Lisboa — Depois de um longo per�odo de sil�ncio, desde a acachapante derrota nas �ltimas elei��es presidenciais — teve apenas 3% dos votos —, Ciro Gomes (PDT) voltou a disparar sua artilharia, tendo como principal alvo o presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Em uma palestra na Universidade de Lisboa nessa sexta-feira (12/5), o ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Cear� afirmou que a corrup��o continua solta no governo, bancada pelo Or�amento secreto.
Segundo ele, a Companhia do Vale do Rio S�o Francisco (Codevaf) permanece destinando recursos para obras superfaturadas no Amap�, sem que o atual governo n�o fa�a nada para coibir as irregularidades.
“A Codevasf est� fazendo investimento superfaturado no Amap� neste governo. A dire��o e as pr�ticas que est�o l� s�o as mesmas (da administra��o de Jair Bolsonaro). � por l� que se esvai o Or�amento secreto. Como vamos fazer? Deu certo isso? � uma pergunta simples”, afirmou Ciro.
Na avalia��o dele, o Brasil n�o aprendeu nada com seus erros. “Caramba, o Lula foi parar na cadeia. Ser� poss�vel que n�o aprendemos nada? Ou n�s acreditamos que Lula foi inocentado? Ele n�o foi. O Lula teve direito � presun��o de inoc�ncia restaurada. � diferente de ser inocentado em um julgamento”, assinalou.

Para o ex-ministro, Lula nunca quis mudar, pois n�o tem compromisso com a mudan�a do Brasil. “Ele � o respons�vel pelo reacionarismo vigente, porque ganha com isso”, ressaltou. Ciro ainda atacou o modelo econ�mico adotado no Brasil desde a ditadura militar, que resultou em um pa�s extremamente desigual. No entender dele, foi nesse fosso que separa ricos e pobres que Bolsonaro cresceu e chegou � Presid�ncia da Rep�blica.
“O Bolsonaro foi produzido pela sociedade brasileira no voto. A circunst�ncia socioecon�mica produzida pela economia, agora n�o mais na m�o da ditadura, mas na m�o da esquerda”, assinalou.
Ele destacou que h� risco de o fracasso do atual governo, que tomou posse h� pouco mais de quatro meses, dar for�a para uma “direita caricata, n�o f�cil de ser atacada, como Bolsonaro”. E acrescentou n�o ver com bons olhos o acordo fechado pelo Pal�cio do Planalto em torno das reelei��es de Arthur Lira (PP-AL), para a presid�ncia da C�mara, e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para o comando do Senado.
“N�o tem como dar certo. O que se percebe � que Lula manteve a l�gica do Or�amento secreto. N�o d� para achar que era uma abomina��o com Bolsonaro e, agora, � uma jogada inteligente para garantir a governabilidade.”
Demiss�o no BC
No contexto econ�mico, Ciro igualou Lula e Bolsonaro. “Mudam as pessoas, mas o modelo � rigorosamente o mesmo: teto de gastos, superavit prim�rio, meta de infla��o, c�mbio flutuante, autonomia do Banco Central, pol�tica de pre�os da Petrobras. Esse aqui � o dogma da f�”, enfatizou.
A artilharia do pedetista sobrou para o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que “est� entregue a banqueirada”.
Em rela��o � proposta do novo arcabou�o fiscal, em discuss�o na C�mara dos Deputado, disse se tratar de um novo teto de gastos, com nome diferente. “Quero saber se � justo que a gente fa�a um novo teto de gastos, com o nome de arcabou�o fiscal, um arrocho absoluto na taxa de investimentos, que, no Brasil, � a menor da hist�ria. Da Uni�o, remanescem investimentos de 0,75% (do Produto Interno Bruto, PIB). E isso significa ao redor de R$ 24 bilh�es, o que n�o � nada”, destacou.
Sobre os constantes desentendimentos entre Lula e o Banco Central, por causa das elevadas taxas de juros — 13,75% ao ano —, o ex-ministro ressaltou que o atual presidente da autoridade monet�ria, Roberto Campos Neto, j� deveria ter sido demitido. “Essa demiss�o tem de ser provocada pelo Conselho Monet�rio Nacional (CMN). Quem �? � o ministro da Fazenda, completamente entregue a banqueirada, que est� indicando um banqueiro para uma diretoria do Banco Central, se chama (Gabriel) Gal�polo”, emendou.
Apesar de todos os ataques, Ciro disse estar disposto a contribuir com o debate e com o seu partido no campo ideol�gico, mas descartou concorrer novamente � Presid�ncia da Rep�blica. “Eu dei ao povo brasileiro o meu viver. Vou morrer militando, vou achar outro caminho. J� estou agarrado em um livro. Eu vou ficar militando, mas candidato, neste momento, n�o gostaria de ser”, frisou.
Ele afirmou que optou pelo sil�ncio depois das elei��es e que quer se desintoxicar. “N�o � razo�vel. A partir de um certo limite, tem de ter humildade. Eu n�o represento mais uma corrente de opini�o. Sou um democrata visceral. Alguma coisa est� errada comigo, n�o com o povo”, sentenciou.