ilustra��o v�rus Covid
S�O CARLOS, SP (FOLHAPRESS) - O corpo de algumas pessoas � capaz de derrotar o Sars-CoV-2, v�rus causador da Covid-19, sem que nenhum sintoma da doen�a se manifeste, e a explica��o pode estar no DNA delas, mostra um novo estudo. Nesses indiv�duos, a variante de um gene ligado ao sistema de defesa do organismo permite que o invasor viral seja reconhecido e combatido com efici�ncia exemplar.
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"Logo no in�cio da pandemia, chamou a aten��o o fato de que muitas pessoas n�o desenvolviam sintomas da Covid-19, e n�s imaginamos que poderia haver algum fator gen�tico de prote��o [por tr�s disso]", explicou Augusto � Folha. "No entanto, como pessoas sem sintomas normalmente n�o procuram atendimento m�dico, sab�amos que seria muito dif�cil coletar amostras delas."
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Para contornar essa dificuldade, ele e seus colegas se valeram de um banco de dados j� existente, o registro nacional de doadores volunt�rios de medula �ssea dos EUA. A vantagem � que o diret�rio j� inclu�a informa��es sobre o DNA dos volunt�rios, uma vez que isso influi na compatibilidade das doa��es.
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"Enviamos milhares de emails convidando essas pessoas a baixarem um aplicativo de celular. Todos os dias, elas relatavam se tinham tido algum sintoma e tamb�m compartilhavam resultados de testes de detec��o do v�rus", conta o pesquisador.
Entre os dados do registro de doadores estavam informa��es sobre um grupo de genes designados coletivamente pela sigla HLA (de "ant�genos leucocit�rios humanos", em ingl�s). Esses genes cont�m a receita para a produ��o de mol�culas cuja fun��o poderia ser comparada � de um curso de defesa pessoal do organismo.
Quando, por exemplo, um v�rus invade uma nova v�tima, as mol�culas HLA apresentam part�culas virais �s chamadas c�lulas T do sistema de defesa do organismo. Isso desencadeia um contra-ataque em m�ltiplas frentes, o qual, com alguma sorte, pode levar � derrota do invasor.
An�lises anteriores j� indicavam que a varia��o nos genes HLA poderia ser relevante para o curso da infec��o pelo v�rus da Covid-19. A equipe, ent�o, cruzou os dados gen�ticos das pessoas que responderam aos seus contatos –cerca de 1.500 doadores– com os relatos delas sobre o diagn�stico da doen�a. Foi a� que ficou claro que um alelo (variante gen�tica) designado pela sigla HLA-B*15:01, presente em mais ou menos 10% das pessoas de origem europeia na amostra, tinha uma associa��o com as infec��es assintom�ticas.
Para ser exato, quem carregava o alelo tinha uma probabilidade quase tr�s vezes maior de n�o apresentar sintomas da doen�a. No caso dos indiv�duos que carregavam duas c�pias do alelo –uma herdada do pai e a outra, da m�e–, o efeito parece ser ainda mais claro: essas pessoas tinham probabilidade oito vezes maior de n�o ter sintomas.
Se o trabalho tivesse se restringido a esse tipo de an�lise, os dados poderiam n�o passar de uma associa��o estat�stica, que n�o necessariamente mostra que a presen�a da variante de DNA � a causa da infec��o sem sintomas de Covid-19. Por isso, a equipe integrada pelo brasileiro conduziu uma s�rie de outros testes. Entre eles, o mais importante foi a an�lise de culturas de c�lulas humanas obtidas muito antes da pandemia, ou seja, sem nenhuma chance de contato pr�vio com o Sars-CoV-2.
"N�s observamos que as c�lulas dos indiv�duos que t�m essa variante de DNA apresentavam mem�ria imunol�gica contra uma part�cula do v�rus da Covid-19, mesmo sem ter tido contato com o v�rus", explica Augusto. "Por isso, eles tinham uma resposta imunol�gica muito r�pida e eficaz, eliminando o v�rus antes que ele causasse os sintomas."
Ocorre que essa mem�ria do sistema de defesa foi ativada por causa da semelhan�a entre determinadas mol�culas do Sars-CoV-2 e as de outros coronav�rus que circulam h� muito mais tempo na popula��o humana, causando boa parte do que chamamos de resfriados comuns. Essas mol�culas s�o classificadas como "conservadas" evolutivamente, ou seja, s�o comuns a uma ampla gama de coronav�rus diferentes que evolu�ram a partir de um mesmo ancestral comum.
Entender melhor a intera��o entre a variante e as por��es conservadas do genoma dos coronav�rus pode inspirar, no futuro, vacinas mais eficazes contra todos os sintomas da Covid-19, embora as atuais j� sejam muito �teis contra sintomas graves e risco de morte. A equipe tamb�m pretende verificar se o mecanismo de prote��o est� presente em popula��es de origem n�o europeia.
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