Ataques em Bras�lia: o recrutamento de militantes que antecedeu as invas�es

"Estamos recrutando pessoas que tenham disponibilidade para ir a Bras�lia de �nibus que sair� no domingo e volta na quinta feira. Tudo pago."

An�ncios como esse circularam em grupos com milhares de integrantes em redes sociais como o Telegram, Facebook e WhatsApp nos dias que antecederam a invas�o das sedes dos tr�s poderes em Bras�lia, no domingo (8/1), indicando a possibilidade de financiamento para os atos que agora est�o no alvo das autoridades. A exist�ncia de uma rede financiando a ida de militantes bolsonaristas � uma das principais linhas de investiga��o da Pol�cia Federal desde os atos do domingo.

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Os an�ncios com ofertas de transporte gratuito para Bras�lia foram encontrados pela reportagem da BBC News Brasil em diferentes redes sociais, como o Telegram, WhatsApp e Facebook.

Normalmente, os an�ncios indicam as datas de partida dos �nibus e n�meros de telefone para o contato dos supostos organizadores. � o caso da convoca��o citada no in�cio desta reportagem.

A reportagem conseguiu obter mensagens indicando oferta de �nibus para militantes bolsonaristas saindo de cidades como Campinas, no interior de S�o Paulo, Blumenau, em Santa Catarina, e em Cascavel, no Paran�.

Um dos pontos que chamou aten��o nas mensagens foi a aparente gratuidade do transporte e a promessa de que os militantes teriam abrigo e alimenta��o bancados assim que chegassem a Bras�lia.

A indica��o � de que, assim que chegassem em Bras�lia, os militantes recrutados seriam alocados no acampamento de bolsonaristas que se formou em frente ao Quartel General do Ex�rcito.

A aglomera��o durou mais de um m�s e s� foi desmobilizada ap�s a invas�o das sedes dos 3 poderes, no domingo. Pelo menos 1,5 mil pessoas foram detidas e encaminhadas para delegacias e para um gin�sio ap�s a desocupa��o do acampamento em frente ao QG do Ex�rcito.

Segundo o Minist�rio da Justi�a, eles poder�o responder pelos crimes de golpe de estado, dano de patrim�nio e les�o corporal. As penas podem chegar a 15 anos de pris�o.

A reportagem ligou para os telefones indicados em tr�s postagens que anunciavam o recrutamento de militantes em dire��o a Bras�lia.

Num dos casos, uma mulher atendeu a chamada e negou seu envolvimento no caso. Segundo ela, seu telefone estaria sendo usado de forma indevida.

A reportagem tamb�m telefonou para outra pessoa indicada como o contato que organizava caravanas do Paran� para Bras�lia.

Ela disse ser bolsonarista, mas negou que estivesse por tr�s da organiza��o do transporte de militantes para a capital federal.

No terceiro caso, nenhuma das duas pessoas cujos telefones estavam indicados na postagem atenderam �s chamadas.

A legisla��o prev� penas de at� quatro anos de pris�o para quem financiar atos contra o Estado e a ordem pol�tica e social.

Financiamento na mira

O transporte de milhares de militantes bolsonaristas para Bras�lia � uma das principais linhas de investiga��o da Pol�cia Federal e da Pol�cia Civil do Distrito Federal desde os atos do domingo.

Informa��es colhidas pela Secretaria de Seguran�a P�blica do Distrito Federal apontam que, no dia do evento, pelo menos 140 �nibus com militantes haviam chegado a Bras�lia at� aquele momento.

Segundo o ministro da Justi�a, Fl�vio Dino, as autoridades locais e federais apreenderam pelo menos 40 �nibus que transportavam militantes e iniciaram o processo de identifica��o dos respons�veis pelo fretamento dos ve�culos.

Segundo o portal UOL, o ministro afirmou, sem detalhar, que entre os supostos financiadores teriam sido identificados representantes do agroneg�cio, comerciantes e pessoas com certificado de ca�ador, atirador ou colecionador de armas (CACs).

"J� foram identificados os primeiros financiadores, sobretudo aqueles relativos aos �nibus, aqueles que organizaram o transporte, que contrataram os �nibus. Estas pessoas est�o todas identificadas", disse o ministro, segundo o portal.

Na segunda-feira (9/1), durante uma entrevista coletiva, Dino sinalizou que entre os suspeitos de financiarem os atos de domingo estariam pessoas ligadas ao agroneg�cio.

"Eu prefiro n�o me intrometer em investiga��es que competem � PF e � precoce porque pode revelar ideia de generaliza��o. H� pessoas vinculadas a este segmento econ�mico que participaram, � inequ�voco, mas isso n�o significa generaliza��o", disse.

Em outra frente das investiga��es sobre o financiamento dos atos est� a Advocacia-Geral da Uni�o (AGU).

Ve�culos como os portais G1 e UOL veicularam e a BBC News Brasil confirmou a informa��o de que o �rg�o teria identificado pelo menos 100 empresas suspeitas de custear os gastos de manifestantes em Bras�lia. A expectativa � de que a AGU pe�a o bloqueio dos bens dessas empresas nos pr�ximos dias.

A invas�o

A invas�o �s sedes dos tr�s poderes aconteceu na tarde de domingo. Milhares de militantes bolsonaristas romperam o bloqueio de alguns policiais militares e entraram no Pal�cio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF). M�veis, computadores e obras de arte foram destru�dos ou parcialmente destru�dos.

A ordem s� foi restitu�da ap�s o refor�o do policiamento na �rea. Ap�s a invas�o, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) decretou a interven��o na seguran�a p�blica do Distrito Federal, prevista para durar at� o 31 de janeiro. Horas mais tarde, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, afastou temporariamente o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O afastamento tem dura��o de 90 dias.

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As investiga��es apuram se houve coniv�ncia de Ibaneis e outros agentes p�blicos nos momentos que antecederam a invas�o. Entre eles est� o ex-secret�rio de Seguran�a P�blica e ex-ministro da Justi�a durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres. Na ter�a-feira, a PF cumpriu mandados de pris�o e busca e apreens�o contra ele. Torres, por�m, est� de f�rias nos Estados Unidos.

Nos �ltimos dias, Torres lamentou o ocorrido e rebateu acusa��es de que ele foi conivente com os atos do domingo.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64230619