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Estado de Minas

10 anos do Tinder: o futuro do app que transformou o amor, o sexo e as rela��es

Como o famoso aplicativo de namoro Tinder comemora uma d�cada %u2013 deslizamos rapidamente para a esquerda e para a direita para ver seu impacto e o que o futuro do amor, sexo e relacionamentos modernos pode reservar.


15/09/2022 15:29 - atualizado 15/09/2022 19:18


Coração gigante do Metaverso
Como ser� o futuro do namoro online? (foto: Getty Images )

"Casei com o amor da minha vida... Obrigado, Tinder", tuitou Alexis Gutierrez, um jovem de 24 anos de Tacoma, nos Estados Unidos.

O cupido m�vel do casal foi o aplicativo que criou o ic�nico sistema de paquera baseado na ideia de deslizar para a direita (se voc� estiver interessado) ou para a esquerda (se n�o) que — acredite ou n�o — comemora seu anivers�rio de 10 anos.

Uma d�cada ap�s a sua cria��o, o Tinder lidera um mercado de namoro online em expans�o, com mais de 1.500 aplicativos semelhantes e uma receita projetada de US$ 2,85 bilh�es (R$ 14,77 bilh�es) em 2022, de acordo com o site de dados alem�o Statista.

Mas como o aplicativo impactou o amor, o sexo e os relacionamentos? E o que vir� pela frente? Apresentamos uma an�lise da evolu��o da paquera virtual.


Duas mãos formando um coração
Na busca do amor, antigamente, pessoas costumavam colocar an�ncios em colunas de jornal (foto: Getty Images)

'O primeiro an�ncio de namoro'

Acredita-se que um dos primeiros an�ncios de namoro foi publicado em 1727.

Ele supostamente apareceu no Manchester Weekly Journal e foi escrito por uma mulher inglesa que estava procurando por algu�m com quem pudesse "compartilhar a vida".

Mas o resultado estava longe de ser uma hist�ria de amor.


Duas mãos seguram telefones com o Tinder instalado
O Tinder completa dez anos neste dia 15 de setembro de 2022 (foto: Getty Images)

Helen Morrison foi aparentemente punida por seu an�ncio e enviada para um manic�mio por quatro semanas pelo prefeito, de acordo com a revista liter�ria Lapham's Quarterly.

Quase tr�s s�culos depois, acredita-se que mais de 300 milh�es de pessoas em todo o mundo estejam usando an�ncios pessoais, aplicativos de namoro e tecnologia em geral, na busca de relacionamentos casuais e rom�nticos.

Antes de namorar, muitas pessoas costumavam enviar an�ncios no que muitas vezes era apelidado de "coluna dos cora��es solit�rios" de jornais.

Agora, o estigma de usar o namoro virtual n�o existe da mesma maneira que h� uma d�cada e definitivamente percorreu um longo caminho desde o tempo de Helen.


Um casal em trajes de casamento fotografados em um campo de flores
'Eu n�o esperava encontrar um amor ou casamento', diz Alexis Gutierrez, que conheceu o marido no Tinder (foto: Alexis Gutierrez)

'Conheci meu marido no Tinder'

Alexis Gutierrez n�o estava otimista quando conheceu o Tinder quatro anos atr�s, depois de ver um homem interessante nas proximidades.

Ap�s "uma ou duas semanas" de bate-papos virtuais, eles decidiram se encontrar pessoalmente. "Ele me pegou em casa e percebi que estava muito nervoso. Felizmente, eu n�o estava", ela lembra agora, nove dias depois de dizer "sim" ao mesmo homem, usando um longo vestido branco bordado.

"Eu n�o esperava encontrar um amor ou um marido porque, na verdade, a maioria dos homens, especialmente os jovens adultos, est�o apenas procurando por rela��es casuais", disse Gutierrez, rec�m-casada, � BBC.


Selfie mostrando mulher loira usando uma camiseta branca
'As pessoas est�o mais interessadas na minha apar�ncia do que sobre o que penso ou digo', diz Chelsea Stirling (foto: Chelsea Stirling)

'Pessoas mais interessadas na sua apar�ncia'

Mas nem todo mundo � f�.

"N�o tenho certeza se tenho algo positivo a dizer sobre o Tinder", diz a contadora Amy Marie, de 30 anos, que mora no Texas, EUA.

Ela diz que "in�meros homens" enviam mensagens vulgares ou at� agressivas pelo aplicativo.

Ela me mostra uma captura de tela de uma dessas mensagens enviadas por um homem imediatamente depois que ela disse "Oi".


Selfie mostrando uma mulher sorrindo usando um vestido florido
Amy Marie diz que tem uma rela��o de 'amor e �dio' com o Tinder, com 'mais �nfase no �dio' (foto: Amy Marie)

"� definitivamente uma rela��o de amor e �dio (com o aplicativo). Mais �nfase no �dio, no entanto."

