do instituto. Na tarde desta quarta, o governador eleito Tarc�sio de Freitas (Republicanos) anunciou que na sua gest�o a entidade vai ser comandada pelo infectologista Esper Kall�s.