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Estado de Minas ESPIONAGEM

Como identificar se seus dispositivos eletr�nicos est�o te espionando

O software usado para espionar algu�m por meio do telefone � uma amea�a crescente e comum em casos de viol�ncia dom�stica.


27/12/2021 08:04 - atualizado 27/12/2021 09:28

Mulher com notebook e celular
O Google j� removeu v�rios an�ncios de aplicativos que incentivam os usu�rios em potencial a espionar o telefone de seus parceiros (foto: Getty Images)

Maria diz que cresceu em uma fam�lia cat�lica e "amorosa" na costa leste dos Estados Unidos, que fazia grandes jantares de domingo. Os pais dela tinham um bom casamento e ela queria esse tipo de respeito e proximidade em seu pr�prio relacionamento.

Quando ela conheceu o marido com vinte e poucos anos, foi amor � primeira vista.

Mas o romance azedou rapidamente, transformando-se em uma hist�ria de 25 anos de abuso e controle.

Primeiro, foi o xingamento. Ent�o, o controle total de suas finan�as, seus movimentos e, eventualmente, sobre seus tr�s filhos.


O marido se op�s � ideia de ela ter um emprego onde pudesse interagir com outras pessoas e a proibiu de usar o computador.

"Ele me chamava de gorda todos os dias e me expulsava de casa quando estava com raiva", lembra ela.

Eventualmente, o abuso financeiro aumentou. Primeiro, ele tomava o sal�rio que ela recebia pelo trabalho como faxineira, depois, solicitou cart�es de cr�dito em nome de Maria usando os documentos pessoais dela.

Seis anos atr�s, Maria finalmente desabou quando o ouviu dizer que a queria morta. Com a ajuda da igreja que ela frequentava e da fam�lia, ela formulou lentamente um plano de fuga.

Depois de ter a sua casa hipotecada, ela finalmente foi morar com a irm�. Ela ganhou um laptop pela primeira vez e finalmente teve a liberdade de abrir uma conta no Facebook. E come�ou a namorar.

Mas logo o ex-marido passou a responder as mensagens para o homem com quem ela estava saindo. E tamb�m come�ou a aparecer onde quer que ela estivesse.

De repente, ela o localizaria dirigindo atr�s dela em uma rodovia. Certa vez, ela estava com tanto medo de que ele a estivesse perseguindo e pudesse puxar uma arma, que chamou a pol�cia.

Embora ela n�o tenha prestado queixa, a persegui��o acabou diminuindo e ela se afastou ainda mais. Mas ela descobriu que tinha sido v�tima do chamado stalkerware.

Stalkerware � um software dispon�vel comercialmente que � usado para espionar outra pessoa por meio de seu dispositivo - geralmente um telefone - sem seu consentimento.

Ele pode permitir que o usu�rio veja as mensagens de outra pessoa, localiza��o, fotos, arquivos e at� mesmo vasculhar conversas nas proximidades do telefone.


Eva Galperin, que formou a Coalition Against Stalkerware em 2019
Algum tipo de tecnologia quase sempre est� envolvida em viol�ncia dom�stica, diz Eva Galperin (foto: CAS)

Para ajudar a resolver o problema, Eva Galperin formou a Coalition Against Stalkerware em 2019.

Ela decidiu formar o grupo depois de olhar os relatos de v�rias supostas v�timas de estupro, que estavam com medo de que suas vidas continuassem sendo arruinadas pelos agressores por meio da tecnologia. Quando algu�m tem acesso ao seu telefone, o potencial de explora��o � enorme, explica ela. Por exemplo, uma v�tima pode ser chantageada com amea�as de compartilhar fotos �ntimas.

Galperin diz que nos casos de viol�ncia dom�stica que ela encontra, "algum n�vel de abuso habilitado por tecnologia est� quase universalmente presente", e que isso geralmente inclui stalkerware.

"Geralmente est� relacionado aos casos mais violentos - porque � uma ferramenta poderosa de controle coercitivo", acrescenta ela.