Chelsea Stirling, uma mulher de 35 anos de Nottingham, no Reino Unido, tamb�m teve uma experi�ncia frustrante com o Tinder.

"As pessoas est�o mais interessadas na minha apar�ncia do que sobre o que penso ou digo", diz ela.

"A gente d� match e depois come�amos a conversar. Ent�o eles leem meu perfil e desconectam", ela continua. "Ou eles desconectam imediatamente antes de falar."


Mulher parece chocada com o que olha no telefone dela
Pesquisas indicam que mulheres s�o desproporcionalmente afetadas pelo ass�dio em aplicativos de namoro, muitas vezes recebendo imagens expl�citas que n�o pediram (foto: Getty Images)

Ass�dio e imagens indesejadas

O �dio de Amy Marie pelo aplicativo n�o � isolado — e se voc� � mulher, as chances de ter uma experi�ncia ruim com aplicativos de namoro s�o ainda maiores.

Um estudo feito pelo Pew Research Center, em 2020, mostra como as mulheres s�o desproporcionalmente afetadas pelo ass�dio.

Na faixa et�ria de 18 a 34 anos, 57% receberam mensagens ou imagens sexualmente expl�citas que n�o pediram.

O grupo tamb�m relatou altas ocorr�ncias de amea�as f�sicas: 19% (em compara��o com 9% dos homens).

Marie Bergstr�m, soci�loga e pesquisadora do Instituto Franc�s de Estudos Demogr�ficos (Ined, na sigla em franc�s), em Paris, estuda o que chama de "privatiza��o do namoro" em aplicativos como o Tinder.

"Esses aplicativos s�o muito isolados no sentido de que est�o completamente desconectados de sua vida social. � diferente de locais de encontro tradicionais como amigos, fam�lia, trabalho, escola, onde voc� compartilha algo - amigos, colegas, lugares - com as pessoas", diz Bergstr�m.

"Mostrar seus genitais em um bar � mostrar seus genitais para o mundo inteiro."

Mas esse n�o � o caso em uma tela, onde voc� pode simplesmente desaparecer apenas apertando um bot�o, ent�o esse ambiente "extremamente privado e isolado" se torna um terreno perigoso para comportamentos violentos e isso provavelmente n�o mudar� no futuro, diz ela.

O Tinder diz que manter as mulheres seguras agora est� "no centro das prioridades" do maior aplicativo de namoro do mundo.

A empresa de tecnologia lan�ou uma parceria em julho de 2022 com o grupo de campanha No More, com o objetivo de acabar com a viol�ncia dom�stica. Mas a primeira executiva-chefe da empresa, Renate Nyborg, reconheceu o desafio que enfrentava para proteger as mulheres no aplicativo, dizendo � BBC na �poca: " Nosso trabalho de seguran�a nunca termina."


Pés de um casal saem do fundo do lençol cercado por corações de papel
Bergstr�m diz que os aplicativos de namoro t�m um lado positivo - ao permitir �s pessoas mais liberdade sexual (foto: Getty Images)

Liberdade sexual

No entanto, Bergstr�m diz que "menos controle social" tamb�m pode ter um lado positivo.

"As mulheres s�o julgadas muito mais duramente por seus comportamentos sexuais e ainda existe esse estigma social em torno de serem sexualmente ativas demais."

"O que realmente vemos � que as plataformas de paquera virtual permitem que as mulheres se envolvam mais facilmente em um relacionamento de curto prazo, tenham encontros etc. Porque � poss�vel fazer isso sem ser julgada e ter todo mundo falando de voc�", explica ela.

"Portanto, essa desconex�o n�o � apenas negativa - �, na verdade, um grande fator para explicar por que as plataformas s�o populares."

Mas como ser� o futuro do namoro online?


Ilustração futurista mostra figuras de um homem e uma mulher em um ambiente digital
Experi�ncias de toques indesejados atrav�s do avatar e da realidade virtual podem ter um efeito psicol�gico muito semelhante ao que realmente acontece no mundo real (foto: Getty Images)

Tocando e beijando no Metaverso

Voc� provavelmente j� deve ter ouvido falar que, no futuro, suas reuni�es de trabalho acontecer�o no Metaverso - um ambiente de realidade virtual onde seu avatar poder� sentar em volta de uma mesa e interagir com seus colegas como se estivessem juntos pessoalmente.

Bem, isso tamb�m se aplica ao futuro dos aplicativos de namoro.

"Com a realidade virtual, voc� pode simular o beijo. Voc� pode simular o toque no corpo", diz Douglas Zytko, professor assistente de intera��o humano-computador da Oakland University, nos Estados Unidos.

