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Estado de Minas C�U DE MONTANHAS

Mar de l�grimas faz tremer o ch�o em quilombos em Minas

Projeto inspirador promove visitas em 4 territ�rios sagrados onde a comida, dan�a, c�nticos e ritual de benze��o ao p�r do Sol criam conex�o com o divino


04/09/2023 15:36 - atualizado 04/09/2023 17:09
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"Somos todos uma fam�lia. Que se cuida, protege e acolhe. Uma irmandade que tem as b�n��os de Nossa Senhora do Ros�rio e S�o Benedito. T� bonito de ver o terreiro daqui em festa. Que venham todos tomar o caf� com a gente. A casa sempre estar� aberta"

V� Elza, matriarca do Quilombo do Sap�




Sentada debaixo de uma grande �rvore, bem ao lado do sino da Igreja de S�o Vicente de Paula, v� Elza acompanha a chegada dos visitantes. Diante dela, uma mesa com quitutes genu�nos mineiros foi delicadamente montada e decorada para celebrar o caf� da manh�. P�o de queijo, Kubu ( broa de fub� assado na folha de bananeira), biscoitos de polvilho, bolos de milho e banana, queijadinha de mandioca com queijo. Para beber, caf� coado na hora, ado�ado com garapa e sucos de frutas da regi�o como lim�o-capeta, maracuj� e mexerica. Del�cias feitas por m�os cuidadosas da comunidade para aquele primeiro banquete do dia em parceria com o chef Edson Puiati. Atenta ao movimento, ela sorri ao ver a comunidade em festa. Fazia tempo que n�o sa�a de casa, que n�o acompanhava o movimento do seu povo. Para a matriarca do Quilombo do Sap�, em Brumadinho, o s�bado foi a oportunidade de reviver a comunh�o em fam�lia. Foi a possibilidade de estreitar os la�os e de se entregar aos abra�os.  
 
Edson Puiati e vó Elza
Ao lado do chef chef Edson Puiati, v� Elza conversa sobre os saberes da comida ancestral de seu povo do Quilombo do Sap�, em Brumadinho (foto: Carlos Altman/EM)
 
Na sequ�ncia, o ch�o sagrado se desperta ao som de batuques e tambores. Mulheres do grupo de dan�a Sorriso Negro se apresentam para os turistas, que vieram de v�rias partes do Brasil. O canto de luta e resist�ncia, potencializado pelos movimentos do corpo de uma beleza negra sem igual, � a heran�a ancestral de um povo que chegou escrazidado no Brasil, quebrou correntes e hoje, conquista seu lugar na sociedade atual – s�o, sim, rainhas e princesas que merecem nossos aplausos e rever�ncia. Entre elas, Juliane Aparecida Silva, Michelle Lorraine  Silva, Gisele N�bia Santana e Silv�nia Aparecida Oliveira Pinto que, soltaram a voz e, com um grito de louvor, reafirmaram o orgulho da cor da pele e do cabelo crespo. 
 
 
 
"Este caf� da manh� � uma homenagem � minha irm� Filomena, que infelizmente, j� n�o est� entre n�s. Foi ela que, tempos atr�s, teve a ideia de promover um caf� da manh� com todos da comunidade. Ela fazia tudo com muito amor e carinho. Sinto muito a falta que ela nos faz. Mas sei que hoje ela est� aqui conosco. Estou feliz em ver que nossa fam�lia, de irm�os, primos, netos e sobrinhos continua unida. Este caf� � fruto do amor e da bondade. Compartilho com voc�s neste momento de festa", emociona Matuzinha, anfitri� do Quilombo do Sap�. 
 
Sorriso Negro
No quilombo do Sap�, o grupo Sorriso Negro se renova com a presen�a dos jovens da comunidade interessado pela cultura e sons da africanos (foto: Carlos Altman/EM)
 
E, assim, se d� in�cio, ao som das m�sicas de M�rcio Nag�, o ritual de visita ao 1º Circuito dos Quilombos, uma das 40 experi�ncias culturais e gastron�micas oferecidas pelo projeto C�u de Montanhas, em Brumadinho. E, nesses quatro abrigos de resist�ncia, onde fam�lias se agrupam para manter viva suas tradi��es culturais e religiosas, as emo��es explodem! E olha que o dia s� estava come�ando.
 
 
 
Com o intuito de preservar suas tradi��es e promover a valoriza��o de sua identidade cultural centen�ria, os representantes dos quatro quilombos de Brumadinho abriram as portas de suas comunidades no �ltimo s�bado, 2 de setembro. Esse evento tur�stico � uma iniciativa de turismo rural e comunit�rio desenvolvida pela Vale em parceria com o designer Ronaldo Fraga e a especialista Miriam Rocha.