Uma pesquisa indica que a prolifera��o de stalkerware � um problema crescente: um estudo do Norton Labs descobriu que o n�mero de dispositivos indicando que eles tinham stalkerware instalado aumentou 63% entre setembro de 2020 e maio de 2021.

O relat�rio sugeriu que o aumento significativo pode ter sido causado pelo isolamento social, quando as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa.

"Os pertences pessoais est�o mais acess�veis, provavelmente criando mais oportunidades para os abusadores instalarem aplicativos de stalker nos dispositivos de seus parceiros", constatou o relat�rio.

Nos �ltimos dois anos, Galperin conseguiu convencer um punhado de empresas de antiv�rus a identificar esse tipo de software como malicioso. Isso ocorreu ap�s uma relut�ncia inicial em marcar o stalkerware como um programa indesejado - ou malware - por causa de sua poss�vel legitimidade de uso.

Em outubro, o Google removeu v�rios an�ncios de aplicativos que incentivam os usu�rios em potencial a espionar o telefone de seus parceiros. Esses aplicativos costumam ser comercializados para pais que desejam monitorar os movimentos e as mensagens de seus filhos - mas, em vez disso, foram reaproveitados por abusadores para espionar seus c�njuges.


Washington DC, fachada do Federal Trade Commission,
Autoridades dos EUA t�m reprimido empresas que vendem softwares que permitem aos usu�rios espionar outros dispositivos (foto: Getty Images)

Um desses aplicativos, o SpyFone, foi banido pela Comiss�o Federal de Com�rcio dos Estados Unidos em setembro de 2021 por coletar e compartilhar dados sobre os movimentos e atividades das pessoas por meio de um hack oculto no dispositivo.

Apesar desses movimentos positivos, alguns aplicativos de stalkerware e conselhos sobre como us�-los ainda s�o facilmente acess�veis na internet.

De acordo com Galperin, o pr�ximo problema que a FTC est� investigando s�o as empresas que vendem e compram dados de localiza��o de telefones de usu�rios sem o conhecimento deles. Ela chama essa tecnologia de "uma ferramenta extremamente poderosa" para investigadores particulares, que a usam para rastrear a localiza��o das v�timas.

Com o stalkerware deliberadamente projetado para ser dif�cil de detectar, mesmo aqueles que s�o mais experientes em tecnologia ainda podem ser v�timas dele.

Uma dessas pessoas era Charlotte (nome fict�cio), de uma analista s�nior de seguran�a cibern�tica.

Logo depois de ficar noiva, ela lentamente percebeu que coisas estranhas come�aram a acontecer com seu telefone. A bateria descarregava rapidamente e ele reiniciava repentinamente - ambos sinais reveladores de um stalkerware potencialmente instalado no dispositivo dela.

At� que o parceiro dela deixou claro que ele sempre sabia onde ela estava, e foi quando ela finalmente conectou os pontos.

Para obter alguns conselhos sobre o que fazer, ela foi a um encontro de hackers. A reuni�o aconteceu em um local onde o noivo dela havia trabalhado e ela conhecia alguns dos rostos.

Ela ficou chocada ao descobrir que existe uma cultura de aceita��o de que parceiros possam rastrear um ao outro.

O ambiente de "irmandade" entre homens da �rea de tecnologia que ela encontrou a estimulou a entrar na seguran�a cibern�tica, para refor�ar a "representa��o a partir de diferentes perspectivas".


Homem em frente a diversos computadores
Algumas pessoas no mundo da tecnologia n�o veem nada de errado em rastrear seu parceiro (foto: Getty Images)

Uma r�pida pesquisa na Internet revela muitos servi�os alegando que podem invadir o smartphone de algu�m com apenas um n�mero de telefone, geralmente por algumas centenas de d�lares a serem pagos em criptomoeda.

