Tia Dulce: por onde anda a apresentadora do Clubinho que completaria 40 anos em 2019
'Assustadoramente atrevida', Tia Dulce conta como se tornou um dos maiores fen�menos da TV mineira com o seu Clubinho, programa di�rio que ficou no ar por 10 anos na Alterosa
postado em 16/06/2019 07:00 / atualizado em 16/06/2019 10:26
Ao sentar-se para dar entrevista, na tarde de uma quarta-feira, no Teatro Alterosa, Dulce de Melo Rosa, de 83 anos, mira fundo os olhos do entrevistador. Mas, quando a c�mera � ligada, � para l� que vai, quase atra�do por um im�, o olhar de Tia Dulce. Esta senhora de voz doce poderia ser s� mais uma de cachecol vermelho e saia florida, n�o fosse dona de um legado da televis�o, com o lend�rio programa infantil Clubinho da Tia Dulce, que celebra, em 2019, 40 anos desde a estreia na TV Alterosa. "Sempre fui assustadoramente atrevida", define.
Para comemorar a data e contar apropriadamente este cap�tulo da hist�ria, o Estado de Minas e a TV Alterosa fizeram um especial na sede da TV. Do Centro de Documenta��o do jornal vieram as imagens de arquivo. Convidamos Tia Dulce, hoje aposentada ap�s trabalhar 27 anos como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa, para recordar os detalhes. Ela comandou por 10 anos (entre 1979 e 1989) um programa di�rio que marcou uma gera��o de f�s e lotava o Mineirinho nas edi��es hist�ricas de comemora��o do anivers�rio da atra��o e do Dia das Crian�as.
Ver galeria . 13 FotosTia Dulce recorda momentos marcantes da hist�ria do programa que completa 40 anos desde a estreia na TV Alterosa
(foto: Jorge Lopes/ Esp. EM/DA Press )
Quando o tel�o se enche com a imagem da abertura do programa, Tia Dulce mostra que ainda se lembra de cada verso da letra do “hino” da atra��o. "N�o tem como esquecer n�o, uai. Encontro at� hoje gente na rua que se lembra do Clubinho, me reconhece. � um carinho imenso". Com o trabalho para crian�as, ela alcan�ou o estrelato e chegou at� mesmo a receber convites para sair de Belo Horizonte – recusou todos e seguiu a vida.
Mas o sucesso de Tia Dulce estava predestinado nas Gerais. O Clubinho nasceria no corredor da TV Alterosa, ent�o no Edif�cio Acaiaca. A pr�pria Dulce cuidou do cen�rio (com cartolinas desenhadas a guache pelo filho pequeno e ursos e cachorros de pel�cia). Diante de uma s� c�mera, entrou no ar ao vivo para "conversar com as crian�as", chamar os desenhos animados que j� faziam parte da programa��o matutina. "Na hora de fazer o programa, o pessoal tinha que parar de bater m�quina e atender telefone, sen�o atrapalhava", conta.
De macac�o jeans
A apresentadora/produtora/figurinista/cen�grafa instituiu como "uniforme, o macac�o jeans e trocava a camiseta de baixo, "amarrava 'uns trem' na cabe�a e tal". Foi Fernando Sasso, ent�o diretor da TV Alterosa, quem batizou a personagem de "tia", para aprova��o da apresentadora: "Com menos de um m�s, j� tinha recebido mais de mil cartas e a televis�o s� pontuando, porque eles repetiam o programa toda hora que podiam. A coisa pipocou de tal maneira que fiquei assustada. Come�ou a fazer fila no corredor do Acaiaca, pra subir para 24º andar".
O sucesso ela tamb�m explica: "Coloquei uma grande dose de amor, de alegria e de igualdade. Porque voc� n�o pode esperar a crian�a chegar at� onde voc� est�. Tem que chegar at� ela: eu sentava no ch�o, agachava, punha no colo. Se uma crian�a puxava o meu macac�o, interrompia o programa e era hora de dar aten��o ali para aquele menino."
