Apesar do apelo, Valm�ria n�o quis mostrar o traje para a reportagem. Afinal, o matrim�nio ainda ser� em julho e d� azar o noivo ver antes, como diz a cren�a popular. Logo de cara, a professora encomendou dois vestidos. Um para ela e outro para a prima, que entrou no clima da aventura e resolveu comprar tamb�m. “Dividimos o frete e fizemos juntas as medidas e o pedido”, detalha. Ela conta que compra de tudo na internet: de roupas a livros, principalmente em p�ginas estrangeiras. “O carteiro j� at� deve me conhecer.”
Menos que aluguel
A mineira pesquisou em v�rios sites indicados pelas amigas, entre americanos e chineses. N�o olhou nenhum modelo em lojas f�sicas, s� na internet. “O primeiro vestido de noiva que vesti foi o meu. Isso � fant�stico. Agrade�o ao mundo virtual por ter me poupado mais um trabalho, que � o de experimentar aqueles vestidos enormes”, brinca. Ao final, acabou comprando o modelito no Superb Wedding Dresses, diretamente da China. Ela confessa que nem deu conta de olhar todos os vestidos dispon�veis. “Um mais lindo do que outro e bem parecidos com os das lojas aqui no Brasil.”
As d�vidas quanto ao tecido foram resolvidas via chat. A maioria dos sites oferece a op��o de conversa on-line, alguns com op��es de outros idiomas, mas o ingl�s sempre prevalece. “Coloquei em uma planilha os links dos vestidos de que gostava e a descri��o do tecido. Depois dessa etapa do trabalho, fui procurar pelos panos para tentar imaginar melhor o meu vestido”, explica Valm�ria, esclarecendo que pagou cerca de R$ 850 pelo produto. Ela comprou um dos vestidos mais caros do portal e, em terras tupiniquins, somente o aluguel j� ficaria com valor mais alto.
O pagamento foi feito via Paypal, servi�o que permite que voc� envie dinheiro a qualquer pessoa com e-mail. � preciso cadastrar o cart�o de cr�dito (deve ser habilitado para compra internacional). O valor, normalmente, � cobrado na fatura seguinte, de forma integral. A convers�o de moedas � feita no dia da compra. Valm�ria foi precavida com a encomenda. Pesquisou sobre a compra de vestidos na internet e, principalmente, acerca de reclama��es sobre os sites em blogs especializados e nas redes sociais. Todo esse processo levou quase dois meses. Todo dia, ela lia um pouco sobre o assunto e s� parou quando virou expert no tema e j� encontrava conte�do repetido.
“Li toda a pol�tica de troca e de envio do site escolhido e sempre entrava no chat para tirar d�vidas, pois queria testar se havia pessoas trabalhando na empresa. Mandava e-mail perguntando por algo e sempre obtive resposta rapidamente”, afirma. A noiva chegou a fazer um pedido de um bolero de renda antes para testar o servi�o. “As pessoas foram t�o atenciosas e estavam sempre de prontid�o que confiei”, conta.
Em m�os
Apesar do medo, a encomenda chegou em menos de um m�s, em perfeito estado, com as modifica��es sugeridas por Valm�ria. “Entrou no meu corpo como se tivesse feito a prova. N�o tenho o que reclamar, foi at� melhor do que esperava”, afirma. Mas a professora ressalva que tinha o “plano B” de alugar um vestido no Brasil, caso desse algo errado. Para se antever ao problema, ela fez a compra com oito meses de anteced�ncia e, al�m disso, gravou todas as conversas do chat. “Fiz mais medidas do que o site sugeria, passei tudo por e-mail e pedi confirma��o, obtive a resposta em menos de 12 horas”, acrescenta.
Todas essas medidas n�o impediram que Valm�ria quase tivesse um ataque quando, ao acompanhar seu pedido, descobriu que a compra n�o constava no site. Reclamou por bate-papo, colocaram o link e na outra semana ele havia sumido novamente. “J� tinha cansado de reclamar e pensei: seja o que Deus quiser! Vou relaxar e esperar. Esse pedido nunca apareceu mais na minha �rea restrita do portal, nem nos meus hist�ricos de compras... Mas o vestido chegou, � o que importa”, conclui.
- E o vestido, j� escolheu?
- Sim, pela internet.
Nada como uma resposta assim para despertar in�meras interjei��es dos parentes e acusa��es contra a insanidade mental da noiva em quest�o. Priscila Mar�al Pereira, enfermeira belo-horizontina, de 29 anos, que hoje mora em Dubai (Emirados �rabes), respondia firme e tranquila � pergunta, mas por dentro estava em nervos. “As pessoas queriam me matar, me chamavam de louca, quase ningu�m botava f�”, relembra.
Enfim, ela se casou com o vestido comprado pela rede em um site chin�s, mas a sua hist�ria teve uma pitada a mais de emo��o do que a de Valm�ria Filgueira. A enfermeira conta que acompanhava diariamente pela web onde o vestido estava. De Hong Kong para Londres e depois para Guarulhos. Em cinco dias ele j� estava no Brasil. A� come�ou a sua via-cr�cis, porque o vestido ficou retido na Receita Federal. Com a demora, ela resolveu entrar em contato com a transportadora. Ent�o, descobriu que a fabricante havia declarado o valor m�nimo de US$ 50 para n�o haver a necessidade de pagar impostos.
