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Estado de Minas T�NIS EM CADEIRA DE RODAS

Tenista de cadeira de rodas reencontra professor que o ajudou h� 14 anos em Santa Luzia

Campe�o do Aberto da Su��a e 12� do ranking mundial de tenistas em cadeiras de rodas, o luziense Daniel Rodrigues realiza o sonho de reencontrar o professor que o levou para o esporte paral�mpico, h� 14 anos


18/08/2019 04:00 - atualizado 19/08/2019 16:08

Daniel e Mário se emocionaram ao se reencontrarem onde tudo começou, na Escola Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia
Daniel e M�rio se emocionaram ao se reencontrarem onde tudo come�ou, na Escola Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

Como se forma um campe�o? Normalmente, a crian�a � levada para uma escolinha de esporte, independentemente de qual seja a modalidade. L� ela inicia o aprendizado, passa a treinar, a se aprimorar e, com o tempo, come�am as competi��es. Primeiro, as locais; depois, as estaduais e as nacionais. Em alguns casos, a crian�a se torna um atleta de ponta e ganha o mundo. Mas essa hist�ria que ser� contada aqui � especial, de muita perseveran�a, supera��o e gratid�o. � de um menino que tinha atrofia de nascen�a na perna direita, mas adorava esporte. Na escola, jogava futebol de muletas. No handebol, apesar de contar apenas com a perna esquerda, era goleiro. Pois a vida desse menino mudou por causa do simples gesto de um professor. Hoje aos 32 anos, Daniel Rodrigues � o 12º do ranking mundial de t�nis em cadeira de rodas. Tornou-se exemplo n�o s� para atletas de uma maneira geral, mas, principalmente, para os meninos da Escola Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia, onde estudou e foi homenageado nesta semana. Ele ainda p�de realizar um desejo antigo: reencontrar, depois de 14 anos, a pessoa que o levou para o t�nis, seu professor de hist�ria, M�rio Alves de Oliveira J�nior, hoje com 38 anos, com quem ele tinha perdido contato desde 2005.

O REENCONTRO

Era pra ser uma simples visita � escola onde estudara na adolesc�ncia. Assim seria o dia de Daniel, que acaba de ganhar um torneio n�vel 2 da Federa��o Internacional de T�nis (ITF) na Su��a – foi o primeiro brasileiro a realizar esse feito. Havia, no entanto, uma surpresa para ele. Em entrevista recente ao Estado de Minas, logo depois de vencer a competi��o na Europa, ele revelou que sempre quis muito rever o professor M�rio. A reportagem entrou em contato com o professor e combinou com a diretora da escola, Patr�cia Bernadete Xavier Andrade Lima, que tinha sido sua professora de matem�tica, o reencontro. Mas Daniel n�o sabia de nada.

T�o logo entrou na escola, a primeira surpresa. Todos os alunos do turno da manh� estavam reunidos no audit�rio � sua espera. A recep��o comoveu Daniel, que acabou proferindo uma pequena palestra, de improviso, sobre sua carreira. As maiores emo��es, no entanto, estavam por vir. Quando ele terminou a conversa com os alunos – em meio a um grande alvoro�o dos estudantes, que o aplaudiam, gritavam seu nome e estouravam bal�es –, no fundo do audit�rio surgiu o professor M�rio.

Daniel n�o se conteve e abriu os bra�os, com l�grimas nos olhos. L� no fundo, o professor tamb�m abre os bra�os e caminha em dire��o ao ex-aluno, hoje seu �dolo. No pequeno palco onde estava Daniel, os dois se abra�am, demoradamente. Nesse abra�o, cochichos nos ouvidos um do outro. Daniel s� queria agradecer. O professor o parabenizou e refor�ou que o ex-aluno � um exemplo. A partir da�, ningu�m mais se sentou no audit�rio. Os alunos correram para o palco e cercaram os dois.

"Nunca havia pensado em competir, em qualquer modalidade, embora fosse um sonho. Muito menos em jogar t�nis'

Daniel Rodrigues, tenista paral�mpico



DESTINO

A inf�ncia de Daniel foi dif�cil. Ele queria fazer tudo o que os outros meninos faziam, tinha suas limita��es por causa da atrofia, mas sempre deu seu jeito. Jogar futebol de muletas e ser goleiro de handebol eram momentos de extrema felicidade. E assim Daniel foi fazendo amizades e se tornando uma refer�ncia para os colegas, em especial, no esporte. “Nunca havia pensado em competir, em qualquer modalidade, embora fosse um sonho. Muito menos em jogar t�nis”, conta.

Mas uma troca de professores mudaria sua vida. A professora de hist�ria, Rosa, teve de tirar licen�a. E para seu lugar chegou o professor M�rio. Ele era ainda inexperiente. “Eu estava indo dar aula pela primeira vez. Tinha acabado de me formar. N�o tinha a menor ideia do que encontraria. E ainda falavam que a sala era dif�cil”, lembra ele.

Aos poucos, no dia a dia da escola, um menino de muletas chamou a sua aten��o. Apesar da dificuldade, ele participava das atividades esportivas. Acostumado a lidar com pessoas deficientes, M�rio resolveu ajud�-lo. “Meu pai, tamb�m M�rio, e minha m�e, Margarida, ambos com 72 anos, s�o cegos. Meu pai � um dos introdutores do Sistema Braille, na d�cada de 1960, em BH. Minha m�e � professora desse m�todo. Por causa disso, sou antenado, desde cedo, para trabalhos de inclus�o.”

