
De acordo com Dan Zakay, professor de psicologia cognitiva da Universidade de Telavive, em Israel, diversos fatores influenciam na percep��o psicol�gica do tempo, sendo que o contexto desempenha um papel fundamental. Por exemplo, a recorda��o de um evento provavelmente ser� interpretada, em termos de dura��o, de maneira diferente da percep��o que se tem de uma atividade que est� acontecendo no presente. Ao se lembrar de um acontecimento, as pessoas evocam a quantidade de informa��o recebida naquele momento para avaliar se foi longo ou curto — quanto mais dados armazenados, maior parecer� o intervalo. Por�m, quando est� desempenhando uma tarefa tediosa, provavelmente algu�m vai achar que as horas est�o se arrastando mais do que, de fato, registra o rel�gio.

“Durante um intervalo id�ntico de tempo, mais ou menos informa��es podem ser estocadas, e isso ter� influ�ncia na nossa percep��o”, diz. Quando se pede para algu�m resolver um problema dif�cil de aritm�tica, como uma multiplica��o complexa, mais dados ser�o processados e armazenados do que durante uma opera��o simples, como a adi��o. “Mais tarde, se perguntarmos � pessoa que fez as contas qual das duas parece ter tomado mais tempo, mesmo quando foram resolvidas exatamente no mesmo intervalo, ela vai eleger a multiplica��o”, afirma Zakay, baseado em testes que simularam situa��es semelhantes.
O psic�logo conta que um desses estudos sobre o que ele chama de tempo retrospectivo consistiu em mostrar aos participantes duas figuras: um c�rculo (simples) e um pol�gono irregular (complexo). Depois, os volunt�rios tinham de estimar o tempo de exposi��o aos objetos, que, sem que soubessem, tinha sido id�ntico. “Os participantes expostos � figura simples acreditaram que passaram um tempo muito menor diante delas comparando-se com os que viram o pol�gono complexo”, diz. Como, no primeiro caso, o n�vel de informa��o estocado na mem�ria foi bem mais baixo, a impress�o foi de que o tempo passou mais r�pido.
Aten��o
A coisa muda quando se trata de experimentar o tempo no presente. Nesse caso, quanto mais informa��es precisam ser processadas, mais r�pida a tarefa parecer�. Outro experimento citado por Zakay consiste em recrutar tr�s pessoas para fazerem contas matem�ticas no mesmo intervalo de tempo. A primeira tem de executar um c�lculo simples, a segunda resolve um problema complexo e a terceira n�o faz nada.
“Antes de a experi�ncia come�ar, dizemos aos tr�s que precisam estimar, da maneira mais precisa poss�vel, o tempo que est�o gastando. O que acontecer�? Diversos testes similares, usando diferentes tipos de atividades mentais, indicam que a pessoa que n�o fez nada pensar� que se passou muito mais tempo. J� a que ficou com o exerc�cio complexo � a que julgar� o intervalo mais curto”, conta o psic�logo. Nesse caso, � a aten��o, e n�o o armazenamento de informa��es, que exerce o principal papel na percep��o do tempo. Ao saberem que ter�o de estimar os minutos ou as horas de uma tarefa que ainda v�o desempenhar, as pessoas ficam atentas ao tempo, e isso ter� influ�ncia na forma que a mente compreende a sua passagem.
O leite demora a ferver quando vigiado porque a aten��o de quem acendeu o fogo est� focada na leiteira. Assim como um terremoto parece ter durado muito mais tempo por quem o presencia, j� que a vontade que passe logo � grande. “De forma similar, quando estamos esperando um amigo, aguardando que o sinal de tr�nsito abra ou que o operador de telemarketing nos atenda, nos focamos em quando isso vai acontecer. H�, portanto, uma alta relev�ncia temporal”, diz Zakay. Por outro lado, em f�rias ou durante uma atividade prazerosa, o rel�gio � o �ltimo objeto a ser considerado. “Quando estamos descansando ou vendo um bom filme, podemos ter a impress�o de que o tempo n�o est� passando. Ma, se consultarmos as horas, ficaremos assustados ao ver quanto tempo se passou sem que tiv�ssemos percebido”, afirma o especialista.
Em vez de desejar mais ou menos tempo em suas vidas, as pessoas deveriam mudar sua percep��o, diz o psic�logo Michael DeDono, que fez seu doutorado sobre este tema, na Universidade de Case Western Reserve, nos Estados Unidos. “Hoje em dia, uma das maiores reclama��es que se ouvem �: ‘N�o tenho tempo para nada’. O que afeta aqueles que se sentem assim n�o � o tempo propriamente dito, mas a percep��o que eles t�m sobre ele”, acredita. Em um dos estudos que realizou para a tese, DeDono dividiu 163 volunt�rios em dois grupos: o primeiro foi informado que o tempo para realizar a tarefa era insuficiente, enquanto, para o outro, o pesquisador afirmou que havia tempo de sobra. Na realidade, o intervalo para ambos era o mesmo, e todos sabiam quantas horas tinham para executar o trabalho.
O que importava n�o era o tempo real, mas a press�o exercida pelo pesquisador. De vez em quando, DeDono voltava a alertar o primeiro grupo de que o tempo era curto, ainda que o rel�gio mostrasse aos volunt�rios o contr�rio. Mesmo assim, o psic�logo percebeu que, quando dizia que eles n�o conseguiriam terminar a tarefa no prazo estipulado, o desempenho piorava muito. Por outro lado, o segundo grupo ouvia que o tempo era suficiente at� quase o fim. Os ponteiros n�o intimidaram os participantes, que, ao serem informados que conseguiriam terminar o teste, se sa�am muito bem. “N�s n�o controlamos o tempo, mas podemos controlar nossa pr�pria percep��o. � incr�vel o tanto que voc� pode fazer, mesmo com uma quantidade limitada de tempo, se voc� tem confian�a de que � poss�vel”, ensina.
Medo
“Eventos assustadores est�o associados a mem�rias mais ricas e densas. Quanto mais recorda��es voc� tem de um fato, mais tempo voc� vai atribuir a ele”, explica Eagleman. “� por isso que parece que o tempo voa � medida que voc� cresce. Quando crian�a, tudo � novidade, ent�o as experi�ncias ficam bem marcadas e ricas. Mais velhos, j� vimos de tudo um pouco, e as mem�rias que guardamos de fatos e eventos do dia a dia v�o encolhendo. No fim do ver�o, a crian�a olha para tr�s e parece que aquela esta��o durou para sempre. Para os adultos, a impress�o � de n�o ter durado quase nada.”