“Na �poca eu morava em S�o Paulo e coloquei a entrega para o endere�o dos meus pais, em Belo Horizonte, para facilitar a log�stica e aumentar minha dor de cabe�a”, detalha. Os agentes da Receita exigiram os comprovantes da compra e depois de enviados recalcularam a cobran�a de impostos para US$ 400, mais a aplica��o de uma multa. “Comprei o vestido por US$ 309. Ap�s tudo isso, recebi o valor a ser pago para liber�-lo: R$ 1.391,17 ”, lamenta. Mesmo entrando em contato com a empresa e exigindo uma posi��o, pois eles haviam feito uma declara��o falsa que a prejudicou, ela n�o conseguiu cancelar o pagamento da multa. “Ainda com a cobran�a abusiva de impostos, saiu para mim quatro vezes mais barato que o mesmo vestido na loja do Brasil, que custava cerca de R$ 8 mil”, ressalta.
Apesar de todos esses problemas, Priscila recomenda a compra de vestidos de noivas pela internet e j� passou o endere�o do site para quatro pessoas que a procuraram. “S� precisa combinar com a empresa o valor real a ser declarado. E, claro, a noiva deve experimentar o modelo do vestido de que gostou em uma loja f�sica”, ressalva a enfermeira, contando que anotou os modelos dos estilistas de que mais gostou e agendou visitas �s lojas que tinham os vestidos originais. Al�m disso, ela leu toda a pol�tica de venda do site, condi��es de pagamento e entrega. “Tamb�m verifiquei os depoimentos que havia de outros clientes”, acrescenta.
#fikdica
Qualquer produto enviado ao Brasil precisa ser declarado e, se for acima de US$ 50, h� cobran�a de 60% em cima do valor do produto importado. Al�m disso, Minas Gerais cobra uma sobretaxa estadual.
Dicas de Valm�ria e Priscila
» Pedir para n�o fazerem a barra do vestido, para ajust�-la com o sapato. Para isso n�o pe�a um modelo com saia em renda.
» Pedir que o fecho seja igual a um espartilho e n�o com z�per, assim voc� poder� apertar ou deixar mais largo, de acordo com seu corpo na �poca do casamento.
» Comprar uma numera��o acima, depois � s� apertar com uma costureira de confian�a.
» Pe�a uma foto do vestido pronto e exija o localizador para acompanhar a sua encomenda na transportadora.
» Utilize tabelas de convers�o de medidas, como o www.convertworld.com.
Breno Koscky, 34 anos, especialista em e-commerce e criador do portal Mercado E-commerce (mercadoecommerce.com.br), diz n�o duvidar de mais nada que possa ser vendido pela internet. “O mercado � uma loucura”, brinca. Segundo ele, os clientes que compram vestidos de noivas on-line visam primeiro o pre�o. A maioria dos sites � da China, pa�s com grande capacidade de reproduzir modelos da alta-costura e fabric�-los com baixo custo. “Tem gente se dando bem e mal. A noiva que optar por isso, deve fazer um planejamento. A encomenda vai demorar a chegar e pode n�o vir como ela pensou”, adverte.
Koscky acredita que esse mercado deve crescer, porque o valor do produto � bastante inferior ao encontrado nas lojas brasileiras. Segundo ele, h� tr�s anos a pr�tica vem se tornando popular no Brasil. Nos Estados Unidos j� � algo comum. “� mais vantajosa essa compra, mas tem gente que n�o est� tomando os cuidados b�sicos, como assegurar a qualidade do produto, a reputa��o do vendedor e se o tamanho corresponde ao que ela est� imaginando”, afirma.
O especialista diz que o primeiro passo ao decidir pela compra virtual � buscar refer�ncias. Feito isso, � preciso guardar arquivos que comprovam o pagamento do produto. Salve a tela com a foto e medidas do vestido para poder argumentar com a empresa se a encomenda vier errada. Outro ponto � pensar se compensa a economia. “A m�dia de vestidos no exterior � de US$ 300. Mas ainda ser� preciso pagar uma costureira para ajustes, mais o valor do imposto de importa��o”, avisa. E, por fim, pensar no prazo de entrega. Leva-se um m�s para fazer, mas pode atrasar de um a tr�s com facilidade. “A noiva tem que ter um plano B, caso a compra n�o chegue”, recomenda.
Segundo Koscky, no ano passado o e-commerce no pa�s movimentou R$ 18 bilh�es e a expectativa � que cres�a 25% em 2012. “Com o acesso f�cil � informa��o, as pessoas est�o perdendo o medo de negocia��es on-line. E os sites e sistemas de pagamento virtual garantem a seguran�a”, complementa. Para ele, o problema do mercado brasileiro � que muitas empresas cresceram demais, vendem muito, mas n�o t�m estrutura suficiente para atender como deveriam. Isso, somado � log�stica deficiente do pa�s, gera o alto �ndice de reclama��o nas entregas.
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