
N�o importa a falta de habilidades para bordar, costurar ou construir o presente dos sonhos. � o que garante quem decidiu partir para a atitude handmade neste Natal. Veja o exemplo da fam�lia Appelt: a m�e, Ang�lica, o pai, Ricardo, e os tr�s filhos – Pedro e as g�meas Carolina e Isabela, decidiram, em conjunto, transformar a brincadeira do amigo-oculto em uma oportunidade para fugir do comum. No lugar da troca de presentes comerciais, eles mesmos est�o produzindo os mimos.
Tudo feito a m�o, envolvendo criatividade e sentimento. Pedro e a irm� Carol far�o desenhos. J� Isabela criou um artesanato decorativo. A m�e vai produzir um enfeite de espuma com uma frase expressando amor e gratid�o para a pessoa que sorteou. O pai ainda faz mist�rio sobre o presente. “A ideia veio da minha irm�, mas todo mundo gostou porque � um presente em que a gente vai colocar nosso amor, feito com nosso carinho, para demonstrar afeto. Farei um desenho e vou escrever algumas frases que tenham a ver com a pessoa”, conta Pedro. Carolina diz que a proposta � tamb�m um exerc�cio. “Achei mais legal e, ainda por cima, � uma forma de n�o gastar dinheiro e de mostrar mais amor. Acredito que ser� uma troca emocionante.” E Isabela, a autora da ideia, completa: “Conversamos muito aqui e percebemos que as pessoas acabam esquecendo o significado do Natal, querem s� comprar e ganhar, em vez de pensar que existe muita gente precisando de ajuda, por exemplo. Por que n�o fazer diferente? Com certeza, ser� um Natal especial, haver� mais significado para a nossa troca”, reflete.
TROCA DE ENERGIA
J� adulta, Cristiana Pereira Moura, psic�loga, se deu conta de que o fato de n�o saber colocar uma linha na agulha estava incomodando. De uma fam�lia habilidosa para as manualidades, ela decidiu aprender e, assim, resgatar aquele elo ancestral entre as mulheres, mem�rias do conv�vio com a m�e, com as tias, com o feminino e at� mesmo com o tempo, que passa devagar durante o bordado. “� um processo muito simb�lico”, revela.
Assim, come�ou a frequentar as aulas de bordado da professora Marcela Melo. L�, ela e as colegas L�cia e Regina tiveram a ideia de criar pe�as para presentear pessoas queridas no Natal. Cris est� bordando em folhas naturais – a refer�ncia � o trabalho da artista pl�stica Clarice Borian. Uma das folhas ser� entregue para a irm�, que mora em outra cidade. “Bordar � uma coisa de av�, mas muito atual e contempor�nea. A op��o de bordar na folha tamb�m � simb�lica. Sei que � um presente que n�o vai durar para sempre, mas toda a minha inten��o de pensar em algu�m est� ali, impressa no cuidado, na aten��o desprendida naquele momento.” Cris tamb�m fala sobre a troca de energia do estar em grupo, dividindo experi�ncias, alegrias, dores, “uma troca muito especial”.
Do outro lado, a professora se diz feliz com a possibilidade de fazer um movimento de resist�ncia � l�gica do consumo. “Sempre levantei essa bandeira, do significado daquilo que � feito e traz um outro valor, o afetivo. Consequentemente, h� uma outra conex�o entre quem faz e quem recebe. N�o h� descarte, pois o ciclo do artesanal n�o se desgasta – tenho pe�as que foram criadas h� mais de 100 anos –, fora que demonstram cuidado com o planeta, a sociedade e as pessoas envolvidas. Cada aluna tem um projeto e todas buscam romper com essa no��o que aprendemos do pensar baseado no que a gente tem, na posse, nessa roda fren�tica do consumismo, das coisas que se desgastam muito r�pido. Principalmente nesta �poca, em que as pessoas ficam enlouquecidas com o comprar, comprar, e nem pensam no valor daquele presente.”