Negro por Negro

Quilombo dos Rodrigues
No Quilombo dos Rodrigues, o orgulho de ser preto estar no vestu�rio, na dan�a e na m�sica (foto: Carlos Altman/EM)


Saindo do Quilombo do Sap�, hora de conhecer as tradi��es do Quilombo Rodrigues. Outro territ�rio negro onde um cuida do outro. Quem vive neste lugar sagrado rever�ncia a fam�lia, a natureza, as tradi��es culturais e religiosas e promove a resist�ncia e tem muito orgulho de ver suas origens preservadas e divulgadas. Antigamente, eu vivia esticando meu cabelo com chapinha. Buscava, assim, me enquadrar em um padr�o para pertencer na sociedade. Olha que n�o tem muito que na nossa concep��o, de povo quilombola, n�o nos era permitido frequentar todos lugares. Mas, isso era errado. Virei a chave e disse: n�s podemos tudo. Hoje, tenho orgulho do meu cabelo crespo. Fizemos da dor de nossos antepassados africanos escravizados para escrever letras de m�sicas que glorificam a nossa cor de pele. estaremos em luta por um pa�s igualit�rio e que nos respeite. Somos pretos e temos orgulho disso! Emociona, Dina Braga, a mulher que lidera o projeto cultural do Quilombo Guimar�es. 


Reconhecido pela Funda��o Palmares, o Quilombo Rodrigues desenvolve projetos culturais de dan�a, m�sica, confec��o de instrumentos musicais como o Xequer�( feito de caba�a) e produtos artesanais como pulseiras, ter�os e cord�is feitos com a semente da l�grima de Nossa Senhora. Tudo feito � m�o, e quem visita o local pode confeccionar e levar pra casa sua pr�pria bijuteria. 

O Grupo afro Negro por Negro j� realizou apresenta��es em diversas cidades mineiras, e no ano passado fez um tur pelo Nordeste. Alguns componentes t�m fun��o importante nas guardas de Congo e Mo�ambique da regi�o. Com percuss�o marcante, o grupo usa tambores, xequer�, atabaques, viol�o, cavaquinho e gungas, cantam can��es pr�prias e outras retiradas das tradi��es africanas da Rep�blica Democr�tica do Congo e de Mo�ambique.

Se a m�sica encanta, a manh� teve como refresco drinks ( com ou sem �lcool)  preparados pela pesquisadora e mixologista molecular Marcela Azevedo, que h� mais de 10 anos cria bebidas refrescantes com ingredientes colhidos nos quintais, com plantas comuns do dia-a-dia como funcho, alecrim, manjeric�o e os transforma em elixir de pura alquimia de prazer. “Quando me falaram que viria aqui criar uma parceria com o pessoal do Rodrigues, pedi para eles pegarem ervas para preparar os drinques. Ouvi que l� n�o tinha nada para ser servido como bebida. E, ao fazer uma busca no quintal, vi o contr�rio: planta��es de funcho, hortel�,  mexerica, lim�o, alecrim brotavam aos montes. Tudo pode virar uma boa bebida. O segredo � a dosagem certa, e isso, eu passei pra eles”, orgulha-se Marcela.


Feijoada e noites trai�oeiras

Quilombo Ribeirão
No almo�o no Quilombo Ribeir�o, a feijoada, maior heran�a dos negros escravizados � culin�ria brasileira, reinou soberana (foto: Carlos Altman/EM)


“Sejam bem-vindos… s� estava faltando voc�”. Chegou a t�o esperada hora do almo�o no Quilombo do Ribeir�o. Em um restaurante simples, um caldeir�o de feijoada era colocado na mesa de apoio. Ao lado, outra panelona de arroz e travessas de couve, laranja e farofa. Uma comida brasileira para fazer daquele s�bado um dia especial. O tempero estava na medida e as por��es de gordura dos peda�os de porco na quantidade, digamos, recomendada por qualquer cardiologista. O prato, que teve como origem uma iguaria criada por negros escravizados, surgiu em terras brasileiras no Brasil colonial. A cada garfada, sabores ancestrais eclodiram no paladar provocando uma sensa��o de prazer. Alguns visitantes repetiram mais de uma vez e saciaram a vontade de provar a culin�ria simples que toques de amor como tempero. E para fechar a comilan�a, que sobremesa! Convidada para o evento, a renomada chef Tain� Moura deu uma consultoria e preparou uma del�cia levemente adocicada feita com mousse de queijo, mexerica e farofa de rapadura…. divino!

Durante todo o banquete no “Pal�cio do Ribeir�o” os presentes ouviam, ao lado, as vozes singelas das “cigarrinhas do quilombo”. Formado por moradoras da comunidade, as divas cantoras soltavam, � capela, c�nticos tradicionais de Minas e louvores religiosos como Noites Trai�oeiras: “Deus te trouxe aqui/ Para aliviar os teus sofrimento/ � Ele o autor da F�/ Do princ�pio ao fim/ Em todos os seus tormentos/ E ainda se vier noites trai�oeiras/ Se a cruz pesada for, Cristo estar� contigo/ O mundo pode at� fazer voc� chorar/ Mas Deus te quer sorrindo. Essa m�sica era o pren�ncio do que estavam todos a experimentar no pr�ximo e �ltimo quilombo visitado.


