
A plagiocefalia � a assimetria de cr�nio mais comum em crian�as. H� casos em que a posi��o intrauterina faz com que o beb� j� saia da barriga da m�e com a deformidade, principalmente em gravidez de g�meos. O que mais se v�, no entanto, � a doen�a surgir depois do nascimento. A principal causa � o v�cio de postura, como explica o cirurgi�o vascular paulistano Gerd Schreen, que se especializou em assimetria craniana. “A m�e deixa o filho no beb�-conforto enquanto arruma a casa. Vai passear e o coloca na cadeirinha do carro. Depois, passa a crian�a para o carrinho, ent�o ela fica quase o dia inteiro com a regi�o posterior da cabe�a apoiada.” Essa rotina � capaz de provocar o achatamento, porque o c�rebro n�o encontra espa�o para crescer na �rea em que est� sempre apoiado.
A deformidade pode se agravar quando associada ao torcicolo cong�nito. Como o beb� nasce com um dos m�sculos do pesco�o mais curto, o m�dico esclarece que o movimento de rota��o fica limitado e a tend�ncia � a cabe�a ficar sempre apoiada em um �nico lado.
Schreen foi quem trouxe o tratamento norte-americano para o Brasil, h� tr�s anos. Ele nunca tinha ouvido falar em plagiocefalia quando sua filha, na �poca com cinco meses, recebeu o diagn�stico. Ao ouvir de cinco m�dicos que a cabe�a da menina ia ficar torta, pois n�o havia tratamento, o cirurgi�o vascular mudou-se com a fam�lia por seis meses para os Estados Unidos, onde os beb�s usavam �rtese craniana para corrigir a falha. “Um tratamento relativamente simples me custou um apartamento”, conta.
Satisfeito com o resultado, Schreen estudou a plagiocefalia para oferecer o tratamento em S�o Paulo. No lugar do molde de gesso, o m�dico usa o escaneamento tridimensional a laser, exame que avalia a deformidade e gera uma imagem computadorizada. Isso permite produzir a �rtese sob medida nos Estados Unidos, com prazo de 14 a 17 dias para chegar ao Brasil. “O capacete � feito de material pl�stico, r�gido na parte externa e com espuma densa no interior que proporciona contato com as �reas proeminentes e deixa espa�o onde o c�rebro precisa crescer”, esclarece. “Em nenhum momento ele empurra a regi�o proeminente para dentro, pois isso significaria dor e inc�modo.”
Os pais s�o orientados a deixar a crian�a com a �rtese por 23 horas por dia e tir�-la apenas para o banho. A cada 15 dias, o beb� volta ao consult�rio para o m�dico ajustar o capacete de acordo com o crescimento da cabe�a. Em geral, o tratamento dura de tr�s a quatro meses e o resultado � definitivo. No entanto, seu custo ainda � alto para grande parte da nossa popula��o: algo em torno de R$ 10 mil.
A Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) n�o reconhece a �rtese craniana como solu��o para tratar a plagiocefalia. “O assunto � controverso. H� equipes nos Estados Unidos que usam o capacete, mas n�o � uma conduta un�nime. Ainda faltam trabalhos cient�ficos comprovando sua real efic�cia”, pontua a neuropediatra Marli Marra de Andrade, presidente do Comit� de Neurologia Infantil da SMP.
A m�dica defende que a mudan�a de postura j� � suficiente para resolver o problema. “O rec�m-nascido dorme muito e passa a maior parte do tempo deitado. Como n�o est� na fase de rolar sozinho, fica sempre na posi��o em que a m�e o coloca. Com seis meses, a crian�a come�a a se movimentar na cama e o achatamento vai melhorar”, afirma. No tratamento convencional, avalia-se a deformidade com exame de neuroimagem, tomografia computadorizada ou raio-X, e com controle mensal para medir o cr�nio com uma fita m�trica. Quando a plagiocefalia est� associada ao torcicolo cong�nito, � indicada a fisioterapia.
Para Schreen, o tratamento com a �rtese craniana deve ser iniciado o quanto antes, depois de completados tr�s meses de vida. “Ou voc� trata no primeiro ano de vida, per�odo em que o crescimento da cabe�a � maior, ou n�o trata mais”, observa. O m�dico paulistano explica por�m, que tenta primeiro o reposicionamento, orientando os pais a colocarem a crian�a para fazer as atividades sem apoiar a regi�o achatada, antes de recomendar o capacete. A exce��o ocorre quando o beb� tem mais de seis meses e apresenta assimetria severa. Gerd Schreen ele alega que nesse caso n�o h� prazo suficiente para corrigir a deformidade. J� a neuropediatra defende que a plagiocefalia se resolve com o tempo, mesmo quando detectada depois do primeiro ano de vida.
Independentemente do tratamento escolhido, a detec��o precoce � importante para descartar o diagn�stico de cranioestenose, doen�a mais grave s� solucionada com interven��o cir�rgica urgente. Isso porque as placas �sseas do cr�nio, que nascem separadas, fecham-se antes da hora e o c�rebro fica sem espa�o para crescer. “Al�m do achatamento do cr�nio, a doen�a pode ter consequ�ncias graves. A crian�a pode apresentar deformidade na face e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor”, explica a neuropediatra mineira. Marli diz que o ideal � operar a crian�a com craniostenose preferencialmente at� os seis meses de idade, n�o podendo passar de um ano.
Posi��es alternadas
Em 1992, a Academia Americana de Pediatria recomendou que os beb�s deveriam dormir sempre com a barriga para cima. Isso ajudou a reduzir o n�mero de mortes s�bitas, mas influenciou diretamente na incid�ncia da plagiocefalia, o que n�o significa que a crian�a tenha que mudar a posi��o na hora de dormir. Especialistas dizem que a recomenda��o dos norte-americanos deve ser mantida, mas os pais devem aproveitar o momento em que o beb� estiver acordado para deix�-lo de barriga para baixo, evitando que fique muito tempo com a regi�o da nuca apoiada. Al�m de evitar o achatamento do cr�nio, a posi��o ajuda a desenvolver os m�sculos que a crian�a precisa para rolar, sentar e engatinhar e melhora a atividade motora. Abaixo, as dicas dos m�dicos brasileiros para evitar a plagiocefalia:
>> Alterne sua posi��o no momento de trocar a fralda. Coloque-se
ligeiramente de lado para estimular o beb� a mover a cabe�a para o lado que voc� desejar e converse com ele de lados alternados;
>> Alterne o bra�o que voc� usa para amamentar a crian�a e a posi��o que a segura no colo;
>> Mude a posi��o do ber�o, do carrinho, da banheira e do assento de autom�vel, fazendo com que os est�mulos que interessem ao beb� cheguem preferencialmente do lado que precisa ser mais usado;
>> Posicione os brinquedos e outros est�mulos visuais no lado do ber�o para o qual a crian�a tem dificuldade de girar a cabe�a. Isso vai favorecer a rota��o do pesco�o;
>> Evite deixar o beb� por tempo exagerado em ber�os e cadeirinhas de autom�veis, exceto, � claro, quando estiver no carro, condi��o em que o uso � obrigat�rio por quest�es de seguran�a.

