Na P�scoa, fa�a um tour por fazendas de cacau no Sul da Bahia
Na terceira mat�ria que encerra a rota do chocolate, vamos revelar de onde vem o alimento consumido no Brasil e o foco na sustentabilidade na produ��o do fruto
Turistas na barca�a de secagem das am�ndoas de cacau na Fazenda Yrer� (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
Com a P�scoa chegando, o chocolate vem logo � cabe�a. Quando se pensa em fabrica��o e consumo da iguaria, quais cidades brasileiras s�o lembradas? Gramado, na Serra Ga�cha; Campos do Jord�o, em S�o Paulo, ou a charmosa Monte Verde, aqui em Minas Gerais? O que pouca gente sabe � que mais de 70% da principal mat�ria-prima para a fabrica��o dos ovos de P�scoa, bombons, barras de chocolates e tantos outros doces vem do Sul da Bahia, principalmente das fazendas de cacau na regi�o de Ilh�us.
Na terceira mat�ria que encerra o especial Rota do Cacau, fomos conhecer de perto a fabrica��o de chocolate em tr�s fazendas, que, em comum, oferecem aos turistas visitas guiadas aos cacaueiros, degusta��o de chocolate e tantos outros produtos derivados do cacau, e o melhor – aulas de hist�ria e de preserva��o ambiental combinadas com papos agrad�veis e um passeio por trilhas na mata atl�ntica.
Ent�o, prepare seu paladar, pois nessas fazendas o turista encontra os chamados chocolates finos artesanais – produtos org�nicos, com alto teor de cacau (acima de 60%), sem adi��o de leite e, em alguns casos, de a��car. S�o alimentos saud�veis, indicados por cardiologistas e usados na gastronomia e que, nos �ltimos anos, viraram febre nas academias pelo alto valor energ�tico. Para paladares n�o acostumados, os chocolates amargos ou meio amargos podem causar estranheza, mas, basta o contato do alimento na boca para sentir uma explos�o de sabores inimagin�veis.
Fazendeiros do Sul da Bahia encontraram um novo rumo para seus neg�cios, uma reinven��o e renascimento do chocolate brasileiro (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
Em 2017, foi lan�ada a Estrada do Chocolate, a primeira estrada tem�tica da Bahia. Ainda em desenvolvimento, a via � emoldurada pela mata atl�ntica, cortando rios e fazendas centen�rias. Essa rodovia liga as cidades de Ilh�us e Uru�uca � BR-101.
Antes, as fazendas eram dedicadas apenas � cultura do cacau. Com a estrada tem�tica, os fazendeiros da regi�o encontraram um novo rumo para seus neg�cios, uma reinven��o e renascimento do chocolate brasileiro.
RENASCER
Gerson Marques, propriet�rio da Fazenda Yrer�, explica sobre o plantio e a extra��o do cacau (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
O in�cio do circuito se faz na Fazenda Yrer�, na Rodovia Jorge Amado, entre Ilh�us e Itabuna. Em meio � mata atl�ntica, a fazenda, que j� virou cen�rio da novela “Renascer”, trabalha com turismo de experi�ncias h� 14 anos, sendo visitada por milhares de turistas do Brasil e do exterior ao longo desse tempo. O propriet�rio, Gerson Marques, � quem recebe os turistas, junto com um trio de doguinhos, para um tour sensorial e educativo por dentro da mata at� a lavoura de cacau. Com mais de 200 anos de hist�ria — 140, s� de plantio de cacau — a fazenda � uma antiga sesmaria doada aos primeiros donos pela Coroa portuguesa. Antes do fruto, a principal atividade comercial do local era a extra��o de madeira.