B�n��os de Maria

 Dona Nair
Benzedeira Dona Nair, da Comunidade dos Marinhos, promoveu um dos momentos mais emocionantes do Circuito dos Quilombos (foto: Carlos Altman/EM)


Feche os olhos, respire fundo. Imagine ouvir o som ao redor: assobios e grunhidos de maritacas, bem-te-vis e pica-paus. Tente ouvir o vento balan�ando as folhas. Sinta o cheiro da grama, das flores da grande mangueira e do p� de carambola. Agora, abra os olhos, tente ver o p�r do Sol, se despedindo atr�s das montanhas ap�s um dia intenso de emo��es. Nesse exato momento, naquela hora m�gica, dar� o in�cio do melhor do Circuito dos Quilombos e, tamb�m, o fim de uma maratona que se iniciou em um caf� da manh�, se prolongou por visitas em abrigos fraternos onde cada habitante desses quilombos s�o reis e rainhas do lugar agora, se concretiza, com a ben��o do Maria. 


 Ao lado da Igreja de Nossa Senhora, Dona Nair, m�e-rainha benzedeira do Quilombo dos Marinhos, flutua sobre o ch�o sagrado do terreiro do lugar. Em sua apresenta��o inicial, ela fala das dificuldades que o povo da comunidade j� passou e ressalta a import�ncia dos la�os familiares para se manter vivos e unidos: “Teve um tempo que n�o t�nhamos nada pra comer, e a fome era um tormento. Foi ent�o, que percebendo a dor do flagelo que n�o poder levar a comida � mesa, irm�os e irm�s da comunidade se uniram, trouxeram o alimento que tinham em seus quintais como milho, feij�o, quiabo e mandioca e, deste gesto de amor e solidariedade, nasceu a apresenta��o da Dan�a da Colheita, uma forma de agradecer o alimento recebido”.


E nesse terreiro, ela inicia sua benze��o. Mas antes, Dona Nair relembra:  “Teve o caso de uma mulher em estado terminal de c�ncer, que estava desenganada pelos m�dicos, que ao ouvir a b�n��o, se viu curada. N�o sou eu que promovi a cura. Mas, ele, que est� l� no alto, acima de todos n�s. Foi a f� dela em acreditar no poder divino que a fez se curar e hoje ela est� bem”. E como se estivesse em transe, a voz entoa c�nticos reconfortantes que j� promoveram milagres. “O meu colch�o � areia, meu cobertor, as ondas do mar. Quer escutar a minha ben��o, para Jesus aben�oar!” Tive o privil�gio de ter conhecido e, sugiro, que todos vivenciem esta experi�ncia. Prepare-se, um mar de l�grimas saltam aos olhos e t�m, sim, o poder de lavar a alma. Gratid�o! 




C�u de Montanhas

Céu de Montanhas
C�u de Montanhas oferece 40 experi�ncias culturais, religiosas e gastron�micas em Brumadinho (foto: Carlos Altman/EM)


O circuito come�ou �s 9h da manh� e se estendeu at� as 17h, proporcionando aos visitantes uma experi�ncia repleta de m�sica, religiosidade, boa comida e hist�rias fascinantes. A programa��o teve in�cio no Quilombo do Sap�. A segunda parada do circuito foi no Quilombo de Rodrigues, onde o grupo de percuss�o Negro por Negro recebeu os visitantes com muita anima��o. L�, eles puderam aprender passos de dan�a, conhecer a hist�ria da comunidade e experimentar drinks preparados com ingredientes locais pela Chef Marcela Azevedo. Ao chegarem ao Quilombo de Ribeir�o, os turistas foram recebidos por Jaime Ferreira, um morador local e guia tur�stico. Ali, eles mergulharam na cultura quilombola atrav�s da m�sica, da dan�a e de uma tradicional feijoada. Como sobremesa, puderam saborear um delicioso doce de mexerica preparado em parceria com a Chef Tain� Moura. Em Marinhos, o mais antigo dos quatro quilombos, os visitantes tiveram a oportunidade de assistir a uma apresenta��o de c�nticos tradicionais, aprender sobre a hist�ria e as manifesta��es culturais locais e ver de perto o artesanato produzido pelas mulheres da comunidade. Com uma roda de b�n��os conduzida pela matriarca Dona Nair, os visitantes se despediram dos quilombos.
 
 
 
 
O Circuito de Quilombos de Brumadinho � uma das experi�ncias tur�sticas do cat�logo C�u de Montanhas. Lan�ado em julho de 2022, o projeto re�ne cerca de 40 viv�ncias rurais, gastron�micas, art�sticas e bem-estar dispon�veis na regi�o. A iniciativa � resultado de um extenso trabalho de mapeamento, assessoria t�cnica e sistematiza��o da oferta de turismo rural e de base comunit�ria no munic�pio.


Segundo Daniele Teixeira, analista de Sustentabilidade da Vale e coordenadora do projeto, o cat�logo foi pensado para diversificar a oferta da regi�o e facilitar o acesso do turista aos atrativos. “Essa a��o busca aumentar o tempo de perman�ncia do visitante que vai a Brumadinho e fortalecer a contribui��o do turismo para a economia local”.  

As viv�ncias do cat�logo C�u de Montanhas s�o comercializadas pelo receptivo HT Happy Travel https://hthappytravel.com ou diretamente no site www.ceudemontanhas.com.br 


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