
A BBC News Brasil listou promessas feitas por Lula aos eleitores e ouviu analistas sobre as pol�ticas que o presidente deu sinais de que deve priorizar.
Meio ambiente, pol�tica externa, pol�ticas redistributivas, combate � fome e sa�de est�o entre as agendas que o petista demonstrou que deve dar mais aten��o, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem.
Ao mesmo tempo, ainda s�o aguardadas mais sinaliza��es sobre as diretrizes que ser�o seguidas na economia, especialmente na �rea fiscal.
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A seguir, veja 30 promessas feitas por Lula em seu plano de governo, entrevistas ou em sua carta de inten��es:

- Reajuste do sal�rio m�nimo acima da infla��o
- Bolsa Fam�lia: manuten��o do aux�lio de R$ 600 + R$ 150 por filho menor de 6 anos
- Isen��o do imposto de renda para quem ganha at� R$ 5.000
- Propor nova legisla��o trabalhista
- Recria��o de minist�rios, como o da Pesca e do Planejamento
- Modernizar e ampliar infraestrutura de log�stica de transporte, social e urbana, com "vigoroso programa de investimentos p�blicos"
- Retomar o Minha Casa Minha Vida para garantir emprego e moradia para milh�es de brasileiros

- Divulgar informa��es que governo de Jair Bolsonaro colocou sob sigilo de 100 anos
- Resgatar a transpar�ncia e garantir o cumprimento da Lei de Acesso � Informa��o
- N�o tentar reelei��o em 2026

- Aumentar recursos para a merenda escolar
- Expandir ensino t�cnico profissionalizante
- Implantar programa de recupera��o educacional para alunos com d�ficit de aprendizagem devido � pandemia

- Retomada do Mais M�dicos caso haja d�ficit de profissionais
- Mutir�o no SUS em todo o pa�s para zerar as filas de consultas, exames e cirurgias acumulados por n�o terem sido realizados na pandemia
- Investir no atendimento integral � Sa�de da Mulher

- Nova pol�tica de drogas, focada na redu��o de riscos, preven��o, tratamento e assist�ncia ao usu�rio
- Pol�tica coordenada para redu��o de homic�dios, com investimento, tecnologia e enfrentamento do crime organizado e das mil�cias
- Programas para proteger mulheres v�timas de viol�ncias e seus filhos, e assegurar que n�o haja a impunidade de agress�es e feminic�dios

- Recuperar pol�tica externa "ativa e altiva", que colocou Brasil "na condi��o de protagonista global"
- Ampliar participa��o do Brasil nos assentos de organismos multilaterais

- Combater crime ambiental promovido por mil�cias, grileiros e madeireiros
- Promover desmatamento l�quido zero, com recomposi��o de �reas degradadas e reflorestamento

- Reconstruir programa de cisternas e Luz para Todos
- Tirar o Brasil do mapa da fome
- Pol�ticas para garantir direitos � popula��o LGBTQIA+, como sa�de integral, inclus�o e perman�ncia na educa��o e no mercado de trabalho
- Prote��o dos direitos e dos territ�rios dos povos ind�genas, quilombolas e popula��es tradicionais
- Recuperar e fortalecer a Funai
- Amplo conjunto de pol�ticas p�blicas de promo��o da igualdade racial e de combate ao racismo estrutural
- Assegurar �s pessoas com defici�ncia e suas fam�lias acesso � sa�de, educa��o, cultura, esporte, e inser��o no mundo do trabalho; e convocar confer�ncias para debater pol�ticas p�blicas voltadas �s pessoas com defici�ncia