Ao fim daquele ano, a TV Itacolomi sairia do ar e Tia Dulce viria para o pr�dio onde at� hoje funciona a Alterosa, no Bairro Floresta, Regi�o Leste de Belo Horizonte. "E a�, o Clubinho foi s� crescendo, a maior audi�ncia da televis�o mineira. Gra�as a Deus!", diz. E emenda, olhando e mandando um beijo para a c�mera: "E a voc� que est� a�! Muito obrigada!"
Que fim levou?
Em 1989, o Clubinho da Tia Dulce saiu de f�rias e nunca mais voltou ao ar. Mas Tia Dulce ainda tem um desejo: "Lamento que n�o uma oportunidade para me despedir. Amigos vivem dizendo que precisamos fazer uma nova edi��o comemorativa, quem sabe no Mineirinho, para reunir quem amou aquele programa por tanto tempo. Tenho saudades. Quem sabe?"
Recorda��es de Tia Dulce
A trajet�ria de Tia Dulce, a eterna apresentadora do Clubinho, revela for�a incomum. Ela nasceu em Nova Lima, teve inf�ncia de muita brincadeira e conta��o de hist�rias, "muita farra" com os irm�os: "Meus pais tiveram uma penca de oito filhos". Antes de comandar a atra��o coqueluche das crian�as (e fam�lias) mineiras por uma d�cada na TV Alterosa (entre 1979 e 1989), ela ia � missa na Igreja S�o Jos� “barrigud�ssima” do filho de um namorado com quem nunca se casou – estamos falando da Belo Horizonte dos anos 1950.
Ver galeria . 16 FotosImagens de arquivo mostram a alegria das crian�as perto de Tia Dulce, durante a apresenta��o do Clubinho.
(foto: Arquivo EM )
Em meados dos anos 1956, Dulce trabalhava em reparti��o p�blica e como bilheteira de cinema. Ela conhecia televis�o de ver, ao passar de bonde, as pessoas maravilhadas diante das lojas com vitrines reluzindo o revolucion�rio eletrodom�stico que seria protagonista das salas de estar dos brasileiros nos anos seguintes: "Nem sabia o que era televis�o, nunca tinha visto de perto, quando comecei a trabalhar com aquilo".
Dulce Maria entrou na TV por causa de uma apendicite e de uma geladeira, em 1956. Ao acompanhar no hospital uma amiga que se recuperava de uma cirurgia, recebeu ali a visita de um amigo em comum das duas: M�rio Veras, � �poca um dos diretores da TV Itacolomi. Veras estava � procura de uma apresentadora para uma revista feminina, patrocinada por marca de eletrodom�sticos. Chamou Dulce para o teste e, no dia seguinte, l� estava ela elogiando uma geladeira da loja Floriano Nogueira da Gama, "sorrindo at� aqui, do meu jeito". Gostaram da performance e ela foi contratada. Dias depois, apresentava o Se��o feminina, a tal revista.
Fraldas ao vivo na TV
Em um dos comerciais que ela tinha que fazer, levou uma afilhada e inventou de trocar as fraldas da menina ao vivo. "Foi uma inova��o que eu trouxe e o neg�cio estourou, marcou muito!", diz. Dali, Tia Dulce come�ou a apresentar programas infantis. Trabalhou tamb�m por 15 anos com r�dio prestador de servi�o, no programa R�dio rural, o som verde, apresentando o Dulce Maria receita de mulher, na R�dio Guarani. Foi quando trombou nos corredores com o narrador Fernando Sasso, um dos diretores da TV Alterosa, preocupado com a audi�ncia. "Ele me disse que precisava de algu�m para humanizar a programa��o e me chamou para essa miss�o de conversar com as crian�as". Deu certo! O Clubinho da Tia Dulce marcou �poca e, 40 anos depois, ainda est� no imagin�rio de uma legi�o de f�s.