![Nos documentos em poder da CPI, o ex-assessor Cleiton Henrique Holzschuk diz que, a pedido do tenente-coronel Mauro Cid 'as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele [Cid]'(foto: EVARISTO SA / AFP) Ex-presidente Jair Bolsonaro e seu então ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid](https://i.em.com.br/ygPWyyY62u-0Ktc2y37h8aBLKxM=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2023/08/05/1541346/ex-presidente-jair-bolsonaro-e-seu-entao-ajudante-de-ordens-tenente-coronel-mauro-cid_1_116937.jpg)
Uma troca de emails entre funcion�rios da ajud�ncia de ordens da Presid�ncia aponta que o ex-mandat�rio teria recebido, durante sua passagem pela cidade, um envelope e uma caixa com pedras preciosas para a ent�o primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Nos documentos em poder da CPI, o ex-assessor Cleiton Henrique Holzschuk relata que, a pedido do tenente-coronel Mauro Cid, um dos principais auxiliares de Bolsonaro, "as pedras n�o devem ser cadastradas e devem ser entregues em m�o para ele [Cid]".
"Foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo pedras preciosas para o PR [presidente] e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD [primeira-dama], recebidas em Te�filo Otoni em 26/10/22", relata Holzschuk.
Ele afirmou ainda que o "Sgt Furriel" –referindo-se ao sargento Marcos Vin�cius Pereira Furriel— estaria "ciente do assunto" e que poderia tirar d�vidas.
Outras investiga��es
Cid � alvo de investiga��es no STF (Supremo Tribunal Federal) e em outras inst�ncias, incluindo no caso das joias enviadas ao ex-mandat�rio por autoridades da Ar�bia Saudita. O militar est� preso desde o in�cio de maio por determina��o do ministro Alexandre de Moraes.
No documento enviado � PGR, parlamentares questionam se o ex-presidente cometeu o crime de peculato, e afirmam que as pedras preciosas n�o constam na rela��o de 1.055 itens recebidos oficialmente por ele nos quatro anos de mandato.
"Sabe-se que, no dia do recebimento, a 4 dias do segundo turno das Elei��es Presidenciais de 2023, Bolsonaro estava fazendo campanha em Te�filo Otoni", diz o texto do pedido de investiga��o.
"Ou seja, as pedras preciosas n�o foram recebidas em cerim�nia protocolar. Logo, questiona-se: quem presenteou Jair Bolsonaro? Qual o motivo da recusa em cadastrar o presente?"
Procurado por meio de seu ex-secret�rio de Comunica��o Fabio Wajngarten, que � advogado e atua em sua defesa, Bolsonaro n�o se manifestou at� a publica��o desta reportagem.
Presentes para Bolsonaro
O advogado Josino Correia Junior, morador de Te�filo Otoni, afirmou � reportagem que foi ele quem deu o presente a Bolsonaro durante a passagem do ent�o candidato � reelei��o pela cidade do sudeste de Minas —conhecida como capital das pedras preciosas.
Correia disse que quis presentear o ex-presidente com um souvenir da cidade. "S�o pedras semipreciosas. Comprei na v�spera da vinda dele � cidade. Custaram R$ 400", afirmou.
Ele gravou um v�deo com um relato sobre o caso em uma �rea da cidade que concentra estabelecimentos do ramo no qual afirma que as pedras s�o "provenientes de explora��o legal".
De acordo com o advogado, o conjunto entregue a Bolsonaro � composto de top�zios azuis, citrinos (pedra de cor amarela) e prasiolitas (verde), acondicionadas em um estojo. S�o quatro pedras de cada.
Ele disse que o filho ca�ula tamb�m presenteou Bolsonaro com alguns cristais e ametistas de um acervo pessoal. E afirmou que os dois volumes seriam destinados ao pr�prio ex-presidente, cujo nome teria sido gravado no estojo.
Correia enviou � reportagem a foto do momento da entrega dos presentes. A imagem est� cortada. O filho dele tamb�m aparece no recorte com um envelope em m�os.
A foto publicada pelo advogado em seu perfil nas redes sociais mostra ainda o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o general Walter Braga Netto, ent�o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.
A deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ), que levantou o tema na CPI, afirma que o email diz "pedras preciosas", e n�o "semipreciosas", e que n�o h� garantias nem de que sejam as mesmas pedras, nem de que o advogado esteja falando a verdade.
"O que ele diz que tinha na caixa ningu�m viu. Algu�m viu? Algu�m abriu essa caixa para saber se ele est� falando a verdade? Terceiro: � s� essa caixa? Tem mais caixa? Ou seja, essa fala, para mim, n�o tem nenhum significado", diz.
"� o email de passagem de servi�o dos ajudantes de ordem e um orientando o outro: n�o cadastre. Em 11 de novembro essa mensagem some. Ou seja, as pedras devem ter sa�do do cofre. Qual o destino? N�o sei."
Especialistas consultados pela reportagem afirmam que � dif�cil estimar o valor do estojo, diante das vari�veis que envolvem o mercado de pedras preciosas e semipreciosas —como tamanho, intensidade da cor, lapida��o e pureza.
Lojistas de Te�filo Otoni dizem que o quilate do top�zio azul varia, em m�dia, de US$ 7 (cerca de R$ 35 na cota��o atual) a US$ 15 (o equivalente a aproximadamente R$ 73), dependendo do tom de azul da pedra.
O quilate do citrino, segundo comerciantes, � negociado na cidade por valores entre R$ 20 e R$ 30. J� o quilate da prasiolita varia de R$ 10 a R$ 30. Uma pedra do tamanho de uma moeda de R$ 0,10, por exemplo, custaria em torno de R$ 200.