'Pressa' de Lula
Ao iniciar o que disse ser seu �ltimo mandato como presidente, Lula assume o Pal�cio do Planalto com "pressa", segundo analistas.
"Para entender o Lula hoje, voc� tem que ter na cabe�a que ele � um cara que tem pressa, principalmente porque ele realmente v� esse pr�ximo ciclo como o �ltimo dele", diz o cientista pol�tico Leonardo Barreto, citando a avalia��o de integrante do n�cleo duro do PT.
Entre outras men��es a uma n�o tentativa de reelei��o, Lula disse que "n�o � poss�vel um cidad�o com 81 anos (idade que ter� em 2026) querer a reelei��o" e que ser� "presidente de um mandato s�".
E o novo presidente fez refer�ncia ao lema de Juscelino Kubitschek, que assumiu a presid�ncia em 1956 com o discurso de crescer "50 anos em 5".
"Vamos tentar fazer 40 anos em 4, porque o Brasil precisa de urg�ncia para recuperar o emprego e a qualidade de vida do povo", disse Lula.
Barreto, que � diretor da consultoria de risco pol�tico Vector Research, questiona se a pressa � positiva.
"Isso pode n�o ser uma boa not�cia porque (a agenda priorit�ria) pode ser feita numa velocidade e numa intensidade maiores do que o motor do pa�s aguenta", argumenta Barreto.
"Ele pode simplesmente estar gerando um voo de galinha, pensando no curto prazo, e pensando que depois de 2026 o problema n�o � dele", acrescenta.
Para a economista e cientista pol�tica B�rbara Maia Pontes, no entanto, a pressa n�o � uma m� not�cia.
"A trajet�ria dele para chegar at� aqui, sobretudo a pris�o, foram coisas que impactaram ele — n�o necessariamente para n�o produzir coisas mais duradouras, mas o contr�rio. Ele est� justamente atuando como aquela pessoa que quer terminar sua carreira no auge", diz.
Pontes acrescenta que, em um contexto de "recomposi��o de for�as pol�ticas", Lula tem "interesse partid�rio" de deixar um sucessor. "N�o acho que ele vai fazer uma coisa pensando s� nos quatro anos."
Campanha 'pobre de propostas'?
A corrida presidencial de 2022, que teve um debate acirrado entre Jair Bolsonaro e Lula, foi criticada por n�o ter contemplado uma discuss�o profunda sobre propostas para o pa�s.
Barreto diz que "houve uma campanha pobre do ponto de vista de propostas" e que "o PT dessa vez n�o veio com a receita pronta como veio em outras ocasi�es".
O cientista pol�tico diz que o pano de fundo da campanha de Lula "foi todo no sentido de restartar o Brasil" para o fim do �ltimo governo petista, de Dilma Rousseff, que terminou em 2016.
"Foi todo nesse sentido de come�ar de onde paramos, e v�rios setores econ�micos ficam preocupados com essa narrativa porque a coisa mudou muito desde que eles sa�ram."
As caracter�sticas da �ltima elei��o presidencial podem interferir no n�vel de apoio da popula��o �s a��es do novo governo, aponta Pontes.
"Houve um voto mais reativo, de repulsa ao outro candidato, muito mais do que por identifica��o com o candidato em si. E o impacto disso n�o � s� na aus�ncia das propostas, mas tamb�m no que chamamos de per�odo de lua de mel — quando um candidato � eleito, no primeiro momento, vai sustentar apoio popular a suas a��es. E com elei��es com caracter�sticas como as de 2022, com acirramento muito grande, esse per�odo de lua de mel pode diminuir."
Mesmo nesse cen�rio, diz Pontes, a popula��o deve cobrar que o governo siga as diretrizes indicadas no plano de governo.
"A gente se coloca numa posi��o muito pessimista e ceticista quando descarta totalmente o plano de governo. Quando pensamos em pol�tica, temos que cobrar os nossos eleitos pelo que prometem", diz a pesquisadora, doutoranda na Universidade de Bras�lia (UnB).
Um ponto crucial para determinar o sucesso ou fracasso do Executivo em aprovar suas propostas � o apoio de deputados e senadores, j� que muitas medidas precisam passar pelo Congresso.
Como aponta Pontes, "o sistema pol�tico vai colocar todos os interesses � prova, inclusive do presidente".
Barreto destaca que o Congresso tem tido um protagonismo muito forte desde o governo do ex-presidente Michel Temer e diz que o Legislativo "governou junto com o Temer e governou acima de Bolsonaro — �s vezes at� apesar do Bolsonaro".
"� preciso dividir o poder, a decis�o. E isso n�o � muito estilo do PT, um partido de natureza hegem�nica, que gosta de ter o controle de todo o processo", diz Barreto. "[Ent�o] vai depender um pouco de quanto o PT e o Lula est�o prontos para dividir o processo decis�rio com aliados. E essa � uma quest�o que a gente s� vai ver na pr�tica como vai funcionar."
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64043644