No caminho por uma mata regenerada, Gerson explica sobre o plantio e a extra��o do cacau, assim como as hist�rias da fazenda e a import�ncia para a regi�o. “N�s temos aqui uma diversidade de cacau, com uma variedade de misturas, os h�bridos. Esse � o grande neg�cio nosso. � chegar a produzir chocolates que falem um pouco daqui, do que n�s somos, da hist�ria do pr�prio cacau baiano.” Sobre o turismo, ele comenta: “Esta � uma experi�ncia nova para a realidade aqui no Sul da Bahia. Saber usar o cacau, o chocolate como atra��o. N�s estamos h� 14 anos abertos para o turismo e vi a mudan�a de perfil dos vi- sitantes. Antigamente, as refer�ncias eram Jorge Amado, a novela “Renascer”, com aquelas imagens das barca�as. Hoje, o turista chega motivado atr�s do cacau, da experi�ncia desse chocolate que a gente faz”.
Ao final da trilha encontram-se os p�s de cacau e uma variedade de frutos expostos aos visitantes. J� de volta � sede da fazenda, antes de iniciar o t�o esperado momento de degusta��o do chocolate, conhecemos a barca�a, onde os gr�os de cacau secam ao sol. Preste aten��o na fazenda, um local que encanta pelos detalhes e chama a aten��o pela beleza, onde ocorre o melhor momento do passeio: hora de provar os chocolates Yrer�.
Salve a mata atl�ntica
Degusta��o de chocolate produzido na Fazenda Yrer�: experi�ncia come�a com produto � base de 60% de cacau e termina com um na escala de 100% (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
Diante de cada visitante, um disco de madeira com gotas de chocolate e jarras do mais puro suco de cacau, uma iguaria deliciosa da regi�o. O in�cio da experi�ncia come�a com o chocolate 60% de cacau e termina com a degusta��o do chocolate 100%, que na verdade s�o as am�ndoas quanto o nibs — peda�os tostados do gr�o.
Ao final da apresenta��o, Gerson faz um emocionante relato: “Esses chocolates, aqui no Sul da Bahia s�o um sucesso, que ganham pr�mios no mundo todo. � a hist�ria de 300 anos de um povo que faz isso aqui (cacau), planta nessas matas quentes e �midas, colhem e vendem para o mundo, 300 anos tirando isso da mata e constru�mos uma civiliza��o. E nessa civiliza��o tem uma floresta viva, passarinho cantando, tem rios correndo e o nome disso � sustentabilidade. S�o 300 anos mostrando ao mundo que � poss�vel tirar as riquezas das florestas, mantendo-as vivas. Ent�o, fa�o um pedido de socorro – salvem a mata atl�ntica no Sul da Bahia”, finaliza.
Era uma vez um lugarzinho no meio do nada com sabor de chocolate! A m�sica de Toquinho exprime bem o sentimento do casal mineiroCarlos e Ta�s Tomich quando decidiram se mudar para o Sul da Bahia ao adquirir a Fazenda Capela Velha, localizada na BA 262, Estrada do Chocolate, entre as cidades de Ilh�us e Uru�uca.
Carlos e Ta�s Tomich, propriet�rios da Fazenda Capela Velha, que � produtora de cacau desde o s�culo 19 (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
A fazenda � produtora de cacau desde a sua origem, no s�culo 19, passou por todas as fases do cacau, incluindo a crise da vassoura-de-bruxa, no final da d�cada de 1980. Desde ent�o, ficou 21 anos abandonada e foi comprada pelos novos propriet�rios em 2011. Ap�s essa aquisi��o, passou por muitas reformas e atualiza��es e, em 2018, al�m de plantar cacau passou a produzir chocolate e derivados com a empresa DOCACAO.
A fabrica��o artesanal dos derivados � feita dentro da fazenda, com mat�ria-prima 100% da Capela Velha. Tudo isso est� � disposi��o com visitas guiadas na fazenda: passeio r�pido fazendo um tour do viveiro de mudas at� a f�brica de chocolate.
Caminhando por uma trilha na cabruca (planta��o de cacau), o turista pode contemplar gigantescos exemplares de �rvores centen�rias da mata atl�ntica, como a jaqueira e o jacarand�. A visita de Carlos Tomich culmina na explica��o de tipos de cacau produzidos na planta��o e todo o processo de plantio do cacau at� a secagem das am�ndoas nas chamadas barca�as, de onde saem prontas para serem mo�das e transformadas em chocolate.
