
A veia art�stica e c�mica de Luccas D�ria vem de ber�o. Filho de pai carioca e de m�e mineira, ele conta que sua casa sempre foi uma mistura de humores diferentes. “Aonde meu pai chega, todo mundo se esparrama (na risada), ele fala umas coisas sem perceber que est� fazendo gra�a. Minha m�e � aquela mineirinha ‘come- quieta’. Fica na dela e, de repente, solta um ‘trem’ engra�ado”, conta.
Na turma dos amigos, Luccas D�ria sempre foi o “palha�o”. “Todo grupo tem um, n�? Sempre tem tamb�m aquele que toca viol�o e um bonit�o. Esse �ltimo n�o dava para mim, eu era feio demais”, brinca.
A ideia de fazer da com�dia trabalho veio depois de assistir a um show de sua conterr�nea Gorete Milagres. Luccas come�ou a imitar os personagens da atriz e de outros humoristas at� criar sua pr�pria identidade.
Seu primeiro personagem foi Arnaldo J�nior, inspirado nas hist�rias que o pai lhe contava, e que depois serviu de base para outras figuras, como a Sheyllan Belieber, filha de Arnaldo e com personalidade mais pr�xima dos jovens de hoje em dia.
A grande guinada na carreira veio com Dentinho. Quando morava em Resende Costa, o comediante se aventurou com o atual prefeito da cidade, Lucas Paulo, na �poca candidato a deputado, em uma viagem por 116 cidades de Minas Gerais. Na �ltima parada, os dois fizeram palestra para um grupo de ex-detentos, e Luccas D�ria se impressionou com o humor com que todos ali abordavam a pr�pria situa��o.
“Era muito engra�ado, porque o pessoal ficava comemorando quem tinha pena maior, e eu n�o estava entendendo nada... A pena, para eles, significava a reabilita��o. Cada ano a mais ali era um ano a mais de emprego, de oficina que ele teve a oportunidade de fazer, de um curso”, conta.
Voltando para casa, a lembran�a dos ex-detentos inspirou a cria��o de Dentinho. Os primeiros v�deos do personagem o mostram na cadeia, preso por um crime bobo – Luccas D�ria enfatiza que decidiu n�o criar uma hist�ria pesada.
Atualmente j� fora das grades, Dentinho trabalha como entregador de pizza. Tem personalidade carism�tica e enorme capacidade de lidar de forma bem-humorada com o seu passado.
''Acho importante me pronunciar em rela��o a casos de ass�dio ou sobre quest�es pol�ticas, mesmo que n�o entenda tudo sobre pol�tica. Acredito que o humor pode mudar a vida, pode abrir discuss�es''
Luccas D�ria, humorista
BULLYING
O visual de Dentinho tamb�m tem uma inspira��o, mas desta vez o comediante recorreu a quest�es mais pessoais. Luccas conta que usou muito as piadas para se sentir inclu�do nos tempos de col�gio, onde diz ter sofrido bullying por conta de sua apar�ncia. Ele comenta que na �poca, inocente, tratava tudo como brincadeira, mas hoje percebe o ass�dio por tr�s daquelas zoa��es.“Eu era o mais pequenininho, tinha os dentes diferentes. Com 11 anos, parecia que tinha 7. O Dentinho veio muito disso. � um cara feio, com um dente feio, mas que se sente bem com sua imagem, o que tem tudo a ver com a quest�o de aceita��o”, revela Luccas. “Dei uma melhorada agora. Ainda n�o sou um Caio Castro, um Gianecchini, mas aprendi a me aceitar”, afirma.
E a originalidade de Dentinho valeu a pena. Em 2018, o personagem estreou no Multishow, no programa “Treme treme” e, em 2020, foi convidado para fazer parte do humor�stico “A pra�a � nossa”, no SBT/Alterosa.
“Estava sentado naquele banco cl�ssico do programa, esperando o pessoal da produ��o, e de repente chega o Carlos Alberto. Nunca o tinha visto pessoalmente. Ver o Carlos Alberto � igual a ver apari��o. O homem � uma entidade... Na hora em que comecei a fazer o personagem e ele riu, a� pensei: Esse senhorzinho est� perdido comigo agora.”
Depois do teste, Carlos Alberto pediu para Luccas ligar para os pais e avisar que ia fazer parte do programa. A estreia, no entanto, foi adiada por conta da pandemia. Dentinho fez sua primeira apari��o em abril deste ano. E o personagem virou figurinha carimbada nas noites de quinta-feira no SBT/Alterosa.
SEM NEGACIONISMO
Fora da TV, o humorista comanda seu canal no YouTube e sua conta no Instagram. Nas redes sociais, ele n�o foge de se posicionar sobre quest�es pol�micas. O mineiro j� se pronunciou, por exemplo, contra o negacionismo do governo Bolsonaro em rela��o �s vacinas e sobre o caso de ass�dio envolvendo o jogador Robinho, sempre tentando fazer uma cr�tica bem-humorada.“N�o acredito que preciso usar do preconceito para criar meu humor. Posso fazer com�dia com responsabilidade. Acho importante me pronunciar em rela��o a casos de ass�dio ou quest�es pol�ticas, mesmo que n�o entenda tudo sobre pol�tica. Acredito que o humor pode mudar a vida, pode abrir discuss�es e conscientizar”, afirma Luccas.
* Est�gi�rio sob supervis�o da subeditora Tet� Monteiro