
Bras�lia – O presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) animou os investidores estrangeiros com o discurso de que o Brasil passaria a ser mais justo social e ambientalmente, sem deixar de lado a responsabilidade fiscal e o respeito �s regras estabelecidas. Por�m, os meses foram passando, e os �nimos esfriaram diante de uma sucess�o de sinais contradit�rios do governo, dizem especialistas das mais diversas �reas que convivem com os donos de dinheiro no exterior.
Para quem atua com infraestrutura, �rea que demanda quantias bilion�rias no longo prazo, a surpresa foi o isolamento de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, na primeira diverg�ncia. Especialistas do setor dizem ser inexplic�vel a queda de bra�o instalada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na tentativa de impor a explora��o de �leo e g�s na margem equatorial, faixa entre Amap� e Rio Grande do Norte, passando pela foz do Rio Amazonas.
"Marina, depois de Lula, � o s�mbolo do compromisso do Brasil com essa agenda, e empurr�-la para escanteio numa discuss�o sobre petr�leo na Amaz�nia � um tiro no p� com canh�o", afirma Claudio Frischtak, s�cio da consultoria Internacional de Neg�cios Inter B. A agenda verde do governo � a esperan�a de atra��o de capital externo no setor. Segundo Frischtak, j� faz alguns anos que o Brasil n�o atrai novos investidores estrangeiros de longo prazo. S� investe quem est� no pa�s. Prova disso, explica ele, foi a relicita��o do aeroporto de Natal (RN), em abril. Teve dois interessados, quando poderia ter quatro. O vencedor foi a su��a Zurich Airport International, que j� atua em quatro outros aeroportos no Brasil.
H� outras implica��es, afirma o advogado Eduardo Felipe Matias, especialista em direito internacional. "Nem vamos entrar no m�rito t�cnico do projeto. � na Amaz�nia, o lugar que atrai a aten��o internacional. Essa queda de bra�o politiza o tema e � uma casca de banana para o governo" afirma ele. "Fragilizar Marina � dar muni��o a quem se op�e ao acordo Mercosul-Uni�o Europeia, colocar em risco contribui��es de outros pa�ses para o Fundo da Amaz�nia, piorar a imagem da marca Brasil e comprometer investimentos de fundos, empresas e cadeias de fornecedores."
Colocar em xeque a imagem internacional do Brasil tamb�m � abusar da j� fr�gil posi��o do pa�s no mundo dos investimentos, dizem os especialistas. Os pa�ses asi�ticos permanecem como os preferidos dos investidores estrangeiros, afirma Cesar Masry, chefe da �rea de mercados emergentes e investimentos globais do Goldman Sachs. Ningu�m ignora o Brasil, mas ele est� em baixa.
"H� uma certa hesita��o do investidor global em rela��o ao Brasil", diz Masry. "Os riscos pol�ticos ainda s�o significativos, o ambiente macroecon�mico est� fr�gil, requer reformas, e a infla��o est� alta, apesar de ter cedido."
Nesse contexto, os ataques ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, s�o apontados como um componente adicional para afugentar capital. "Ano passado, teve um sopro de otimismo entre os estrangeiros, e vimos uma boa entrada de dinheiro na Bolsa com a expectativa e, depois, a confirma��o da elei��o de um Lula mais pragm�tico", diz o economista Evandro Buccini, s�cio diretor da gestora de recursos Rio Bravo."Mas os ataques ao BC alimentaram ceticismo, e o investidor agora espera."
Levantamento da TradeMap mostra que os estrangeiros de fato entraram com for�a na B3 em outubro, dezembro e janeiro. Em fevereiro, justamente o m�s que Lula abriu fogo contra Campos Neto, come�aram as retiradas, e o estrangeiro n�o voltou at� agora.
O saldo anual at� maio est� positivo, mas seria negativo em R$ 1,9 bilh�o n�o fosse a alta em janeiro, diz Einar Rivero, da TradeMap. De janeiro a 22 de maio deste ano, entraram na Bolsa R$ 10,7 bilh�es em recursos de estrangeiros. No mesmo per�odo do ano passado, foram R$ 51,5 bilh�es.
O Investimento Diretor Estrangeiro (IDE) fez trajeto similar. Foi caindo lentamente desde agosto do ano passado, quando totalizou US$ 10 bilh�es (R$ 50 bilh�es). Despencou de US$ 7,6 bilh�es (R$ 38 bilh�es), em mar�o, para US$ 3,3 bilh�es (R$ 16,5 bilh�es) em abril.
A consultoria internacional Kearney tamb�m captou oscila��es. Ela faz um ranking de 25 pa�ses mais atraentes para estrangeiros. O Brasil n�o apareceu na lista em 2021, nem neste ano. No ano passado, ficou em 22º. A Kearney lan�ou em 2023 a rela��o de emergentes mais atraentes. O Brasil ficou em 7º lugar entre 25 na��es, uma posi��o � frente do M�xico, mas atr�s de �ndia, Emirados �rabes Unidos, Catar, Tail�ndia e Ar�bia Saudita.