Na oficina e nas aulas de bordado livre, a professora faz quest�o de difundir a m�xima de que o momento de presentear � muito especial e n�o apenas uma obriga��o social, uma rotina. “Acredito no pensar em quem estou presenteando. Ainda que compre produtos comerciais, que seja o que de fato tenha a ver com a pessoa, me lembre alguma coisa dela, gere emo��o. Mas, ainda refor�o que fazer um presente tem toda uma outra conex�o, um valor afetivo. Ser� algo que tem tudo a ver com voc� e com o outro, que gera uma outra rela��o, um carinho, uma troca de afeto, que faz bem para a alma de quem d� e de quem recebe.”
NO TEATRO
Com apresenta��o hoje, a partir das 11h, no Memorial Minas Vale, o auto/musical O Natal existe?, da companhia Carro�a Teatral, tamb�m questiona alguns valores. Com dire��o de Paulo Henrique de Souza, a pe�a, montada em dezembro de 2012 e reapresentada desde ent�o, promete gerar reflex�o, inclusive entre as crian�as. A classifica��o � livre e a entrada gratuita (mediante retirada de senha uma hora antes, sujeita � lota��o da sala). “� uma �poca do ano muito reflexiva para todos os povos e cren�as. Partimos, ent�o, da descren�a do ser em rela��o ao ter: o que somos para ter e o que temos para ser? O que � mais importante, o ter ou o ser?”, questiona.
E completa: “Nossa montagem questiona o dar presente em rela��o ao ser presente, ainda, em detrimento do sustento da felicidade individual e coletiva. Chegamos � conclus�o de que estamos vivendo o frenesi impulsivo do capitalismo (chega a ser selvagem) e clamamos coletivamente pelo filtro da necessidade em rela��o ao desejo”, alfineta Paulo Henrique.
Entre as principais mensagens da pe�a, o consumismo vazio � um alvo. “Consumimos para satisfazer o desejo, impulsionados pela propaga��o de que, se temos algo, ent�o seremos felizes. A partir da� n�o consumimos porque precisamos, mas, sim, porque estamos “famintos” da pr�pria exist�ncia. Nosso espet�culo nos soou como um alerta e esperamos despertar na plateia o mesmo”, convida.
palavra de
especialista
Maur�cio Paz
professor de hist�ria
Uma nova chance a cada ano
“Cresci em uma fam�lia que se reunia no Natal e acho que essa simbologia carrego comigo at� hoje. Estar entre aqueles que n�s amamos na data � uma forma de nos reabastecermos para o pr�ximo ano, de nos perdoarmos por n�o ter estado t�o presentes, � um ritual de celebra��o da esperan�a e de reconex�o com sentidos e coisas perdidas no cotidiano. Quanto aos presentes, sugiro sempre o mesmo exerc�cio: d� presentes a crian�as carentes, aquelas que realmente precisam. Mas, na sua ceia, d� aten��o, d� olhares demorados e carinhosos �queles que l� est�o, d� abra�os e beijos. Distribua gentileza e celebre a dor e a alegria de estar l�. Deixe o celular de lado e viva essa chance que todos temos a cada ano.”
Para assistir:
Quer saber mais sobre as simbologias de Natal? O professor Maur�cio Paz indica o filme Feliz Natal, de 2006, dire��o de Chistian Carion, que conta sobre uma tr�gua na noite de Natal em plena Primeira Guerra Mundial, quando os ex�rcitos alem�o e franc�s deixam suas trincheiras para, juntos, celebrar a data. “Apesar de ser uma fic��o, ela foi baseada em v�rios relatos de armist�cios ocorridos em guerras no s�culo 20”, diz.
SERVI�O
Auto de Natal: O Natal existe?
Local: Memorial Vale, Pra�a da Liberdade, 640, esquina com Gon�alves Dias
Data: s�bado (16), �s 11h
Entrada franca, sujeita � lota��o. Retirada de senhas uma hora antes da apresenta��o.