Os transtornos mentais viraram uma das principais preocupa��es de sa�de para quase metade dos brasileiros. Essa taxa cresceu quase tr�s vezes em apenas quatro anos.
Esses � um dos principais achados da mais recente pesquisa Global Health Service Monitor, feita pela empresas Ipsos em 34 pa�ses espalhados por todos os continentes, obtida com exclusividade pela BBC News Brasil.
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No Brasil, o estudo contou com a participa��o de mil pessoas, que responderam a perguntas pela internet ou pelo telefone. Elas representam todas as classes sociais e regi�es do pa�s. A margem de erro � de 3,5 pontos percentuais.
No levantamento, � poss�vel conferir que a covid-19 segue como a grande preocupa��o de sa�de para 62% dos respondentes no pa�s, embora essa taxa estivesse em 84% no ano passado.
Tamb�m chama a aten��o o impacto de temas relacionados � sa�de mental, como mencionado mais acima. Em 2018, apenas 18% dos brasileiros diziam que t�picos como depress�o e ansiedade eram fontes de inquietude.
Esse n�mero subiu para 27% em 2019, 40% em 2021 e 49% em 2022 um salto de 2,7 vezes num per�odo de quatro anos.
Confira a seguir as an�lises sobre esse e outros destaques da pesquisa.
A mente como protagonista
Para Cassio Damacena, diretor de cuidados em sa�de da Ipsos no Brasil, a maior preocupa��o com a sa�de mental captada pelo estudo est� relacionada com a pr�pria pandemia.
"De certa maneira, a covid-19 fez com que as doen�as mentais e ps�quicas ganhassem um protagonismo e fossem mais discutidas abertamente", interpreta.
"Me parece que a forma como vemos esses transtornos se modificou nesse per�odo", complementa.
Damacena entende que o aumento dos �bitos relacionados ao coronav�rus fez com que as pessoas refletissem mais sobre a vida.
Para alguns, a necessidade de ficar em casa e restringir os contatos com amigos e familiares tamb�m serviu de gatilho para o surgimento de quadros como ansiedade e depress�o.
Na compara��o com outros pa�ses, o Brasil est� entre aqueles em que a preocupa��o com a sa�de mental atinge n�veis mais altos.
Apenas Su�cia (63%), Chile (62%), Irlanda (58%), Portugal (55%), Espanha (51%) e Estados Unidos (51%) t�m n�meros superiores aos registrados por aqui.
De acordo com o Global Burden of Diseases, um estudo global que estima o impacto de diferentes doen�as, 3,3% da popula��o brasileira apresenta transtornos depressivos.
Ainda segundo esse trabalho, essas doen�as est�o entre os principais fatores que impactam a qualidade de vida e a sa�de de um indiv�duo.
C�ncer virou coadjuvante
O levantamento da Ipsos ainda aponta uma queda expressiva na preocupa��o relacionada ao c�ncer.
Em 2018, 57% dos brasileiros diziam que os tumores eram um dos principais problemas de sa�de que algu�m poderia enfrentar.
Esse �ndice despencou pela metade em 2022: apenas 29% dos participantes disseram concordar com a frase do par�grafo anterior.

Damacena apresenta duas hip�teses para explicar essa diferen�a num espa�o de tempo t�o curto.
"Primeiro, o cen�rio do diagn�stico e do tratamento do c�ncer mudou. As taxas de sobrevida aumentaram consideravelmente em tempos recentes", diz.
O pesquisador entende que essa doen�a sempre esteve relacionada a um estigma muito grande, que evoca a ideia de finitude e morte.
� poss�vel, por�m, que os avan�os nos exames e nos medicamentos estejam modificando aos poucos essas no��es.
"Em segundo lugar, n�o podemos nos esquecer que a pesquisa capta o que est� preocupando as pessoas naquele exato momento", acrescenta.
Ou seja: com a chegada da covid, uma condi��o nova e mortal, os tumores foram de certa maneira relegados a um segundo plano, como se fossem menos urgentes, avalia o representante da Ipsos.
Ganho de peso � figurante
Ainda na seara dos t�picos que n�o geram alarme entre a popula��o, o cen�rio da obesidade � bastante peculiar.
Embora 57% dos brasileiros tenham excesso de peso, segundo o Minist�rio da Sa�de, apenas 15% veem os quilos extras como um desafio.
A taxa est� entre as menores do planeta e s� fica acima do que foi observado em It�lia (13%), Tail�ndia (11%), �ndia (10%), �frica do Sul (9%), Indon�sia (6%) e Jap�o (5%).
Damacena interpreta o achado sob o prisma do senso de urg�ncia.
"A obesidade � uma condi��o que demora para produzir algum efeito. A pessoa vive anos, ou at� d�cadas, com excesso de peso, colesterol alto, diabetes e hipertens�o antes de sofrer um evento mais grave, como um infarto", lembra.
"Isso dificulta a interpreta��o de risco relacionado � obesidade", completa.

Uma das alternativas para modificar isso, aponta o especialista, envolve a realiza��o de campanhas de comunica��o, a exemplo do que ocorre com o c�ncer de mama e o outubro rosa, m�s marcado por a��es de conscientiza��o sobre o diagn�stico precoce desse tumor.
"Precisamos que governos, empresas e imprensa falem mais sobre o tema, de modo que as pessoas percebam a import�ncia e incorporem os cuidados para prevenir e tratar a obesidade na rotina delas", sugere.
Vacina: escolha pessoal ou obriga��o?
Um quarto e �ltimo destaque da pesquisa est� relacionado � aplica��o de doses dos imunizantes.
A Ipsos perguntou aos milhares de participantes se eles achavam que a vacina��o deveria ser compuls�ria ou n�o.
O Brasil aparece entre os cinco pa�ses com a maior porcentagem da popula��o que considera que todos deveriam ser obrigados a estar com as doses em dia, ao lado de Emirados �rabes Unidos, Indon�sia, M�xico e �ndia.
Um total de 72% dos brasileiros concordam com a obrigatoriedade, enquanto 13% discordam dela.
A m�dia global � de 59% a favor e 18% contra.
Esse n�mero, por�m, caiu um pouco na compara��o com os levantamentos anteriores feitos no pa�s: em 2020, 78% dos brasileiros achavam que as vacinas deveriam ser obrigat�rias.

Damacena aponta para uma diferen�a curiosa no ranking das na��es: as mais ricas s�o aquelas com a maior porcentagem da popula��o que discorda da imuniza��o compuls�ria.
Apenas 38% dos portugueses s�o a favor de medidas do tipo. Bem pr�ximos, aparecem os h�ngaros (41%), os japoneses (43%), os americanos (44%) e os su��os (45%).
O cen�rio � oposto nos pa�ses mais pobres, como os j� citados Indon�sia (78%), M�xico (75%), �ndia (74%) e Brasil (72%).
Para Damacena, isso tem a ver com o fato de esses lugares terem uma mem�ria mais recente do impacto das doen�as infecciosas preven�veis pelas vacinas, como poliomielite, sarampo e rub�ola.
"Quanto menos se v� essas doen�as, que foram erradicadas ou controladas nos locais mais ricos, mais distante fica a urg�ncia da vacina��o", pontua.
"Isso ajuda a entender porque, entre as na��es desenvolvidas, a vacina��o muitas vezes � vista como algo superficial", conclui.
- Este texto foi publicado originalmente em http://bbc.co.uk/portuguese/brasil-63213184
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