
Quando o deputado Arthur Maia (Uni�o-BA) foi escolhido para presidir a CPMI do 8 de janeiro, os bolsonaristas — que fizeram muita press�o para que o colegiado fosse formado, a contragosto dos governistas — comemoraram. Afinal, apesar de os aliados do Pal�cio do Planalto serem presen�a majorit�ria e contarem, tamb�m, com a relatoria, entregue � senadora Eliziane Gama (PSD-MA), acreditaram que a presen�a de Maia evitaria o desastre para a imagem do ex-presidente e seus apoiadores, tal como ocorreu na CPI da Covid. Passados tr�s meses, a vis�o que os oposicionistas t�m de Maia mudou — para pior. Ao ponto de ele ter sido chamado, na semana passada, de "pizzaiolo" por um deputado bolsonarista, que enxerga uma condu��o parcialmente das sess�es pelo presidente.
Maia garante que tenta equilibrar as for�as para que o resultado dos trabalhos n�o seja leniente com os que realmente t�m participa��o na tentativa de golpe e nem excessivamente punitivo com aqueles cuja atua��o foi apenas subsidi�ria. Mas, diante dos ind�cios cada vez mais fartos de que Bolsonaro tem liga��es com a tentativa de golpe, encontrar o consenso entre governo e oposi��o tornou-se uma tarefa ingl�ria.
A reuni�o deliberativa da �ltima ter�a-feira mostrou que o di�logo proposto por Maia se esgotou entre os dois lados. No primeiro encontro antes do come�o dos trabalhos, foi acertado que seriam pautados v�rios requerimentos de interesse dos governistas: a reconvoca��o do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro; e as quebras de sigilos telef�nicos, telem�ticos e Relat�rios de Intelig�ncia Financeira (RIF) referentes � deputada Carla Zambelli (PL-SP), ao hacker Walter Delgatti Neto, al�m do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle.
Por�m, a oposi��o reclamou. Numa segunda reuni�o, o clima azedou: o deputado Marco Feliciano (PL-SP) bateu-boca aos gritos com Eliziane sobre Zambelli. O conflito entre eles foi parar nas redes sociais, com um acusando o outro pela agress�o.
"Ele (Arthur Maia) tinha feito o acordo de botar (o requerimento de convoca��o de Zambelli), mas, depois da confus�o que deu, resolveu tirar", lamentou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que considera que o presidente da CPMI esteja "segurando" pedidos para oitivas de figuras pr�ximas de Bolsonaro.
Maia, inclusive, n�o queria trazer para dentro da CPMI nada relacionado �s investiga��es das joias que deveriam pertencer ao acervo presidencial. Tanto que esteve, na quarta-feira, com o ministro da Defesa, Jos� M�cio Monteiro, e com o comandante do Ex�rcito, Tom�s Paiva, e reafirmou que o assunto ficaria de fora pelo tanto de desgaste que traz ao Ex�rcito.
Clima ruim
Mas a situa��o mudou na audi�ncia de quinta-feira. Maia pautou e aprovou, em bloco, 57 requerimentos, "nenhum problem�tico, pol�mico, nem de um lado nem de outro". "Minha ideia � que a gente fa�a um acordo de procedimento entre governo e oposi��o, que possa identificar quais s�o os depoimentos mais importantes e fecharmos esse per�odo. Vamos aprovar apenas os requerimentos daqueles que efetivamente ser�o ouvidos", prop�s o presidente da CPMI.
S� que, ao fim da oitiva do sargento Lu�s Marcos dos Reis, ex-integrante da Ajud�ncia de Ordens de Bolsonaro, o deputado Maur�cio Marcon (Podemos-RS) "alertou" Maia de que ele seria o "pizzaiolo dessa pizza que est� sendo gestada na CPMI".
"O seu nome, presidente, vai entrar para a hist�ria como aquele que deixou virar pizza essa CPMI", provocou, acusando Maia de favorecer os governistas.
Irritado, o presidente amea�ou colocar todos os pedidos n�o apreciados na pauta. "O mais f�cil � colocar requerimento em vota��o. Posso botar todos em vota��o. Dif�cil � aprovar, sobretudo os da minoria", alertou Maia, indignado, mostrando que se os bolsonaristas radicalizarem, e n�o quiserem negociar com os governistas, sair�o perdendo ao final da comiss�o.