M�rio conversou com Daniel e disse que tinha um amigo, o ex-vereador e hoje deputado federal Leonardo Mattos, que era do basquete em cadeira de rodas, e que gostaria que ele fosse tentar jogar. Fez o contato e Daniel seguiu o conselho.

“S� que quando cheguei na pessoa, n�o era basquete, mas sim t�nis em cadeira de rodas. Mesmo assim resolvi tentar. Sa�a todos os dias de Santa Luzia e ia para o Bairro Olhos D'�gua, em BH. Era dif�cil, mas resolvi que seria interessante e passei a jogar”, conta Daniel.

A partir da�, os dois perderam contato. O professor saiu da escola, Daniel continuou no t�nis e se tornou um atleta de ponta. Ele tinha muita vontade de reencontrar aquele que foi seu mentor. Da mesma forma, M�rio queria rever o ex-aluno para saber como � sua vida. Daniel contou que vive para jogar. “Eu fiquei, agora, nove semanas longe de casa, na Europa. Ganhei o Aberto da Su��a, num n�vel in�dito para um brasileiro. S� � abaixo do Grand Slam. Vou para o Pan e depois ser�o mais quatro semanas viajando na Am�rica do Norte, onde disputarei tr�s torneios: em Montreal, no Canad�; Saint Louis e Houston, nos EUA.”
 

"Hoje, aqui, � um dia especial, pois pude encontrar o Daniel e ver que ele � um vencedor. Isso � que � importante. Ele � um exemplo"

M�rio Alves de Oliveira J�nior, professor que encaminhou Daniel ao esporte paral�mpico


M�rio conta que agora n�o � s� professor, mas tamb�m contador de hist�rias. “A vida n�o � s� dar aula. Descobri que posso contar hist�rias e essa �, hoje, minha principal ocupa��o. Vou participar, por exemplo, da I Bienal do Livro Judaico, que acontecer� aqui em BH, de 24 a 29 desse m�s, no CCAIB, em comemora��o aos 35 anos do Instituto Hist�rico Israelita Mineiro. Mas hoje, aqui, � um dia especial, pois pude encontrar o Daniel e ver que ele � um vencedor. Isso � que � importante. Ele � um exemplo.”

Daniel conheceu sua esposa, Natália, depois que começou a jogar tênis na ONG Tênis Para Todos, onde ela trabalhava
Daniel conheceu sua esposa, Nat�lia, depois que come�ou a jogar t�nis na ONG T�nis Para Todos, onde ela trabalhava (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

CASAMENTO

Daniel � casado com Nat�lia Oliveira, de 31 anos, que entende os longos per�odos de aus�ncia do marido por causa das viagens. “Essa � a vida dele. � feliz assim, e eu com ele”, diz. Os dois est�o juntos h� oito anos, entre namoro e casamento, que aconteceu h� dois anos. A hist�ria deles come�ou quando ele passou a jogar na ONG T�nis Para Todos, no Bairro Olhos D'�gua. “L�, a Nat�lia trabalhava. Ajudava nos treinos. Ela � formada em fisioterapia e educa��o f�sica.”

Depois de um beijo roubado por Daniel, segundo Nat�lia, em pouco tempo Daniel a pediu em namoro. Marcar o casamento, segundo ela, foi mais complicado. “Ele n�o para aqui. A gente j� vinha conversando sobre isso. Um dia liguei pra ele e disse que a gente tinha de casar e que haviam tr�s datas poss�veis, que seria quando ele estaria em BH. Falei as datas e o mandei escolher. Foi o que fez. J� faz dois anos.”


PARAPAN-AMERICANO

E l� vai Daniel viajar novamente. O t�nis brasileiro no Parapan-Americano de Lima'2019 tem dois mineiros como destaque: ele e Meyricoll Duval, que h� duas semanas venceu o Internacional de BH. Os dois s�o favoritos ao t�tulo da competi��o, em Lima. “Vou para S�o Paulo na segunda-feira, e na ter�a embarcamos para Lima, para fazer uma aclimata��o antes do in�cio do torneio.”
 
Para Daniel, esse Parapan � especial. Ser� sua terceira participa��o no evento. Competiu em Guadalajara'2011, sendo desclassificado na primeira fase. Em Toronto'2015, duas medalhas: bronze no individual e prata nas duplas masculinas, em parceria com o brasiliense Carlos Santos. “Quero muito o ouro. � a medalha que falta. Nunca estive no lugar mais alto do p�dio. E se esse ouro vier, completarei um ciclo, pois terei as tr�s medalhas, um sonho realizado.”
 
Daniel chega a Lima como segundo cabe�a de chave. O primeiro � o argentino Gustavo Fernandez, n�mero 1 do ranking mundial de cadeirantes. Daniel � o 12º dessa lista. Subiu ao vencer na Su��a. “� um advers�rio muito dif�cil. Mas espero chegar � final contra ele e vencer.”
O tenista foi recepcionado pelos estudantes no auditório da escola e contou a eles sua história de luta até chegar a ser um atleta paralímpico de ponta
O tenista foi recepcionado pelos estudantes no audit�rio da escola e contou a eles sua hist�ria de luta at� chegar a ser um atleta paral�mpico de ponta (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
 
 

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