Depois de longo interregno, benza Deus, achamos, ao que parece, um novo Cerezo. Em outros tempos, houve Doriva e Gilberto Silva, Pierre e Donizete, at� Rafael Carioca. Mas apenas Jair – o �nico Jair que a gente respeita – parece guardar as caracter�sticas da vol�ncia fina e destemida de Toninho Cerezo, o camisa 10 que humildemente vestiu a 5, a exemplo de Falc�o no Internacional.
No dia seguinte � derrota nos p�naltis para o S�o Paulo, na final do Brasileiro de 1977, Cerezo estava andando na rua quando foi abordado por um menino. Ele havia perdido uma das cobran�as, e a foto em que sai de campo abra�ado aos companheiros tornou-se o retrato mais emblem�tico de um campeonato cujas regras permitiram um vice-campe�o invicto e com dez pontos a mais que o campe�o. O menino achou que devia consolar Cerezo. E presenteou-o com o que estava � m�o – um dente de leite que acabara de extrair.
Passados cerca de quarenta anos, Cerezo foi abordado na rua por um adulto. “Voc� n�o vai se lembrar de mim, mas quando eu era crian�a te encontrei na rua e te dei um dente.” Cerezo puxou do pesco�o uma gargantilha. Tinha um dente na ponta. O dente daquele pequeno atleticano, agora na casa dos 50, acompanhou-o vida afora. Se um dia voc� ver o Cerezo contando essa hist�ria, ele estar� chorando. O Cerezo n�o consegue falar de Atl�tico sem ficar emocionado.
O assunto era o Jair, mas tergiverso sobre o dente de leite hoje pertencente a Toninho Cerezo porque lamento profundamente o atleticano que ainda n�o o perdoou por ter vestido a camisa do Cruzeiro em troca de 30 dinheiros. Lamento por mim mesmo, que cantei a pulm�es plenos “� Cerezo, Cerezo mercen�rio”, seguido dos improp�rios que todos sabemos. A cada vez que o Cerezo chora por causa do Galo, me autoflagelo com 50 chibatadas.
N�o peguemos no p� do Jair! Deixemos livres suas passadas de Cerezo, sua ousadia de camisa 10 travestida em n�mero insuspeito. No m�ximo, fa�amos uma campanha para mudar o nome de Jair, que, apesar de Rodrigues, acaba por nos remeter a coisa pior – o Coisa Ruim. Um amigo sugere Jaj�. Pela velocidade com que � capaz de partir pra cima, Jafoi cai bem melhor que Jair. Enquanto n�o se chega ao apodo perfeito, � melhor j� ir se acostumando a gritar Jair. A vida � cruel, �s vezes.
Jair atuava na segunda vol�ncia. Quando Adilson ficou obrigado a pendurar as chuteiras, foi adiantado � primeira e achou seu lugar. Elias e Jaj� podem formar uma mei�ca de sonho. Assim como R�ver e Igor Rabello, h� tr�s jogos sem tomar gol. Salve, Cleiton! Salve, Rodrigo Santana! Apesar de todos os pesares, est�o deixando a gente sonhar.
Na quarta-feira tiramos a pedra da nossa chuteira, 2 a 0 no Botafogo. Imagina agora o Sette Peles acendendo suas velas na encruzilhada pelo t�tulo da s�rie B da Libertadores. O peixe morre pela boca, mas o Gal�o e as baratas ser�o os �nicos a sobreviver quando chegar o meteoro. �ta mund�o que d� volta! Vamo, Galo, pelo amor de Deus! “Tamo junto na s�rie B, na C, na D, na E e na pqp”, quem n�o se lembra dessa camiseta ali pelos idos de 2006?
Amanh� voltamos ao Brasileir�o, onde n�o vencemos faz cinco jogos, que mis�ria. Contra o Cruzeiro, no Horto, olha de novo a tampa do caix�o se oferecendo pra n�s. Veremos se desta vez a gente para de ressuscitar defunto, ou o homem l� em cima, o s�sia de Karl Marx, pode acabar se enfurecendo.
A zaga tem mostrado evolu��o, Patric � um mist�rio insond�vel, coitado do Daniel Alves perto dele. O S�o Paulo quis um, teve que se contentar com o outro, � vida que segue. O meio de campo achou Jair Rodrigues. “Deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra l�.” E o Pastor ao encontrar o Alerrandro? “O que � que tem? Eu n�o estou fazendo nada, voc� tamb�m.”
Faltam seis jogos para a gl�ria na S�rie B, o direito � vaga antecipada na S�rie A, as oitavas da Copa do Brasil de 2020 e at� um lugar no Mundial de 21. Falta apenas um jogo para a disparada no Brasileir�o – o de amanh�. “Prepare o seu cora��o, pras coisas que eu vou contar, eu venho l� do sert�o e posso n�o lhe agradar.” Viva Jair Rodrigues! Viva Jaj�!