
Todas as investidas contra o sistema eleitoral no governo Bolsonaro t�m ou tiveram alguma participa��o de integrantes da ativa ou reserva das For�as Armadas.
A constata��o � poss�vel ao analisar cap�tulo a cap�tulo da escalada de ataque �s urnas patrocinada pelo presidente derrotado nas elei��es deste ano.
Como mostrou a Folha, dados obtidos via Lei de Acesso � Informa��o com o pr�prio Minist�rio da Defesa e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) revelam que os militares s� agora come�aram a questionar o sistema eletr�nico de vota��o sob Bolsonaro.
Foram 25 anos de sil�ncio e concord�ncia com o modelo, que � exemplo no mundo todo, at� o despertar para supostas fragilidades que culminaram em questionamentos ao TSE antes da elei��o e, depois, no relat�rio e nas notas em que supostos t�cnicos das For�as dizem n�o descartar possibilidade de fraude.
O envolvimento dos militares nas investidas bolsonaristas se deu em dois momentos.
O primeiro deles com a participa��o de militares integrantes do governo.
Diante do fracasso dessa primeira etapa e da proximidade do per�odo eleitoral —e tamb�m com a entrada de Bolsonaro e de seus aliados na mira na Justi�a, em especial dos inqu�ritos relatados por Alexandre de Moraes—, as pr�prias For�as Armadas e o Minist�rio da Defesa passaram a atuar diretamente.
Os detalhes dessa atua��o inicial dos militares com cargos na gest�o federal s� foram descobertos devido a investiga��o ordenada por Moraes para apurar a realiza��o da live de 29 de julho de 2021 em que Bolsonaro fez o at� ent�o maior ataque sem provas ao sistema eletr�nico de vota��o.
Naquele momento, Bolsonaro estava com popularidade baixa por causa da pandemia, pressionado pelas investiga��es de Moraes e com o prazo a estourar para explicar ao TSE quais eram as alegadas provas de suas acusa��es sobre fraude eleitoral.
Os depoimentos tomados pela Pol�cia Federal com os envolvidos na live mostram como, desde o primeiro ano de governo, ao menos dois generais do c�rculo mais pr�ximo de Bolsonaro se valeram de suas posi��es para buscar informa��es contras as urnas.
Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria-Geral mas com passagem por Casa Civil e Secretaria de Governo, e Augusto Heleno, este por meio da Abin (Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia), agiram para golpear o sistema eleitoral, apontam os dados da PF.
Um dos maiores especialistas em urnas da PF, o perito Ivo Peixinho, que foi levado pelo ministro da Justi�a, Anderson Torres, para uma reuni�o no Pal�cio do Planalto durante a busca por informa��es sobre poss�veis fraudes, disse em depoimento que a Abin pediu dados sobre o tema ainda em 2019.
Segundo ele, sob o comando de Alexandre Ramagem, amigo da fam�lia Bolsonaro e chefiado por Heleno, a ag�ncia pediu "informa��es sobre ocorr�ncias ou atividades envolvendo urnas eletr�nicas nas elei��es".
Ramos, por sua vez, acionou ainda em 2019 o t�cnico em eletr�nica Marcelo Abrileri, que dizia ter ind�cios de fraude na disputa de 2014 entre Dilma Rousseff (PT) e A�cio Neves (PSDB).
Abrileri foi chamado a depor e contou ter sido procurado e participado de uma apresenta��o com integrante do alto escal�o do governo sobre o tema numa primeira ocasi�o em 2019.
Ap�s esse primeiro contato, ele afirmou ter sido novamente acionado pelo general Ramos, entre junho e julho de 2021, por meio de uma liga��o que teve participa��o do pr�prio Bolsonaro.
Abrileri afirma tamb�m que, em seguida, outro militar, o coronel Eduardo Gomes da Silva, respons�vel por apresentar as suspeitas de fraudes na live, informou estar trabalhando com Ramos "na colet�nea das informa��es" sobre as urnas.
Outro militar que participou da organiza��o da live e, tamb�m, de outra realizada dias depois, em 4 de agosto de 2021, foi o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. Atualmente ele � investigado por Moraes, entre outros fatos, por transa��es suspeitas encontradas pela PF.
Ap�s a PF expor o formato da organiza��o da live e a falta de crit�rio das informa��es utilizadas, o caso entrou na mira da investiga��o das mil�cias digitais e, sem conseguir ampliar as suspeitas de fraude, os militares do governo e Bolsonaro recuaram.
A partir desse momento, e j� no ano eleitoral de 2022, as For�as Armadas, por meio do Minist�rio da Defesa, chefiado pelo general Paulo Sergio Nogueira, entraram no circuito para produzir os elementos necess�rios para os bolsonaristas continuarem com os ataques e a dissemina��o de desinforma��o.
Antes da elei��o, os mais de 80 questionamentos enviados ao TSE e o debate sobre a participa��o das For�as numa auditoria paralela serviram para pavimentar o caminho at� a produ��o do relat�rio sobre a seguran�a do pleito.
Nesse cap�tulo, a sequ�ncia de fatos mostra como a Defesa passou a fazer as vezes desempenhadas at� ent�o por Ramos, pela Abin de Heleno e por outros integrantes do governo.
No dia 9 de novembro, ap�s a elei��o, o relat�rio do Minist�rio da Defesa sobre o processo eleitoral foi divulgado sem apontar nenhuma fraude concreta ou prova de irregularidade. A falta de algo mais assertivo fez os bolsonaristas decepcionados com a derrota continuarem o discurso golpista e atacarem as For�as.
Diante do desgaste com os apoiadores do presidente, uma nota foi publicada pelo general Paulo Sergio Nogueira no dia seguinte, 10 de novembro. O texto tentava se explicar e dizia que o relat�rio "n�o excluiu a possibilidade da exist�ncia de fraude ou inconsist�ncia nas urnas eletr�nicas e no processo eleitoral de 2022".
Novamente com suas posi��es desprezadas pela Justi�a Eleitoral e outras institui��es, os militares se manifestaram de novo no dia 11. Dessa vez, um texto assinado pelo comando das tr�s For�as, mandava recados, em especial a Moraes, e cobrava atua��o do Legislativo para impedir interfer�ncia do Judici�rio.