No entanto, embora o software com esses recursos possa ser acessado por �rg�os de investiga��o, os especialistas em seguran�a cibern�tica acreditam que esses sites s�o provavelmente golpes. Em vez disso, o uso do stalkerware depende, em grande parte, de uma "engenharia social", com a qual Charlotte diz que as pessoas podem aprender a ter cuidado e evitar.

O alvo pode receber uma mensagem de texto, que parece ver�dica, convidando-o a clicar em um link. Ou um aplicativo falso, disfar�ado de leg�timo, pode ser compartilhado com ele.

Charlotte diz "n�o tenha medo" caso voc� tente excluir um aplicativo suspeito e ele exibir uma s�rie de avisos.

"�s vezes, eles usam t�ticas assustadoras para fazer com que os usu�rios n�o removam o software. Eles usam muitas t�cnicas de engenharia social."

Se tudo falhar, Charlotte recomenda fazer uma redefini��o de f�brica do telefone, alterando todas as senhas de suas contas de redes sociais e usando autentica��o de duas etapas o tempo todo.


Mulher falando ao telefone
Os especialistas dizem que n�o � preciso ter medo de excluir um aplicativo suspeito do seu telefone (foto: Getty Images)

Ent�o, qual seria a melhor forma de enfrentar o problema?

A maioria dos pa�ses j� possui algum tipo de estatuto de escuta telef�nica e leis anti-stalking em vigor.

Por exemplo, em 2020, a Fran�a apresentou um novo projeto de lei sobre viol�ncia dom�stica que, entre outros pontos, refor�ou as san��es � vigil�ncia secreta: o rastreamento geogr�fico de algu�m sem o seu consentimento agora � pun�vel com um ano de pris�o e multa de € 45 mil (R$ 290 mil ). Se isso for feito pelo parceiro, as multas ser�o potencialmente ainda maiores.

Caminhos a seguir

Mas, para Eva Galperin, esse n�o � um problema que possamos esperar que uma nova legisla��o resolva inteiramente.

Ela acha que tanto o Google quanto a Apple poderiam, por exemplo, agir tornando imposs�vel a compra de qualquer um desses aplicativos em suas lojas.

Crucialmente, ela acrescenta, o foco deve ser em um melhor treinamento para que a pol�cia trate o problema de maneira mais rigorosa.

Um dos maiores problemas que ela diz ver, � que as v�timas procuram a aplica��o da lei na inten��o de que ela seja cumprida. Por�m, as autoridades fazem vista grossa e "dizem que esse n�o � um problema" priorit�rio.

A prolifera��o do cyber-stalking tamb�m trouxe um novo tipo de servi�o de apoio �s v�timas de viol�ncia dom�stica.

A Clinic To End Tech Abuse - Ceta - � uma dessas instala��es, associada � Cornell University nos Estados Unidos. A Ceta trabalha diretamente com sobreviventes de abusos, ao mesmo tempo em que coleta pesquisas sobre o crescente uso indevido de tecnologia.

Rosanna Bellini, do Ceta, diz que normalmente eles n�o recomendam a remo��o imediata do stalkerware do telefone da v�tima - sem fazer um planejamento de seguran�a primeiro com um respons�vel pelo caso.

A experi�ncia anterior revelou esta abordagem: se o acesso do agressor ao telefone da v�tima for cortado repentinamente, isso pode levar a uma escalada de viol�ncia.

Para Maria, que est� livre do casamento abusivo h� seis anos, as coisas n�o est�o perfeitas, mas melhorando.

"Tenho um bom relacionamento com algu�m que realmente se preocupa comigo e me apoia, ajudando a construir minha hist�ria", diz ela.

Ainda h� momentos em que ela fica ansiosa ao lidar com o telefone. Ela foi diagnosticada com transtorno de estresse p�s-traum�tico (PTSD). Mas ela quer que outras v�timas saibam que a persegui��o cibern�tica � enorme e que n�o est�o sozinhas.

"N�o tenha medo. H� ajuda l� fora. Fiz grandes avan�os e, se posso fazer isso na minha idade, - aos 56 - qualquer um pode fazer."

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