INOVA��O
Carlos Tomich � t�cnico agr�cola e desenvolveu um m�todo que aprimora e automatiza o modo tradicional de prepara��o das am�ndoas – sementes de cacau que perderam a capacidade de germinar. Tomich coloca as sementes em barris pl�sticos vedados e deixa por cerca de 15 dias. Uma mangueira conecta o ambiente interno a uma garrafa de �gua, a fim de retirar todo o ar gerado na fermenta��o. “Com esse m�todo, a am�ndoa n�o tem amargor, n�o tem adstring�ncia nem acidez. Ent�o, corrige defeitos que est�o em 90% das am�ndoas do Brasil”, diz Tomich. Batizado de Sprouting Process, o m�todo faz aumentar a qualidade do cacau e permite aos produtores tornar o neg�cio mais rent�vel.
Ap�s a visita��o do processo do cacau, � a hora de os visitantes conhecerem o lindo casar�o da Vila Rosa e a sua hist�ria (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
Saindo de Ilh�us em dire��o a Itacar�, a Vila Rosa � uma antiga fazenda de cacau do in�cio dos anos de 1920. Um local encantador que oferece aos visitantes uma viagem ao mundo do chocolate. Quem visita a fazenda-museu centen�ria, � beira do Rio de Contas, que cont�m muitas antiguidades, participa de passeio que inclui trilhas pela mata atl�ntica, pomares, jardins, piscinas naturais e visita ao antigo casar�o, incluindo v�rios pontos de degusta��o. Al�m de acompanhar o processo de produ��o artesanal, desde a am�ndoa de cacau at� a barra de chocolate. Ap�s a visita��o do processo do cacau, � a hora de os visitantes conhecerem o lindo casar�o de Vila Rosa, a sua hist�ria, e o seu lindo jardim com piscina de pedras e represa.
Lindo jardim com piscina de pedras e represa da Fazenda Vila Rosa (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
Nesse para�so, encontramos a fam�lia de Jos� Nogueira, de Patos de Minas. Ao todo, oito familiares entre adultos e crian�as foram conhecer de perto a fazenda hist�rica e provar o chocolate gourmet. “Ficamos conhecendo aqui atrav�s de uma abordagem feita por guias no Centro de Itacar�. Foi uma surpresa e tanto. Surpreendemo-nos com o sabor do chocolate… amargo, n�? Os netinhos n�o gostaram, mas, o resto da turma aprovou: combinar esse chocolate forte com uma cachacinha mineira, como fizemos na f�brica, desceu bem, vamos at� levar a ideia l� pra Minas”, brinca.
Em 2021, a Bahia, que j� era l�der nacional, respondeu por 71,3% da produ��o brasileira de am�ndoa de cacau (foto: Carlos Altman/em/d.a press)
A Bahia desponta entre as maiores produtoras e exportadoras de chocolate do mundo. Tudo gra�as ao clima quente e �mido, solo f�rtil e manejo sustent�vel – frutos perfeitos do cacau s�o obtidos pelo sistema de agrofloresta – onde cacaueiros s�o plantados � sombra de �rvores nativas (cabruca) de onde se extrai uma riqueza de sabores.
Em dezembro de 2021, o Brasil chegou a uma tr�plice premia��o, in�dita, no Sal�o do Chocolate de Paris, feito comemorado durante o Chocolat Festival, em Ilh�us. Jo�o Tavares, maior produtor de cacau fino no pa�s, e sua m�e foram ouro e prata do continente com amostras de fazendas do Sul da Bahia (ele j� tinha sido premiado em 2010 e 2011); e o produtor familiar Jo�o Evangelista levou uma prata para o Par�.
A Bahia, que j� era l�der nacional, respondeu por 71,3% da produ��o brasileira de am�ndoa de cacau no ano passado. O estado produziu um total de 140.928 toneladas deste insumo – alta de 30,72% referente a 2020. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri). Al�m da Bahia, a produ��o est� concentrada tamb�m nos estados do Par�, Esp�rito Santo e Rond�nia.