O s�cio da Kearney no Brasil, Sachin Mehta, diz que o levantamento ocorreu em janeiro e n�o tem certeza se essa seria a posi��o do pa�s hoje. "A pesquisa mostrou preocupa��o com instabilidade pol�tica, ambiente regulat�rio e fiscal, com a infraestrutura, e esses elementos ficaram meio congelados neste come�o de ano, sem a gente saber para onde vai. A vota��o do arcabou�o pode reduzir parte da incerteza sobre a quest�o fiscal", afirma.
"Os investidores estrangeiros interessados no Brasil tamb�m ficam preocupados quando muda governo porque sempre h� a expectativa de altera��o regulat�ria, e esperam o que vai vir." Neste aspecto, os analistas s�o un�nimes em afirmar que os sinais s�o ruins. O governo alterou, por exemplo, o Marco do Saneamento, e agora tenta evitar que o Congresso derrube as mudan�as. O uso de precat�rios em concess�es e outorgas para reavaliar o instrumento, por sua vez, foi suspenso. Outra norma em revis�o � o voto de desempate no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), �rg�o que julga processos de contribuintes que se sentem lesados pela administra��o tribut�ria.
INSEGURAN�A JUR�DICA "O tema da inseguran�a jur�dica no Brasil � onipresente e assustador para o investidor estrangeiro", afirma Piero Minardi, presidente da Associa��o Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap). Private equity e venture capital s�o modalidades de investimento privado de risco, aplicado diretamente em empresas, n�o raro via fundos. O resultado sai do crescimento do pr�prio neg�cio e da venda de a��es da empresa em Bolsa. Desde 2004, diz Minardi, esse tipo de capital esteve em 60% das empresas que entraram em uma oferta inicial de a��es (IPO, na sigla em ingl�s) na B3. Azul, Droga Raia, CVC e Hering s�o exemplos. De seis anos para c�, no entanto, esses fundos estrangeiros foram deixando o pa�s.
"Houve uma conjun��o de fatores, como desvaloriza��o cambial, recess�o e redu��o do crescimento", afirma Minardi. "Mas o que mais incomodou foi uma reinterpreta��o da Receita Federal, em 2018, para a isen��o fiscal que valia desde 2006. Algumas autua��es foram at� retroativas. O investidor estrangeiro olha isso e fica com o cabelo em p�."
O volume de investimentos estrangeiros � um dos term�metros da confian�a global no Brasil. O indicador mudou de patamar nos dois primeiros mandatos de Lula, per�odo de boom das commodities, reformas pontuais e uma pol�tica fiscal com super�vits de resultados prim�rios.
Em abril de 2008, o pa�s conquistou o grau de investimento, o selo de bom pagador, atraindo cifras maiores. O pico ocorreu em 2011. Foram US$ 102 bilh�es (R$ 511 bilh�es), pelos crit�rios do Banco Central. A partir da�, o pa�s entra num per�odo tumultuado. Em 2015, perdeu o grau de investimento e passou a sofrer com instabilidades pol�ticas e econ�micas. Muitos investidores aguardam o fim dessa fase.
COMPROMISSO Procurada pela reportagem, a Presid�ncia da Rep�blica destacou que o governo federal trabalha para estimular a atra��o de investimentos e reafirma o compromisso assumido durante a campanha com a pauta ambiental. "A prote��o � Floresta Amaz�nica e demais biomas brasileiros, as a��es de combate �s mudan�as clim�ticas e os trabalhos voltados � transi��o para uma economia verde, sustent�vel e de baixo carbono e com uma matriz energ�tica cada vez mais limpa est�o na pauta central", afirmou em nota.
O esfor�o da gest�o Lula, refor�ou, j� � reconhecido por na��es importantes, que voltaram a contribuir com o Fundo Amaz�nia, parado desde 2019 e reativado por meio de decreto em 1º de janeiro. J� h� an�ncios de contribui��o de Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha.
A nota tamb�m afirma que a atual gest�o vem atuando sistematicamente para redirecionar o Brasil para uma rota de crescimento, com or�amento equilibrado, finan�as robustas e taxas de juros menores para o Brasil voltar a crescer fiscal e socialmente. Entre as medidas j� anunciadas, destaca o novo arcabou�o fiscal e a reforma tribut�ria. (Folhapress)
Nas m�os de Lula
Diante de especula��es sobre a perman�ncia no governo, a ministra Marina Silva faltou a churrasco oferecido pelo presidente Luiz In�cio Lula da Silva ao primeiro escal�o do governo, na noite de sexta-feira. A chefe da pasta do Meio Ambiente e da Mudan�a do Clima, no entanto, tem ressaltado em entrevistas que quem decidir� seu futuro no Executivo ser� o pr�prio presidente. "A primeira pessoa que diz quem fica e quem sai � o presidente Lula, que convida", afirmou Marina � CNN Brasil. "A melhor forma de ajudar o governo � estando dentro do governo, para viabilizar as pol�ticas de combate ao desmatamento, desenvolvimento sustent�vel. Temos 19 minist�rios com agenda do clima, bioeconomia", disse. A ministra trocou um churrasco oferecido por Lula a auxiliares do primeiro escal�o por uma confraterniza��o na casa do novo presidente do Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires.