A presen�a de Lula no Parlamento de Portugal nesta ter�a-feira (25/4) refletiu, dentro e fora do Legislativo luso, a polariza��o observada no Brasil.
No interior do edif�cio, onde Lula discursava, deputados da direita radical tumultuavam a fala do brasileiro. J� parlamentares de esquerda aplaudiam constantemente as interven��es do petista.
Do lado de fora, centenas de manifestantes protestavam a favor e contra Lula em locais diferentes — uma medida da pol�cia para evitar confrontos.
Os dois grupos estavam separados por cerca de 250 metros, de lados opostos no entorno da Assembleia da Rep�blica (AR), o Parlamento portugu�s. O policiamento foi refor�ado e barreiras impediam qualquer contato entre eles.
Lula discursou no Parlamento em uma sess�o de boas-vindas, antes da sess�o principal, no dia da comemora��o da Revolu��o dos Cravos, que marca o fim da ditadura portuguesa. A fala de Lula j� havia causado pol�mica antes mesmo de acontecer (ler mais abaixo).

Tamb�m bateram nas mesas e fizeram barulho para atrapalhar o discurso de Lula.
Apesar das interrup��es, o petista se aproveitou do contexto da Revolu��o dos Cravos para defender a democracia no Brasil.
"A democracia no Brasil viveu recentemente momentos de amea�a. Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar o rel�gio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos. Os portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo", disse.
Tamb�m voltou a falar sobre a Guerra da Ucr�nia e pediu paz, criticando solu��es militares. O tema marcou o in�cio de sua viagem a Portugal.
"Quem acredita em solu��es militares para os problemas atuais luta contra os ventos da hist�ria. Nenhuma solu��o de qualquer conflito, nacional ou internacional, ser� duradoura se n�o for baseada no di�logo e na negocia��o pol�tica", declarou.
Ele ainda voltou a condenar a viola��o � integridade territorial ucraniana pela R�ssia.
Declara��es recentes do petista causaram pol�mica, quando Lula, em visita a Abu Dhabi ao retornar da China, equiparou R�ssia e Ucr�nia, al�m de acusar Estados Unidos e Uni�o Europeia de contribuirem para o prolongamento do conflito.

Manifesta��es contra e a favor
A manifesta��o contra Lula foi convocada pelo l�der do Chega, o deputado Andr� Ventura, apoiador declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ventura prometeu que seria a "maior manifesta��o da hist�ria contra um l�der estrangeiro".
O protesto, de fato, reuniu algumas centenas de pessoas, mas ocupava menos de um quarteir�o nas proximidades do Parlamento portugu�s. Questionados pela BBC News Brasil, policiais n�o souberam estimar o n�mero de manifestantes.
Por outro lado, o clima era de revolta e os manifestantes, estridentes gritavam palavras de ordem contra Lula, como "Lula, ladr�o, seu lugar � na pris�o", e seguravam cartazes contra o presidente brasileiro, com dizeres como "Toler�ncia zero � corrup��o".
Entre eles estava a brasileira Cristiane Farias, natural de Te�filo Otoni, em Minas Gerais, que j� mora h� 20 anos em Portugal. Ela disse ser apoiadora de Bolsonaro e Ventura.
"Esse bandido est� aqui gastando dinheiro do povo. Lula, ladr�o, seu lugar � na pris�o", disse ela � BBC News Brasil.
J� o portugu�s Alex Oliveira diz ter vindo de Coimbra, a 200 km de Lisboa, para protestar contra Lula e o acusou de corrup��o.
"Se Lula roubou, seu lugar � na pris�o", afirmou.
No entanto, em meio aos apoiadores do Chega, maioria absoluta no protesto, havia aqueles que n�o concordavam com a pauta que motivou a manifesta��o.

Jos� In�cio Faria, presidente do Conselho Nacional do MPT (Partido da Terra), um partido verde de tend�ncia conservadora, disse estar protestando contra a presen�a de Lula, mas por ocasi�o de sua presen�a no Parlamento portugu�s no dia da Revolu��o dos Cravos.
"Este � o dia da liberdade. � o dia dos portugueses. N�o podemos aceitar uma intromiss�o destas num ato que � genuinamente portugu�s. O presidente do Brasil tem toda a legitimidade de vir a Portugal e receber todas as honrarias; merece, com certeza, mas n�o no dia 25 de abril. Este dia � nosso", disse ele.
"Isso � uma conspurca��o. � uma vergonha", acrescentou.
Segundo ele, Lula "n�o defende os mesmos valores que n�s defendemos na Europa. A Uni�o Europeia e os Estados Unidos defendem a Ucr�nia. N�o podemos aceitar que um presidente de uma pot�ncia regional como o Brasil tenha dito o que disse em rela��o � Ucr�nia, que � um Estado soberano".
"N�o podemos aceitar um presidente de uma rep�blica federativa que deveria ser nosso irm�o venha espalhar o �dio e a maledic�ncia em rela��o aos ucranianos. E colocar-se ao lado da Federa��o Russa, que � o invasor. Hoje � o dia da liberdade", acrescentou.
"N�o � porque ele foi preso ou n�o est� mais preso, n�o temos nada a ver com isso", finalizou.
A cerca de 200 metros dali, brasileiros e portugueses se manifestavam a favor de Lula, mas em menor n�mero.
Uma delas era Evones Santos, de Rond�nia, que mora h� 20 anos em Portugal e � integrante do N�cleo do PT, al�m de coordenadora do Comit� Popular de Mulheres da sigla.
"Vim protestar porque, em primeiro lugar, estou defendendo a democracia, independentemente de estar no Brasil ou em Portugal. Penso que � uma obriga��o nossa combater o fascismo que � uma ideologia que vai contra os direitos humanos", disse.
"Em segundo lugar, porque acredito no governo do presidente Lula, que representa a maioria, a diversidade do povo brasileiro e a democracia", acrescentou.

Pol�mica
A presen�a de Lula no Parlamento portugu�s havia causado pol�mica antes mesmo de seu discurso.
Lula seria o primeiro chefe de Estado estrangeiro a discursar no Legislativo luso por ocasi�o da comemora��o da Revolu��o dos Cravos, que p�s fim � ditadura em Portugal.
A participa��o do petista chegou a ser anunciada pelo ministro dos Neg�cios Estrangeiros de Portugal, Jo�o Gomes Cravinho, em visita ao Brasil.
"� a 1ª vez que um chefe de Estado estrangeiro faz um discurso nesta data", disse Cravinho em entrevista a jornalistas em Bras�lia.
Mas partidos de oposi��o, como PSD, IL e Chega, se manifestaram contra o convite e, ap�s uma reuni�o entre lideran�as pol�ticas, chegou-se a um consenso de que Lula discursaria, mas numa sess�o solene de boas-vindas, � parte das comemora��es da Revolu��o dos Cravos.
Lula deixou o Parlamento portugu�s logo depois de discursar e foi direto para o aeroporto, onde viajou para Madri, na Espanha, �ltima parada de sua viagem � Europa.
Na tarde desta ter�a-feira, ele se encontra com lideran�as sindicais espanholas.
Na quarta-feira (26/4), s�o esperados encontros com o presidente do governo espanhol, Pedro S�nchez, e o rei do pa�s, Felipe 6º.
Seu retorno ao Brasil est� previsto para a noite do mesmo dia.