"Paqueradores virtuais muitas vezes valorizam esse tipo de experi�ncia como parte da compatibilidade (de casais)", explica ele.

Mas isso tamb�m � arriscado.

"H� uma boa chance de que a experi�ncia negativa que alguns usu�rios est�o tendo agora seja amplificada na realidade virtual pela imers�o que ela proporciona", diz Zytko.

Imagine um caso em que voc� esteja rejeitando uma investida rom�ntica ou sexual de algu�m em um aplicativo de namoro.

"Na realidade virtual, um criminoso n�o apenas seria capaz de transmitir verbalmente um coment�rio muito negativo, mas tamb�m usaria seu avatar para isso."

Mas o que isso significa na pr�tica?

Zytko responde: "Eles podem tocar o avatar de outra pessoa de forma negativa. Ou desenhar imagens f�licas ao redor do ambiente virtual. E o que algumas das primeiras pesquisas est�o descobrindo � que esses tipos de experi�ncias de toque indesejado atrav�s do avatar e da realidade virtual podem ter um efeito psicol�gico muito semelhante ao que realmente acontece no mundo real."

Das partes do metaverso que existem atualmente, apenas algumas - como a Horizon Worlds - s�o de propriedade da Meta.

No entanto, a empresa iniciou novas formas de se proteger.

O Personal Boundary, por exemplo, impede que os avatares cheguem a uma dist�ncia definida um do outro, tornando mais f�cil evitar intera��es indesejadas, e a empresa diz que tamb�m oferece v�rias maneiras de bloquear e denunciar usu�rios.

"Vimos tend�ncias irem e virem nos �ltimos anos", diz Zytko. "Ent�o, acho que � muito cedo para dizer se a tend�ncia do metaverso vai se manter."


Pessoa olhando o perfil de um homem em aplicativo de namoro
Uma das partes mais atraentes do namoro online � dar 'match' com algu�m pr�ximo (foto: Getty Images)

O GPS ser� menos relevante?

Uma das caracter�sticas mais atraentes dos aplicativos de namoro � a possibilidade de conhecer algu�m sentado na outra esquina de um restaurante, de uma rua ou do seu bairro.

Alguns aplicativos j� est�o explorando isso. Por exemplo o Single Town, um aplicativo de namoro que consiste em uma cidade do Metaverso onde os avatares de pessoas reais "andam, escolhem para onde querem ir e com quem conversar".

Ao tocar um avatar, � poss�vel ver as fotos reais do usu�rio, iniciar uma conversa e interagir em um mundo virtual.

"Esses tipos de aplicativos est�o proporcionando um encontro virtual que ficaria entre a descoberta e o encontro f�sico."

"Esses aplicativos n�o est�o presumindo que voc� nunca mais vai querer se encontrar cara a cara, o objetivo ainda parece ser possibilitar um eventual encontro pessoal em um relacionamento real."

E Zytko acha que isso poderia at� reduzir o ass�dio na vida real.

"Ao acrescentar a realidade virtual no meio, voc� quase pode ter a experi�ncia do primeiro encontro online, antes de se aventurar no mundo real, onde todos esses riscos e danos potenciais se revelam."


Homem e mulher tomam drink em bar enquanto conversam
Encontrar 'a pessoa' na vida real ser uma coisa do passado? (foto: Getty Images)

Esque�a flertar no bar?

� medida que a realidade virtual abre novas possibilidades para os desenvolvedores e o n�mero de usu�rios deve chegar a mais de 672 milh�es nos pr�ximos cinco anos, de acordo com a Statista, os aplicativos de namoro tendem a se estabelecer como os lugares essenciais para pessoas que procuram sexo ou relacionamento.

"Minha hip�tese � que as plataformas de namoro ser�o cada vez mais importantes para encontrar parceiros", diz Bergstr�m, autor de The New Laws of Love: Online Dating and the Privatization of Intimacy (As novas leis do amor: namoro virtual e a privatiza��o da intimidade, em tradu��o livre).

"E est� se tornando menos aceito se envolver sexual e romanticamente em outros contextos. Esse j� � o caso do local de trabalho. Est� ficando menos aceito se envolver sexualmente com colegas", diz ela.

Para a especialista, isso pode ser expandido para outros contextos. "Seria menos aceito ir at� algu�m em um bar e come�ar a flertar, ou menos aceito come�ar a flertar com pessoas na festa de um amigo, com a ideia de que existem plataformas para isso. Como eu disse, isso � uma hip�tese: gostar�amos de separar cada vez mais as coisas e ter cada vez menos sobreposi��es. Portanto, h� um lugar para trabalhar. H� um lugar para ir e praticar esportes. H� um lugar para encontrar amigos. E um lugar para flertar."

"Uma compartimentaliza��o da vida social", argumenta.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62917732

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