
A profunda crise econ�mica causada pelo novo coronav�rus vai muito al�m da perda de receitas dos clubes grandes e pequenos do futebol brasileiro. Os preju�zos atingem as administra��es da maioria dos est�dios do pa�s, muitos deles totalmente remodelados para a Copa do Mundo de 2014. Sem receber jogos ou eventos, o cen�rio � de apreens�o, j� que eles s�o respons�veis pela manuten��o de empregos diretos ou indiretos. Em Minas, gestores do Mineir�o e do Independ�ncia tentam se ambientar a uma nova realidade em busca de sobreviv�ncia durante a pandemia, ainda que haja quedas assustadoras na arrecada��o.
O Gigante da Pampulha conta atualmente com um repasse de cerca de R$ 8 milh�es do governo do estado, que est� sendo mantido mesmo com a pandemia. De acordo com estudo do Instituto de Pesquisas Econ�micas e Administrativas (Ipead), da UFMG, o est�dio teve um faturamento de R$ 660 milh�es at� o ano passado, sendo R$ 487 milh�es em jogos e R$ 173 milh�es em eventos culturais. No ano passado, a Minas Arena, que administra o empreendimento, recebeu 251 eventos.

Apesar das altas cifras acumuladas, a empresa precisou se readequar nos gastos. “Ainda � cedo para afirmar sobre preju�zos, mas sabemos que n�o ser� um ano de expans�o como est�vamos acostumados. Para 2020, projet�vamos um crescimento em torno de 30%, al�m da manuten��o dos jogos do Cruzeiro e de grandes festivais que marcavam presen�a em nossa agenda. Era sabida tamb�m por todos a volta do Atl�tico, como mandante frequente. Para esse crescimento, t�nhamos contratado alguns refor�os para a equipe, ainda em contrato de experi�ncia, que foram terminados. Os demais funcion�rios foram mantidos. Todos os contratos de servi�os foram renegociados”, ressalta Samuel Lloyd, diretor comercial da Minas Arena.
O Mineir�o j� tinha grandes eventos programados para 2020. A banda de heavy metal Metallica iria se apresentar no est�dio, mas o show foi adiado para dezembro – os ingressos estavam praticamente esgotados. Neste per�odo de pandemia, a Minas Arena vem fazendo um projeto das lives. A primeira a se apresentar foi o Skank. A gestora do est�dio tamb�m aproveitar� o per�odo para fazer manuten��es e reparos na estrutura.
Se v�rios funcion�rios precisaram negociar individualmente seus contratos, o mesmo n�o se pode dizer dos servi�os indiretos que t�m rela��o com o Mineir�o “O maior impacto n�o � interno, mas em diversos neg�cios e pessoas que dependem da atividade, assim como, em nossos parceiros de conte�do, como clubes e produtores culturais, para se garantirem de forma sustent�vel. O est�dio � uma locomotiva que carrega milhares de empregos. S�o redes hoteleiras, motoristas e meios de transporte, profissionais de eventos, seguran�as, bombeiros civis, profissionais da alimenta��o, com�rcio, servi�os e muito mais. � muita gente que se beneficia da nossa atividade”, explica Lloyd.
Ainda que o retorno dos eventos de aglomera��es n�o tenha data prevista, ele entende que o est�dio ter� papel importante quando o per�odo de pandemia for superado: “Inicialmente, voltaremos sem torcida, mas com um retorno gradual dos torcedores. Estamos certos de que o Mineir�o ganha ainda mais relev�ncia na retomada e em seu papel hist�rico de auxiliar os clubes mineiros a cativarem seus torcedores e se recuperarem financeiramente no futuro pr�ximo. Sempre foi assim”.
Contratos suspensos
Nesse momento de pandemia, o Independ�ncia, que durante o ano sedia partidas do Am�rica e do Atl�tico, tem a situa��o mais preocupante. A administradora Luarenas optou pela suspens�o do contrato de cerca de 20 funcion�rios que trabalham na empresa por tr�s meses, conforme a medida provis�ria 936 sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro no in�cio da pandemia. H� ainda pelo menos 200 pessoas que perderam renda com a suspens�o do futebol, casos dos prestadores de servi�os e comerciantes do entorno da arena.
“Existem hoje dois Indep�nd�ncias distintos. H� aquele que o torcedor vai, olha, vibra e aproveita os jogos. E tem tamb�m a empresa, que tem contas a pagar e um custo operacional mensal alto. Sem receita, ele n�o sobrevive se n�o tiver aportes para sustent�-lo. Estamos com faturamento zerado, j� que n�o temos camarotes ou aluguel do est�dio, bares e estacionamento. Tudo isso � atrelado ao controle do est�dio”, explica Fl�vio Portela, vice-presidente da Luarenas, que de 2014 a 2018 tamb�m administrou o Castel�o.
De acordo com o gestor, o Independ�ncia atualmente gera um custo operacional de cerca de R$ 400 mil mensais. Com a pandemia, o preju�zo ficou em torno de R$ 250 mil mensais. A administra��o manteve apenas os servi�os b�sicos do Horto, como a manuten��o do gramado, tecnologia e funcionamento do sistema de geradores. Diferentemente do Mineir�o, a arena n�o recebe repasse do governo do estado.
O panorama pode at� piorar no caso da volta dos jogos sem p�blico. Portela entende que a realidade ser� totalmente diferente quando as autoridades de sa�de liberarem a volta das partidas no Brasil. “Estamos acompanhando o que vem ocorrendo na Alemanha e na Fran�a, e n�o est� sendo f�cil. Certamente, vamos ter de discutir o melhor para todas as partes. Os clubes brasileiros dependem muito de bilheteria e s�cio-torcedor. Se esses valores forem cortados, fica muito mais complicado. H� ainda o fator psicol�gico do futebol, j� que o jogador n�o ter� o calor humano. Os times ter�o que reaprender a jogar em casa”.
ENQUANTO ISSO...
Gramado vira hospital
Sem receber partidas nesse per�odo de pandemia, diversos est�dios do pa�s se transformaram em hospitais de campanha. O Pacaembu, que em 2020 completou 80 anos de sua constru��o, foi o primeiro a ter uma estrutura para atender pacientes da COVID-19. O est�dio, que comporta 40 mil torcedores, tem 192 leitos de baixa complexidade e oito semi-intensivos para doentes, e come�ou a receber pessoas infectadas no m�s passado. J� o Man� Garrincha, em Bras�lia, est�dio mais caro do Brasil (custou R$ 1,2 bilh�o para a Copa de 2014), recebeu 200 leitos em seu primeiro andar. O Maracan� conta com 400 leitos, sendo 80 de UTI. Em Salvador, a Fonte Nova tem vagas para 100 pacientes da doen�a. Outro est�dio que se transformou em hospital foi o Presidente Vargas, no Cear�, que tem capacidade para 204 leitos num dos estados com mais infectados do Brasil. O Mineir�o chegou a ser oferecido para receber hospital de campanha, mas o governo de Minas optou pelo Expominas para instalar os cerca de 790 leitos.